quinta-feira, outubro 16, 2025

Fazer graça com qualquer coisa

 

Tenho um amigo que está sempre a enviar-nos piadas, vídeos engraçados, anedotas de toda a espécie. Toda a gente o acha o maior dos pândegos. Ao vivo, sempre que a ocasião se proporciona, sai-se com uma. Na maior parte das vezes, rio-me não da piada em si mas do despropósito, da inconveniência, da inoportunidade. Vejo que ele fica contente quando nos vê a rir e não acredito que se aperceba de que é que nos estamos a rir. Mas estou a falar no plural e devia falar só em mim pois eu sei porque é que rio mas não sei porque o fazem os outros. Se calhar, riem-se da piada em si.

Acresce que aquela sua falta de sentido de oportunidade vale para tudo, para o humor ou para o drama. Há tempos, num jantar, a mesa cheia, eu de um lado da mesa e ele lá ao fundo, chama-me para me perguntar se me lembro de fulano de tal. Digo-lhe que sim, claro. Então, inopinadamente começa a falar-me dele, do seu feitio que foi ficando cada vez mais difícil, que volta e meia tinha coisas que deixavam os outros de cara à banda, tal o excesso, coisa à beira da histeria. Numa dessas vezes, ao ver-se no meio daquelas reacções furibundas, ocorreu perguntar-lhe se já alguém o tinha mandado fazer um tac à cabeça. O outro, muito espantado com o despropósito da pergunta, até esfriou o assomo em que estava. E ele, ali mesmo, lho prescreveu. Pois, imagina tu, contou-me ele lá da ponta da mesa -- uns estupefactos com a conversa, outros nem se apercebendo e continuando na deles -- que tinha mesmo um tumor. Eu de boca aberta, nem sei se pelo diagnóstico se pelo despropósito daquilo. Indiferente à minha reacção e à dos que estavam a prestar atenção, continuou descrevendo a localização do tumor, inoperável, estás a ver, ali não dá para mexer, e o que aquilo era, oh pá, um tamanho..., continuou ele. Eu sem saber se era suposto manifestar o meu desgosto pela pouca sorte da localização do tumor do outro nosso amigo, se o meu espanto por aquilo estar a vir à conversa, ali, naquele momento, a meio de um jantar, sem vir a propósito de nada. Mas ele continuou com a minúcia de quem ficou também transtornado com a pouca sorte do amigo: e espalhado, espalhado. E continuou com pormenores mais precisos. E acrescentou: nem sei porque me lembrei de lhe perguntar aquilo do tac, mas lembrei-me, estás a ver? Quase parecia arrependido de ter tido aquela ideia que, até a ele, lhe parecia quase peregrina. Só consegui abrir a boca para dizer: pois, coitado, eu sabia que ele tinha morrido mas não sabia desses pormenores... E fiquei aflita sem saber como continuar. Não ia continuar no mesmo registo, mantendo aquela interrupção dramática no meio de um jantar que decorria leve, divertido, todos bem dispostos. Mas, ao mesmo tempo, depois daquele drama, ia chutar para canto e desviar para um tema levezinho e sorridente? Fiquei naquele impasse até que alguém resolveu a coisa por mim, puxando um tema que não tinha nada a ver e fazendo de conta que aquela conversa não tinha tido lugar. Ele próprio pareceu agradecido por ter sido desviado do tema escuro em que nos tinha mergulhado. Mas, pouco tempo depois, já estava outra vez a dizer piadolas, algumas mais próprias de um adolescente com as hormonas aos saltos do que um homem feito e com a descendência espalhada pelo mundo.

Isto tem a ver com a maneira de ser de cada um. 

A convidada do Bial, Tata Werneck, que já conhecia vagamente de uma novela e a quem tinha achado piada, parece ser dessas pessoas que tanto entra num registo pesado, cheia de medos, carregando traumas e fobias, como, logo de seguida, passa para um registo divertido. Talvez não seja inoportuna ou inconveniente como o meu amigo mas também ainda é jovem, não se sabe como será quando tiver a idade do meu amigo e tiver passado aquilo por que ele já passou.

E o que eu vejo é que o Bial se ri a bom rir com o que ela diz. E eu gostei de ver e ouvir.

Pedro Bial entrevista Tata Werneck | Conversa com Bial

No Conversa com Bial, Pedro Bial recebe a atriz, apresentadora e humorista Tata Werneck para uma entrevista divertida, emocionante e cheia de boas histórias. Tata fala sobre carreira, maternidade, vida pessoal e os desafios de equilibrar humor e emoção em sua trajetória


Desejo-vos um dia feliz

quarta-feira, outubro 15, 2025

Sobre o acordo de Trump para Gaza, ie, sobre a 8ª guerra a que ele pôs fim

 

Aconteceu-me, quando trabalhava, fazer visitas a instalações que iriam ser inauguradas em breve com honras de visitas de ministros e até de presidente da república, a campanha de marketing e de comunicação toda gizada, ensaiada e pronta para ir para o ar, tudo em festa, tudo aos parabéns uns aos outros, e eu chegar lá, olhar para aquilo e dizer que nem daí por um ano, senão dois ou mais, ou se é que alguma vez, aquilo estaria pronto para funcionar como era suposto. Claro que era liminarmente aconselhada a calar-me pois era a única a suspeitar do sucesso que estava à vista. Anos decorridos, em minha defesa, posso dizer que estava certa.

Aconteceu-me também, naquelas manobras de gestão de portfolio, os accionistas decidirem comprar empresas, fundir empresas, arrancar com empresas adquiridas, cá ou no exterior, e ser-me comunicado que tudo teria que estar operacional num par de meses, e eu, olhando para o que estava em cima da mesa, dizer que não havia condições mínimas para funcionar num curto prazo pois estavam omissas todas as bases e pressupostos sobre os quais as empresas funcionam. As minhas observações eram recebidas com incómodo: então tinham tratado de tudo tão bem tratadinho, notícias e entrevistas na comunicação social e agora eu vinha dizer que no way, que era preciso equacionar mil coisas antes de se poder fazer qualquer plano?

Um colega que me compreendia e que muitas vezes alinhou comigo dizia que nós dois éramos a turma do baldinho, ou seja, quando tudo estava ao rubro de alegria, aparecíamos nós a despejar água fria na cabeça dos outros.

Agora estou mais aquietada, já admito que as coisas não têm que correr bem, já aceito que se a malta gosta de se iludir e festejar grandes vitórias pois que o faça. A memória é curta e quando correr mal ninguém se vai lembrar que pouco tempo antes ninguém reparou nas imperfeições ou omissões.

Vem isto a propósito do acordo do Trump para o cessar fogo, para a troca de reféns e prisioneiros e para o recomeço da ajuda humanitária. Tudo coisas boas, meritórias, inquestionavelmente de louvar. Vários chefes de Estado a dar o seu ámen, aplauso geral. No entanto, quando dizem a Trump que há, entre os presentes, quem não concorde com os dois Estados, Trump diz que o acordo não tem nada a ver com isso, que isso nem foi tema, que o acordo é sobre a reconstrução de Gaza.

E, de facto, o acordo foi gizado por investidores, por malta das cripto, por gente do imobiliário, por gente do petróleo, por gente que nada em dinheiro. E todo o processo vai ser gerido como uma empresa, Trump, o grande rei do real state, como chairman.

Claro que Gaza tem que ser reconstruída. É um terreno e pêras, à beira de água. E, depois, parte do trabalho de demolição já foi efectuado. Falta o resto antes de começarem a nascer a Gaza Trump Tower, os Casinos, os resorts de 6 e 7 estrelas, os campos de golf. Claro que com tanta frente de obra há que ter muita mão de obra, é bom que não haja cá a baderna do costume, o cessar fogo tem que estar garantido. E é preciso que estejam alimentados. Não conseguirão trabalhar a bom ritmo se continuarem a ser uns mortos de fome.

Mas, pergunto eu: todas essas construções ocorrem em solo de que nacionalidade? Quem aprova os projectos, quem define as prioridades e as condicionantes, quem negoceia com quem, por exemplo a nível das infraestruturas necessárias? É cada investidor por si, à tripa forra, sem baias de qualquer espécie? Os contratos ou questões que surjam dirimem-se segundo que lei? A que tribunais se reportam? E as escolas que porventura lá se construam seguem que programa, reportam a que 'ministério'? Havendo problemas, que agentes de segurança estão no terreno e perante quem respondem? Ou vão contratar os mesmos do Hamas que lá andam agora (agora, depois do grande e dourado trump-acordo) para assegurarem a segurança das obras, com ordem para darem um tiro na cabeça de qualquer operário palestino que levante cabelo?

Tudo isto faz-me muita confusão. Tenho para mim que as coisas não existem de forma estável sobre terra de ninguém. 

Ou estarão a pensar que é sustentável uma solução em que prevalecerá a lei do farwest, a lei da bala, em que os conflitos serão resolvidos a tiro? Ou ninguém quer saber disso pois o que importa é que, para já, se criem condições para transformar Gaza na Riviera trumpista -- e essa cena desagradável dos dois Estados e etc. que se lixe?

Gostava de não ser tão céptica pois desejo muito sinceramente não vir a ter razão. Desejo muito sinceramente que a paz e a concórdia se instalem naquele território e que o lei e o mel se derramem sobre o solo de Gaza, que jamais se misturem com sangue.

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Apenas um pequeno excerto do nível

Trump on Jared & Ivanka: “She Converted for Israel, It’s Incredible” | Abraham Accords Insight | APT

In a candid moment during his speech, US President Donald Trump reveals that his daughter Ivanka converted, sharing a personal insight while discussing the Abraham Accords and his efforts in fostering peace in the Middle East. Trump praises Ivanka and Jared Kushner’s contributions, highlighting the unique family connection to the historic peace process.


Inenarrável

terça-feira, outubro 14, 2025

Estou de punho esquerdo ao alto e não é pelos melhores motivos.
-- A minha experiência de hoje com o SNS e com a linha Saúde 24 --

 

Recapitulando: levámos as vacinas na 3ª feira. Na 4ª comecei a ficar constipada, na 5ª estava perdida, desidratada e exausta, só espirros e pingo. Tomei um anti-histamínico. Na 6ª feira nem pingo nem espirros mas completamente KO. De sexta para sábado praticamente não dormi, tosse, tosse e mais tosse. E ainda não estou completamente recuperada. Entretanto, na 6ª e no sábado ficou o meu marido na mesma. Ou seja, provavelmente não é reação às vacinas, mas alguma bicheza da época. Não é gripe (das que constam do teste) nem covid pois testei negativo a tudo. Mas, seja o que for, deixou-nos afanados.

Ora acontece que, por vezes, quando tenho destes estados inflamatórios, a coisa descamba e parece que vai alojar-se, exacerbadamente, numa articulação. Ainda nenhum médico me deu uma explicação cabal para este fenómeno. 

Desta vez, um pulso. Começou ontem. Doía-me, senti que estava a começar a inchar. Apliquei pomada, pus gelo. A noite passada quase não dormi, cheia de dores no estupor do pulso. Percebi logo que já só lá ia com a porcaria do anti-inflamatório que os médicos me dizem que tenho que evitar e que este ano está a ser um bocado recorrente.

Lembro-me do meu pai, já acamado e com um pulso e a mão super inchados, encarnados, e ele aflito de dores, ninguém podia lá tocar, nem o lençol ele suportava. Como o percebo... Não é ácido úrico. É só isto: do nada, uma articulação inflama. Só que são dores incapacitantes, o inchaço a progredir. 

Portanto, gelo e anti-inflamatório, mão ao peito, dores terríveis, quase sem conseguir fazer nada sozinha.

Uma vez falei nisto ao médico de família e ele disse: para a próxima, quando acontecer, venha logo cá. Respondi-lhe que não se conseguem marcar consultas com essa facilidade e aconselhou a ligar para a Saúde 24.

Portanto, contrariada (e contrariada pois estava a sentir-me suficientemente incomodada e receava que dali não viesse boa coisa), lá liguei. Fiz a chamada com a mão direita pois a mão esquerda está incapacitada. Mas tive que marcar números para responder às opções que a gravação ia pedindo. Estava mesmo à nora. Quando pediram que digitasse o nº de utente, o meu marido entrou e ajudou-me. Começou, então, a música. Não cronometrei mas foi seguramente mais de meia hora a ouvir música. Quando estava a desesperar e a pensar que se fosse alguma situação urgente, estava bem tramada, apareceu-me uma voz masculina.

Começou por dizer que ia fazer-me perguntas para ver se era uma situação de emergência. Disse-lhe que não mas ele insistiu em perguntar-me se tinha caído, se estava com uma hemorragia, se tinha um membro dormente, a boca ao lado, etc. Disse que não, só querendo passar ao que me levava a ligar. Uma pessoa quando está aflita com dores, limitada nos seus movimentos, fica impaciente. Além disso, com as dores muito fortes, baixa-me a pressão arterial. Tive que me deitar para não desmaiar. Imagine-se. A voz masculina começou, então, a perguntar o que eu tinha. E escrevia, escrevia, escrevia. Uma pergunta, eu tentava atalhar, mas ele queria detalhes, e escrevia, escrevia. Finalmente, eu à beira da exaustão, diz-me: 'Não desligue, vou passar a uma pessoa sénior'. Mais música. 

Passado um bocado, alguém que se apresentou como enfermeira qualquer coisa. Novo interrogatório, novas respostas. Depois lá veio a conclusão: 'É um caso agudo. Vamos marcar uma consulta no centro de saúde. Não desligue'.

Mais música. Um jovem apareceu a marcar a consulta. Antes de desligar pediu-me para me fazer mais uma pergunta: 'Se na Saúde 24 não tivéssemos atendido, o que faria?'. Respondi: 'Talvez fosse a um hospital privado'. O jovem tomou nota da resposta.

47 minutos ao telefone. Quase uma hora. Uma pessoa a sentir-se cheia de dores e com a tensão nos mínimos, e isto. Exausta. Se estivesse mesmo aflita, não aguentaria.

Ao comentar com a minha filha, ela disse: 'Num caso de emergência, é de ligar logo para o 112'. Espero que sim, que não obriguem a passar antes pela Saúde 24. 

À tarde fui então à dita consulta. Não era o meu médico, era uma médica que me pareceu jovem e inexperiente (estava de máscara, não consegui ver bem). Estava um bocado agarrada a uma particularidade, não conseguiu perceber o que se passava, pareceu-me que estava literalmente a apanhar bonés. Não prescreveu análises para despistar os motivos do estado inflamatório que eu pensava que era o objectivo. Pelo contrário, mandou fazer RX ao punho, com urgência. Não creio que um RX apanhe a inflamação na articulação e despiste a origem da inflamação que, cá para mim, não está ali. Disse-me ainda que depois, com o resultado, marque uma consulta com o médico de família pois ele é que dará seguimento ao que houver a fazer.

Saí da consulta a pensar que mais valia que tivesse ficado em casa, com gelo e de braço no ar. Mas, pronto, tentei marcar a dita consulta. Só há vagas para o fim de Janeiro. 

Depois, pus-me ao telefone para tentar marcar o RX através do SNS. Só encontrei duas clínicas com acordo com o SNS para RX mas só teriam vaga para muito depois, ou seja, quando esta inflamação tiver passado (pelo menos assim o espero).

Marquei para uma clínica privada, claro.

Depois, se vou estar 4 meses para ir mostrar o rx ao médico de família ou se antes me viro para o lado privado, logo vejo.

Com isto tudo, ainda estou na mesma, a escrever só com a direita, a esquerda inchada, dolorosa, ao alto.

Conclusão: isto que tenho, apesar de me estragar o bem-estar, não é nada de vida ou de morte. Mas, bolas, e se fosse? É assim que estas coisas estão a funcionar no SNS? Se é, só posso recomendar que ninguém se acidente ou adoeça. Caraças.

segunda-feira, outubro 13, 2025

E mais alguns apontamentos sobre as autárquicas
--- A palavra ao meu marido ---
: 4º post no rescaldo das Autárquicas 2025 :

 

O PSD ganhou as autárquicas. Não terá sido uma vitória tão expressiva como ambicionavam nas capitais de distrito mas ganharam os distritos mais populosos que provavelmente não pensavam ganhar. 

O José Luís Carneiro após três meses à frente do PS e tendo, na minha opinião, feito um trabalho sério e persistente, conseguiu, ao contrário do que desejariam alguns grupinhos do PS e certamente pretendiam alguns comentadores encartados, repor o bipartidarismo e recolocar o PS como um partido de alternativa de poder à AD. Foi uma derrota mais doce do que amarga e foi também a consolidação da liderança que eu espero que tenha bastante sucesso do José Luís Carneiro. 

A derrota da Alexandra Leitão em Lisboa deve ser a derrota final do Pedro-Nunismo. Se olharmos para os resultados freguesia a freguesia percebe-se que as freguesias onde tendencialmente residem os mais abastados tiveram medo do "radicalismo" da Alexandra e das companhias mortáguas com que se rodeou. 

O Moedas que nunca quis discutir Lisboa, apostou sempre na mensagem do radicalismo e isso, como se constata, fez o seu caminho. Uma coisa é certa: fui recentemente passear no Chiado, na Baixa  e na zona ribeirinha e fiquei chocado com o estado da cidade. Estive também em Alvalade e a quantidade de lixo no chão é uma vergonha. No entanto, parece ser este estado de coisas que os lisboetas preferem. É o que é! 

O Ventura ganhou dez por cento do número mínimo de câmaras que tinha como objetivo ganhar e ficou atrás da CDU e do CDS, coisa que ele tinha declarado impensável aqui há dias. Como populista que é, veio cantar vitória quando na verdade teve uma derrota estrondosa só (relativamente) comparável  à da IL que ontem tentou passar por entre os pingos da chuva e parece-me que nem falou à malta.

Sobre a CDU já aqui escrevi ontem, não atingiu os mínimos mas ainda não foi totalmente corrida. Percebi ontem, depois da intervenção do Raimundo, que são como a ministra da saúde, definem estratégias que só dão porcaria mas insistem no erro para fazerem ainda mais porcaria. Um apontamento, a esquerda unida, incluindo a CDU, tinha ganho Lisboa e Porto. 

Quanto ao CDS alguém tem que dizer ao Nuno Melo que já basta de dizer tanta parvoíce.

Há uma outra conclusão, o pessoal está-se nas tintas para questões éticas e para comportamentos eventualmente duvidosos. Que o digam o Montenegro, a Maria das Dores Meira e o rapaz de Braga. 

E viva o Isaltino! Espero que tenha comido um belo lavagante.

Em Lisboa, Alexandra Leitão foi um tiro no pé do PS (um tiro disparado por Pedro Nuno Santos)
E os ganhadores e perdedores destas eleições

 

Na altura, em Janeiro, referi-o: Alexandra Leitão foi uma péssima escolha para presidente da Câmara de Lisboa

Pior ainda quando Alexandra Leitão, com o apoio do PS da altura, resolveu ressuscitar parte da Geringonça, atracando-se à tóxica Mariana Mortágua. Com isso, não foi um tiro, foram dois tiros. A vitória do insignificante e pantomineiro Carlos Moedas conseguiu ser expressiva quando, com o desastre que foi o seu primeiro mandato, facilmente qualquer outra pessoa -- que não Alexandra Leitão (com a Mortágua à ilharga) --, o bateria.

Aliás, basta ter ouvido a nulidade do discurso de derrota da palavrosa Alexandra Leitão para perceber a vacuidade e a inconsistência daquela pessoa. Uma nulidade de discurso que envergonha. Por comparação, atente-se no brilhante, embora humilde, comovente até, discurso de Pizarro, um grande democrata.

Tenho a certeza de que fosse José Luís Carneiro a ter feito a escolha e outro teria sido o resultado de Lisboa. 

Claro que, como o meu marido abaixo referiu, a cegueira política e a estupidez encartada do PCP foi uma preciosa ajuda para o Moedas. Não é de espantar: mais depressa o PCP dá a mão a gentinha desqualificada do que se une a alternativas de esquerda. Corresponde a 100% à definição de idiota: uma pessoa que faz coisas estúpidas que não beneficiam ninguém nem o próprio.

Mas agora foco-me no PS. O PS tem gente muito boa. Duarte Cordeiro ou Mariana Vieira da Silva, por exemplo, tirariam a Câmara de Lisboa de letra. E reconquistar a Câmara de Lisboa era importantíssimo pois Carlos Moedas, para além de um caguinchas e um oportunista, é uma lástima como presidente da maior autarquia do país.

O que me anima é pensar que o Pedro Nuno Santos já não fará mais disparates em nome do PS. Felizmente agora temos um pragmático, um determinado, um assertivo, um lutador, um trabalhador incansável, uma pessoa decente, um líder muito capaz. Sempre defendi que com José Luís Carneiro outro galo cantaria no PS, e a sua actuação enquanto líder tem vindo a comprová-lo. O PS voltou a erguer a cabeça e acredito que o País só tem a ganhar com pessoas sérias e competentes como ele.

Quanto a outras autarquias tenho ainda a dizer que algumas vitórias que não apreciei foram mais demérito de alternativas de fraquíssima qualidade do que mérito dos fracos autarcas que ganharam. Há ainda um caminho de maturidade democrática por alcançar, desde logo na conquista de prestígio ao exercer cargos autárquicos. Não faz sentido que em algumas listas, um partido grande como o PS, que tem gente altamente qualificada, avance com gente pouco convincente, fraquíssima. 

Finalmente o Porto. Teria ficado contente se Manuel Pizarro tivesse ganho. Gosto dele. É um verdadeiro democrata, humanista, republicano de gema. E simpaticíssimo. Mas acredito que o Pedro Duarte vai ser um bom presidente de Câmara. Pelo seu discurso de vitória e pela forma como se referiu a Manuel Pizarro confirmou ser um tipo decente. E tenho-o em conta de um tipo capaz, enérgico. Por isso, acredito que o Porto vai ficar bem. Foi uma boa escolha de Montenegro. E desejo-lhe boa sorte.

De resto, claro que o PSD ganhou inequivocamente. E não há dúvida que Montenegro, apesar das suas trapalhices spinunvívicas e das grandes debilidades em algumas áreas relevantes da governação, tem conseguido sobrevoar os escolhos e seguir adiante. É resiliente e dúctil e isso são qualidades físicas que conferem resistência e durabilidade a qualquer material. Disso não tenhamos dúvidas. Portanto, chapeau.

Quanto aos derrotados destas eleições são, de forma muito clara: 

  • a CDU, que, de derrota em derrota, caminha cega e resolutamente para a absoluta irrelevância, 
  • o BE, que me parece que já não existe, 
  • o simpático Livre que, autarquicamente, se dilui e desaparece,
  • a IL, que autarquicamente é invisível,
  • e o Chega, o partido que alavanca a fanfarronice do Ventura e que, sem a lábia dele, vale menos do que um .... (ai a palavra que me ia saindo...)

A malta da TVI está com os copos? A que propósito estão a acompanhar o carro do perdedor Ventura a caminho do Entroncamento?

 

Às vezes penso que há gente estúpida que parece que só lá ia ao estalo. Sou uma pacifista e está longe de mim ser apologista de andar à bofetada seja com quem for. Mas, sinceramente, há burrices tão grosseiras que não sei se vão lá pelo entendimento. 

O tipo perdeu à grande, um derrotado absoluto, o bluff que é o Chega exposto sem sombra de dúvida. E a malta da comunicação social, nomeadamente agora os da TVI, em vez de o tratarem com o desprezo que ele merece, vão a acompanhar o carro?

Não aguento.

João Ferreira, o idiota útil
-- A palavra ao meu marido --

 

Estou a escrever o post sem saber quais são os resultados finais das autárquicas. A esta hora parece podermos concluir que não houve a hecatombe eleitoral do PS que tantos previam e desejavam e que a almejada e sonhada conquista pelo Chega de câmaras com muita importância populacional também não vai acontecer. Mas uma coisa é certa: o João Ferreira fez mais uma vez o papel de idiota útil. Tenho para mim que este tipo é inteligente e que conhece os assuntos -- como provou nos debates sobre Lisboa em que foi quem se saiu melhor. No entanto, presta-se a este papel de idiota útil seguindo a política absolutamente suicida do PCP e apresentando-se sozinho a eleições sem qualquer perspetiva de vitória. Parece que objetivo do PCP e do João Ferreira é, sobretudo, derrotarem o PS  nem que para isso tenham tacitamente que apoiar o PSD. 

Com esta política, acabarão por perder a pouca influência que ainda têm na política portuguesa. 

Ontem falava com um ex-militante comunista e ainda apoiante do PCP que me recordava as enormes traições que o PS tinha feito há cinquenta anos. Este  discurso, que é comum nos comunistas que ainda não percebem que muito mudou em cinquenta anos, é uma das principais razões pela quais não conseguem atrair simpatizantes e cada vez perdem mais votos. Receio que, no fim da noite, mesmo com todos os artifícios que costuma usar na noite da campanha eleitoral, o PCP tenha que meter a viola no saco e nem meia vitória consiga gritar. Apetece-me dizer-lhes que qualquer dia nem servem para beber um vodka com laranja.

domingo, outubro 12, 2025

Friends & Co.

 

Como naqueles filmes, assim eu na vida real. Ao fim de muitos anos, aos poucos vamo-nos reencontrando. Algumas vezes todos, outras vezes em grupos mais reduzidos. Hoje foi assim: envoltos em sol, como se o tempo não tivesse passado, um grupo de amigos encontra-se. 

Em volta da mesa, conversamos como se sempre tivéssemos mantido o contacto assíduo. As expressões são as mesmas, os risos os mesmos. Os truculentos continuam truculentos, as serenas continuam serenas, as rebeldes e fora da caixa continuam assim só que, como dizem, agora sem filtro. E vai risada. E a nossa artista continua artista, mas agora com obra feita, cotada. E, aliás, de uma maneira ou de outra, todos temos obra feita nem que com obra feita estejamos a referir-nos, sobretudo, à família que constituímos.

Há novos personagens, claro: o marido de uma, a mulher de outro, a namorada de um outro. E todos conversam e riem. Recordamos episódios, muitas vezes esquecidos ou nem apercebidos por alguns. 

Contam coisas de mim ao meu marido. 'Não nos ligava nenhuma', confessam os rapazes. (Não lhe contam que não ligava a eles mas havia um e depois outro a quem ligava). E falam-lhe dos meus feitos académicos e, nesse capítulo, como sempre, não consigo dizer nada. É como se dissessem: 'Tinha o nariz grande.'. Que poderia dizer? Nada. A ser verdade, não teria feito nada por isso. Tento mudar o rumo da conversa. 

Falamos das eleições. Há interpretações distintas, visões diferenciadas sobre o trabalho realizado. Há quem invoque situações pessoais, há quem se insurja porque tem que se pensar na cidade e não na sua situação pessoal. Os ânimos ficam acalorados. A política, ainda por cima em véspera de eleições, ainda incendeia. Uns desentendem-se e a mulher de um dos assanhados põe água na fervura: 'Isto é só uma tertúlia', ou seja, não um combate de box. Mas o sangue na guelra dos intervenientes mantém-se vivo. Passado um bocado, os dois amigos atiram-se num mergulho e põem-se a nadar, amigos somo sempre.

Fazemos um brinde, dois brindes. Desejamos todos que nos mantenhamos assim, de boa saúde, amigos, com vontade de partilhar o dia, a companhia uns dos outros.

Nunca tinha estado naquele lugar. Dir-se-ia um lugar quase no fim do nada. E, no entanto, uma maravilha. Muito verde, muito amplo, muito iluminado. E com peças de arte, umas adquiridas, outras feitas, que acrescentam beleza àquele espaço.

Chegámos a casa já noite. Fomos passear o cão que, coitado, tinha ficado em casa sozinho. Mas ficou no jardim e isso mantém-no sempre atento e ocupado, sempre em guarda do território.

Por isso não vimos notícias nem sabemos de novidades. Ou seja, nem eu nem o meu marido temos alguma coisa a dizer. Acresce que a noite passada praticamente não dormi, tossi, tossi, tossi, toda a santa noite até às sete e tal da manhã, uma daquelas tosses que resultam de uma comichão na garganta que não passa. Depois ainda dormi um pouco mas, claro, pouco demais. Agora estou melhor mas carregada de sono. Só que, entretanto, peguei ao meu marido, agora está ele. Pôs avamys no nariz e tomou paracetamol e foi enfiar-se na cama. Não arriscou na ceterizina pois viu como eu fiquei (passaram-me os espirros e o pingo mas no dia seguinte fiquei completamente KO).

Concluindo: o dia foi muito bom, adorei, mas se, enquanto lá estive, estive razoável, agora, aqui chegada, estou capaz é de ir para a cama.

Mas, antes de ir, uma nota: ao ligar o computador e espreitar as notícias, vi que morreu a Diane Keaton e isso deixou-me em choque. 

Diane Keaton, by Pablo Lobato

Há pessoas assim, que, saberemos lá dizer exactamente porquê, nos tocam de uma maneira especial, parece que queremos tê-las a partilhar o nosso tempo, enquanto o nosso tempo existir. 

Mais uma estrelinha que foi brilhar para mais longe.

Contudo, a vida continua, a vida sempre continua. E que seja boa para os que cá estão.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

E não se esqueçam de votar pois votar é mais do que um dever, é uma obrigação, é mesmo, ok?

sábado, outubro 11, 2025

O Luís Montenegro não tem vergonha
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

O Luís desceu mais uns degraus na decência política. Um tipo que vem apelar ao voto, referindo que têm que votar nos candidatos do PSD porque, "naturalmente", as câmaras PSD vão ter mais benesses do governo do que as outras câmaras, não merece ser PM de um País democrático. Este tipo de afirmações envergonha quem as faz, devia envergonhar quem as ouve e devia alertar os eleitores quando votam e podem ajudar a eleger "Luíses" que só se preocupam em ganhar votos e que revelam a sua verdadeira persona nestas situações. No caso do Montenegro, a situação vai em crescendo. Começou com as  promessas da campanha eleitoral, passou pela Spinunviva e veremos como acaba.

Só mais um ponto. Já chega de tanta imbecilidade por parte da ministra da saúde, parece que vai fazer mais  um plano  para que não se percam cerca de 300.000 chamadas por mês no SNS. E que tal se ela própria, fazendo jus à sua imbecilidade, fizesse um plano para se demitir?

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E queiram, por favor, continuar a descer: ali mais abaixo o tema são as ineficiências (uma ínfima amostra) do SNS

Uma ínfima amostra do desperdício de recursos no SNS

 

Fui hoje a um dos grandes hospitais, um daqueles que, por isto ou por aquilo, volta e meia anda nas bocas do comunicação social. Mas não fui por estar com uma terrível carraspana, foi por outra coisa. 

Sobre a carraspana, ontem à noite tomei um comprimido de Ceterizina. Depois, como estava com um pingo que não estava a dar-me tréguas, olhos e nariz numa pingadeira, lembrei-me do Avamys. Estava fora de validade mas não muito, coisas de apenas mês e tal. Como estava mesmo aflita, lá foi disto, bombada para dentro. 

O que aconteceu é que hoje acordei sem pingo, sem espirros, sem nada. Mas KO. Totalmente KO. Não sei dizer se era apenas sono, um sono profundo, um cansaço, uma ausência de forças. A voz alterada, o corpo rendido. Nem sei se isto foi do comprimido, se foi da própria gripe. A minha filha perguntou se eu tinha feito teste. Por isso, agora fiz. Negativo para covid ou para as gripes. Ou seja, apenas uma constipação das antigas, mas uma senhora constipação. Ou gripe de uma estirpe não enquadrada pelo teste.

Seja como for, não vou tomar outro comprimido senão amanhã não consigo pôr-me de pé. E tenho um compromisso em que é suposto estar bem acordada.

Mas a ida ao hospital não teve a ver com isto. Antes, quando trabalhava, dado ter um bom seguro de saúde, só frequentava hospitais e clínicas privadas. Agora, que nos reformámos, continuamos a ter seguro, mas menos generoso. As Seguradoras, que sabem fazer contas (e se o cálculo actuarial é uma maravilha...), sabem que à medida que a malta vai para sénior, o recurso a exames e consultas e tratamentos vai aumentando e, portanto, carregam, e carregam bem, no valor do prémio. Mas nem é isso, é mais uma questão de princípio. Durante toda a vida descontámos balúrdios sem usufruirmos. Achámos que agora, reformados, poderíamos tentar. Fomos experimentar o médico de família e, como já aqui falei, gostámos bastante. 

Na última vez que fui a uma consulta de oftalmologia foi há uns 3 anos e tal. Nessa consulta, para meu espanto, a médica disse-me: 'Tem aqui uma catarata...'. Fiquei de boca aberta. 'A sério...?' Para mim, catarata era coisa de velhas. Mas velhas mesmo velhas. Ela tranquilizou-me: 'Ainda é uma catarata pequena, ainda não está madura, nem é coisa que se pense em remover'. Vim de lá a pensar 'Quem te viu, ó maria-papoila, com que então já com cataratas...?'. Até me lembrei de um amigo, um gozão que deixou a mulher para se juntar com uma 'moça' mais nova. Uma vez disse-me que essa moça tinha sido operada às cataratas, e acrescentou: 'Já viu? Deixei a minha mulher para me juntar com uma velha já com cataratas...'. O que me ri. Agora já sou eu. Mas assim como as ideias me vêm, assim se vão. No outro dia, a minha filha ficou admirada por eu nunca ter falado na catarata. Ao meu filho, a mesma coisa. Varreu-se-me, que hei de eu fazer? 

Mas, na primavera, quando fui àquela consulta em que se concluiu que o mais certo é que andasse a tomar um medicamento para o coração sem necessidade nenhuma e, pior, com efeitos secundários críticos, ocorreu-me falar no tema da catarata. O médico disse que ia marcar-me uma consulta de oftalmologia no hospital e que, com o tempo que geralmente demoram a marcar, se calhar, quando lá fosse, já a catarata estaria madura.

Nunca mais me lembrei de tal coisa. 

Até que no outro dia recebi uma mensagem a dizer que estava marcada uma consulta. Afinal foi antes do que eu estava a pensar: apenas 6 meses.

Depois recebi um telefonema a informar-me da mesma coisa. Reparei depois que na mensagem não dizia onde era a consulta. Enviei mail e responderam de imediato, informando que, de qualquer modo ainda iria receber uma carta. E assim foi.

Ou seja, enquanto no Privado onde eu ia recebia uma mensagem à qual deveria responder com um SIM ou NÃO. E estava feito. Não havia funcionários a telefonar, cartas a imprimir, a dobrar, a mandar pelo correio -- tudo tarefas que ocupam pessoas que poderiam estar a fazer outras coisas (e que custam dinheiro...).

Hoje lá me apresentei. Pela primeira vez, fui a uma consulta naquele hospital. Portanto, inexperiente, chegada à recepção, vi uma máquina de senhas. Escolhi a opção de consulta marcada e fiquei à espera que a máquina me pedisse o NIF ou que introduzisse o cartão de cidadão. Mas não. Fiquei intrigada. Então, chegou uma senhora que me disse que não era assim, tinha que me dirigir a Oftalmologia e fazer lá a inscrição. Nos hospitais privados em que eu ia, a recepção era centralizada, ou seja, em qualquer máquina podia fazer a inscrição. Depois de digitar o meu NIF ou de introduzir o cartão, a máquina dava-me uma senha já com o piso e a sala em que teria a consulta, bem como o meu número -- e estava a inscrição feita.

Chegada à dita recepção, dirigi-me à máquina. Voltei a escolher a opção de consulta marcada e, mais uma vez, fiquei à espera que me pedisse alguma coisa que me identificasse. Uma senhora que estava ao pé, explicou que ali era mesmo só isso, só para tirar o número. Ou seja, passado um bocado, na verdade um bocadão, chamaram pelo meu número. Lá fui a um guichetm pediram-me a carta, que entreguei, a lá fiquei inscrita. Ou seja, mais uma tarefa desnecessária. Se estava marcada, desde o momento em que me identificasse na máquina, deveria ficar a inscrição feita.

Somando todas estas ineficiências, e multiplicando por todos os serviços, rapidamente pouparia muitos custos que estão a empolar o SNS.

Quanto ao médico, muito jovem, dira que nem 30 anos, sem bata, um puto. Mas simpático, gentil. Examinou-me e disse-me que já estou no limiar de poder ser referenciada para a cirurgia, mas que também não lhe parecia urgente. Contou-me como é a cirurgia, os riscos e as vantagens, e eu que decidisse. Decidi que para o ano lá volto. Achou bem e logo ali marcou a consulta.

Por isso, a esse nível tudo bem.

E, mais uma vez, pensei: se eu, ou outra pessoa como eu, habituada a olhar para as coisas e a ver onde se pode melhorar, ao fim de um mês teria melhorado consideravelmente o funcionamento dos serviços e teria poupado muito dinheiro. Claro que a seguir iria ver as escalas dos médicos e enfermeiros, iria avaliar as 'barbudas' que por ali se acumulam e que estão a levar o SNS para o buraco. E depois iria para os contratos de manutenção do edifício e dos equipamentos. E depois iria para as compras (de todos os tipos). Em meia dúzia de meses teria conquistado uma mão cheia de inimigos... mas, não tenho dúvidas, tudo estaria a funcionar melhor e mais economicamente.

Mas, claro, isto tudo é chinês para esta ministra e para todos os boys que têm estado a ser plantados em tudo o que é hospital, instituto ou cenas ligadas à Saúde.

sexta-feira, outubro 10, 2025

Um motivo sinistro...

 

Estou constipada. Ou melhor: íssima, íssima. Raramente tenho coisas assim pelo que tenho que confessar que estou a modos que KO. Dói-me um pouco a garganta, estou com um pingo do caraças, não paro de me assoar, tenho os olhos chorosos, e, no conjunto, a sentir-me pura e simplesmente afanada. Não me parece que tenha febre pelo que admito que não é covid nem efeito das vacinas que levei no outro dia. Nunca nenhuma vacina me causou efeitos destes. O meu marido diz que é por eu andar sempre à fresca e dormir praticamente sem roupa em cima. Não creio, não senti frio. Mas o que foi ou deixou de ser não interessa. Quero é pôr-me fina pois assim não estou com nada.

Ou seja, não estou com pedalada para nada. Por isso, desculpem-me se hoje me limito a transcrever, em tradução, o texto que acompanha o podcast The Daily Beast, com Joanna Coles. 

O vídeo está legendado mas há alguns lapsos. Para começar, o nome do entrevistado, o Republicano Ro Khanna aparece como Roxana, imagine-se... 

Mas o tema é actual, é crítico, tem impacto não apenas dos States mas em todo o mundo. E toca vertentes jurídicas, morais, psicológicas, políticas, éticas.

Este é o motivo sinistro para a paralisação de Trump | Podcast The Daily Beast

O deputado Ro Khanna junta-se a Joanna Coles, da Beast, para revelar o que chama de encobrimento mais perigoso de Washington. O congressista da Califórnia explica como os ficheiros de Epstein contêm informações explosivas e porque é que o seu esforço bipartidário para as divulgar foi obstruído durante a paralisação do governo. Liga o papel de Trump no impasse a um sistema mais amplo que protege os poderosos em vez do público. Do impasse no Congresso à avaliação moral, Khanna defende que a transparência é a única forma de restaurar a confiança na democracia. Trump está a proteger os segredos nacionais ou a defender-se?

00:00 - Introdução
02:22 - Epstein regista que a luta visa ajudar sobreviventes e proteger crianças
04:32 - Epstein regista que a quezília mostra que Trump faz parte do sistema corrupto contra o qual se manifestou
10:17 - Onde estão as fotos que Jeffrey Epstein supostamente tinha de Trump com mulheres jovens seminuas?
13:07 - Reflexões sobre o encontro de Todd Blanche com Ghislaine Maxwell
16:05 - Se Trump perdoar Ghislaine Maxwell, como reagirão as vítimas?
19:09 - Deputados republicanos sob ataque por apoiarem Epstein iniciam luta
20:28 - O que o país precisa é da verdade sobre Jeffrey Epstein
21:41 - Quão preocupados estamos com a saúde de Trump?
24:09 - Quem liderará os democratas na corrida presidencial de 2028?
30:31 - Porque é que os multimilionários da tecnologia se curvam diante de Trump
35:06 - O que dizem os líderes tecnológicos sobre Trump à porta fechada
36:53 - Porque é que o futuro do TikTok está em questão
40:00 - Próximos passos na paralisação do governo

👂 Podcast: The Daily Beast Podcast

📺 Episódio: 597

🎧 Formato: Podcast completo

📅 Data: 8 de outubro de 2025

👨‍💼 Convidado: Deputado Ro Khanna

🎙️ Apresentadora: Joanna Coles

quinta-feira, outubro 09, 2025

E voltámos à Spinunviva
-- A palavra ao meu marido --

 

Quando vejo o Montenegro a andar com as pernas arqueadas, um sorriso trocista e um ar de sacana parece-me sempre um futebolista de uma divisão secundária que, não tendo grande jeito para o futebol, tenta ultrapassar essa dificuldade dando sarrafada em tudo o que mexe e dizendo sempre ao árbitro que não fez nada e que o culpado foi outro. Revela, assim, uma enorme falta de respeito para com os adversários, para com a autoridade que controla o jogo e para com o público. 

O caso Spinunviva é paradigmático deste comportamento "futebolístico" do Luís. Não respeitou a verdade (por exemplo, na primeira intervenção que fez sobre o caso referiu que a Spinunviva existia apenas para gerir terrenos com meia dúzia de árvores), afirma repetidamente coisas que não são verdade e que tem que retificar (hoje soubemos mais uma, afinal os documentos que o MP pediu e que o Luís afirmou que entregou, como é costume, parece que não foram entregues), vocifera contra o MP, putativo árbitro do processo (no que teria alguma razão não fosse o caso de, em situações idênticas, com outros protagonistas, ele e os seus amigos do  PSD terem cavalgado a onda e não criticarem o MP quando saíram notícias dos outros processos na comunicação social), e ainda critica a comunicação social por escrutinar os atos que praticou, imputando-lhe responsabilidades que provavelmente são suas. 

O que veio ontem a lume sobre o pagamento das férias pela Spinunviva confirma o que já aqui alvitrei. A Spinunviva serviria para suportar despesas pessoais do agregado familiar, permitindo o pagamento de menos impostos pelo Luís e pela família.

Após ontem ter dito que isto "é uma pouca vergonha", o Luís hoje apareceu-nos mais ajuizado. Do alto da sua cátedra veio dizer-nos que as informações sobre o processo devem ser unicamente trocadas entre ele próprio e o MP. Pareceria correto não fosse o caso de o Luís nunca ter criticado o MP quando notícias de outros processos foram divulgados e sobretudo sabermos que o propósito do Luís é que não haja qualquer escrutínio da comunicação social sobre a Spinunviva. O objetivo do Luís é esconder o mais possível o que fez e, entretanto, ir empurrando com a barriga. Sendo certo que o MP mais uma vez quis ser protagonista perto das eleições, e já aqui escrevi várias vezes que o MP é um dos principais fatores de deterioração da nossa democracia, não é menos certo que o Luís sempre que pôde aproveitou e agora critica o MP apenas porque se sente entalado. Azarinho!

A ver vamos se o PGR, que não me merece confiança, nomeado pelo Luís e que arquivou alguns processos que visavam pessoal da direita, não bloqueia tudo e se conseguiremos saber para que servia a Spinunviva e qual a dimensão da coisa. Aliás, aguarda-se com curiosidade o que dirá a Comissão Europeia sobre a informação transmitida pela Ana Gomes sobre a Spinunviva.

Já agora que estou com a mão na massa, ouvi hoje a ministra da Saúde referir que a malta perde a confiança no SNS quando sabe que um bebé nasceu na recepção de um hospital e bateu com a cabeça no chão. Desta vez concordo com a ministra mas, sendo ela a principal responsável pelo SNS, não será de concluir que os portugueses também já perderam a confiança nela? Só lhe resta demitir-se.

E, já agora, também um outro assunto. O governo quer alterar a lei do trabalho privilegiando os patrões e um dos temas que lançou, provavelmente para fazer passar outros bem mais danosos para quem trabalha, foram os abusos nas horas destinadas  a amamentação. Ontem soubemos que em 2024 mais de duas mil mulheres foram despedidas quando estavam grávidas ou de licença parental. Afinal quem prevarica: as entidades patronais ou as mulheres que amamentam? Não me consta que o governo tenha revelado alguma preocupação sobre estes despedimentos. Para quem tem dúvidas, assim se vê o sentido de justiça deste governo.

quarta-feira, outubro 08, 2025

Quem é Tilly Norwood?

 

Neste mundo acelerado em que as notícias correm vertiginosamente nos nossos ecrãs, falar várias vezes do mesmo assunto já cansa, é mais do mesmo. 

Portanto, como fazer para conseguir romper o muro de indiferença que se ergue em tornos de assuntos já muito falados? Eu não sei. O que sei é que me preocupo com a velocidade a que isto está a avançar. Quando a tecnologia está acessível a toda a gente, quando é gratuita ou quase, quando não há maneira de travar ou regular a sua utilização, é inevitável que, um dia após o outro, os avanços pisem o que se poderia pensar que eram linhas vermelhas (mas que, na realidade, nem sequer existem) e, um pouco por todo o lado, novas experiências vão sendo feitas, fazendo com que o fruto desses avanços encontre um campo aberto à sua espera.

Os alertas de quem sabe do que fala sucedem-se, mas os políticos estão pouco sensibilizados para o que pode estar aí, ao virar da esquina, e, além disso, estão permanentemente enredados nos problemas do dia a dia. E depois agora acontece sempre isto: a opinião de quem sabe, de um prémio nobel, por exemplo, dos fundadores da tecnologia, de quem lida de perto com essa realidade, valem tanto, aos olhos do vasto mundo de ignorantes, como a opinião deles próprios ou de influencers de meia tigela ou engraçadinhos de serviço. Por isso, se os primeiros alertam para os perigos, incluindo os perigos existenciais, da Inteligência Artificial, os segundos logo dizem que já não há pachorra para tanto fatalismo.

Pois bem. O que está a ser feito é imenso, muitas vezes praticamente invisível, e ninguém sabe ao certo até onde é que já se foi.

Mas, de vez em quando, o que está a ser feito sai à cena.

Foi o que aconteceu agora com uma actriz bonita, versátil, disponível para qualquer cena a qualquer hora do dia e da noite, em qualquer dia da semana, sem férias, sem pedir aumento, sem se queixar, sem se cansar. Tilly Norwood é a actriz perfeita. E, claro, toda a gente a quer agenciar.

Com o pequenino pormenor que Tilly Norwood na verdade não existe: é pura criação da Inteligência Artificial. 
É certo que já tinha uma conta de instagram, que, por acaso, já vai em cerca de 60.000 seguidores, e é certo que se descreveu como uma criação. Mas quem é que não é uma criação? E, depois, diz que quer ser actriz. Ou seja, credível. 
Mas quando se apresentou num festival, quando foi exibido um pequeno filme com a sua participação, aí, de repente, a malta do cinema começou a entrar em parafuso, aqui d'el rei,oh tio, oh tio. A coisa começa sempre pelos sindicatos: concorrência mais do que desleal e etc. e tal.

Só que o problema é mais, muito mais, mas mesmo muito mais vasto, do que isso. Não são só as actrizes de carne e osso que ficarão em risco: é a malta dos cenários, os operadores de câmara, os das luzes, os do vestuário, os realizadores, os produtores, a indústria de cinema. Todo este mundo desloca-se para quem sabe dar os comandos para que o código seja gerado. A Inteligência Artificial criará argumentos, criará personagens, criará cenários, fará tudo. Fará tudo por tuta e meia.

Claro que as pessoas de verdade poderão continuar a exercer a sua profissão... só que tudo sairá infinitamente mais caro. Mas haverá quem o queira pagar?

Claro que tudo isto é demasiado complexo, demasiado estranho. 

O que fazer, então? 

Neste momento, não sei. Há uns anos, quando os primeiros alertas começaram a ser ouvidos, talvez se pudesse ter avançado com regulação, com alguma contenção. Agora, não sei.

No outro dia, Geoffrey Hinton disse que a única salvação para o ser humano será se a Inteligência Artificial for programada para ter um sentimento maternal em relação a nós, se for ensinada a proteger-nos, aconteça o que acontecer. Ele sabe infinitamente mais do que eu pelo que pode ser estultícia da minha parte duvidar. Mas, na minha humilde ignorância, permito-me duvidar: não sei se vamos a tempo.
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E... esta é Tilly Norwood

Photograph: Particle6/Reuters in
The Guardian view on Tilly Norwood: she’s not art, she’s data

Transcrevo o início do artigo do Guardian:

A ameaça à criatividade humana trazida pela tecnologia deu mais um passo em frente esta semana com a aparição de Tilly Norwood, a primeira atriz 100% gerada por IA. Sem surpresa, a sua atuação no festival de cinema de Zurique, num sketch cómico chamado AI Commissioner, causou agitação. Emily Blunt descreveu o filme como "aterrorizador" e o sindicato de atores Sag-Aftra condenou-o por "colocar em risco a subsistência dos artistas e desvalorizar a arte humana". (...)

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Uma nova 'atriz de IA' deixa Hollywood furiosa

“Tilly Norwood” parece uma jovem de cabelo castanho ondulado e pele clara que, desde fevereiro, publica no Instagram como qualquer outra influenciadora da Geração Z. Está a seguir uma carreira de atriz — e recentemente publicou sobre fazer “testes de ecrã” na esperança de conseguir um emprego. Mas Tilly Norwood não é uma pessoa real, é gerada por IA, criada por Eline Van Der Velden, fundadora da startup de IA Particle6, que afirma criar “conteúdos digitais” para cinema e TV.

Mas o projeto gerou uma onda de críticas depois de o site de notícias de Hollywood Deadline ter noticiado no sábado que os agentes de talentos procuravam contratar Tilly como atriz e que os estúdios de cinema estão a adotar silenciosamente conteúdo gerado por IA. A conta de Instagram de Tilly acumulou centenas de comentários irados, incluindo de alguns dos maiores nomes de Hollywood.


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Se puderem, vejam o Tristan Harris à conversa com Jon Stewart

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Desejo-vos uma feliz quarta-feira

terça-feira, outubro 07, 2025

Será que estou a tornar-me desconfiada?

 

Tenho para mim que, por natureza, tenho a curiosidade e a capacidade de encantamento de uma criança. Talvez isso resulte de um misto de genuína inocência e de esforçada ignorância. Isso permite-me deslizar pela vida com aquela leveza de quem passa ao lado das pingas da chuva, das ameaças existenciais e dos olhares gordos. Seja o que vier por mal, bate na trave, faz ricochete. 

Só que sou assim, mas, podendo parecer que não, tenho em mim alguma reserva de cepticismo que me permite, de quando em quando, dar um passo atrás e, antes de me entregar ao desfrute, questionar das boas intenções da situação.

Por exemplo, perante algo que me parece extraordinário, antes de me pôr, embasbacada, a tecer loas, interrogo-me: 'Será que não é fake?'. Ponho-me a ver. 'Parece mesmo de verdade...' mas, ao mesmo tempo, 'isto, na realidade, não pode acontecer...'. E assim fico, desejosa de acreditar, de louvar, de sair a correr a partilhar com todos a coisa fantástica que vi, e, ao mesmo tempo, com a amígdala a carregar no travão emocional, 'não vás, ainda fazes papel de parvinha, já viste se vais mostrar que acreditaste numa piroseira que se vê a milhas que é obra de inteligência artificial....'

E a questão é que esta exacerbação se vai expandindo e, às tantas, já desacredito de tudo.

Por exemplo, vi nas notícias que uma mulher em trabalho de parto foi mandada para casa, que aquilo não era nada, ora essa. Passadas três horas, apenas três!, estava de volta, aflita, a criança já entrepernas. Dito assim, imagina-se que meio mundo teria desatado a correr, a pôr a senhora numa maca, levando a maca, todos a correr pelos corredores em direcção ao bloco de partos. Só que afinal não. Pelos vistos, naquele hospital é gente que atua num outro comprimento de onda, mais naquela base do tudo bem, a senhora já está a desovar mas nada de pressas, que tire a senha e vá inscrever-se que as coisas não são assim, à la Gardère, muito menos à vontadinha. A senhora, coitada -- nem quero pensar na aflição, se eu já fico aflita quando tenho vontade de fazer chichi e tenho que aguentar --, imagino bem o que é a sentir a criança a escorregar à força toda e ter que fazer força para ela não sair. Caraças. Só que, disseram nas notícias, a senhora não conseguiu reter e, ali mesmo na recepção, a criança caiu-lhe aos pés, uma queda a pique, a cabeça da criança a bater no chão. 

Ora, perante isto, fico naquela... Isto só pode ser fake... Nem com o polígrafo a pôr-lhe o carimbo de verdadeiro eu engulo esta. Pode lá ser... Estarão os hospitais e o pessoal médico-tarefeiro (leia-se, fugitivos ao fisco) tão desatinados que uma coisa destas pode mesmo ter acontecido? Ná, não papo esta. Vão enganar outro.

Também li que, mais uma vez, os Bombeiros da Moita fizeram um parto na ambulância. Já vão em 15 só este ano. Desculpem mas também não manjo. Alguém acredita que a falta de Urgências Obstétricas em Portugal esteja a atingir números tão sétimo-mundistas que a mulherada, em especial as pobre coitadas da margem sul, agora parem nas ambulâncias? Não. Não pode ser. Na volta, os tipos (ie, os Bombeiros da Moita) têm alguma pancada e é tudo a fingir, na volta não são bebés de verdade, são reborns, fingem que estão a fazer partos e fingem que sacam reborns de dentro das mulheres. Só pode, não é?

E mais outra. Ando sem saber em quem votar nas Autárquicas. Quero comparar programas eleitorais, quero avaliar o CV dos candidatos. E não descubro isso em lado nenhum. Já pesquisei de todas as maneiras e apenas descobri de um deles. De todos, encontro o facebook que contém as fotografias e toda a espécie de palha. Programas, nada. Não sei se sou só eu que quero informar-me antes de votar. Se calhar sou. Se calhar, é isso: ando desconfiada, não quero ir em conversas ou em sondagens. Quero conhecer os compromissos dos candidatos. Mas os candidatos ou não têm compromissos ou estão-se nas tintas para os dar a conhecer. 

Acontece que hoje à noite, ao irmos dar a nossa volta higiénica com o cão, vimos, no larguinho, um pequeno grupo de pessoas silenciosas com papéis na mão. O meu marido disse: 'Deve ser a campanha.'. Não acreditei: 'Campanha? Em ruas desertas? À noite? Ná...'. Mas, pelo sim, pelo não, dirigi-me a eles: 'Desculpem... Tem a ver com as eleições?'. Olharam para mim, admiradíssimos, como se tivessem sido apanhados em flagrante. Depois, vencido o espanto, uma senhora fez que sim com a cabeça e deu-me um papel. Eu disse: 'É que estou farta de tentar encontrar o programa eleitoral dos partidos e não encontro.'. A senhora disse: 'Agora já aí tem. Vamos distribuir nos próximos dias...'. Ri-me: 'Já não vai dar muito tempo, as eleições são dentro de dias... E podiam pôr no site, ficava acessível a toda a gente...'. Olharam para mim, espantados e em silêncio, como se eu estivesse a sugerir que se montassem num foguetão para distribuírem propaganda política a partir de Marte.

Quando cheguei ao pé de um candeeiro, espreitei o papel para ver de que partido era. Pois, lá está, do partido em que, de certeza, não vou votar. 

Portanto, já se vê. Estou desenquadrada disto tudo. Desconfiada. Céptica. Céptica mas não cínica. Ser-se cínico é outra coisa, é ter uma desconfiança moral a propósito de tudo e de todos. Ser céptico é diferente, é alimentar uma permanente dúvida racional. Só que o drama é que, depois, não tenho como encontrar as provas de que necessito. Uma frustração.

Por exemplo:

Este vídeo é real? Estes bichos existem assim, fazem isto, isto tal e qual? Estes saltos? Estas guerras malucas? Posso acreditar que não é fake? Não será coisa de IA? Pode ser, não é?


E este aqui abaixo? É real? Já vi tantas vezes a Música no Coração. Conheço esta canção, claro que conheço. Quem a não conhece? Ou seja, posso jurar que não tem nada de fake. Real, real, real. Ou não?

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Já agora, o 1º vídeo tem por título:

 Bullfrog Battle Royale | The Mating Game | BBC Earth. 

The pond is their boxing ring, and the centre is where you want to be. Being at the centre proves you are the dominant male and therefore more likely to get a mate – you’ve just got to fight off the competition first…

O 2º dá pelo nome de:

 Edelweiss for Today: Epstein Files; A Sound of Music Challenge for Trump. 

Sing along, now, and don't let him distract yo

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Desejo-vos uma feliz terça-feira

segunda-feira, outubro 06, 2025

O fim do mundo -- em cuecas

 

É bem verdade: não há limites para a estupidez, para o ridículo, para a falta de vergonha. E se isso se vê em Trump, vê-se também em quem o aplaude. Por cada burgesso encartado há sempre uma chusma deles que o tolera (e venera).

O que se passou neste domingo em Naval Station Norfolk é paradigmático disso. Eu diria que é uma vergonha, uma palhaçada, um nonsense sem limites. E, no entanto, aquilo parece uma festa: os marujos todos contentes, palmas e sorrisos com fartura.

Trump, o clown demente, saiu de lá feliz da vida, sentiu-se querido, desejado.

Trump Breaks Out The 'Trump Dance' In Front Of Service-Members At Naval Station Norfolk

domingo, outubro 05, 2025

A alegria dos reencontros felizes

 

A mim, que gosto tanto de probabilidades, acontecem-me muitas improbabilidades. 

Na última vez que estivemos juntos, contei-o aqui e, como sempre, falei em abstracto, sem referir nomes ou locais. Pretendo que o que escrevo valha por si, fale de emoções ou de impressões que sejam independentes de referências concretas. Escrevo, digamos, para mim; ou, então, para quem, através das minhas palavras, se reveja no que por aqui vou desfiando. Para mim é uma espécie de pro memoria: muitas vezes, quando quero localizar, no tempo, algum episódio da minha vida ou rever o que, em determinada altura pensei, venho aqui pesquisar.

Pois, como já aqui o contei, para meu espanto, no dia seguinte tinha uma mensagem de uma das pessoas presentes. De facto, eu tinha-me, também, referido a ele, embora, pensava eu, pelo que tinha escrito jamais alguém conseguisse identificar-me ou identificá-lo a ele. E, no entanto, imagine-se, tinha sido denunciada... Para minha total estupefacção, a filha desse meu amigo tinha reconhecido o pai nas minhas palavras... e logo também percebeu que esta que aqui vos escreve e que ela seguia há algum tempo era amiga do pai... e logo ele percebeu que essa pessoa não podia ser outra que não eu. Fiquei com um sorriso de orelha a orelha e ainda hoje sorrio com isso. Há coisas extraordinárias. 

Ainda no outro dia, aqui em casa, recordámos isto. E as perguntas voltaram: 'Mas como é que perceberam que eras tu? Como é que ela reconheceu, no que escreveste, o pai dela?'. E a minha explicação foi: 'Pois, é espantoso. É inteligente como o pai, só pode.'. E agora acrescento: 'E, pelos vistos, improbabilidades também são a sua praia...'

Hoje, com ele, falámos nisso e, claro, sorrimos os dois. Vivendo fora do País, foi esta jovem, que eu não sabia que por aqui me aturava, que, juntando dois pontos, rapidamente traçou a recta que, num ápice, chegou até mim!

Disse-me ele que viria aqui espreitar para ver se eu relatava o nosso encontro de hoje. Não deixei transparecer mas confesso agora que me deixou sem jeito. Parece que, assim, perco um bocado a espontaneidade de escrever em abstracto, para mim e mais ninguém, para o ar, para o anónimo mundo que me cerca.

Mas, então, até porque, de facto, iria mesmo escrever, aqui vai. 

Quando chego a casa destes nossos encontros venho sempre feliz, feliz, feliz. Quando penso em todos, parece que estão sempre todos a sorrir. 

O tempo passou. Ao princípio quase não nos reconhecíamos. O tempo esculpiu algumas transformações, por vezes parece que até as nossas feições mudaram. Mas, agora que nos reabituámos, acho que, afinal, estamos quase na mesma: boa onda, boas pessoas, bons amigos, só que com uma diferença - parece que estamos todos mais felizes. Já não temos nada a provar, agora somos nós no que temos de mais genuíno, nós e a amizade que afinal não esmoreceu, nós e o carinho de, ao fim de tanto tempo, ainda gostarmos de estar juntos.

É muito bom reencontrarmo-nos. E até os que estavam doentes ou 'empanados' na última vez agora, felizmente, estão bem, recuperados. Na mesa em que eu estava, quando começámos, fizemos um brinde. Desejámo-nos saúde, alegria. E eu acrescentei: 'E que, para a próxima, estejamos cá todos'. No mesmo instante em que o disse, pensei: 'Olha que estupidez... isto soa a fatalismo'. Mas todos desejaram que sim, que para a próxima cá estejamos todos. 

É que fiquei muito triste, muito mesmo, quando a G., que parecia tão bem e que tinha sempre aquele sorriso doce, morreu. Pareceu-me uma daquelas rasteiras que não são admissíveis. Uma das nossas a ir-se assim, tão cedo, tão a despropósito... Depois foram umas doenças que tocaram alguns e o teu acidente, e, com tudo isso, fiquei como que assustada. 

Lembro-me que, na altura, depois de ter lido o que eu tinha escrito no grupo, um dos amigos escreveu-me uma mensagem privada em que dizia que temos que nos preparar, que nas nossas idades, temos que nos mentalizar que, de vez em quando, chegarão notícias assim. Racionalmente compreendo, claro que compreendo. Mas, com a inocência da adolescente que eu era naquela nossa altura, apetece-me bater o pé, dizer que não quero, não aceito partidas antecipadas, maleitas, sustos e tristezas. Quero é que continuemos a sorrir uns para os outros, mostrando-nos confiantes, bem dispostos, felizes.

Estive a ver as fotografias que, entretanto, já foram partilhadas, não apenas deste sábado mas também as da viagem a Madrid. Como é possível que tenha passado tanto tempo? Passa rápido o tempo... Caraças.

Os jovens saberão que devem aproveitar bem os seus dias, não os desperdiçar com intrigas, futilidades, desencantos desnecessários? 

A vida é boa, cada pequeno momento deve ser acarinhado como único, irrepetível. E se querem fazer alguma coisa, arriscar, passear, o que for, pois que façam, não fiquem à espera pois a vontade ou a oportunidade de o fazer pode esmorecer ou desaparecer e, depois, fica a mágoa do que não se fez. É que é tudo tão rápido...

Mas, lamechices ou filosofices à parte, adorei o dia, o reencontro. Vim feliz. Estou feliz. Estou a escrever e estou a sorrir. E cheia de vontade que venha o próximo. 

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Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, outubro 04, 2025

Erros processuais e outras anormalidades
-- A palavra ao meu marido --

 

Consta que houve uns F35 que pousaram na base das Lajes devido a um pequeno equívoco. O Rangel, provavelmente meio histérico, achou por bem dizer que, obviamente, o ministério dos negócios estrangeiros nunca se equivoca e que só poderia ter sido o ministério do Melo. O nosso Peter Hegseth (idêntico, salvo a diferença de escala; no sentido de estado, é idêntico) deve ter-se chateado e foi fazer queixa ao padrinho Luís que mandou o Rangel dar o dito por não dito: afinal, o incidentezinho deveu-se a um erro processual. 

E, acto contínuo, mandaram abrir um inquérito que é o procedimento número um do governo: em caso de chatice, abre-se um inquérito, deixa-se o inquérito a marinar e, acima tudo, nunca se assume a responsabilidade pela ocorrência, mesmo que ela seja uma tragédia. 

Esta do erro processual até pode pegar e dar para tudo, desde as tragédias na saúde, aos problemas na educação, na habitação, aos incêndios,... Esperemos é que um novo erro processual,  e errar é humano, não permita que drones do Putin aterrem na Costa da Caparica. 

Sabe-se lá o que pode resultar de um erro processual... 

Por exemplo, será que a investigação do MP ao Ivo Rosa também foi um erro processual? Ou terá sido, antes, um aviso aos juízes e, nomeadamente, a quem julga o Sócrates, que ou andam na linha ou podem ter a vida devassada durante anos por uma investigação resultante de uma denúncia anónima sem fundamento? 

Em tese, um procurador como qualquer cidadão, pode fazer a denúncia anónima só para dar cabo da vida a um juiz que não serve os seus interesses. O estranho não é isso. O estranho é ser possível que um ou vários juízes sancionem esta investigação. Tão estranho como isso é que, no meio de um escândalo destes, a SIC abra o jornal das 13 horas com a notícia que a Joana Marques foi absolvida

Estamos conversados. Viva o populismo e que se lixe a democracia. Uma coisa parece ser certa: alguém tem que controlar o MP enquanto é tempo. Caso contrário, corremos o risco do MP nos controlar a todos. 

sexta-feira, outubro 03, 2025

Daqui para ali e dali para aqui

 

Por, ultimamente, por motivos diversos, andar a ter que ir daqui para ali e, pelo meio, andarmos com vontade de inserir passeios e passeatas, chego ao fim do dia com o corpo a pedir-me sossego. 

Não sei o que nos deu aos dois mas, no meio de várias decisões que temos entre mãos, parece que andamos com vontade de laurear. Acresce que o meu marido agora inventou a novidade de que, a seguir ao jantar, bom, bom, é irmos mais uma vez com o cãobeludo à rua, não apenas para ele fazer as suas necessidades nocturnas como, nós, para fazermos uma caminhada digestiva. Diz que leu que é coisa boa (não sei exactamente para quê). Mas como, volta e meia, peco à grande -- ainda hoje à tarde, na praia, marchou um geladão de chocolate negro e avelã --, na expectativa de que queime umas caloriazitas, alinho. 

Por isso, apesar de ir acumulando assuntos durante o dia para sobre eles aqui explanar à noite 

(a aventura hippie-romântica que dá pelo nome de la flotilla; o poder, quiçá um poder chantagista, de Israel sobre Trump como as tremendas consequências que isso comporta, umas visíveis, outras ainda não; a degradação crescente de Trump, umas com contornos de comicidade, outras com traços marcadamente fascistas; os palhaços que o rodeiam, palhaços acéfalos e invertebrados; a dupla gen Z que hoje andava a distribuir folhetos à beira da praia, tão fofos; etc), 

chego a esta hora e, infelizmente, só me apetece ir dormir.

Ainda por cima, enquanto íamos caminhando agora à noite, já íamos a preencher o dia que aí vem. Resumo: mal me levantar, vou fazer uma máquina de roupa mas antes vou pulverizar as calças e calções brancos com tira nódoas pois quero sempre o branco bem branquinho. Depois pequeno-almoço. Depois ginásio. De volta a casa, estender a roupa. Depois ida à praia, quiçá almoçar por lá. Depois, ao regressarmos, apanhar e arrumar a roupa. Depois ir buscar o cãobeludo à creche. Depois ir passear com ele. Depois chegar a casa e tomar banho. Depois ir escolher a bolsa que irei usar no sábado e transferir o essencial da bolsa corrente para lá (pois já sei que no sábado entre arranjar-me, ver-me ao espelho, e etc, para estar a horas no local onde irei encontrar-me com amigos de longa data, pouco tempo sobrará). Depois irei regar. Depois fazer o jantar. Etc. 

Ou seja, nada de especial. Coisinhas próprias de uma vidinha como a minha. Não desembainho espadas contra moinhos de vento, não escalo montanhas, não mergulho em apneia ao fundo dos mares, não desenho graffitis nos viadutos a meio da noite. Nada. Só coisinhas. Mas, como sempre, um programa corrido que me transportará até à hora em que, tardiamente, me sentarei no sofá e me sentirei perdida de sono. Na volta é coisa de gente idosa. Tivesse eu metade da idade e faria tudo isto com uma perna às costas e ainda me sobraria tempo para bordar uma mega carpete de arraiolos, para ir ao cinema à noite e ainda escrever três livros ao mesmo tempo. Mas agora é isto. E é bom. 

Para os que também me acompanham no Instagram, saberão que no outro dia comprei uns sininhos de vento, mais tubinhos do que sininhos, em bronze, que, tocados pelo vento, emitem uma música divina. Pendurei-os na cameleira que está junto à janela do quarto. Mas não tem havido vento nem aragem e, por isso, quando deitada, ainda não fui embalada pelo seu canto. Ouvi, isso sim, o gato, ou a gata, que, de vez em quando mia e mia e mia e causa um abalo telúrico entre os cães nas redondezas. Portanto, agora estou à espera não apenas da chuva pois as terras estão sequiosas, mas também do ventinho que não vem.

E hoje voltei a encantar-me com a beleza do mar e da luz. Nasci ao pé da praia, era pequenina e ia passar o dia à praia, toda a minha vida andei perto do mar e dos rios. E, no entanto, é para mim um encantamento sempre inaugural. 

Estava com vontade de ir agora agradecer e responder aos comentários mas já não consigo. Tenho ideia que a minha mãe ou as minhas avós, já nem sei, por vezes diziam que, por vezes, o ar do mar era muito forte, deixavam-nos moídos. Não sei se será disso ou será mesmo falta de dormir mais. Mas, seja o que for, vou mas é para a cama. Assim como assim já são duas da manhã.

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Desejo-vos uma feliz sexta-feira

quinta-feira, outubro 02, 2025

Oh... Jane...

 

Uma notícia triste. Quando comecei a ver, por todo o lado, a  fotografia com a data de nascimento de Jane Goodall e a data de hoje, entristeci-me. 

Jane Goodall at Budapest Zoo in 2004 with a newly adopted chimpanzee called Pola.
Photograph: Bela Szandelszky/Rex Features

No Guardian (Jane Goodall, world-renowned primatologist, dies aged 91)

É certo que ninguém cá fica e é também certo que, à medida que a vida se prolonga, mais curto fica o pavio. Mas ela era daquelas pessoas que eu admirava verdadeiramente. Gostaria muito de a ter conhecido pessoalmente. Sei que adoraria estar perto dela, ouvi-la, fazer-lhe perguntas, sentir a doçura do seu olhar e do seu sorriso. E não há muitas pessoas de quem eu consiga dizer isto.

Ainda não há muito, eu tinha partilhado, num outro fórum, um vídeo dela louvando a sua permanente abertura de espírito e a sua serenidade. Era daquelas pessoas que a gente se habitua à ideia de que são eternas.

Mas, enfim, tinha 91 anos e um dia haveria de ser.

Eu própria dou por mim a fazer contas de cabeça. Penso em quantos mais anos 'úteis' ainda me restarão, em que estarei independente, motivada, sem maleitas a travar-me a energia e a mobilidade, com vontade de fazer tachadas de comida e desejando ter a mesa cheia de gente. Faço a minha estimativa e, por vezes, penso que estou a ser optimista. É que não vale a pena pensar que só acontece aos outros. Neste caso, ninguém escapa. Ou seja, nem faz sentido desejar que a morte não nos leve. Claro que levará. O mais que faz sentido querer é que seja como a gente deseja que sejam os partos: uma hora pequenina. Que seja rápido e pouco doloroso. E que seja quando a gente pensar que já viveu tudo o que haveria para viver, que já está bem assim, que já chega.

de André Carrilho

Mas, no caso de Jane Goodall, sempre tão bem, sempre tão jovem, cabeça tão arejada, tão escorreita e bem disposta, sempre tão profundamente honesta, tão bondosa, penso que era legítimo pensar que seria daquelas que chegaria a velhinha, aos cem ou mais que isso, a ainda a sorrir e a mostrar ao mundo que a boa onda e o bom humor são verdadeiras pílulas da longevidade. Afinal, partiu antes do que eu imaginaria. Ainda não a via como 'velhinha'. Como pessoa de alguma idade, sim, mas não daquelas velhinhas que já não dão uma para a caixa.

Segundo leio, ainda a semana passada participou no evento Forbes Sustainability Leaders Summit (partilho o vídeo com a sua intervenção) e num podcast creio que do Washington Post, e ia falar em público depois de amanhã e, para a semana, participaria noutro evento. Ou seja, esteve activa até mesmo ao fim. Acho extraordinário. Provavelmente, algo dentro dela estaria já bastante frágil mas, num daqueles mistérios, talvez insondáveis, em que os mecanismos da vida e da morte são férteis, a sua cabeça, a sua vontade, o seu ânimo estavam ainda bem vivos. 

Não vou agora pôr-me para aqui a desejar que repouse em paz ou outras banalidades do género. Desejo, isso sim, que o seu exemplo perdure, que o amor e compreensão pelos animais seja cada vez mais forte, que o respeito e a veneração pela natureza estejam sempre presentes entre nós.

Li que, naquelas medidas estúpidas e cruéis de Trump, tinha sido cordado financiamento a projectos seus. Imagino como se deve ter sentido revoltada e impotente. Mas estou em crer que terá tentado dar a volta, sem derrotismos. E é o que todos temos que fazer quando a vida nos troca as voltas: resistir, encontrar alternativas, acreditar, seguir em frente.

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Jane Goodall Has Died At 91—Here Is Her Forbes Interview From Last Week

Legendary zoologist Jane Goodall has died at 91; last week, she spoke to Forbes' Maggie McGrath at the Forbes Sustainability Leaders Summit.

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Votos de um dia feliz

quarta-feira, outubro 01, 2025

Ai Lisboa, Lisboa...

 

Não sei, de fonte segura, há quanto tempo não passeava no Chiado. Lembrei-me de verificar aqui no blog. A última vez em que aqui registei um passeio por lá foi em 2022. Depois dessa data já registei passeios na Avenida da Liberdade, várias vezes em Belém, Parque das Nações, Gulbenkian, Parque Eduardo VII, Avenida da República, etc. E, claro, não registo os lugares que frequento regularmente como é o que caso da Avenida de Roma e adjacências que a isso, muito sinceramente, já não consigo ver motivos para fotografar pois felizmente é um lugar que tem sabido manter-se igual a si próprio. Mas a questão é que não vou falar de Lisboa em geral mas especificamente da zona do Mercado da Ribeira, Cais Sodré, Rua do Alecrim, Chiado, Rua do Carmo, Rossio, Ruas da Baixa. 

Desde tempos imemoriais esta zona sempre foi das que mas gostei em Lisboa e das que mais frequentei. Houve uma altura em que passava por lá diariamente e, mesmo quando a percorria por motivos utilitários, o lado de turista acidental nunca deixou de estar presente. Alfarrabistas, livrarias, moda, pessoas que passam e que tornam o local ideal para fazer fotografia de rua, tudo ali sempre foi muito apelativo para mim.

E se dantes ia bastante assiduamente a verdade é que, nem sei bem porquê, passaram três anos sem me lembrar de lá ir (isto admitindo que a última vez corresponde a quando aqui o documentei).

Ontem acordei a pensar que estava com saudades. Fomos.

E não sei como descrever o que encontrei. Até me fez lembrar aquele sonho que volta e meia tenho em que volto ao meu local de trabalho e mal o reconheço: o espaço diferente, as pessoas todas novas.

Uma quantidade inexplicável de tuk-tuk, uma coisa como não poderia esperar. Grande parte deles estão engrinaldados de flores coloridas, outros parecem carros antigos. Claro que em 2022, na Baixa, já os havia. Mas não era a avalancha que é agora e eram mais simplórios, quase artesanais. Agora é uma estridência colorida, uma coisa que diria mais enquadrada nas Caraíbas ou no México. Mas, sobretudo, a quantidade. 

Claro que se há procura, a oferta adequa-se e, portanto, isso significa que há muito turismo que os procura. Por isso, há que ver a racionalidade económica da coisa. Ando por estas ruas e sinto-me estranha no meio de tantos, tantos, tantos turistas, muitos com aquele stick (agora com um peluche ou outra coisa na ponta) que segura o telemóvel, e de tantos tuk-tuks. Mas é o que é, o dinheiro do turismo é assim que entra.

Mas não é só isso. Praticamente já não há comércio tradicional. Grande parte das lojinhas foi à vida. E não posso dizer mal disso pois se não se aguentavam, se não havia procura que as tornassem viáveis, o que poderiam fazer os donos? Há agora sobretudo as marcas internacionais que estão nos centros comerciais e em todo o lado, Oysho, Ale Hop, Mango, H&M, etc. A Rua do Carmo, então, é uma desolação, a caminho do abandono. Os prédios reconstruídos anularam as lojinhas. Os passeios da Rua do Carmo estão com pouco movimento, a rua parece meio desolada.

E depois os restaurantes da Baixa são todos iguais uns aos outros, iguais aos que se encontram em volta da Marina de Vila Moura e em todos os lados em que o turismo massificado impõe ementas iguais, plastificadas, normalizadas, com as mesmas fotografias dos mesmos pratos. Tínhamos pensado ir àqueles restaurantezinhos beirões das ruas intermédias em que ainda se comia genuína comida portuguesa. Não descobrimos um único. Esplanadas nas ruas, turistas e mais turistas, tudo a comer a mesma coisa, os empregados a dirigirem-se a nós em estrangeiro.

Pensámos depois ir à Pizzaria Lisboa, do Avillez, que apreciávamos. Descobrimos que mudou de sítio, já não é ali ao S. Carlos. Agora está junto com a Taberna e com o Páteo, na Rua Nova do Trindade. Chegámos lá, estava fechada, salvo erro só abre à noite. 

Por essa altura já só nos queríamos pirar de todo este despropósito. 

Voltámos a pé até ao carro que tinha ficado cá em baixo, ao pé da Ribeira, ié Time Out, e rumámos até Belém, um restaurante que é excelente na qualidade da comida, no espaço, na vista, na frequência. Até ficámos ao lado da última ministra da Cultura, um espécime raro e que vem dos tempos em que a civilização era uma coisa concreta. Depois já houve outro, mas era homem. Agora nem homem nem mulher, já não há ministério exclusivo para a Cultura, agora é uma moçoila que tem a cultura tal como tem várias outras coisas e de quem nunca se ouviu que tivesse alguma ideia para o que quer que fosse, provavelmente nem ela sabe bem porque a puseram a tomar conta de coisas que não têm nada a ver umas com as outras. O Montenegro é assim, tem tanta apetência para a Cultura como eu tenho para jogar às cartas.

Claro que, a caminho do restaurante, passámos pela rua dos pastéis de Belém, outra confusão. Tudo o que cheira a típico, está invadido. Bom para o comércio mas, da maneira que é, diria que, a prazo, são tiros nos pés.

Mas, enfim, onde estivemos, estivemos bem, um oásis.

E vim a pensar: como se degradou tanto a qualidade e o ambiente numa das zonas mais nobres de Lisboa? Como foi possível que a Baixa e o Chiado se descaracterizassem desta maneira?

Claro que ainda bem que se têm vindo a reabilitar os prédios devolutos ou a cair de podres. Em tempos, a Baixa, à noite, sem ninguém, chegou a estar aos caídos. E isso também era mau.

Mas estou em crer que, em todo este processo, está a faltar um plano, uma estratégia, uma visão. Provavelmente a Câmara deveria exigir que parte dos edifícios a reabilitar se destinasse a habitação para jovens e para a classe média. Com isso viria mais uma porção de coisas: escolas, pequeno comércio, minimercados, pequenos jardins, pequenos parques infantis. É a habitação para jovens, pequenos apartamentos a renda acessível, e a habitação para classe média, que traz vida aos lugares. É essencial, essencial. Depois também, ok, concordo, licenças para hotéis ou apartamentos de luxo. Mas tudo estaria integrado, haveria lugar para todos, e garantir-se-ia que se mantinha a genuinidade da cidade. Urbanismo, humanismo, qualidade de vida, preparação do futuro -- tudo coisas que parece que desapareceram desta zona de Lisboa.

Não sou saudosista, não sou conservadora, não sou reaccionária. Sou o oposto de tudo isso. Mas hoje vim triste, desgostada com esta parte de Lisboa de que eu tanto gostava e que já mal reconheci. Isto vai pagar-se caro.

Costumava fazer sempre dezenas e dezenas de fotografias. Desta vez nem me apeteceu. Partilho aqui apenas duas. Sempre gostei de fotografar pessoas e montras. Partilho apenas duas montras.

E depois outra coisa: a Avenida 24 de Julho está degradadíssima, muitos prédios num estado desgraçado, a escadaria que vem do Museu de Arte Antiga meio ao abandono, o pequeno jardinzito por baixo a mesma coisa, edifícios devolutos, entaipados. Uma tristeza. Caraças. 

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Desejo-vos um dia feliz