quarta-feira, dezembro 21, 2011

A palavra aos Homens que se fazem ouvir: Manuel António Pina, Dominique Strauss-Kahn. E as duras palavras contra a emigração do Comissário Europeu László Andor. Fernando Pessoa diz que a Europa jaz. E os Filhos da Nação estão ansiosos por saber se a cruz é salvação!

 
Há pessoas inteligentes, cujas palavras bebo com curiosidade, alguma avidez e algum carinho (porque me enternecem as pessoas inteligentes e honestas). José Medeiros Ferreira e Manuel António Pina, por exemplo. Eduardo Lourenço, claro. Adriano Moreira, por exemplo. Mário Soares, também, claro.

Gente que não precisa de se pôr de bicos dos pés.

Escreveu ontem no Jornal de Negócios o nosso Prémio Camões:

É hoje claro para quem observa, sem palas ideológicas, a situação portuguesa que nunca conseguiremos pagar a dívida nas condições usurárias que nos foram impostas, as quais, gerando recessão e bloqueando o crescimento da economia, constituem o principal obstáculo a esse pagamento, forçando sempre a novas e sucessivas "ajudas", numa espiral de endividamento cujos resultados estão à vista na Grécia

Também gostei de ouvir Dominique Strauss Kahn agora quando se deslocou à China falando da falta de lideranças na Europa, referindo que nem sequer a Merkel e o Sarkozy se entendem. Era um europeísta convicto, que se deixou escorregar com a rasteira que lhe pregaram. Era  e é um líder que impõe a sua presença. Tomara que se dissipem algumas nuvens negras que pairam sobre ele para que o possamos ainda ter na política activa.





Pelo contrário temos, neste momento, o País entregue a um grupinho que mete medo a qualquer um. Passos Coelho, Relvas, Gaspar, Moedas. Não falo do enigmático Álvaro nem da jovem e inimputável Cristas porque nem há material para se falar, são inexistentes.

Hoje (ou melhor, ontem, que já é quarta-feira) viémos a saber que o défice vai ser muito mais baixo do que era suposto. A obrigatoriedade apontava para 5,9% e vá lá saber-se porque carga de água, o Governo deitou mão ao fundo de pensões dos bancários, deitou mão a metade dos subsídios de Natal de toda a gente, e puxou o défice para 4% ou menos. Além do mais, vai usar dinheiro da verba que os bancários, coitados, andaram a amealhar durante uma vida de trabalho para pagar facturas correntes. Tudo coisas do além, de arrepiar até os mais insensíveis.

As pessoas asfixiadas, o número de desempregados a subir, a mandarem as pessoas borda fora (jovens, professores e quem mais se sinta mal, xô daqui para fora), a anunciarem que vão esfolar vivos os desempregados, que vão aumentar ainda mais os transportes... e isto para baixar o défice mais do que está acordado. Dá para entender um disparate destes?

Fazem-me lembrar uma raça que me enerva, a dos marrõzinhos burros, daqueles palermas sempre de dedo no ar, engraxadores de professores, gente que me dá ânsias, lambe botas.

O que é que têm na cabeça?

E a darem cabo da população toda... Passos Coelho diz que as pensões de reforma vão ser metade do que são hoje e, com o descaminho que dão às coisas, às empresas, a tudo, e com a falta de respeito e de humanidade que revelam, não me admira nada.

Medeiros Ferreira há pouco no programa da Constança Cunha e Sá na TVI24 dizia que esta sanha do Governo é para no ano das eleições desatarem a gastar dinheiro à maluca, a esbanjar à fartazana. Será? Mas a questão é que até lá espatifam com o País todo, dão cabo da população inteira, destroem irerversivelmente o futuro do País.

O Comissário Europeu dos Assuntos Sociais, László Andor, hoje, a propósito do desemprego e da emigração, já veio dizer que é errado e que deve ser combatida com quanta força houver, a tendência de os europeus emigrarem. Explica por a + b e faz o desenho para os que não vão lá de outro modo:

Alguns jovens já estão a deixar a Europa para encontrar trabalho em países como os Estados Unidos e o Canadá, Austrália ou o Brasil, Angola e mesmo Moçambique, dependendo da sua língua. E esta tendência não pode continuar. Não apenas arriscamos perder uma geração inteira mas também há um custo financeiro.

Será que Passos Coelho ouviu? Será que percebeu?

Parodiava hoje o Bruno Nogueira que esta vontade de despacharem para longe os professores deve ser coisa de quem só conseguiu acabar o curso aos 38 anos. Só pode...

Gente inculta, impreparada é um problema quando alcança lugares de poder. .... Medo....!


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                                 A Europa jaz, posta nos cotovelos:
                                 de Oriente a Ocidente jaz, fitando,
                                 e toldam-lhe românticos cabelos
                                 olhos gregos, lembrando.

                                 O cotovelo esquerdo é recuado;
                                 o direito é em ângulo disposto.
                                 Aquele diz Itália onde é pousado;
                                 este diz Inglaterra onde, afastado,
                                 a mão sustenta, em que se apoia o rosto.

                                 Fita, com olhar esfíngico e fatal,
                                 o Ocidente, futuro do passado.

                                 O rosto com que fita é Portugal.


                                 ('O dos Castelos' de Fernando Pessoa in Mensagem)
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Ai estes são os filhos da nação/ adultos para sempre/ ansiosos por saber/ se a cruz é salvação

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Meus amigos, não estou particularmente bem disposta hoje. Tudo isto me preocupa. Sei que não há mal que sempre dure (mas até lá...). Mas, olhem, divirtam-se vocês, está bem? E contem-me coisas boas para ver se me animam, ok?
 

6 comentários:

  1. Caríssima UJM,

    Coisas boas? Olhe, consigo aprendi que por mais que discordemos sobre a orientação política de um país, valores mais altos se levantam quando em vez de apenas se desferirem razões, encontramos similitudes civilizacionais nos afectos, nos corações.

    Entretanto, caso não nos cruzemos antes, um Feliz Natal!

    Bjos
    Paulo

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  2. Caro Paulo,

    Que bom encontrar logo pela manhã as suas palavras simpáticas.

    Tem toda a razão na observação que faz, é isso mesmo: por muita disparate que se ache que andam a fazer ao País, há também um outro mundo que é o das pessoas persistentes, trabalhadoras, amistosas, há a amizade, a tolerância, tudo isso que faz com que haja coisas boas a festejar.

    Obrigada.

    Para si também, Natal, e para a sua família, um bom Natal!

    Um beijinho.

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  3. Com um certo jeito manso (permita-me o abuso), desaguei no seu blogue no dia em que falou do artigo do Miguel S. Tavares (editado no último Expresso). Também gostei do que li e até subscreveria o artigo. O MTS, também tem coisas boas, mas realmente deverá ter alguma dificuldade em transmiti-las à sua Teresa.
    Hoje, em nova oportunidade, voltei ao seu blogue e adorei o que escreveu, acreditando que até poderia ser mais incisiva. Parabéns, e confesso que muito do que escreve me toca profundamente porque encaixa plenamente no meu "modus vivendi".
    Apesar de um pouco arredado da "bloguice" juro que voltarei, como é óbvio.

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  4. adriano moreira é um senhor, um exemplar cidadão no sentido que lhe davam os gregos ou latinos.
    De tal modo que não o diminui ter sido ministro em 1962.
    Pena nunca se ter acadidatado a PR.

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  5. Caro dbo,

    Gostei de ler o seu comentário e ainda bem que aqui desaguou. Será sempre muito bem vindo. Já fui espreitar ao seu perfil e vi que tem um blogue que actualiza a grandes espaços. Vi lá referência a 'outros blogues' mas não vi quais pelo que não sei que será por essas outras bandas que é mais certinho.

    Ainda bem que concorda com o que tenho escrito. Fico contente com isso pois ainda hoje comentei que pasmo como é que ainda há tanta gente a apreciar o estilo deste 'Primeiro'.

    Volte sempre e vá dizendo de sua justiça, está bem?

    E obrigada pela simpatia das palavras.

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  6. Caro Patrício,

    Tem toda a razão. Adriano Moreira tem um ar superior, acima das pequenezas do dia a dia. Quando fala, concorde-se ou não com tudo o que diz, respeitamos a honestidade do raciocínio, a integridade de carácter.

    É pena que não tenhamos muitas pessoas assim, cultas, superiores, despojadas.

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