Não é por nada mas, se Marcelo recebeu a galinha rangélica, a que propósito não receberia também o pintas mélico? -- pergunto.
Se esta crise absurda
- coisa com marca de quem quer fazer jus àquela de que por aqui vive um povo que não se governa nem se deixa governar e em que, no vertente caso, os grandes contemplados pelas concessões à esquerda do OE se juntaram à direita, inclusivamente à mais populista e fascista, para o chumbar, dando um tiro na própria cabeça e tiros nas pernas, nos braços, no peito e no coração daqueles que iriam beneficiar das generosas medidas que o Orçamento previa -
tem como inegáveis responsáveis o PC e o BE, não devemos isentar de culpas o Presidente Marcelo. Não mesmo.
De facto, foi Marcelo quem começou por picar o PCP e o BE e que, depois de os ter bem picados, de cabeça perdida e sem conseguirem pôr o País acima dos pequenos interesses partidários, já não conseguiu recuar a tempo de pôr ordem na mesa ou de ajeitar a sua ameaça de forma a que a dissolução da Assembleia não fosse inevitável.
Se o PCP e o BE se portaram, uma vez mais, como traidores do Povo que fingem defender, Marcelo portou-se como o catavento que o Láparo, em seu tempo, o acusou de ser. Esta crise tem a caras de todos eles.
E, como se isso não fosse pouco, pelo meio, Marcelo ainda conseguiu a proeza de deixar o País boquiaberto por, no meio desta crise macaca (marcélica, melhor dizendo), resolver chamar a galinha descabelada não se sabe para quê. Terá sido para discutir datas internas do partido? Para discutir estratégias larânjicas?
Não faz sentido seja qual o ângulo por que se olhe.
Mas já que deu esse mau passo -- melhor: mais um mau passo --, o mínimo que Marcelo pode agora fazer é receber também o Pintas Melo que por aí anda a vociferar contra os golpes de estado com que o puto Chicão anda a brincar lá pelo Caldas.
Não sei se aquilo terá sido coisa tipo batalha de paintball ou de polícias e ladrões. O que sei é que, na sequência da brincadeira, o histórico Adolfo, o histórico Pires de Lima e mais dois fizeram saber que vão dar de frosques do CDS. E o ex-putativo líder não se cansa de dar conferências de imprensa para espetar facas no puto, andando agora a dizer que vai pedir para impugnarem o so called golpe de estado do Chicão.
Ora se o Marcelo fez a linda proeza de dinamitar o Parlamento, levando a sério o voto negativo do PCP e do BE (que, afinal vieram a dizer que aquilo era a brincar, que não queriam nada eleições, nem pensar,) e acreditando que o PSD e o CDS eram gente racional (que se saberiam portar como gente grande e séria), agora deve estar oh tio, oh tio, vendo que o PCP e o BE vão ser dizimados e que o PSD e o CDS, também se estão nas tintas para o país, entretidos que andam a espetar agulhas nos bonecos uns dos outros, a passarem-se rasteiras e até a tirarem olhos.
Portanto, tanta inteligência e tantas horas sem dormir para conceber cenários... para isto, Professor Marcelo?
Onde é que está o discernimento, a lucidez e a ponderação de quem teria mais do que obrigação de se mostrar acima da carne seca? Não vejo.
Portanto, repito, pelo menos para se lavar do mau passo de receber a galinha, ao menos que agora aceite o pedido do pintas mélico que, segundo diz, também quer ir fazer queixinhas para Belém. E se o urubu também quiser passar a perna à parrachita, pois que Marcelo também o receba. Nisto não queremos cá candidatos a candidatos de primeira e de segunda.
E ao fim do terceiro dia abre-se uma clareira na qual a crise e os malucos que a causaram não têm cabimento. Pode ser que amanhã ou depois ou depois volte à carga. É muito provável que sim. Motivos para me divertir ou arreliar não vão faltar. Mas hoje, sexta-feira virada e o sábado já caminhando, não estou nem aí.
A minha praia esta noite é outra. Lá fora deve estar uma noite feia e toldada mas, aqui dentro de casa, reina a acalmia.
Durante o dia, o pequeno urso aprendeu o que é o vento e a chuva. Sentado, empertigado, à porta da cozinha que estava entreaberta para o pátio, olhava com espanto para estes elementos da natureza. Nem queria ir ao jardim. Agora à noite, levei-o lá fora para ver se fazia alguma necessidade. Veio uma rabanada de vento e eis que o pobrezinho largou a fugir para o pé de mim, de novo sentado, intrigado, olhando para mim. Expliquei: 'É o vento. Não faz mal'. Não sei como interpreta o que lhe digo. Nasceu no verão, desconhecia até hoje outra coisa que não o bom tempo.
Haverá de se habituar. Ele tal como todos nós acabamos sempre por nos habituar a tudo. Que remédio.
Como referi na devida altura, nesta quarta-feira entrámos em blackout: nem internet nem televisão nem telefones.
Veio o técnico, ligou, desligou, fez bypass, auscultou, fez boca a boca... e nada, nem pio para dentro nem pio para fora. Saiu a dizer que o mal devia ser no exterior. Coisa para outra equipa. Ao segundo dia nada aconteceu. Em cada uma das três chamadas, deu para perceber que nada estava a acontecer. Diziam que o assunto estava a ser acompanhado. O terceiro telefonema fui eu que o fiz: quando é para partir a louça, avanço desencabrestadamente. Avisei o jovem que o telefonema só acabava quando ele contactasse a equipa técnica e me transmitisse o que estava programado. Interrompeu e regressou com uma informação: que na sexta de manhã, antes das 10:30, haveríamos de receber uma chamada para confirmarmos que o serviço estava restabelecido. Mas que eu descansasse que o assunto estava a ser acompanhado. Deve ser o que lá têm escrito para dizer. Zanguei-me: não quero que o problema esteja a ser acompanhado, quero é que seja resolvido.
Mesmo assim, tive esperança. Sou confiante. Ao primeiro dia acontece isto, ao segundo aquilo, ao terceiro aqueloutro. Sou crente. Fazer o quê?
Só que, à hora da prometida revelação, nem telefonema nem serviço. O milagre não se tinha dado. Voltei a ligar e pedi para me passarem ao supervisor. O supervisor disse que me compreendia, que me pedia desculpa, depois ofereceu-me três canais de borla durante um mês, coisa que eu disse que não queria, queria era o problema resolvido. Disse-me, e pediu que eu acreditasse, que ia fazer o seu melhor. E insistiu na oferta dos canais, fazia mesmo questão.
De tarde, por milagre, apareceu um técnico. Depois de verificar o que o outro tinha verificado, informou que o colega anterior não percebia nada do assunto. Não sei o que foi. Estava ainda em reunião, foi o meu marido que o aturou. Mas, quando acabei a reunião e lhe perguntei se já estava tudo a funcionar, estava mal disposto, chatices lá no trabalho dele. Por isso, quanto tentei perceber qual o problema da falta de internet, telefone e televisão, disse-me que se estava nas tintas, que estava farto destes gajos todos, queria era que o deixassem em paz. Não sei bem de quem estava ele a falar pois o telefone não parava de lhe tocar.
Resumindo: no que interessa, problema resolvido. Voltei a estar ligada ao mundo.
E, assim sendo, relembrando como funcionam as notícias e os comentários, a televisão voltou à vida. Vi um bocado do noticiário e um bocado do Expresso da Meia-Noite. Um bocado não. Um bocadinho. Talvez menos de cinco minutos. Desistimos. Mais do mesmo. Um bocado antes, quando lhe tinha aparecido o Louçã, o meu marido bufou: 'Eh pah, este gajo é que não'. Pedi para deixar ouvir, estava curiosa, sempre queria ver. Contrariado, cedeu. Ao fim de poucos minutos, resolvemos ao mesmo tempo: 'Já chega. Porra.'. É que ninguém merece.
Agora decorre uma novela da globo e está bom assim. Bobeira de alto a baixo, coisa de não torrar miolo nem dar arrelia. E com um plus que é dos bons. O Fagundão, tentador que só ele. Envelhece com qualidade, melhor que em barrica de carvalho. Todo ele, a cara, o físico, a voz, a graça com que fala: tudo um apetite. Olha-se e o que se pensa é que só de ver, mesmo que de longe, já se sente o perfume daquele pedaço de homem.
Olha. Acabou. Coisa mesmo só para dar água na boca. Eu à espera de cena bonita com o sempre e eterno amadaço Fagundão e afinal já era, a coisa já passou para outra. Uma novela em que parece que todos ciciam. Não tem graça. Não se percebe isto.
Portanto, agora passei para o Governo Sombra. Só o RAP é que está bem encarado. Bronzeado. Os outros parecem-me macilentos. O Vaz Marques, desde que emagreceu, ficou com ar pendurado. O Mexia parece-me mais gordo e com más cores. Ou foi a maquilhagem que se distraiu nas cores ou devia fazer análises para ver se ataca a tempo. O João Miguel Tavares continua como sempre foi: baderneiro, confusionista, maledicente e mal jeitoso. Terei que voltar a fazer zapping.
E o mais aborrecido é que não sei quais os canais que o outro fez questão de oferecer. Nem sei como descobrir. Pobre e mal agradecida, vê se pode.
Portanto, sem canálios extra, a penúria do costume. Vou mas é desligá-la que fico melhor sem ela.
Com licença que vou ver se há alguma coisa que se aproveite na Netflix.
Parece-me que não. Não sei se sou eu que não sei pesquisar ou se é mesmo tudo mais para fraquinho. Já vi o Estorninho, já vi O Escavador. Desses gostei mas agora não descubro nada que me desperte atenção. Ando biquenta, é o que é. Tudo me parece a tender para o rasteirinho, envolto em plástico. Ou é tudo excessivamente colorido ou excessivamente escuro.
Pronto. Já descobri. Uma comédia com a Meryl Streep. Luminosa como sempre é, há-de ser uma boa companhia. Estou é na dúvida se já não a vi. Se já vi, terei que ir dormir. Vou averiguar.
Bem. Fico-me por aqui. O dia foi puxado. Aliás, estes dias, puxa vida, têm sido puxados, coisa mesmo do bêleleu. Vou mas é descansarecos. Mas, antes, permitam que vos deixe em boa companhia.
Caetano no TikTok
Segue em primeira mão a nova coreografia e versão de Leãozinho: Gosto muito de te ver, Caetaninho (mão por cima da cabeca 3x). Caminhando com o Porta (andada em câmera lenta). Gosto muito de você, Caetano (movimento de coração com as mãos). Para desentristecer, Caetano (mão fechada em baixo dos olhos, simulando choro). A minha Porta tão só (sai de costas e olha pra câmera dramaticamente)
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As imagens são photoshop a pedido, trabalhos de James Fridman
Lá em cima Mercedes Sosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gal Costa interpretam Volver a los 17
Nas várias pessoas com quem hoje falei, a estupefacção e a irritação contra o PCP e o Bloco são generalizadas. Ninguém percebe, ninguém aceita.
A minha mãe, então, estava quase fora de si. Gente mais parva, concluía ela. Dei-lhe razão. Sobre o Bloco, ainda tentou desculpabilizar o todo, concentrando num só elemento a fonte de todo o mal: aquilo é tudo coisa daquele urubu, sempre de preto. Aí não lhe dei totalmente razão. Não sei se só é do urubu. Acho que também é da parrachita (como no outro dia ouvi chamar-lhe), talvez também do pérfido cardeal ou de toda aquela conjugação de ismos azedos, requentados, fora de prazo. O que sei é que de uma coisa podemos agora estar certos: aquilo é gente que não pensa.
Isto do lado das esquerdas reunidas (reunidas entre si & com a direita & com o Chega à mistura -- não nos esqueçamos). Quanto às direitas, o que se conclui é que reina o forrobodó. Guincham pela perspectiva do poder como histriónicas e impacientes gatas com cio.
Desforrando-me de não ter televisão (ainda não tenho!), ao vir para casa ao fim do dia, vinha ouvindo as notícias.
O PSD em efervescência. O Rangel, todo ele insuflado com a oportunidade que lhe puseram ao colo, com a voz em ebulição e já a querer dar-se ares de importante, enchia o peito de ar para dizer que tinha convidado o Professor Poiares e que o Professor Poiares tinha aceitado e que o Professor Poiares e ele próprio tinham convidado o distinto Professor Alexandre e que o distinto professor Alexandre tinha aceitado fazerem parte da equipa que vai fazer o programa. Muito jogo. Ganda Rangel. E acrescentou que, muita atenção, estas eleições não são para líder da oposição mas para primeiro-ministro. E todo ele, ao falar, se mostrava num verdadeiro frenesim imaginando-se primeiro-ministro. Um primeiro ministro que leva tudo à frente. Upa lá-lá. Cuidado com ele.
E, na euforia (e na ausência de substrato próprio), está a desenterrar toda a tralha passista para lhe fazerem uma cadeirinha e o levarem ao colo às eleições.
Será uma coisa mais fofa de se ver.
Já nem quer saber do Rio para nada. Na sua cabeça desfraldada, o PSD já é todo dele. E fala de datas, põe e dispõe, analisa na perspectiva disto e na perspectiva daquilo, todo ele teoria, uma coisa mesmo engraçada de se ver.
E depois ainda há quem diga que não se espere ver uma galinha a trepar às árvores. Ai não que não. A cacarejante aí anda provando que pode tudo: trepar às árvores, nadar à cão, ir ao Daniel e, armado em pr'a frentex e fracturante, assumir-se, convidar professores e, pasme-se, até distribuir jogo em Belém.
Quanto ao CDS, enquanto o puto Chicão se reúne com o alpacas Rio, o Pintas Melo anda a ver se adia ou se antecipa eleições, já nem sei (nem interessa para nada). Nos áureos tempos em que Madame Cristas da Coxa Grossa fazia poses extraordinárias em São Pedro de Alcântara mostrando-se coberta de kiwis, ainda havia assunto de que se falasse no CDS.
Agora com o puto Chicão, que tem medo de qualquer pum mais estrepitoso ficando de olhinhos esbugalhados a ver se percebe quem o deu, e que tem conseguido a proeza de reduzir o partido a raspas, já ninguém lhes liga patavina.
No meio disto não sei que ideias levitam na cabeça do exuberante Marcelo mas que ele ajudou à festa, lá isso ajudou. Portanto, agora que desembrulhe a crise que ajudou a criar ao dar corda a quem só a sabe usar de forma perigosa para si e para os outros. Se o seu primeiro mandato foi o dos omnipresentes beijinhos a ver vamos se o segundo não será o das permanentes macacadas.
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Como é bom de ver, a imagem do Upa lá-lá Rangel provem do saudoso We have kaos in the garden.
Começo por dizer que, por alguma ordem divina superior -- seja lá o que isso significar --, estou sem internet em casa e sem televisão. Já cá esteve um técnico que não conseguiu resolver o problema. Diz que pensa que é na rua e que, assim sendo, é com outra equipa. Só que, dado o adiantado da hora, hoje já não virá. Quando virá, ele não sabe.
Portanto, aqui, a salvo do regabofe que por aí deve andar pelas concelhias, distritais e sedes nacionais tudo com as televisões atrais (nb: não é gaffe, é mesmo assim, para rimar), resolvi que, por quem sois, falo e comento eu.
É que, parecendo que não, até sinto uma certa falta de acompanhar o frisson nacional. Sem conseguir testemunhar a azáfama e o entusiasmo que hoje deve grassar nas redacções e sem conseguir assistir aos orgasmos síncronos e assíncronos dos comentadores que, a esta hora, certamente ululam pelos balcões em que se serve comentário a copo, tenho que me contentar com o que euzinha tenha para dizer.
Mas, claro, não se compara com o porno espectáculo de jornalistas e comentadores, com a pica toda, em sucessivas erupções mediáticas, congeminando sobre o que aí pode estar para vir.
Crise para eles é melhor que viagra. Upa la-la. Umas atrás de outras.
Enfim.
Para colmatar a pecha, poderia ver televisão no computador? Poderia. Mas não seria a mesma coisa. Portanto, não quero.
Ou seja, perdoem-me mas o meu conhecimento hoje é francamente limitado, mais limitado ainda que nos outros dias. Vejam se pode. O que sei é apenas o que os onlines disponibilizam. E, como a maior parte dos conteúdos requerem que se seja filiado e subscritor, fico de fora. Ou seja, o que sei é pelas gordas. Imagine-se. Pelas gordas.
Poderia, claro, tentar os internacionais mas nem vou por aí: as nossas pequenas misérias não são, por enquanto, tema que tenha por onde se lhes pegue. Traições e baixas políticas levadas a cabo pelo pouco que ainda remanesce do PCP e pelas desnorteadas do BE não é coisa que interesse a quem quer que seja, muito mais fora de portas.
Tivesse havido pancadaria no Parlamento, quiçá entre o Jerónimo e a Mortágua ou entre a Joacine e a Catarina, aí, sim, aí talvez já houvesse alguma breve. Agora assim, tudo no maior pacifismo, querem lá eles saber disto...? E, para mais, a esquerda a auto-devorar-se...? Bahhhh, que seca, ... déjà vu. Filme visto mil vezes, acaba sempre da mesma maneira. Tudo ao tiro e, no fim, morrem todos. Dá é sono.
Quem se importa somos nós, os portugueses, que não perdoaremos por, de novo, os traidores do PCP e do Bloco se terem juntado à direita (Chega incluido!) para, uma vez mais, colocarem areia na engrenagem, provocando uma inútil baderna, gastos desnecessários, prejudicando a estabilidade governativa e a trajectória de crescimento e recuperação que estava em curso.
Tudo está agora nas mãos de Marcelo. E eu sempre estou para ver o que vai ele fazer. Tenho ideia que gosta de fazer habilidades quando está na confortável situação de espectador e comentador mas que não se sente a jogar em casa quando a bola e a estratégia de jogo está nas suas mãos.
Mas as coisas são o que são. Penso que, se em vez de ter andado a dar ideias aos fracos de espírito, se tivesse deixado estar caladinho, apenas apelando ao bom senso e ao sentido de responsabilidade de todos os partidos, teria sido preferível.
Mas não senhor, tem a língua mais rápida do que o pensamento. E pôs-se logo a dizer que, se o Orçamento chumbasse, convocava eleições antecipadas. Fuel para a programação da comunicação social. Crise à vista é o que eles gostam: fazem debates, chamam os comentadores e as putéfias de serviço (pardon my french) e aí estão eles todos a debater cenários, a desculpabilizarem uns, a culpabilizarem outros, um circo infantil e caricato. Este era também o mundo do bom do Marcelo. Bagunçada e baderna à vista e aí estava o Professor, salivando de entusiasmo nos ecrãs domingueiros da TVI.
E, portanto, desde que o Presidente deu fogo à peça foi um ver se te avias de ultimatos, de bocas, de conversa fiada: a crise estava lançada para a arena. Quem se portasse como adulto, estaria crucificado na comunicação social. Portanto, a partir daí, para os sobreviventes do PCP que esbracejam para ver se conseguem manter a cabeça fora de água e para as desnorteadas do BE que já não sabem a quantas andam, a única preocupação foi não ficarem mal vistos perante os poucos que ainda votam neles.
Portanto, se Marcelo gosta de andar a semear ventos, mesmo que diga que não, que gosta mesmo é de sol na eira e chuva no nabal, agora está a ver que está uma tempestade a querer entrar-lhe pela porta dentro. Nos idos da TVI ele deitar-se-ia a construir cenários, destilando vantagens e desvantagens e temperando com pontos de vista. Só que agora a pauta é outra. Não é hora para cataventices ou confidências a simularem beijinhos e selfies. É hora, sim, para se pensar com a cabeça no sítio -- e boca calada até se ter a certeza do que se vai fazer.
Chamou o pessoal dos partidos a Belém para conversinhas de pé de orelha que, pelos vistos, entraram por uma e sairam por outra de quem lá foi sentar o rabo. E, não sei a que propósito, chamou também a galinha cacarejante que deve ter saído de lá sem que nem um feijãozinho lhe coubesse no rabiosque (não digo pardon my french porque rabiosque não é nome feio; ora essa!), tanta a alegria pela inesperada distinção. A esta hora a alinha depenada já deve estar até a sentir-se comendadora. Não sei que outras reses tresmalhadas terá também Marcelo chamado mas, na volta, também chamou o eterno Assis, o pintas Melo, ou qualquer outro cão ou gato que por aí ande a ver se é adoptado.
Li que esta quarta-feira janta com o Costa e com o Ferro. O Costa, para além de chateado, deve andar esfalfado por aturar tanta cretinice e cheio, cheio, cheio de sono. Se fosse comigo sei bem o que diria mal me visse lá chegada: Pardon my french mas bardamerda para esta cagada em três actos; se o PCP e Bloco querem brincar aos politicozinhos da treta que brinquem sozinhos; Senhor Presidente e camarada Ferro não me levem a mal mas vou é para casa dormir que para este peditório já dei foi demais. Ciaozinho e bon apétit.
Mas, felizmente para todos nós, o Costa não é como eu, não se cansa, não se enfurece, mantem a compostura e a boa disposição mesmo quando lhe saltam em cima ou o massacram com conversas da treta.
Tem ainda outra ande vantagem: é um estadista. Pensa no País antes de pensar em si próprio.
Não sei qual a ementa nem o que vai ser falado durante o jantar mas imagino que agora seja o Marcelo que está no mesmo papel em que a choramingona da Catarina se pôs antes de votar, quando até parecia estar a implorar que a ajudassem a sair desta. Acredito que o Costa e o Ferro o ajudem a pensar e a ver com alguma clareza. Mas, perdido no labirinto dos cenários que constrói, não sei se o Marcelo tem comedimento para pensar sensatamente nem consigo antever o que vai fazer sair daqui sem ficar associado a esta chachada.
O que espero é que, para bem de todos nós, ainda venhamos a dizer que há males que vêm por bem. Por isso, daqui lhe desejo: boa sorte, Sr. Presidente.
E não é apenas ao Presidente que o desejo, é a todos nós: boa sorte!
O título foi longo e poderia ficar-me por aí. Mas, como sou extrovertida, aproveito para responder a alguns comentários e mails e, de caminho, para acrescentar uns pontinhos.
Acredito que o Orçamento ainda pode ter pernas para andar. Convém termos presente aquela coisa da estupidez: a estupidez é uma burrice sem beneficiários. Ora, se a estupidez ainda não se materializou, ou seja, se a votação ainda não ocorreu, ainda pode acontecer que os que se meteram nisto armados em leões percebam que o melhor é saírem de fininho. Entrada de leão, saída de sendeiro. Melhor isso do que se atirarem da ribanceira abaixo.
Talvez recuem percebendo que não iam apenas prejudicar os portugueses em geral (coisa para a qual se estão a marimbar) como se iriam prejudicar a eles próprios. Talvez o PCP e o BE percebam que perderam a noção da realidade ao pretenderem que o governo altere a sua linha governativa legitimada pela votação obtida nas últimas legislativas para governar de acordo com a vontade deles que tiveram 6% e 9%. Talvez tenham um lampejo de lucidez e percebam que os 36% de eleitores do PS não querem ser governados segundo as suas arrogantes imposições. Talvez percebam que são pequenos e, em trajectória descendente, cada vez mais pequenos. Talvez percebam que, se voltam a trair a confiança dos poucos que ainda votam neles, então mais vale dedicarem-se à pesca ou a outra coisa qualquer.
Ou pode acontecer que, num derradeiro acto de misericórdia, o Costa lhes atire um peanut qualquer para eles, perante os seus fiéis, poderem fingir que ganharam alguma coisa.
Depois de ter visto as imagens do Parlamento, com a bancada do Bloco de Esquerda toda tef-tef, margarida, desorientadas, e a própria Catarina, com ar aterrado, quase a chorar, a pedir que o Costa lhe pegue ao colo ou, pelo menos, lhe dê a mão, acredito que, pelo menos, o Bloco já percebeu que fez porcaria (só que agora não sabe como sair do beco em que se enfiou).
Quanto ao PCP, acredito que o coração deles balança. Por um lado, a linha mais racional quer ter uma atitude responsável mas, por outro, a linha dura, a linha que gosta de manifs e punho erguido, quer é ter motivos para o protesto e, para isso, têm os portugueses que estar a ser bem lixados. Portanto, a ver o que o Jerónimo vai fazer: se opta por satisfazer os comunas de linha dura ou se opta por querer o bem dos portugueses.
Mas também acredito numa coisa. Se por uma bizarra convergência de burrices, houver mesmo eleições antecipadas, acredito que
o PS ver-se-á reforçado já que nisto tudo é quem, a par do PAN, tem mostrado ter cabeça e sentido de responsabilidade;
o PSD levará uma tareia das valentes, ainda por cima destrambelhados como andam ;
o PCP e o BE, obviamente, levarão um valente chega para lá pois ninguém gosta de irresponsáveis, arrogantes e gente que se porta de forma estúpida;
o CDS quase desaparecerá do mapa;
a IL talvez se aguente pois o Cotrim, para além de ter pinta e de se saber vestir, é elegante e educado;
o Chega deve subir, repescando os distraídos, os manipuláveis, os desiludidos e os destituídos que assim se juntarão aos desinformados, aos ignorantes, aos arruaceiros e aos patifes que já lá estão.
Portanto, acreditando que, a haver eleições, o PS sairá reforçado, a verdade é que não me agrada nem um bocadinho que, em vez de haver uma oposição construtiva e responsável, se tenha apenas um bando de gente desorquestrada e de um Chega perigosamente circulando com via verde para fazer a porcaria que quiser.
Quanto ao Marcelo, ele sabe bem que, se houver eleições antecipadas, o seu nome ficará ligado ao reforço do PS, ao estilhaçar dos partidos à esquerda e à direita do PS bem como à ascensão do Chega. E o que se seguirá poderá não ser bonito de se ver.
E essa não é, seguramente, a forma como quererá ser recordado. Marcelo sabe bem que a memória das pessoas é curta. Os últimos tempos do seu mandato facilmente apagarão os seus áureos tempos pré-pandemia, o tempo dos afectos, das selfies e dos beijinhos.
Por isso, pode muito bem acontecer que esteja a pôr toda a sua habilidade de experiente jogador político ao serviço da aritmética que pode garantir pelo menos mais um ano de governação estável.
E depois há aquilo em que parece que ninguém antes tinha pensado e que pode ser saída para se seguir em frente. Em frente mas com uns a irem ao charco e outros enfiados num saco de gatos. Em frente mas com os comentadores todos em histeria, todos a terem epifanias -- uma coisa também muito difícil de suportar.
Enfim, vamos esperar que, fruto de interpretações regulamentares, habilidades alheias ou arrependimentos próprios, haja quem, à última hora, consiga que não se perca tempo com frivolidades e que, pelo contrário, possamos concentrar-nos no que é necessário (desenvolver-nos, por exemplo).
E agora vou pensar noutra coisa para não cansar a minha beleza.
Foi o PCP e o Bloco de Esquerda que, há uns anos, em conjunto com a direita, puseram o Passos Coelho e o Portas no poder. Foi Passos Coelho com o Portas a reboque que quiseram ir além da troika, enxotando os jovens mais válidos do país, vendendo as empresas portuguesas a preço de uva mijona a outros países, empobrecendo e quase aniquilando o país. Na génese da ascensão da direita ao poder esteve o espúrio e infame conluio com o PCP e com o BE -- e isso o País não vai esquecer, nunca.
Aparentemente, o quadro vai repetir-se. Parece que, uma vez mais, os dois partidos à esquerda do PS vão fazer o que está ao seu alcance para colocarem a direita no poder. A acontecer, temos sérios riscos de virmos a ter a direita trauliteira no poder, uma direita mesclada de estupidez, populismo e arruaça. Se calhar, teremos a galinha cacarejante como primeiro-ministro, o puto Chicão como vice-primeiro ministro e o Ventura quiçá como ministro da Administração Interna. Se isto acontecer, se esta miséria acontecer, acontecerá pela mão do PCP e do BE que, uma vez mais, de forma imperdoável, abrirão as portas à direita mais canalha.
Intriga-me porque o fazem. E só encontro uma explicação.
Com um Governo competente e que tem obtido resultados louváveis -- antes e depois da brutal crise causada pela pandemia --, um Governo que tem sabido governar de forma equilibrada, humana, inteligente e com o coração à esquerda, o PCP e o BE não conseguem mobilizar o eleitorado para vir para a rua. Protestar contra quê, se as pessoas estão globalmente satisfeitas e confiantes? Podem andar inquietas com receio de nova vaga de covid, com receio da crise energética internacional, podem recear a incerteza que desde que o corona apareceu paira no ar -- mas estão confiantes no sentido de responsabilidade do Governo.
Esvaziados, com votações cada vez mais insignificantes, o PCP e o BE, para subsistirem, acham que têm que ter um inimigo no Governo. Com um Governo de direita, incompetente, que atente contra os direitos dos trabalhadores, o PCP e o BE estão na sua praia, com pretexto para fazerem oposição, baderna nas ruas.
E é assim -- cagando para o Povo que dizem defender, cagando para o bem estar das pessoas, cagando para o equilíbrio das contas e para a dinamização económica, cagando para a estabilidade necessária ao crescimento do País -- o PCP e o BE não se importam de vender a alma ao diabo para ver se conseguem subir uns pontozecos nas próximas eleições.
Mas estão muito enganados. Muito. O País não lhes perdoará mais uma traição.
Se forem adiante com o voto contra o Orçamento, o PCP e o BE receberão a paga que Roma guarda para os traidores. Roma traditoribus non premiae.
Entramos, pois, na última semana de outubro. O mês rubro começa a despenhar-se nos dias curtos e escuros. Quando aqui chegamos sinto sempre uma certa nostalgia. E não sei se nostalgia é a palavra certa mas não me apetece usar a palavra certa.
Mas hoje o dia ainda esteve bonito. Um solinho ameno, brando, dourado, um calorzinho a querer despedir-se mas, entre vai e não vai, ainda gostoso de se sentir.
Agora, já o dia a dobrar, aqui no sofá, quase a dormir enquanto via o final do filme sobre o Madoff, reparei que estava a sentir-me apertada.
Olhei para mim para perceber de onde vinha a sensação e só depois de perceber que não vinha da roupa visível é que me lembrei que ainda estou com o soutien vestido. Mas agora não o dispo senão esqueço-me dele aqui e ainda acontece o que aconteceu no outro dia. Vi o ursinho de peluche muito entretido num canto. Pareceu-me que estava com qualquer coisa preta na boca mas como todo ele é um tufo quase preto, não prestei a devida atenção, pensei que era uma falsa impressão minha. Mas, depois, pensei que, just in case, deveria validar. E nem queria acreditar. Estava todo entretido com o meu lindo soutien de renda preta, uma copa na boca, creio que tentando desacoplar uma alça. Fiquei passada. Assim de repente nem encontrei explicação para ele estar na sala a brincar com o meu soutien. Só depois me lembrei que eu, na véspera, em idêntica situação, me tinha desacoplado dele.
Se estamos apenas nós em casa, ando na maior liberdade de movimentos. Mesmo as reuniões remotas são feitas sem soutien. A liberdade de movimentos motiva a liberdade de espírito.
Por isso, quando o tenho vestido parece que me sinto amarrada. Certamente ainda amarrada à memória de uma realidade que já foi a minha.
Até as minhas caminhadas são, pois, quase sempre na total desportiva, o mais possível a l'aise.
Mas hoje foi casa cheia e, portanto, noblesse oblige, soutienzinho com ela. Só que, com a fera desencabrestada, excitada com tanta brincadeira, ao contrário do que era costume ao ver-me sozinha, hoje nem me lembrei de tirar todos os arreios.
A endiabrada criatura -- que toda a tarde correu, saltou, rebolou. arranhou, mordiscou, driblou, quis comer cogumelos frescos e cocós antigos e simulou actos indecorosos com algumas pernas que achou mais inspiradoras -- agora, aqui no chão, dorme o sono dos justos ao pé do sofá onde o dono faz o mesmo.
Os meninos gostam todos deste nosso novo familiar. Apenas a minha menininha mais linda ainda não se chega muito. Tem um certo receio. Eu era assim. Lembro.me de ver os meus filhos com a nossa cãzinha ao colo, na maior descontração, e eu incapaz de lhe pegar ou de me chegar muito. Tinha medo que se virasse a mim, que me mordesse, nem sei bem. Depois passou-me, claro. Mas foi um receio que tive que vencer. E a minha menininha também haverá de vencer os seus receios. Mas se todos gostam e todos têm ternura e grande à-vontade com ele, de todos é o mais novo da minha filha que mais brinca, mais se dedica a este endiabrado monte de pelo. Gosta mesmo, mesmo muito dele. E a pequena fera retribui-lhe o afecto. A ele e, de forma exuberante, à minha filha. Quando a viu ia-a devorando, tanta a alegria. Teve que trocar a mini-saia por umas leggings que lhe emprestei para não ficar com as pernas todas arranhadas.
O mano do meio do meu filho trata-o por puto. E o que posso dizer do puto é que é uma ternura não doseada. E irrequieto, irrequieto, maluco, maluco.
Fotografei-o em plenas refregas mas tão escurinho é e tão depressa corre e salta que as fotografias ficam sempre pouco nítidas. Só fica bem quando está cansado e o pessoal aproveita para o ter ao colo. E aí é a ternura que se vê. Quentinho, fofinho, maciinho, um peluchinho que apetece ter aninhado no nosso colo.
Para além disso e do lanche e dos jogos e das conversas, tivemos, como sempre, os velhos números de luta livre.
Desta vez, dois primos uniram-se para derrubar o pai de um e tio de outro, coisa que invariavelmente acaba com eles todos transpirados. Um deles, então, acaba sempre a escorrer. Também já têm acabado com algumas nódoas negras. Eu, se fosse comigo, ficava sem me mexer. Mas eles voam, saltam, dão cambalhotas e levantam-se sempre prontos para outra.
O teenager já não se envolve nisso, está grande, com o buço a despontar e preocupado com os seus testes, com os resultados dos jogos e com outros temas próprios dos 'crescidos'. A menininha mais linda ajuda na cozinha, ajuda a pôr a mesa, salta à corda, joga ao limbo e deixa-se estar deitada na relva, indiferente à batalha campal que ali vai, mesmo por cima dela.
Estava com umas calças minhas pois as jardineiras que trazia não a deixavam ter a flexibilidade necessária para jogar ao limbo. O que vale é que a minha roupa dá para todos os números.
E o mais novo, o caçulinha mais lindo, sempre na boa, alinha com as brincadeiras de um e de outro, provoca a fera, atira-se do balouço e curte a feliz despreocupação da sua inocência.
Para além disso, posso ainda acrescentar outra coisa.
Temo os dias escuros, húmidos, frios, curtos -- o que é sabido. Prefiro que seja dia até ser tarde, andar ao sol, ver as flores resplandecentes de luz. Mas tudo tem um lado bom e, por isso, já estive a inventariar as pinhas que estão perto de casa para quando acendermos a lareira. Gosto muito de estar ao pé da lareira: gosto do quentinho aconchegante e bom, gosto da luz do fogo. Gosto. Portanto, vou tentar não me queixar mais por Outubro estar a chegar ao fim pois não tarda poderei estar a trabalhar ao pé de uma lareira acesa e isso, caraças, também é bom demais.
Daqui a nada, também irei assar castanhas e o perfume das castanhas assadas também também vem com a minhas boas recordações ao colo.
Num outro mundo, comprava-as na rua e recebia-as num cartucho feito com jornal ou com uma página das páginas amarelas. E sabiam-me pela vida. Não sei para onde foi esse mundo ou para onde foi a minha vida que nunca mais comi castanhas assadas na rua.
Mas castanhas assadas a la maison e comidas à beira de uma lareira acolhedora também é coisa boa, daquelas que têm o sabor bom da saison. Reza a lenda que deveriam ser acompanhadas com uma água pé mas isso não, obrigada. Talvez um medronho ou uma ginjinha de Óbidos. On verra.
Não me interessa muito esta chicana do orçamento. Todos os anos é isto. Um filme pouco inspirado que se repete ano após ano.
As do Bloco de Esquerda gostam de se pôr em bicos de pés e não conseguem resistir à tentação de assim andarem a toda a hora mesmo quando isso é despropositado. A forma como falam, como se tivessem o rei na barriga, é pateta. Poderia dizer que é patético mas acho que a palavra é grande demais para elas. Na minha terra, em situações assim, diz-se: 'já o carapau tem tosse...'. É que não se enxergam. Acham que podem impor ao país a sua vontade, esquecidas da insignificante votação que tiveram. Não se aguenta. Estas suas atitudes despropositadamente impositivas e arrogantes penalizam-nas em todas as eleições mas, armadas em reizinhos, não percebem que cada vez há menos pessoas a terem pachorra para elas.
O PCP tem outra atitude, são gente crescida, gente confiável. O problema deles é outro. Ainda vivem num outro mundo. Confundem os sindicatos que ainda controlam -- e que representam cada vez menos gente -- com as reais preocupações do mundo laboral. Mantêm-se agarrados a causas que interessam cada vez a menos gente. Muito do que era o seu eleitorado típico está agora a marimbar-se para o que ainda são as causas comunistas.
Muitos que integram o anteriormente designado proletariado, nomeadamente o operariado ligado a empresas industriais, estão-se nas tintas para a precariedade e para as carreiras. Querem é andar de empresa em empresa, consoante lhes paguem melhor. Por exemplo, quando alguma empresa os quer contratar, dizem: quero ganhar mil e quinhentos líquido. Ou mil e oitocentos, o que for. Tanto se lhes dá se recebem metade por baixo da mesa ou por fora, tanto se lhes dá se o que é descontado para a segurança social é o mínimo dos mínimos. E se lhes oferecem mais para irem trabalhar lá para fora, nem pensam duas vezes, vão. E se puderem fazer carradas de horas de extraordinárias, melhor. Na minha terra também se diz sobre atitudes assim: tudo o que vem à rede é peixe. E é nessa que estão muitos dos actuais operários. Preferem empresas de vão de escada, que fogem a responsabilidades, ao fisco, às recomendações da ACT mas que lhes garantem o 'líquido' que eles pedem.Ora, nestas águas, o PCP já está fora.
Ou seja, os poucos por cento que o PCP representa já não têm muito a ver com nada da vida real.
Portanto, o pobre do Costa ali anda, sem dormir, a aturar uns e outros a ver se consegue que viabilizem o Orçamento.
À direita o despautério é ainda mais oco, embora seja mais colorido, mais divertido.
No PSD devoram-se uns aos outros. A galinha cacarejante continua a ser levada ao colo pela comunicação social, mostrando-se entusiasmada com o que imagina ser uma onda laranja que, na realidade, não existe. E o desagradável mangas de alpaca que, volta e meia, quer dar um ar da sua graça mas apenas consegue que o olhem com algum espanto e comiseração, anunciou que vai outra vez a jogo. Entre uma galinha cacarejante e meio careca e um carapau de corrida venha o diabo e escolha. Não vão longe.
O CDS já não existe e o Chega é uma agremiação de patifes, malfeitores, fala-baratos e, num ou noutro caso, parece que verdadeiros bandidos. Portanto, nem vale a pena pensar no que querem. Não querem nada. Querem apenas fazer barulho e lançar confusão. Apenas existem porque a comunicação social lhes dá palco. Senão, seria fumaça que se dissiparia por si.
Depois há o PAN com a sua moçoila simpática e o IL com um líder que tem a vantagem de ser um peralvilho com alguma pinta. Conteúdo em qualquer dos casos: zero.
Portanto, o que posso dizer é que espero que o raio do orçamento seja aprovado e que, se não for, que o Costa siga em frente e governe na mesma.
E espero que o Marcelo consiga manter a cabeça fresca para pôr alguma ordem na mesa e assegurar a estabilidade suficiente para o país conseguir sair o melhor possível deste vulcão de desgraças que não pára de lançar lava e cinza sobre todo o mundo: pandemia, crise energética, escassez internacional de matérias primas.
Só gente intelectualmente destituída ou desonesta é que pode achar que faria sentido, no meio disto, irmos agora para nova campanha eleitoral.
Enfim. Adiante.
Tirando isso, só se for para falar da minha vidinha, do meu pequeno dia.
Dia tranquilo. Caminhada alargada. Depois supermercado. A seguir, fomos abastecer-nos a um nepalês, um restaurantezinho pequeno, simpático a meia dúzia de quilómetros daqui.
Ao chegarmos a casa, ao arrumar as coisas do supermercado, verifiquei que uma peça de carne não me cheirava bem. Arrumámos tudo menos isso. Depois fui pôr uma máquina de roupa a lavar. A seguir almoçámos parte do que trouxemos e constatámos com agrado que daria para três refeições. Muito bom. Que saudades tinha. Que bem que soube.
Depois estendemos a roupa. Estava sol e ventinho, bom para secar.
A seguir fomos ao supermercado para entregar a carne malcheirosa e receber o dinheiro de volta, o que aconteceu sem piarem ou sequer confirmarem a veracidade da queixa. Dizem que as pessoas, por vezes, deixam as arcas frigoríficas abertas. Não sei.
Dali fomos à minha mãe o que deixou o little baby bear doido de alegria. Abraçou-a, quis mordiscá-la, agarrou-a, correu e saltou em volta dela. Pelo meio tentou tirar a mantinha que estava no cadeirão e roubou-lhe um chinelo. A minha mãe só lhe chamava 'seu maluco'. No fim, para nossa surpresa e alegria da minha mãe, queria lá ficar. Só saiu de casa quando a minha mãe também saiu. Penso que é o espírito de pastor. Só sai quando todas as ovelhas saem.
Também estivemos com o meu tio, irmão do meu pai.
Como não o conhecia, a pequena fera não deu confiança, manteve-se sentado a ladrar-lhe, depois rodeou-o a cerca de meio metro sempre a ladrar. Estava nitidamente desconfiado. O meu tio tentou fazer-lhe uma festa mas ele não deixou. Apenas ao fim de algum tempo, quando constatou que o meu tio não era um perigoso predador, é que começou a brincar com ele, já permitindo festas. Aí foi uma festa, tentou empoleirar-se, saltou. O meu tio falou dos cães da minha prima, aquele mais velhinho, grande, uma ternura, e este agora, mais novo, igualmente escolha da filha da minha prima.
A seguir, fomos a uma clínica levar um aparelho de um exame cardiológico que a minha mãe tinha feito.
Quando chegámos a casa, apanhámos e dobrámos a roupa. E arrumámos coisas. E tomámos banho. E fomos jantar mais comidinha nepalesa.
E estivemos na sala da televisão, o peluche animado a tentar mordiscar-nos, a tentar arrancar o galão de uma banqueta, a tentar roubar-nos almofadas, a tentar arrancar a franja de uma coberta, a tentar roer as pernas de uma mesinha. O dono tenta educá-lo mas ele à educação diz nada, quer é brincar. É uma graça.
Agora ambos dormem, o pequeno urso peludo e o dono.
E eu estou aqui, escrevendo como se estivesse a conversar convosco. Só que não vos ouço.
Não sei como foi o vosso dia, não sei se já vestiram uma camisola mais quente ou se ainda andam com roupa de verão, não sei se preferem o ruído ou o silêncio, a confusão ou a solidão, não sei se gostam mais de ler ou de ver televisão.
Mas, apesar de não saber nada de vocês, continuo a gostar de conversar convosco.
As romãs da romãzeira do jardim não ficam com a casca encarnada, apenas levemente ruivas. Mas, por dentro, os bagos são rubros, sumarentos e dulcíssimos. Agora, em quase todas as minhas refeições desmancho uma romã e decoro o prato com as dezenas de pérolas que quase estalam na boca, desfazendo-se em sumo. Começo por pô-los no canto do prato destinado à salada mas invariavelmente acabo misturando-os com o que for, peixe ou carne.
Este ano há menos laranjas do que o ano passado, nem se compara. Mas algumas começam já a ganhar cor.
Ao fim da tarde andei a varrer o terraço, o acesso à garagem, o caminho debaixo do telheiro. Mas não concluí o trabalho. Acabei por deixar alguns montes de folhagem seca por apanhar. O meu petit chien -- que saiu das minhas histórias para demonstrar que a realidade por vezes ultrapassa a ficção -- agora acha que a vassoura com a qual tento defender-me dos seus arroubos é um brinquedo e, por isso, quando ando a varrer, ataca-a, passa-me pelas pernas, põe-se de pé nas minhas pernas para delas saltar para a vassoura e, pelo meio, com as suas unhas pequenas e afiadas, enche-me as pernas de arranhões.
O meu marido diz que já sei que não posso andar de calções. Mas sou encalorada e, além disso, gosto de apanhar sol e ar fresco nas pernas. Vou sempre na esperança que o pequeno pastor se entretenha com pinhas ou com restos de troncos. Mas não. Se estou por perto, é à minha volta, desafiando a minha tolerância, que ele anda. O meu marido e o meu filho dizem que tenho que me impor. Mas como? Eles dizem: dá-lhe uma sapatada. Uma sapatada? Posso lá eu arriscar magoá-lo?
Dizem-me que ande com uma revista ou um jornal na mão, algo que faça barulho mas não o magoe. Mas como posso andar a varrer ou a regar flores e, ao mesmo tempo, de jornal na mão a ameaçá-lo? Portanto, o tempo quase todo é gasto a tentar afugentá-lo, a tentar poupar as minhas pernas ou os meus braços. Já pareço uma pobre de Cristo, toda lesionada.
Há pouco, aqui na sala, veio pôr-se com as patinhas da frente a querer empoleirar-se em mim. Fiz-lhe festinhas. Mas não parava de me olhar nos olhos. Peguei-o ao colo e aninhei-o como a um bebé. Curiosamente, deixou-se ficar. Parece que era mesmo isso que queria. Um bonequinho de peluche, meiguinho. O meu marido, ao entrar na sala e ver este quadro, ficou sem saber o que dizer. Disse eu: este é o cão de rua, o cão de guarda, o cão pastor que fomos buscar a um monte alentejano para nos proteger de intrusos. Ele respondeu: os cães, de certa forma, são o que os habituarmos a ser. Não sei como vai ser quando crescer. Temos uma casota no jardim, num recanto abrigado. Supostamente é lá que deve dormir e é à volta da casa que deve circular: não é para andar dentro, é para andar por fora. Mas não sei. Quando for mais crescido logo se vê. Estar agora a fazer antevisões é um long shot. Vou é aproveitando enquanto é pequeno, encaixável no meu colo. Mas isto também só é possível quando está perdido de sono. Aí, pelos vistos, sabe-lhe bem receber mimo e um colinho quente. De dia, quando está com as pilhas todas, nem pensar: corre, salta, morde, arranha, faz toda a espécie de disparates. Rouba sapatos, rouba tapetes, vira a sua cama do avesso, tenta roer tudo o que pode.
Faz hoje quatro semanas que fomos buscá-lo. Estava pele e osso debaixo do tufo de pêlo. Mal comia, não assimilava nada do que comia, estava mal da barriga. Agora já o sinto a ficar gordinho e estou sempre à espera que venham cá vê-lo para ver se lhe acham diferença, já mais crescido.
Já estamos no fim de semana. O tempo corre, corre.
Caminhamos rapidamente para o fim do mês de outubro. Nessa altura a hora muda para os dias ficarem ainda mais pequenos. Daqui a nada estamos no fim do ano e estaremos a equacionar como será o natal. Não percebo bem isto. Não sei como passam estas semanas que mal dou por elas; devoram os dias, devoram os meses e, se não nos precavemos, devoram os anos.
Amanhã terei que ir ao supermercado e não sei o que hei-de comprar para as diferentes refeições. Talvez ingredientes para cozido à portuguesa, talvez também peixe para cozer. Quando penso no que me apeteceria só me apetece o que não faço em casa: petiscos como gyosas, paezinhos de arroz recheados com carne, talvez até croquetes de carne a alheira para mergulhar em mostarda e mel. Mas também andamos com saudades de comida indiana ou nepalesa. Talvez nos desloquemos até um restaurante para trazermos comida para casa.
Tenho a televisão ligada e agora fiz zapping a ver se ainda dá o Dr. House e, pelos vistos, não. Está a dar um programa em que dois desconhecidos se despem um ao outro e ficam em roupa interior numa cama. Conversam até que são convidados a beijar-se. Estava um casal hetero e outro homo. É engraçado. Pode ser altamente constrangedor se não houver química entre as pessoas. Tento imaginar-me. Sou de atração à primeira vista. Se houvesse, acho que tudo fluiria na maior naturalidade. Mas, não havendo, acho que nem sequer me despia. Olhava, validava se poderia rolar um clima e, se não, para antecipar o desfecho, dizia logo ali: santa paciência, os nossos santos não cruzam, portanto bye bye.
No casal que estou a ver, um dos rapazes do casal homo é parecidíssimo com um que trabalhava lá na empresa e que, por ser gay e por não querer que alguém o descobrisse por recear ser marginalizado, se demitiu. O curioso disto é que toda a gente sabia ou desconfiava que o fosse, um colega nosso até o tinha visto num restaurante com as mãos estranhamente próximas do rapaz que estava em frente e, na empresa, nos dias seguintes, comentou isso para confirmar as nossas suspeitas. E ninguém queria saber disso para nada.
Bem.
Já estou para aqui a andar de conversa em conversa, como se andasse perdida num bosque, a espreitar por que caminho haveria de ir. Só que, a estas horas, já não dá para andar para trás e para a frente e, de resto, é pouco provável que vá dar a uma clareira.
E, afinal, sempre está a dar o House mas, se não estou em erro, é um episódio antigo. Ou melhor: mais antigo do que os últimos que eu tinha visto que, já de si, eram antigos. Será que o tempo está a andar para trás? E ninguém me avisou...?