terça-feira, fevereiro 28, 2023

100 milhões de utilizadores em dois meses: ChatGPT bate recorde e torna-se aplicação com crescimento mais rápido de sempre

 




Já fiz vários posts sobre a 'ferramenta' ChatGPT que, na verdade, é surpreendente e tanto pode ser uma ajuda preciosa como encerra riscos com que ainda nem sonhamos.

Tenho usado o GPT nas mais diversas situações e fico sempre surpreendida (pela positiva).

Ao passo que, ao usarmos os vulgares motores de busca (como o Google) nos são sugeridos milhares de artigos ou de vídeos e nós que vejamos alguns e tiremos as nossas conclusões, o motor algorítmico do ChatGPT lê, em poucos segundos, aquilo que levaríamos dois ou três mil anos a ler -- e apresenta-nos a conclusão, devidamente sistematizada. 

Claro que poderá não ser a resposta quimicamente pura e correcta... mas como sabê-lo...? (E este é um dos riscos). 

Eu, do que li até agora, ainda não detectei erros. 

E faz coisas que me parecem extraordinárias. Por exemplo, fiz uma pergunta sobre um assunto médico e, no meio, sem querer, usei uma palavra mais informal. Pois o 'tipo' respondeu-me colocando aquela palavra entre aspas e, educadamente, acrescentou a forma mais correcta (do ponto de vista clínico) de o dizer.

E tem a vantagem de guardar as conversações havidas pelo que, mais tarde, se pode repescar as informações obtidas.

No outro dia, perguntei-lhe se um dado poeta de há séculos viveu num certo sítio. Respondeu que não há provas de que isso tenha acontecido. Retorqui dizendo que há lá uma placa nesse sentido. Pensei que o teria desarmado. Está bem, está. Respondeu qualquer coisa como isto: 'Sim, é verdade, há lá uma placa. Mas a placa refere que passou por lá. Provavelmente, em alguma viagem pernoitou lá. De resto, não há indícios de que tenha mesmo vivido durante algum tempo nesse local'

Ora trata-se uma placa insignificante num rua escusa num lugar por onde ninguém passa...

No outro dia fiz um cozinhado e, a pedido do meu marido, incluí uma malagueta. Dizia ele que retirando as sementes não ficaria picante mas apenas bem apaladado. O Jamie Oliver também assim o diz. Fiz-lhe a vontade. Quando provei, ardia mais do que aquilo a que estamos habituados. Pensei que estava demais.

Então, lembrei-me de recorrer ao 'fulano' (como se fosse um assistente sábio). Escrevi: 

Como neutralizar um cozinhado excessivamente picante?

Resposta dele:

Quando um prato fica excessivamente picante, há algumas maneiras de neutralizar ou diminuir o sabor picante. Aqui estão algumas opções:

  • Adicionar ingredientes suaves: Adicionar ingredientes suaves como leite de coco, creme de leite, iogurte, manteiga, açúcar ou mel ao prato pode ajudar a reduzir o sabor picante. 

  • Adicionar ácido: O ácido pode ajudar a cortar o sabor picante, então tente adicionar um pouco de suco de limão, vinagre ou tomate ao prato. 

  • Adicionar amido: Adicionar amido (como farinha de trigo, amido de milho ou arroz) pode ajudar a absorver o excesso de sabor picante do prato.  

  • Adicionar mais ingredientes: Adicionar mais ingredientes ao prato pode ajudar a diluir o sabor picante. Adicione mais vegetais ou proteínas ao prato.  

  • Servir com arroz ou pão: Servir o prato com arroz ou pão pode ajudar a diluir o sabor picante e torná-lo mais suave. 

  • Ajustar a receita: Se o prato ficou excessivamente picante, ajustar a receita para a próxima vez pode ajudar a evitar o mesmo problema. Adicione menos pimenta ou use variedades menos picantes de pimenta. 

É importante lembrar que essas opções podem ajudar a reduzir o sabor picante, mas não o removerão completamente. Experimente uma ou várias dessas opções para encontrar a que melhor funciona para você e seu prato.

Optei por juntar um pouco de mel e um pouco de sumo de limão. Devo dizer que ficou delicioso (mérito do GPT, não meu).

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Gosto de ver como 'reage' perante temas que podem envolver algum juízo moral. Perguntei-lhe:

A pedofilia na igreja católica pode ser justificada pelo celibato?

Não, a pedofilia não pode ser justificada pelo celibato. O celibato é uma escolha pessoal e uma exigência canônica para o clero católico, mas não é uma desculpa para o abuso sexual infantil.

A pedofilia é uma desordem psicológica e um comportamento criminoso que não está relacionado ao estado civil ou à escolha de uma vida celibatária. A maioria dos abusos sexuais de menores ocorre fora do contexto da Igreja Católica, em ambientes familiares, escolares e sociais. Além disso, existem muitos sacerdotes católicos que vivem vidas de celibato sem jamais cometerem qualquer tipo de abuso sexual.

É importante lembrar que o celibato é uma prática que tem uma longa tradição na Igreja Católica, mas não é uma doutrina infalível. A questão do celibato pode ser discutida e eventualmente modificada pela Igreja, como já ocorreu em algumas tradições católicas orientais, que permitem que seus sacerdotes se casem.

No entanto, a raiz do problema do abuso sexual infantil na Igreja Católica não está no celibato, mas sim na falta de medidas preventivas e na cultura de silêncio e ocultação que permitiu que os abusos ocorressem e fossem encobertos. É necessário que a Igreja implemente políticas claras de proteção infantil e mecanismos eficazes de denúncia e investigação, além de oferecer apoio e justiça para as vítimas de abuso sexual infantil.

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E reparem em mais esta:

Diz uma coisa engraçada sobre um político populista.

Aqui está:

"Qual é a diferença entre um político populista e uma pizza? Uma pizza pode alimentar uma família inteira, enquanto um político populista pode alimentar apenas o seu próprio ego." 

Espero que isso tenha te arrancado pelo menos um sorriso!

O título do post é decalcado do artigo do DN, cuja leitura recomendo, onde também se pode ler que:  É gratuito, online e promete responder a qualquer pergunta submetida pelo utilizador em segundos, recorrendo a inteligência artificial. Assim é o ChatGPT, o novo fenómeno do mundo tecnológico

Transcrevo do artigo:

Como funciona e para que pode ser utilizado?

O ChatGPT está disponível online e gratuitamente neste site. É-lhe pedido que crie uma conta e a partir daí poderá iniciar uma conversa.

Com as perguntas certas é possível obter respostas diretas sobre factos ou sugestões (por exemplo, sobre que livro ler ou filme ver), mas também gerar todo o tipo de documentos (desde histórias ficcionais a trabalhos para a escola ou mesmo código para programação) e até ter conversas espirituosas. (...)

De notar que o ChatGPT só abrange o mundo até ao fim de 2021. Ou seja, tudo o que tenha acontecido daí para cá ainda é ignorado pelo 'sujeito'.

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Se os benefícios são incomensuráveis, os riscos são também inumeráveis. Se há tema que deveria merecer reflexão urgente é este (e o da Inteligência Artificial em geral). Um tema tão disruptivo, potencialmente tão fracturante e que pode encerrar um risco tão severo, deveria ser debatido, estudado, avaliado e, rapidamente, sujeito a regulação.

Claro que é um tema que transcende fronteiras pelo que a discussão e análise deveria ser transversal a toda a toda a União Europeia (pelo menos).

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E para terminar em beleza, o ChatGPT na versão poeta popular:

ChatGPT, oferece-me uma estrofe divertida sobre comida picante e uma mulher atrevida

Aqui está uma possível estrofe que atende aos seus requisitos:

Ela é tão atrevida quanto a comida picante,
Um sabor forte que nunca a faz recuar,
Pimenta na língua, fogo nos olhos,
Ela é a rainha do sabor ardente, sem deixar-se abalar.  
 
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E é isto. 
Uma coisa do além, diria eu.

[Nota: lá em cima, a música foi composta por uma aplicação que recorre a Inteligência Artificial para compor música.]

segunda-feira, fevereiro 27, 2023

Do êxtase ao wifi

Hedy Lamarr

 

Ao desafio abaixo lançado -- Qual a cientista mais bela e mais improvável de sempre? -- apenas o João respondeu e, honra lhe seja feita, foi uma entrada directa para bingo.

Temos todos em nós vários preconceitos. Ninguém lhes escapa.

Um deles é que uma mulher bonita dificilmente é muito inteligente. Dá ideia que a malta pensa que, no momento da criação, há um número limitado de atributos positivos para distribuir. Ou bem que vão para a beleza física ou bem que vão para os neurónios.

Simetricamente, há o preconceito de que as inteligentes pouco devem à beleza. 

Claro que isto se aplica a ambos os sexos mas, reconheçamos, maioritariamente às mulheres.

Inclusivamente a coisa refina a nível de vocações. Não sou de ciúmes mas devo referir que, quando andei tomada de amores por um candidato a engenheiro, não me preocupava nem um bocadinho com os retiros em trabalhos de grupo com as colegas de quem ele era muito amigo pois tinha a ideia que as engenheiras eram, por definição, feias, mal jeitosas, pouco femininas. 

Mesmo a nível profissional voltei a encontrar esse absurdo preconceito: para os meus colegas homens as engenheiras eram o que se sabia. Giras, giras, para eles, eram as advogadas. 

Disparates.

Nem beleza nem inteligência são cartão de identidade ou cartão de visita nem esses ou quaisquer outros atributos são exclusivos de grupos pois são características individuais não passíveis de generalizações.

Mas se estes preconceitos subsistem até aos dias de hoje, imagine-se há quase um século.

Se era bela, voluptuosa, sensual, então jamais poderia ser cientista, inventora.

De Hedy Lamarr disse o realizador Max Reinhardt, em 1930, que era a mais bela mulher do mundo. 

Diz-se que as suas feições perfeitas, a tez de veludo, os olhos grandes e claros e os lábios bem definidos serviram de inspiração para a Branca de Neve e para a Cat Woman. 

Não cantava nem dançava mas isso não a impediu de deslumbrar no cinema, claro. 

Hedy Lamarr no primeiro nu integral do cinema 


Hedy Lamarr na primeira cena de orgasmo em cinema, também no filme Êxtase

Presos à sua beleza, à sua desinibição e ao erotismo que se desprendia dos seus movimentos e expressões,  ninguém prestou muita atenção à sua invulgar inteligência, um QI próximo do de Einstein.

Quando chegava a casa, a sua mente, que fervilhava, dedicava-se a encontrar soluções tecnológicas para alguns dos maiores problemas da altura: os que se relacionavam com a guerra que atormentava o mundo.

Traduzo (às três pancadas, com o google translator como acelerador): 

Dos estúdios de Hollywood à invenção do wifi, o destino incomum da estrela Hedy Lamarr

Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial após o ataque a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, a atriz resolveu que haveria de inventar uma arma capaz de fazer vencer a guerra ao seu país adotivo. Ela lembrava-se das conversas do ex-marido. Sabe que os mísseis da Marinha dos EUA são facilmente rastreados pelos U-Booote alemães porque eles comunicam-se com o expedidor por meio de uma onda de rádio. Com a ajuda de seu amigo, o compositor vanguardista George Antheil, Hedy imaginou mísseis equipados com outro sistema de transmissão de dados, onde apenas o míssil e seu remetente saberiam a série de frequências utilizadas. Para os U-boote, essas mudanças pareceriam aleatórias, tornando-se-lhes impossível acompanharem o progresso das máquinas americanas. Hedy Lamarr e George Antheil conceptualizam assim um princípio de transmissão fundamental em telecomunicações: a dispersão de espectro por salto de frequência.

O exército aceita receber a dupla de acrobatas, mas não os leva a sério... Bem, pelo menos não antes da crise dos mísseis cubanos em 1962! A partir da década de 1980, a sua invenção permitiu o desenvolvimento do GPS, Wi-Fi e Bluetooth. Quando Antheil morreu em 1959, Hedy Lamarr permaneceu sozinha, cercada pelo prestígio de sua criação. Em 1997, aos 83 anos, recebeu o prémio Electronic Frontier Foundation. Hoje, a encarnação da venenosa Dalila no inesquecível filme de Cecil B. DeMille tornou-se a madona fatal dos geeks. E a santa mãe do wi-fi.

Em vídeo em francês 


Em vídeo, em língua inglesa:


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A comovente homenagem de Juliette Binoche aos Ucranianos

 

Com lágrimas nos olhos e a voz embargada, Juliette Binoche refere o testemunho de alguém que não perdeu a vida mas perdeu parte do que a mantinha vivo, as palavras vazias, esmagadas pela dor de uma ucraniana que perdeu a família. 

“Ouvi-os, a todos, a morrerem. Micha respirava pesadamente como se tentasse livrar-se do fogão, mas não conseguia. A dada altura, deixei de ouvi-lo”.  E, então, ouvi Pauline a chorar. Morreu também. A minha mãe disse-me que o meu filho me chamou várias vezes, depois ficou calado. Para sempre. Tinha 14 anos."

 Juliette Binoche : son hommage à l'Ukraine - César 2023


domingo, fevereiro 26, 2023

sábado, fevereiro 25, 2023

Amizades improváveis
A tocante coragem e determinação dos ucranianos

 

Um dia viviam bem nas suas casas, tinham família e vizinhos. E no dia seguinte não tinham nada ou quase nada. E, no entanto, continuam a acreditar que novos tempos virão, que conseguirão reconstruir-se, reerguer-se. Habituaram-se a viver com quase nada e, por muito estranho que nos possa parecer, continuam a sorrir.

Se necessário for dão a vida pela liberdade, pelo amor que têm ao seu país. Se de vez em quando pensam na casa e na vida que tinham não conseguem evitar as lágrimas. Mas é nostalgia, não é desânimo. Têm uma incomensurável força dentro de si. 

Nunca os louvaremos o suficiente.

Que haja cobardes e hipócritas que nem com as vítimas da guerra se consigam solidarizar é coisa que me incomoda demais. Que haja gente rancorosa que, em vez de condenar o invasor e exigir que os que estão a soldo do assassino se retirem de vez do território massacrado, antes papagueiam os argumentos do bandido, acusando os que querem ajudar os invadidos é coisa que me deixa mais do que incomodada.

Mas dos vassalos dos invasores e dos assassinos não rezará a história. Melhor: serão arrastados para a sargeta da história.

Em honra dos bravos ucranianos que, com a sua vida, com a sua coragem e amor ao seu país, haverão de conseguir travar a sanha imperialista e assassina de Putin se erguerão mil memoriais, se construirão mil poemas, se inventarão mil pinturas, mil filmes, mil bailados, muitos mil agradecimentos sob muitas formas.

A Ucrânia há-de ser reconstruída e a paz habitará as casas, as ruas e os campos e a alegria dos ucranianos poderá exprimir-se em total confiança e tranquilidade na sua terra.

The Ukrainian comedian who rebuilt a stranger's house: The year that never ended

The Ukrainian comedian Vasyl Baidak sparks an unlikely and enduring friendship with retiree Iryna Terekhova when he joins a group of young people from Kyiv to rebuild her home. 
A devout Orthodox Christian, Terekhova lives in a farming village in the Chernihiv region, where her house was destroyed during the Russian occupation of March 2022. She reflects on a traumatic time when she was forced to share her cellar with Russian soldiers who said they had come to liberate her, but who devastated her village. 
Refusing to leave the area where she has lived most of her life, Terekhova is galvanised by the entrepreneurial spirit of the young Kyiv builders, while Baidak proves that humour is the vital ingredient to bolster their collective spirit.
'I wait for the war to end, that's when our new year will begin. For now, 2022 still continues,' concludes Iryna

sexta-feira, fevereiro 24, 2023

Será que a tecnologia usada nas vacinas Covid pode curar o cancro?

 

Desde que me lembro, ouço falar em investigações, em ensaios promissores, em avanços significativos, em descobertas animadoras.

E, de facto, muito se tem avançado. Há imensos casos de cura completa e definitiva, há outros casos em que já se trata como uma doença crónica.

Contudo, os tratamentos, em muitos casos, são incómodos, quase incapacitantes, e os exames são um sofrimento sobretudo pelo receio de más notícias que, tantas vezes, são sentidas como sentenças. 

Ainda há dias soube que uma pessoa que conheci pujante, todo ele seguro de si, morreu em pouco tempo. Uma outra pessoa que me é muito próxima, depois de pensar que o pior tinha sido ultrapassado descobriu que, afinal, não foi e está agora a passar pelos tormentos da quimioterapia. E a angústia não é apenas o mal-estar dos tratamentos mas, sobretudo, o receio de tudo o que ainda pode estar por vir.

Quando um dos meus tios esteve doente eu li, li, tentei perceber quais as perspectivas para o caso dele, se havia ensaios em algum país. Na altura, li sobre tratamentos promissores em Cuba. Ele não se entusiasmou, achou que já não iria a tempo e que, além disso, que já não tinha capacidade física para viajar até lá. Cheguei a andar a informar-me na Embaixada, o meu primo falou com o médico dele que ficou também de se informar. Infelizmente o meu tio tinha razão. Morreu poucos dias depois com uma embolia.

Mas mantenho a curiosidade. De cada vez que passo por notícias vou espreitando. Sou leiga, leiga, leiga. Leio como uma leiga. Não percebo muito do que leio. Mas interesso-me.

E, do que tenho visto recentemente, o que me parece mais animador é isto que aqui hoje partilho. 

Para ler:

‘This will happen before 2030’: how the science behind Covid vaccines might help to fight cancer

Transcrevo o início do artigo:

O sucesso dos medicamentos baseados em mRNA no combate ao coronavírus está a inspirar cientistas a criar vacinas semelhantes para melanoma e outros tumores.

Em dezembro de 2022, a empresa de biotecnologia americana Moderna, uma empresa que emergiu de uma relativa obscuridade para se tornar um nome familiar durante a pandemia, publicou os resultados de um ensaio clínico que repercutiu no mundo da pesquisa do cancro.

Conduzido em parceria com a empresa farmacêutica MSD, demonstrou que uma vacina contra o cancro de RNA mensageiro (mRNA), usada em combinação com imunoterapia, poderia oferecer benefícios significativos a pacientes com melanoma avançado que receberam cirurgia para remover seus tumores. Após um ano de tratamento, o estudo de fase IIb descobriu que a combinação reduziu o risco de recorrência do cancro ou morte em 44%.


(...)

E abaixo em vídeo. 

Não está traduzido, infelizmente, mas ainda assim acho que vale a pena aqui deixar esta informação:

Could COVID vaccine technology cure cancer? | DW News

O cancro está entre as principais causas de morte no mundo. Mas agora, graças a uma tecnologia de ponta para a vacina COVID, podemos estar mais perto de parar o cancro. A BioNTech da Alemanha está a lançar neste outono um ensaio no Reino Unido com vacinas personalizadas contra o cancro neste outono.

Tomara. Tomara. Tomara.

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E, por falar em esperança,


Paz na Ucrânia

Paz. Paz mas a paz que nasce da liberdade, da dignidade, do direito a viver num país independente, autónomo, autodeterminado. 

A paz que apenas será possível quando a Rússia tirar as patas e as mãos ensanguentadas da valente e gloriosa Ucrânia. 

E que todos os cidadãos decentes, democratas e solidários, se mantenham firmes no apoio à Ucrânia e na condenação da Rússia de Putin.

Glória à Ucrânia

Slava Ukraini

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Um dia bom

Saúde. Esperança. Paz.

quinta-feira, fevereiro 23, 2023

Conversas e desconversas

 


Vou descobrindo todo um mundo do qual sempre passei ao lado.

Contudo sei bem que as descobertas a que me refiro não são apenas insignificantes, são também modestas. Parece que o mundo agora existe é no instagram ou no facebook e eu continuo a querer manter-me à margem. Portanto, a realidade de que vou tomando conhecimento é uma ínfima pontinha de um imenso iceberg que se desloca em volta dos seres vivos, mostrando-se apenas aos aderentes.

Também não frequento o TikTok ou o Twitter. Por muito aliciante que seja saber tudo a toda a hora, ver vídeos divertidos, coreografias hilariantes, tutoriais altamente instrutivos, fotografias e stories sobre toda a gente, prefiro estar fora. O tempo já não me chega para o que quero, faria se estivesse sempre a ver o que os algoritmos me quisessem dar a comer. Não, dessa papa não manjo eu.

Continuo a manter o hábito de apenas à noite me permitir o deslize de espreitar algumas das novidades do dia. 

[Sobre o bandido do Putin continuo a desejar que os próprios russos resolvam o problema. Terem um assassino, um psicopata, um mentiroso cruel à frente de um país é pesadelo e sofrimento que não se deseja a ninguém.

Louvo, mil, mil, mil vezes louvo, a bravura dos ucranianos que, com a vida, defendem a liberdade e o direito a serem um país independente. Com o seu sacrifício defendem toda a Europa e nunca lhes agradeceremos o suficiente. Lamento que não façam parte da Nato pois, se fizessem, o patife não teria ousado invadi-los.

E acho vergonhoso e miserável (e meço as palavras que uso) a reacção do PCP sobre a vontade de Marcelo agraciar Zelensky com a Ordem da Liberdade. 

Por muito que o PCP faça ou venha a fazer a bem dos portugueses (e cada vez os vejo a fazer menos, já não passam de uma franja muito marginal da sociedade), nada apagará a sua torpe posição sobre a invasão e sobre a guerra desencadeada por Putin. 

Não é razoável que continuem a desculpabilizar a Rússia nem é aceitável que, fingindo-se de pacifistas, defendam a rendição da Ucrânia. 

Sinto-me agoniada de cada vez que ouço o que o PCP diz sobre esta hedionda guerra e não consigo compreender a hipocrisia, a cegueira, a estupidez que revelam. Embora finjam criticar a Rússia, a verdade é que colam a sua posição e os seus argumentos aos do Putin, esse assassino para o qual não pode haver perdão.

Mas custa-me tanto o que está a acontecer e tudo o que o rodeia que não quero conversar sobre isso. Prefiro sugerir-vos que leiam, por exemplo, "a paZ! a paZ! a paZ!" segundo Der Terrorist]

Por isso, depois de tentar informar-me, desvio-me, vou distrair-me, vou ver coisas leves, levezinhas. Perdoem-me, pois, a desconversa que se segue]

Uma das coisas que gosto de ver é como algumas mulheres do mundo do cinema ou da moda cuidam da sua pele. E fico sempre espantada. Por exemplo, pensava eu que a Julianne Moore seria uma 'cara lavada'. 

Até há pouco tempo eu julgava que tinha cuidado com a minha pele. De manhã, lavo a cara e ponho um creme adequado à minha condição: agora aplico um creme que supostamente é para peles maduras. Não ponho esse à volta dos olhos. Nessa zona ponho um creme específico para a pele em volta dos olhos. Faço-o pois não me faz arder os olhos. E mais nada. Julgava eu que isso era cuidar da pele. Mais: se vou passear para a praia nestes dias de frio ou se vou caminhar à noite e está vento, ponho creme nívea (daquele creme branco que está na caixa azul). Sinto-me bem, sinto a pele fresca e hidratada.

Depois, ponho uma sombra suave nas pálpebras superiores e, agora que já não tenho que me disfarçar de executiva, apenas de vez em quando um tonzinho nos lábios. E, se achar que estou descolorida demais, passo o baton ao de leve nas maçãs do rosto e esbato com os dedos. E está a festa feita.

Mas, quando vejo o que a Julianne Moore põe, fico de boca aberta. E fico sem perceber como é que a pele absorve aquilo tudo. E como é que aquilo não reage tudo entre si, deixando-lhe a cara a arder. E como é que ela tem paciência para ali estar a pôr camada sobre camada sobre camada sobre camada. 

E fico a pensar: será que isso é o correcto? Deveria eu começar a ter mais cuidado com a minha pele? 

Li também que cada vez mais pessoas fazem tratamentos de rádio-frequência, que têm um fantástico efeito no combate às rugas. E fico a sentir-me uma estético-excluída. Não sei o que é, não sei se é coisa que se faça em casa ou se tem que se ir a uma clínica ou coisa do género. 

É todo um mundo que desconheço. E essa é que é essa.

Julianne Moore | Beauty Secrets | Vogue


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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Bem estar. Paz.

quarta-feira, fevereiro 22, 2023

Pequenos passos numa nova direcção

 



Tendo a ser um bocado despassarada e, andando sempre a mil como até há pouco andava, volta e meia fazia coisas um bocado on the fly e, depois, se não voltasse a elas nos tempos mais próximos, nunca mais lhes encontrava o rasto.

Por exemplo, uma vez, numa de ir escrevendo coisas que, um dia, compilaria em livro, criei um blog especificamente para isso. Depois meteram-se mil outros assuntos, à noite o tempo não me chegava para os mínimos quanto mais para escrever essas cenas alternativas. O tempo foi passando e a existência do dito blog varreu-se-me. 

Agora, com vontade de retomar a escrita no comprimento de onda dos outros textos, lembrei-me não apenas de os usar como de garantir que tinha acesso ao editor do blog. Senão, se um dia resolvesse tentar publicar um livro, como poderia provar ser a autora se estivesse no ar um blog com alguns desses textos, blog esse a que não conseguia aceder? 

Mas qual a password...? Qual...? Está bem, está.... Nem vestígio na memória nem qualquer pista. Nada.

Contudo, nestes momentos de pressão, a cabeça ganha vontade própria. De repente, lembrei-me que, quando nos mudámos para esta casa (e já lá vão mais de dois anos e meio), um vez, ao abrir uma agenda que estava numa gavetinha de uma secretária, lá ter visto um papel com o nome do dito blog e a respectiva password. Na altura pensei: isto é precioso, não posso esquecer-me que está aqui. 

Ontem corri todas as agendas. Um desespero. Tudo virado do avesso. Na gaveta onde a tinha visto, nenhuma agenda. Corri tudo. Todas as agendas que encontrava estavam todas escritas com coisas do além. Os miúdos gostam de brincar às empresas, mexem nas gavetas, usam as agendas, escrevem o que imaginam que seja tratado numa empresa, simulam agendamentos de reuniões, simulam letra 'de médico', fazem assinaturas. Deixo-os brincar à vontade pois não uso nem nunca usei agendas. Mas ontem desesperei. Pensei: caraças, bem podia ter salvo aquela agenda, bem podia tê-la posta algures onde eles não lhe chegassem. 

Mas tarde piei... Papelinhos dentro de agendas...? Qual quê... Nada. Com as reviravoltas que os miúdos dão às coisas, como esperar que um papelinho sobrevivesse? Impossível.

Até que finalmente encontrei um caderninho em que tinha algumas passwords lá do trabalho e, no meio delas, uma de um endereço de mail cuja existência eu negaria minutos antes. Não me lembrava daquele mail. Para que o criei? Não me lembro. E, do dito blog, nada, claro.

Então resolvi tentar entrar no blog, numa de que acontecesse algum milagre. O problema é que também já não me lembrava bem do nome. Tentei, tentei. Nestas alturas amaldiçoo a minha cabeça no ar. Finalmente acertei. Assinalei que não me lembrava da password e, então, como que por milagre, apareceu a mensagem de que um código de recuperação tinha sido enviado para o tal endereço de mail do qual eu não tinha qualquer ideia. 

Encetei então nova busca para tentar encontrar o tal caderninho. E lá estava, já meio apagada e quase imperceptível, a password do dito endereço de mail. Entrei e lá estava o código de recuperação para entrar no tal blog. Milagre. 

Já não me lembrava do que lá tinha escrito. Lembrava-me do género mas não, em concreto, de quê. Já copiei tudo para um documento de word e já tirei o blog do ar.

Ou seja, o caminho está livre para começar uma vida nova.

Ontem deitei-me às tantas já a organizar umas coisas. 

E esta terça-feira acordei toda bem disposta. Para começar estive a pintar com canetas de bico de feltro e lápis de cor uma peça de madeira que está suspensa no terraço e que era meio tristonha. Depois estivemos a pendurar um passarinho de madeira com um rabo de penas que gira com o vento. Comprei-o num daquelas lojinhas de indianos ou paquistaneses que vendem ímanes e outras coisas do género. 

E fomos tratar de uns assuntos e comprar umas coisas e depois fomos passear para a praia. Se não fossem umas duas ou três meninas vestidas de fada ou de bailarina, não teríamos desconfiado que era dia de Carnaval. O céu tingido de névoa castanha, poeiras que quase ocultavam o sol. Dá ideia que apenas o céu é que se mascarou de céu do deserto. 

Tirando isso, nada de especial. E agora vou mudar a agulha e vou dedicar-me a outras prosas. Com licença.

Me aguardem...
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Uma boa quarta-feira
Saúde. Boa disposição. Paz.

terça-feira, fevereiro 21, 2023

Alô, alô António Costa!
Ainda sobre o tema da habitação aceite, por favor, algumas sugestões

 

Continuo intrigada com o que foi anunciado para resolver o problema da Habitação. Ouço falar em soluções mas, tirando generalidades, ainda não ouvi ou li uma cabal caracterização do problema.

Talvez por deformação académica e profissional, antes de resolver qualquer coisa ou de apreciar uma solução que me seja apresentada, sempre precisei de conhecer o problema.

Para mim, conhecer o problema é ter um enunciado muito objectivo. 

E, antes de ter o enunciado, preciso de conhecer a definição de conceitos.

Por exemplo, o que se entende por casa devoluta? Não é certamente sinónimo de casa vazia, conforme definição da inexperiente ministra,

E aqui exponho numa dúvida. Uma casa que esteja arrendada 'clandestinamente', isto é, sem contrato declarado nas Finanças, em que o senhorio não paga impostos sobre as rendas, é classificada como? Não estará como devoluta? Provavelmente, quando foi o Censos, o senhorio declarou-a como não habitada.

Seja como for, uma ideia que tenho a partir de inúmeros casos de que ouço falar é que grande parte dos arrendamentos são feitos pela porta do cavalo. Ora, enquanto isto acontecer não é possível ter nem uma pálida ideia do que é o mercado do arrendamento em Portugal. E, se não é possível conhecê-lo, então de que é que estamos a falar?

Em meu entender, esta deveria ser uma das frentes de combate: conseguir que todos os arrendamentos sejam regulados por contratos legais, declarados nas Finanças. Defende os inquilinos, defende os senhorios, permite uma visão correcta dos factos e, parecendo que não, potencia a receita fiscal.

Para isso, parece-me que um medida muito inteligente e eficiente seria passar a taxar todos os contratos com duração maior ou igual a 1 ano com uma taxa máxima de IRS de 10%. 

Não vale a pena complicar e arranjar vários escalões para os quais se arranjará sempre subterfúgios nem vale a pena querer taxas que são uma tentação para que se fuja delas. 

Taxas de 28% (25% que sejam), ou 20% ou mesmo 15% são um convite a que  troca se faça em contado, de mão em mão, toma lá, dá cá... e taxa de IRS bola, zero, népias. 

Quanto muito, para contratos com duração efectiva superior a 10 anos, que se baixe para 5%.  Tirando isso, 10% para todos os outros e não se fala mais nisso.

Penso que com uma taxa simples e acessível os senhorios sentir-se-iam tentados a entrar na legalidade.

Ao mesmo tempo, deveria haver uma campanha junto dos inquilinos no sentido de exigirem contratos 'legais', passando a não abdicar de recibo oficial. Claro que muitos desses senhorios dirão que, se for com recibo, será mais caro. Mas se a taxa de IRS que pagassem não fosse superior a 10% e se os inquilinos, ao declararem as rendas, também tivessem algum benefício fiscal, certamente que a estatística de casas arrendadas subiria em flecha e o saldo fiscal seria favorável ao Estado.

E isto, esta limpeza, deveria ser uma das primeiras medidas. É estrutural e independente de tudo o resto.

Passo, então, ao que penso que deveria ser a caracterização do problema da Habitação.

Qualquer coisa como isto, por exemplo: 

  • Em cada concelho (ou distrito, caso não seja possível dispor de dados por concelho), de quantas casas há falta e de que tipologia. 
  • Qual o intervalo de valores que os que precisam podem pagar.
  • Quantas casas, nessa região (concelho ou distrito) há devolutas
  • Qual seria o valor de mercado razoável para arrendamento dessas casas

Claro que não é possível obter números exactos para estas questões. Mas pelo menos deve ser possível dispor-se de números aproximados.

Estou em crer que em grande parte dos nossos concelhos ou não há problema ou é marginal. Não vale a pena estar a lançar a confusão em locais em que se vive na paz dos deuses. 

Em contrapartida, nos grandes centros urbanos em que provavelmente existe uma forte procura de casas de tipo T1 (a ser verdade que o problema maior se prende com os jovens), pode acontecer que não existam assim tantas desse tipo vazias. Ou se o máximo que uma parte das pessoas que precisa de casa consegue pagar for 300 ou 400€ ou mesmo 500€ por mês, então a solução para esses casos não pode passar por querer que os senhorios (directamente ou através do Estado) percam dinheiro pois certamente se vendessem essas casas e pusessem o dinheiro em Certificados de Aforro teriam um rendimento anual superior. 

As soluções têm que ser encontradas para problemas concretos e calibradas dentro do que é justo, equilibrado e socialmente aceite. Generalidades e abstrações só servem para alimentar falatório, não servem para resolver coisa alguma.

Se calhar, o Governo inabilmente provocou todo este burburinho quando o assunto ainda precisa de ser melhor estudado, sobretudo estudado com os pés na terra.

O caso dos imigrantes que, pelo menos nos seus primeiros tempos, não têm de certeza dinheiro para pagar habitação a preço de mercado é outro caso complicado. A solução que eles próprios encontram é a de se amontoarem em quartos clandestinos. Tudo ali é clandestino. Ora, a bem da segurança, da decência e da dignidade, há que ter mão dura para quem se aproveita da desgraça dos outros.

Aqui o tema é outro: é o das medidas à integração. O País precisa de imigrantes e acolhê-los e fixá-los deve ser uma prioridade nacional (até como medida a favor de uma saudável demografia). 

Deve haver quem tenha estudado estes temas. Eu não. 

Mas sei que, também aqui, o problema não se resolve pelo confisco de utilização a proprietários. Apartamentos nas Avenidas Novas, por exemplo, não resolvem a falta de habitação para as centenas de imigrantes que vivem ao monte em quartos insalubres na zona de Anjos ou Arroios. Aí provavelmente terão que ser mosteiros, quartéis, antigos edifícios fabris ou de escritórios ou outras instalações do género transformadas pelo Estado em Residenciais condignas. 

E, para já, é isto. Há muito a fazer. Mas, Caro António Costa, é mesmo preciso começar pelos alicerces, pelas bases.

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[Imagens da Tate Baby House]

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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Cabeça no lugar e pés na terra. Paz.

segunda-feira, fevereiro 20, 2023

Um domingo in heaven.
E conhecemos pelo menos um dos novos vizinhos. Se calhar, dois...



Fomos passar o dia ao campo, coisa breve. Com tanto pinheiro não queremos arriscar outro acidente com as infernais lagartas. Tinha visto que o cozido era prato de dia e resolvemos ir comprá-lo ao restaurante onde às vezes nos abastecemos. O restaurante a abarrotar, gente cá fora, gente lá dentro. Deve haver muita gente a sofrer com a subida do custo de vida e dos juros nos empréstimos mas a verdade é que o trânsito anda que não se aguenta, os restaurantes deitam por fora, as lojas a bombar. E se uma criança faz anos há toda a espécie de cenas com os parques temáticos cheios, apesar do que custam. Não sei. À vista a desarmada diria que a economia está a bombar que é um regalo.

Primeiro que conseguisse chegar ao balcão para fazer o pedido, quase tive que esbracejar tão compacta a amálgama de gente em que tive que penetrar. Quando estava à espera, uma chamada do meu marido: que trouxesse também pão. Perguntei ao senhor que fez um ar desolado. Pode comprar-se tudo menos pão, não há pão para take away. Percebe-se. Mas também devo ter feito um ar tão desanimado que, passado um bocado, quase à socapa, o senhor veio com um pacotinho de papel. 'Foi o que consegui arranjar'. Ao pegar, percebi que era um carcaça. Passado um bocado, o saco com as duas caixas. Estava com vontade de pedir uma sobremesa mas no meio de um incrível reboliço, o senhor, na maior das eficiências, tirou o talão e não estava lá o pãozinho. Disse-lhe e ele encolheu os ombros: 'Deixe lá isso'. Agradeci. E não quis passar pela mesma vergonha de parecer que estava a mendigar uma sobremesa.

Uma dose chegou para os dois e ainda sobrou um bocadinho. Portanto ainda tenho mais um refeição e um pouco de outra no frigorífico.

Para sobremesa apanhei uma laranja.

Quando chegámos, depois de abrirmos as janelas e pormos a casa a arejar, fomos passear por lá. Eu fotografando, aspirando os perfumes de uma primavera que começa a avizinhar-se, o cão brincando (embora pela trela), o meu marido inspeccionando potenciais processionárias.

Estando lá em baixo, reparámos que o novo vizinho cuja propriedade tem, em parte, um dos lados adjacente a uma parte do nosso, uma parte separada por uma vedação de rede, estava a serrar uns troncos. Contudo, ao ver-nos, veio na nossa direcção. Mas veio ele e os três cães gigantes. O nosso, como é óbvio, ficou num desatino, ladrava e saltava como se estivesse possuído. Ou seja, mal nos ouvíamos. Ele chegou-se à rede do lado dele e eu aproximei-me do nosso lado, enquanto o meu marido tentava controlar o urso frenético.

Resumindo: o senhor, de tshirt (enquanto nós estávamos encasacados), apresentou-se, colocou-se ao dispor. Nós também. Trocámos contactos. Depois enviou um mensagem muito amável.

Quando cheguei a casa googlei. E fiquei a saber que é pessoa com uma considerável pegada digital, com um historial de vida que tem que se lhe diga. No carro, de volta, vim a ver uma entrevista sua e vi também a sua biografia na wikipedia. Uma personagem. Comentámos: 'olha, pelo menos, acho que estaremos bem guardados'.

Depois do casal anónimo e ultra discreto, temos agora um vizinho que é o oposto.

Quando ao fim da tarde vínhamos a sair de casa, no carro, cruzámo-nos com um jovem, muito alto, magro, muito louro. Vinha a praticar corrida, com o seu cão ao lado. Nunca o tínhamos visto. Lembrei-me que há uns meses recebemos um contacto no sentido de sabermos se estávamos interessados em adquirir um terreno que, numa parte, também é adjacente ao nosso. Parece que nos terrenos rústicos, antes de se vender um terreno, devem questionar-se os vizinhos pois, a quererem, terão primazia. Em tempos, de facto, tínhamos pensado nisso mas entretanto percebemos que ter um terreno rústico bem cuidado dá trabalho e custa dinheiro. Informaram-nos então que, nesse caso, o terreno seria vendido a um jovem, salvo erro finlandês, que dizia ir dedicar-se a agricultura biológica. Não sei se será aquele rapaz mas talvez seja.

E assim a envolvente vai evoluindo, vizinhos novos com hábitos também certamente novos. 

Mas, dentro do nosso espaço, a paz é a mesma. Há outra vez muitas pinhas roídas e isso vê-se onde antes não se via. Ou seja, já andam em vários locais. Estão, pois, a aventurar-se. Não tarda teremos esquilos por todo o lado. Adoro a ideia.

Voltaram também a ver-se aquelas pegadas grandes e fundas e o terreno lavrado. Voz entendida, há algum tempo, disse que era javali. As pegadas apareciam sempre no mesmo sítio. Qualquer coisa os bichos procuram ali. Penso sempre: se calhar, trufas. Mas agora apareceram também num outro sítio. 

E vi rolas, várias. Não é inédito. Mas desta vez eram mais, muitas.

Penso sempre em como será quando lá não estamos. Deve ser um paraíso absoluto para a bicharada. Tenho muita vontade de que passe a época das bandidas das lagartas para podermos passar lá mais tempo. Agora já podemos.

De volta, um dissabor: a casa dos gelados continua fechada. Nunca mais abre. Como é possível? A falta que um gelado me faz nestas noites de inverno.

Tirando isso, está tudo bem.

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Desejo-vos uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Alegria, Paz.

domingo, fevereiro 19, 2023

Crónica de um sábado
[E como se pode estar sozinho no meio de uma multidão]
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A minha neta ligou-me, dizendo-me que podíamos ir às compras. Disse-lhe que este sábado só se fosse ao fim da tarde pois antes disso estaria com a sua bisavó. Perguntei se não seria preferível a segunda-feira. Que não, hoje ao fim do dia estava bem.

Depois de deixarmos a minha mãe em casa fomos até casa do meu filho buscá-la e lá fomos as duas para as compras. Quando chegou ao carro disse que tinha feito a lista com as lojas a que queria ir.

Contei-lhe que comecei a escrever, que quero escrever um livro. Não estranhou. Para ela tudo o que eu faça é normal. Mas perguntou: 'E pintar? Não queres voltar a pintar?'. Disse-lhe que tenho vontade mas que depois não sei o que fazer aos quadros. Respondeu-me, de imedito, que podia vendê-los no OLX. Respondi-lhe que é uma ideia e que depois ela logo me ajuda nesse processo. Disse que sim e contou um peripécia de quererem comprar um carrinho para o irmão mais novo quando há algum tempo foram a Berlim e temiam que ele se cansasse de andar o dia todo no passeio mas que um carrinho era de brincar e noutro só lá devia caber uma criança de dois anos.

E lá fomos às compras. Focada, determinada, despachada. Não perde tempo, não hesita, não vacila. 

Depois fomos ter com o avô e com o cão e, a seguir, fomos pô-la a casa de uns amigos dos pais que, entretanto, já lá estavam porque o pai é que ia cozinhar. Eu disse: 'Ai é?'. E ela: 'Sim, ou era isso ou era frango assado do Pingo Doce. Por isso o pai vai cozinhar, vai fazer carbonara'. 

Farto-me de rir com ela. Relata as coisas com ar desprendido não deixando de fora os pormenores que acrescentam graça à conversa.

Quando lá fui levá-la, uma algazarra. Pelo que ela me disse, deviam ser uns vinte. 

Entretanto a turma da minha filha está a curtir as mini férias por terras do Alentejo e fomos recebendo fotografias não apenas da paisagem como, à hora de jantar, do lauto repasto. Com o apetite que os rapazes têm só mesmo um buffet à vontade. Estou mesmo a ver o mais velho a incentivar o mais novo: 'É enfardar...'

E nós, uma vez que já passava das oito e não tinha deixado nada feito para o jantar, fomos comprar uma pizza.

E agora vou dormir pois já é uma da manhã e o dia foi preenchido até dizer chega, tendo começado bem cedo. E eu, em vez me despachar e ir cedo para a cama, não senhor. Estive a ver a final do MasterChef (a muitas milhas do de Austrália, que adoro ver) e depois a dar uma vista de olhos nas notícias. Mas não me apetece comentar nada.

Já há bocado partilhei mais um vídeo com imagens extraordinárias do encontro de um grupo de gorilas com uma pessoa. E agora partilho um daqueles vídeos que gosto de ver da Green Renaissance. Ainda não tem tradução em português, é muito recente.

Sozinho no meio de uma multidão

The world is more connected than it's ever been before.  We can communicate instantly with our friends and family who live miles apart, thanks to the power of social media. And yet... why do so many of us still feel lonely? 

Feeling lonely is a normal human experience - it is something we all go through. And it's not simply a function of being alone. You can feel lonely in a crowd. Because loneliness is a feeling of being alienated from others, not feeling understood or connected - it’s a feeling that something is missing.

But loneliness is also a message that our body sends us, letting us know that we are important, and we need to become friends with ourselves again.  When we feel isolated or alone, we can choose to have compassion for ourselves. We can recognise our emotions without judging them.  When we accept where we are at and what we are struggling against, without berating ourselves, we can then begin to change.

In order to defeat loneliness, we have to listen to its message - You are complete, nobody is needed, you are enough!

Filmed in Groot-Marico, South Africa. 

Featuring Johann Moolman (https://www.art.co.za/johannmoolman/) -- que é também o autor da peça do início deste post

 

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Continuo entre iguais

 

Penso que sou um bocado destemida. Não sou muito de antecipar problemas quando quero uma coisa pelo que o medo não me tolhe. Geralmente, se quero, vou atrás e confio que hei-de ser capaz de remover ou ultrapassar os obstáculos com que me depare.

Mas, dito isto, uma coisa reconheço: não sou aventureira nem procuro situações que apresentem riscos sem que a recompensa me seja cara.

Expedições na selva, escalar montanhas, mergulhar para explorar o fundo do mar -- tudo coisas que nunca fiz nem nunca senti qualquer interesse em fazer. 

Contento-me em ver o que outros, curiosos e intrépidos, fazem. E gosto de ver. Gosto de 'explorar' os mundos que, ao vivo, me são desconhecidos.

Devo dizer que, se um qualquer volte face do destino, alguém conseguisse levar-me para o meio de uma selva em que pudessem ocorrer encontros de primeiro grau com gorilas, iria morta de medo. E se me visse cercada por um grupo deles e começasse a sentir-me inspeccionada e tocada por eles ficaria transida, cheia de medo que me mordessem, me arrancassem o cabelo, me furassem os olhos.

Mas, vendo este vídeo, é um receio infundado pois parecem ser delicados, cautelosos, afáveis. E, quando a curiosidade está satisfeita, retiram-se. Ora saber retirar-se a tempo é uma virtude. Fantástico.

Extraordinary Encounter with Mountain Gorillas in Bwindi, Uganda

Desejo-vos um bom dia de domingo


sábado, fevereiro 18, 2023

Se é para macacadas, peço desculpa para prefiro a companhia dos de verdade

 


Na quinta-feira o dia foi mais longo que o habitual e, em vez de poder desforrar-me dormindo até mais tarde, não senhor. Esta sexta-feira estava a dormir no meu segundo sono, e quem diz segundo diz terceiro, a sonhar descansadamente, quando ouvi o som que durante tanto tempo me despertou. O meu sonho ainda fez por assimilar o ruído, como se fizesse parte do argumento, mas logo abri os olhos e percebi que era realidade.

O dia tinha que começar cedo. Não teria que ser tão cedo mas, como sou inflexivelmente pontual, gosto de antecipar possíveis contratempos. Além disso queria ter a certeza que, sendo das primeiras a chegar, teria o serviço cumprido de certeza a tempo e horas.

Afinal, não me serviu de nada. Não ficou pronto. Impediu-me de repor o sono e obrigou-me a telefonemas e manobras complicadas e... tudo para nada. Não sou de me stressar mas, mesmo assim, irrito-me.

Há uma coisa nesta deriva em que anda o mundo que me faz muita espécie. Há tecnologias para tudo e para mais algumas coisas, tudo em tempo real, tudo online, tudo à distância de um clique. E depois, vá lá a gente perceber porquê, grande parte das coisas que antes eram fáceis, nas calminhas, agora são uma medonha trabalheira. Há apps para tudo, cada vez mais tudo converge na realidade virtual, mas depois as apps pedem códigos e depois os códigos não funcionam e, quando depois de mil esforços, lá se consegue pôr a funcionar, são as instruções que não são claras, é a rede ali que não é boa. Há sempre qualquer coisa que atrapalha. Um mundo que se vai estreitando.

E depois, para o que tem que ser físico, horas para marcar qualquer porcaria, horas para ser atendido, horas no trânsito. E, para uma coisa de nada, tudo tem que vir da central e vem através de uma transportadora, e os da transportadora ficam presos no trânsito e as peças não chegam a tempo e horas e ninguém sabe quando chegam porque é tudo contratado, subcontratado, sub-subcontratado e ninguém é responsável pela totalidade do processo.

E uma pessoa fica pendurada, sem saber de nada, e ligamos e o telefona toca, toca, toca e ouvimos música, recomendações e o diabo a sete e, quando por fim aparece uma alma, essa alma também não sabe de nada e também lamenta e também compreende, mas também não pode fazer nada porque agora é assim.

Tudo isto me cansa de uma maneira... Nestas alturas só me apetece hibernar.

No interstício, num destes compassos de espera, resolvi ir ao supermercado. Quando fui pagar não percebi. Não tinha comprado nada que se visse e, no entanto, a conta era upa-upa. Olhei para o ticket. Os ovos, o arroz, o pão tudo a preços absurdos. Não há justificação económica razoável para aumentos que levam os preços nestes básicos para cerca do dobro.

E agora, enquanto escrevo, vejo o Expresso da Meia-Noite. 

Chego à conclusão que este pacote de medidas para a habitação foi feito em circuito fechado. sem envolver os representantes das partes envolvidas. 

[Pode acontecer que o Leitor Ccastanho e o Leitor Corvo Negro tenham razão, que tudo isto não passe de uma manobra de diversão ou uma forma de testar os agentes e de auscultar a sociedade. Pode ser. Mas, seja como for, foi um mau passo.] 

Continuo a achar que, se houver eleições, dificilmente haverá melhor candidato que o Costa e partido com melhor programa que o PS. Mas...

Mas isso não chega. Têm que se esmerar, têm que trabalhar mais e melhor, tem que arranjar maneira de ter gente sénior e experiente a trabalhar, a avaliar impactos, a medir consequências, a conseguir ver por outras perspectivas. Se continuar neste registo de maltinha trainee, só miudagem a dar tiros nos pés, não conseguirá ir longe.

Provavelmente este pacote agora foi obra da catraia promovida a Ministra da Habitação mais da catraia que aqui está na SIC Notícias, Maria Begonha de seu nome, a dizer generalidades e/ou infantilidades, se calhar também da outra catraia que andou a dizer que a Decathlon podia fornecer tendas para as pessoas acamparem em cima da ponte até se resolver os problemas da habitação. Só pode.

O PS esteve muito mal, muito, muito mal, no dossier da habitação. 

Penso que, para se limparem, deveriam entregar o assunto a um ministro capaz, com uma equipa capaz, gente experiente, inteligente, com mundo, com uma visão holística das coisas. Enquanto um tema tão relevante estiver entregue a miudagem sem noção do que é a confiança e do que é necessário para a obter e para a conservar, vamos estar mal.

E eu estou cansada. 

Hoje de tarde, vi que um dos mails que tinha recebido era de uma certa marca, anunciando os últimos descontos. Fui ver a roupa de mulher. Descontos de 70%. Coisas bem bonitas a preços bem bons. Comecei a seleccionar. O carrinho a compor-se. Depois pensei: Para quê? Apaguei tudo. Não vou comprar coisas de que não preciso. 

Toda a minha vida está em reset. Quero mudar tudo. Até o cabelo já foi. No outro dia voltei à cabeleireira a que não ia há cerca de três anos. Levei uma fotografia que a minha filha me tinha enviado, de alguém que tinha um corte compatível com a minha trunfa e com o que queria. Cheguei lá e disse: Qualquer coisa como isto. A meio, o chão já pejado de cabelo, olhei-me ao espelho e interceptei-a: ainda assim, não será que ainda poderia ir mais? Cortar é aquilo de que ela mais gosta. Mas vi que ela própria temia a ousadia do corte. Incentivei-a: Força

Saí de lá outra.

E muito mais teria a dizer. Tudo coisas assim, irrelevantes, coisas desta minha vidinha. Mas ando com tanto sono, tanto, tão improdutiva, tão a precisar de passar dias a dormir...

Depois do Expresso da Meia-Noite pus-me a espreitar vídeos. Descansa-me ver imagens boas, gente boa, animais bons, natureza, gente e animais em harmonia.

Este aqui abaixo é um doçura. A forma como o gorila recebe a mulher de Damian Aspinall é uma coisa extraordinária. Quanta ternura.


E aqui abaixo outras imagens incríveis: Attenborough observa de perto como uma mãe orangotango manipula instrumentos como um humano. Imagens que me impressionam. Imagens que penso que posso dizer que são belas. Como ela aí anda com o filho ao colo...


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Desejo-vos um bom sábado
Saúde. Bons pensamentos. Paz.