terça-feira, agosto 31, 2010

Fim de dia nas belíssimas praias da Costa de Caparica

São 15 kms de praias fantásticas, algumas com pouquíssima gente, com óptimos acessos e bares. Morena, Sereia, Infante, Tartaruga, Nova Vaga são apenas alguns exemplos.

Andando sobre o Mar 


O mar visto de uma esplanada ao fim da tarde


Excerto do poema 'Coração Polar' do Manuel Alegre, poeta do mar:

"Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
(...)
Eu não sei de que cor são os navios
sei que por vezes
no mais recôndito recanto
no simples agitar de uma cortina
numa corrente de ar
num ritmo
há um brilho súbito de estrela e bússula
uma agulha magnética no pulso
um mar por dentro um mar de dentro um mar
no pensamento.

Há um eu errante e mareante
não mais que um signo
um batimento
um coração polar
algo que tem a cor do gelo e do antárctico
e sabe a sul a medo a tentação
uma irremediável navegação interior
um navio fantasma amor fantástico."
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Coisas do NJ, um orgulhoso pipiguês


Cá-o-Lixo (Carro-do-lixo)

Para o NJ não há fenómeno mais extraordinário, tecnologia mais avançada que o Carro do Lixo. Tem uma luz, apita, tem um fantástico guindaste que se move como se tivesse vontade própria, e tem uma precisão de movimentos assinalável: levanta a 'coja' (coisa), 'pa chima' (leva-a para cima do carro), 'la dento' (coloca-a dentro do carro), 'peja' (despeja), 'vanta' (volta a levantar), 'poja' (pousa-a), 'ruma' (arruma o guindaste) e 'lá va ele...!' (lá vai ele).

Aqui fica o registo fotográfico de uma dessas maravilhosas aparições sempre vista com entusiasmo e sempre alvo de posterior conversa e repetida reprodução de movimentos.

Hoje, durante uma dessas empolgadas descrições, com palavras a meio, chamei-lhe trapalhão.

Ele, com o seu maravilhoso sentido de humor, riu-se e, imitando o meu tom de voz, disse à sua maneira: 'Tipilau'. `

En passand, disseram-lhe: 'Este puto é chinês'.

En passand, ele rectificou: 'Não. Pipiguês'
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Carlos Queiroz, um silly processo pseudo-kafkiano adequado à silly season

Percebo pouco de futebol e percebo talvez menos ainda das figuras que o povoam. Posso ocasionalmente achar que algum jogador sobressai ou posso sentir mais alguma empatia ou antipatia por algumas figuras mas, muitas vezes, sem conseguir fundamentar tecnica ou objectivamente essas opiniões ou emoções.

Sobre este silly event do Carlos Queiroz pouco sei para além daquilo que o meu fraco período de concentração no que a futebol se refere, me deixa ouvir.

Posso antes de mais escrever uma declaração de interesse: acho o Carlos Queiroz um fulano convencido mas sem aquela petulância liderante do José Mourinho que sorri sabendo que tem um sorriso que vale milhões no mercado publicitário, que fala sabendo que o que diz será galacticamente difundido, que desfila no estádio sabendo que a sua imagem vale milhões no mercado da moda masculina; o Carlos Queiroz é vaidoso mas falta-lhe chama e convicção, falta-lhe empatia (em geral, quer os jogadores quer o público olham-no no través). E, por isso, quando se excede, não tem uma turma que se levante por ele. A opinião pública divide-se entre os que lhe têm um grande pó, os que antipatizam ao de leve com ele e os que, por uma questão de princípio, vagamente o defendem.

O que se está a passar com ele, visto por uma leiga, parece um nonsense sem ponta por onde se lhe pegue.

Sabe-se que, especialmente depois do Mundial, é, junto de alguns, persona non grata e que de bom grado o veriam bater em retirada sem levar a indemnização a que terá direito se for despedido sem justa causa.

Face a isso, parece (do que se conhece) que terão engendrado, por pura esperteza saloia, uma forma de lhe arranjar processos disciplinares, no âmbito dos quais o poderiam afastar.

Mas é tudo tão rasteirinho que confrange. Kafka em versão provinciano-burlesca.

Que o sujeito seja um temperamental até um bocado mal educado - que atira com o casaco em campo, que anda à pancada no aeroporto e outras gracinhas do género – até se percebe que cause irritação; que é inadmissível, numa posição como a que ocupa que, num jornal como o Expresso, profira acusações graves contra uma pessoa da hierarquia da organização que o contratou, também é um facto; agora daí até o suspenderem e punirem publicamente, de forma humilhante, como se ele fosse um menino da escola que vai de castigo para casa, isso parece-me inaceitável.

Claro que talvez ainda mais inaceitável seja o facto de ele, nesta aviltante situação, continuar sem se demitir.

Alguns milhões de euros justificam estes comportamentos indignos por parte da Federação e por parte dele?

Não há orgulho, não há respeito nem auto-respeito? Não há a noção do ridículo junto da opinião pública nacional e estrangeira?

Alguém imagina uma coisa destas a passar-se numa qualquer organização (como, por exemplo, numa empresa), em que a administração perdesse a confiança num dirigente a ponto de o mandar para casa sem ordenado e com um castigo anunciado publicamente? Claro que não. Isto não existe num sítio normal, com gente normal. Num sítio normal em que exista uma manifesta quebra de confiança, não se inventam historinhas: arranja-se maneira de, em privado, as partes se porem de acordo quanto à forma de saída.

Só espero é que isto tenha rapidamente um desenlace digno para não ficarmos a assistir por muito mais tempo a este espectáculo rastejante de castigos, recursos, conversa de advogados misturada com conversa de comentadores, em vez de a Federação e o Carlos Queiroz aceitarem com maturidade e responsabilidade que já não há, de parte a parte, condições para a relação laboral se manter.




(Sempre achei que o hino da selecção portuguesa ser isto era uma coisa supinamente ridícula, ainda por cima sendo a música da publicidade do BES - é que quando o dinheiro ocupa todos os lugares no ranking de valores, perde-se a noção de tudo)

segunda-feira, agosto 30, 2010

Coisas de casa, torso de mulher e poema de David Mourão-Ferreira

Tronco de árvore, Natureza - madeira


A voz melodiosa de David Mourão-Ferreira:

Nem todo o corpo é carne...Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsciente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor...Nem todo o amor é carne:
é também água, terra, vento, fogo...


É sobretudo sombra è despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio


vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
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Parabéns ao Origem das Espécies (parabéns ao Francisco José Viegas)

La Danse de Matisse, here in heaven

A Origem das Espécies de Francisco José Viegas fez no sábado 5 anos o que, na blogosfera, é um aniversário assinalável.

Como agradecimento pela persistente qualidade e variedade de temas, aqui deixo uma parte de um poema seu (a que, abusivamente e, portanto com as minhas desculpas, subtraio uma parte - a que se refere a afastamento - porque me apetece marcar a data apenas com palavras positivas, palavras que falem em permanecer):

se regressar, será aos teus olhos que regresso.
os acasos ardem nos lábios dos amieiros que na margem do rio
aguardam que regresse. a isso regresso, buscando
coincidências e nomes, razões.
(...)
a outro rio e sob outras sombras regresso até ao lugar onde elas, as aves,
nascem para não desaparecerem. e isso é como permanecer.

Festejemos, pois.

Here in Heaven





O sítio das coisas perfeitas, o sítio dos momentos perfeitos, o sítio onde o tempo pára, the best place on Earth, my Heaven

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sábado, agosto 28, 2010

'Decisões Inadiáveis', Daniel Bessa no Expresso - ou a urgência de uma reflexão despartidarizada sobre o Esdado Social

“A evolução recente da despesa corrente primária da Administração Central, crescendo a 6% ao ano apesar do propósito enunciado pelo Governo de a fazer diminuir, não pode deixar de motivar alguma reflexão.

No essencial, a conclusão a que temos que chegar é que o Governo não controla, nem pode controlar uma parte importante da despesa (rendimentos atribuídos por razões de política social e despesa do âmbito do Serviço Nacional de Saúde). […]

Com a economia enredada num crescimento muito baixo, há mais uma conclusão inevitável: criou-se, em Portugal, um conjunto de direitos que transcendem, hoje, a capacidade de actuação do próprio Governo e que acarretam um custo que a economia portuguesa não pode suportar.

Aproximam-se dias de verdade. Ou o sistema político (e não apenas o Governo) consegue libertar a economia desta avalancha de custos (que alguns insistem em continuar a ignorar, sob o dogma da intocabilidade do chamado Estado Social) ou a economia portuguesa definhará cada vez mais. Aumentar os impostos, podendo parecer que resolve o problema, não fará mais que agravá-lo.”

Texto escrito pelo insuspeito Daniel Bessa no Expresso de hoje.

Recordo-me que a seguir ao 25 de Abril todas as mulheres que nunca tinham trabalhado acorriam em massa a forjar que tinham trabalhado como empregadas domésticas ou outras profissões do género, garantindo com isso, o recebimento de pensões de reforma. E os ordenados de várias profissões da função pública dispararam e as regalias de toda a espécie para os próprios e agregados familiares eram um maná que parecia cair do céu. De repente o Estado assumia compromissos enormes e a longo prazo.

A julgar pelo que os omnipresentes e insuportáveis Bettencourt Picanço, Ana Avoila, Mário Nogueira e quejandos, grande parte dos profissionais da Administração Pública passaram a ter como principal móbil profissional a discussão da ‘carreira’, dos ‘estatutos’ e outros conceitos do género que se resumem a assegurar automatismos no aumento de ordenados, subsídios e outras formas de rendimentos ou regalias.


E quem não conhece ou ouviu falar de casos de pessoas que recebem subsídios de desemprego ou de inserção, enquanto têm outras actividades remuneradas ‘por fora’, e que não aceitam trabalho ‘legal’ porque “não compensa”?

Tentei fazer um rácio mas não encontrei os valores para tal. Gostava de saber qual a proporção da população que trabalha em empresas e paga impostos (e aqui abranjo os impostos de tipo IRS ou os descontos para a Segurança Social) face à população que vive de rendimentos que provêm desses descontos (funcionários públicos, reformados, desempregados, etc). Penso que esse rácio, por si só, demonstraria que estamos perante um cenário de insustentabilidade.

Claro que os funcionários públicos são indispensáveis (e quem dera que, regra geral, os serviços que prestam fossem melhores), claro que os pensionistas e os desempregados, os doentes e todos os que necessitam têm que ter rendimentos, claro que tudo isso.

Mas os argumentos têm que ser esgrimidos perante factos, perante números. E, sem colocar em causa o Estado Social, é imperioso que se repense o esquema de automatismos e de regalias absurdas que existem na Administração Pública e que tudo seja repensada numa base de objectividade e de pragmatismo sob risco de o Estado Social implodir mesmo.
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quinta-feira, agosto 26, 2010

Senhora Presidente Maria Emília de Sousa - daqui lhe lanço um desafio



Beleza em estado puro

(...e não me refiro à fotografia mas ao local...)

Ao cair da noite, o cais de Cacilhas é uma animação. As esplanadas dos restaurantes enchem-se, turistas ou veraneantes procuram o peixe fresco, o marisco, o ambiente estival, a proximidade do rio - e paira no ar a animação que estes locais movimentados sempre têm, um certo ar de férias. O mesmo acontece rua acima, os restaurantezinhos são procurados e o ambiente podia ser bastante interessante.

Podia mas, contudo, não é – e estou a ser condescendente.

Nesta rua, a Rua Cândido dos Reis, os passeios estão ocupados por carros e contentores de lixo sujos e com cheiro desagradável. Há mesas de pequenas tasquinhas, não nos passeios mas na própria estrada.

Fazer aquele percurso é uma odisseia. Não há por onde circular a pé, os passeios estão ocupados e sujos e na estrada há carros (e algumas mesas).

Pior ainda que isso é o desleixo. Não há um metro de passeio sem pedras levantadas, sem montinhos de terra que resultaram de partes de passeio com a calçada desmanchada. Sendo uma rua cheia de restaurantes, talvez a rua com uma maior população de veraneio, como é possível este desmazelo?

Poderia recomendar uma comparação com a zona de restaurantes que sempre há junto aos cais de embarque de qualquer outra cidade europeia com rio ou praia mas não quero parecer deslumbrada perante o estrangeiro. Sugiro, por isso, a comparação com terras que, não tendo mar ou rio perto das ruas, são também terras muito procuradas por turismo como, por exemplo, Óbidos ou Monsaraz, terras que cuidam com carinho das suas ruas, que acolhem com asseio e dignidade os seus visitantes.

Hoje não tinha comigo a máquina pelo que não posso ilustrar o que digo, mas aqui deixo um apelo à Srª D. Maria Emília, Presidente de Câmara de Almada ou ao Presidente da Junta de Freguesia de Cacilhas para que lancem uma campanha junto da população local no sentido de ajudarem a manter a limpeza e a beleza desta zona e que eles próprios arranjem e limpem os passeios.

A beleza natural desta parte da cidade mereceria devoção da parte de toda a gente e não esta tremenda falta de cuidado que é quase uma falta de respeito.

Para além disso, há também a referir o lado económico da questão pois Cacilhas e o Ginjal, bem como a parte velha de Almada, têm potencial para serem significativos polos de atracção turística, aspecto que, a julgar pelo que se vê, é hoje totalmente descurado.

No Ginjal, um banco verde à beira Tejo


O Tejo corre azul e nada como vê-lo ao entardecer, neste banco verde-água, no passeio do Ginjal ao pé de um dos restaurantes.

quarta-feira, agosto 25, 2010

A política em Portugal

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Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.

A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.

A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.

À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.

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Texto escrito por Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora (1867) que pode ser visto aqui.
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Os eleitores. essas ignóbeis criaturas que não compreendem os candidatos

É LaPaliciano mas é verdade: quem vai a votos, fica dependente da opinião dos votantes.

Ora, a opinião de cada votante forma-se quer através de processos racionais e objectivos, coligindo e apreciando informação sobre os candidatos quer, mais superficialmente, subjectivamente mesmo, através de fragmentos que vão sento fornecidos pelos media (os casos em que o votante adquire conhecimento sobre o candidato de forma directa, em 1ª mão, são uma escassíssima minoria).

Mas os media, eles próprios, também já condicionam a informação porque:

1. Regra geral, a selecção que fazem de excertos tem em atenção é que eles sejam vendáveis, que reportem a notícias polémicas;
2. regra geral, estão enformados por simpatias editoriais ou por lobbies;
3. ou, mais simplesmente, porque obtêm a informação através de dicas das agências de comunicação as quais trabalham para determinado cliente.

Ou seja, dificilmente um eleitor consegue formar uma opinião bacteriologicamente pura.

Mas, para além da exiguidade e da subjectividade ou manipulação da informação que chega ao votante há, no entanto, a empatia inexplicável ou a antipatia visceral, a opinião empírica que se vai formando baseada na imagem, no tom de voz, nas imagens que vão chegando, nos minutos ou segundos de um discurso que passou – ou seja, há um puzzle que, de forma involuntária e inconsciente, se vai desenhando na sua cabeça.

Claro que, com isto, mil injustiças se cometem, claro que mil opiniões mal fundamentadas se emitem. Mas é disto mesmo que se forma a opinião pública, é assim mesmo que se vota.

Coloque-se uma câmara e um microfone à frente de quem sai apressadamente do comboio para ir trabalhar e pergunte-se: ‘Acha que se deve fazer o TGV?’ ou: ‘Acha que o novo aeroporto deve ser em Alcochete?’ e não se ouve ninguém a dizer o que seria correcto:’Isso é uma questão que tem várias vertentes técnicas, nomeadamente gestão de transportes, demografia, economia, finanças, etc, e não estou minimamente habilitado a formular uma opinião’. Não. Pelo contrário, todos, com ar douto, emitem opiniões definitivas. É da natureza humana ou é fruto da sociedade em que vivemos. Temos pena mas é assim mesmo.

Ou seja, quem anda nesta vida de se expor publicamente e de ir a votos deve saber que dificilmente todos os eleitores conseguirão captar a verdadeira alma da ‘personagem’, avaliar a sua competência, a sua honradez. Quem anda nesta vida saberá que não basta ser, há que parecer e que o tempo de antena para o demonstrar é curto, não pode haver passos em falso (porque será sobre esse momento que todos vão falar), uma gravata mal escolhida (porque serão as fotos com essa gravata que se vão espalhar pela net), uma palavra áspera ou um esgar fotogenicamente desfavorável (porque será isso que se espalhará endemicamente nos blogues, nos comentários aos blogues).

Mas e do lado dos votantes? Cientes da perversidade que é este processo, conscientes da falta de rigor com que forçosamente se avaliam os candidatos, como devem agir? Em coerência devem abster-se ou, pelo contrário, usando os indícios de que dispõem (porque, de facto, não passam de indícios) e usando a intuição, devem formular a opinião possível?
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Música Celta no Ginjal






Para que a magia seja completa, hoje no Jardim da Boca do Vento, ao Ginjal, havia música celta.

Por entre as sombras nascia uma música encantatória.

Momentos de paz.

Não faço ideia de quem sejam mas estou-lhes agradecida.
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Josafaz no Estoril debaixo de uma chuva nini

Não sei se isto acontece com muitas pessoas. Comigo é frequente. Chego-me ao pé de uma pessoa e ela, mesmo não me conhecendo de lado nenhum, quase instantaneamente, começa a relatar-me a sua vida ou um facto marcante da sua vida. Seja uma pessoa no supermercado à espera de ser atendida no peixe que me conta da perda do marido, seja a pessoa no jardim que se levanta para me vir contar que perdeu o filho, seja a pessoa no autocarro que me conta do filho drogado que lhe bate, seja a pessoa a quem ontem comprei duas peças de cerâmica e que, segundos após eu ter-me abeirado dela, já me estava a relatar o seu dia a dia e a falta que sente do marido.

Isto, para mim, continua a ser inacreditável apesar de ser uma constante. E a verdade é que me vejo a mim própria atenta e a ouvir interessadamente as pessoas como se já as conhecesse e como se fosse normal uma pessoa desconhecida, sem nada que o provoque (que eu me aperceba), me relatar factos tão pessoais, tão íntimos.

A senhora de ontem – e sem que eu lhe tenha perguntado nada ou sequer ‘metido conversa’ – contou-me que antes, com o marido, se sentavam, em casa, os dois a fazer cerâmica, iam conversando, iam dando opiniões um ao outro. Agora ele morreu e ela continua a arte, até por razões económicas. A reforma é baixa e o complemento por morte dele baixo é. Mas custa-lhe estar em casa, sozinha, a fazer as peças, faz-lhe falta a presença dele ali ao lado. E, então, prefere vir logo ali para a lojinha da feira e trabalhar a ver as pessoas a passarem, sempre sente menos a falta dele.

Tinha lá mais uma Nossa Senhora que, apesar de ser maior e mais composta, estava a vender mais barata porque, segundo ela, lhe tinha saído com cara de velha. Também trouxe um Cristo que ela me recomendou, que tinha ficado melhor que os outros, que o fato era mais bonito. Fiz-lhe a vontade.

Nossa Senhora - autoria: Josafaz


À saída o NJ disse que estava chuva. Eu disse-lhe que não. Ele explicou-me: “chuva nini na boca”. (nini = pequenina). De facto, estava de novo a pingar.
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terça-feira, agosto 24, 2010

Coisas da minha casa impudicamente ao pé de Barnett Newman

Mangueira sobre Muro na minha casa


Pintura de Barnett Newman


[Barnett Newman (1905-1970), pintor americano filho de emigrantes judeus de origem polaca, é uma figura maior do expressionismo abstracto]

segunda-feira, agosto 23, 2010

Narciso Miranda, Hermínio Loureiro e outros


Há pessoas que não dão bom nome aos sítios que frequentam.

Com alguma frequência deixo-me levar pela intuição (mas não é a intuição um atalho da inteligência?). Contudo, reconheço que, por vezes, posso cometer algumas injustiças.

Talvez seja o caso do Narciso Miranda.

Sempre achei que este homem dava mau nome ao PS. Ele e outros, tantos outros.

Não sou nem nunca fui filiada em nenhum partido e presumo que nunca virei a ser.

Não consigo imaginar-me a pertencer a um qualquer clube com regulamentos, em que me sentisse condicionada no normal exercício da cidadania, em que sentisse algumas baias ao livre direito a pensar e agir livremente.

Só quem o aceite é que deverá inscrever-se num clube, num partido. E, inscrevendo-se, é porque comunga dos princípios de base e aceita cumprir os regulamentos.

Estar dentro e agir como se estivesse fora é a negação da lógica, é a contradição dos termos.

Se uma pessoa pertence a um partido, apenas deve fazer campanha (ou ser candidato) por esse partido; querendo expor publicamente uma outra corrente de pensamento ou apresentar-se a votos, então que salte fora.

Poderá dizer que interpreta melhor os princípios e os regulamentos do que quem está, na altura, nos órgãos de decisão do partido e que, portanto, a sair alguém, que saiam os deturpadores e não o próprio. Mas isso seria a anarquia porque significaria, na prática, que toda a gente poderia a qualquer momento desautorizar os órgãos decisores eleitos democraticamente.

Se alguém discorda da linha de rumo que os órgãos responsáveis de um clube ou partido, então que os questione internamente.

O Narciso Miranda foi posto fora do Parido Socialista e bem posto.

De resto, é pena que o PS, o PSD ou outros partidos pretensamente responsáveis não tenham provas de aferição, entrevistas, testes psicotécnicos, período à experiência e outras barreiras do género para impedir que qualquer Narciso Miranda deste mundo polua com o seu visual, o seu palavreado, a sua maneira de ser, o que se pretenderia que fosse um lugar de eleição, um lugar em que apenas gente com nobreza de carácter, com inteligência e com savoir faire pudesse entrar.

Nestas alturas estivais de incêndios, volta a Portugal de bicicleta, festivais de verão, ondas de calor e outras ocorrências do género, as nossas televisões fazem incursões pelo País profundo e então é vê-los a dissertar em frente dos microfones: presidentes de Juntas de Freguesia, Vereadores, Presidentes de Câmara inenarráveis. São de um bairrismo quase infantil, não dizem uma que se aproveite pois é notório que apenas querem agradar à clientela directa, não têm noção de conjunto, não querem saber da economia do País, não têm uma ideia que vá para além do interesse mais imediatista: uma tristeza.

Alguns a gente surpreende-se ao vê-los agora autarcas. Já os vimos antes como secretários de estado, como dirigentes desportivos, perdemo-los de vista e agora aparecem como presidentes de câmara. Sempre com aquele mesmo arzinho de pequenos caciques de província, de habilidosos da baixa política, de homenzinhos do aparelho, angariadores de votos acríticos. Gente que destrói a cidadania, gente que destrói o País.

Quem é que hoje tem vontade de entrar para os partidos para se ir juntar a gente assim? Discutir política com esta gente? Jamais. Jamais.



(Nota: Obviamente que não quero dizer que todas as pessoas que ocupam estes lugares alinham pela mesma bitola. Claro que não. Há honorabilíssimas, competentíssimas pessoas que ocupam com dignidade, com profissionalismo, com despojamento as suas funções. São pessoas exemplares e quando pessoas assim, com sacrifício pessoal, exercem as funções desta natureza, todos nos deveríamos sentir em dívida)

Here in heaven - Under a Fig Tree

Hoje debaixo de uma figueira

Seria bom que eu, juntamente com a fotografia, pudesse enviar um cheirinho mas, não o podendo, sugiro que se acenda uma vela justamente com este aroma: Under a Fig Tree. Quanto aos figos, hummmm, são tão bons, especialmente quando comidos assim, directamente da figueira.

sábado, agosto 21, 2010

"...e cabe tudo dentro de uma mala de mão" - Texto do J.

Com a devida autorização do seu autor, aqui publico este excelente texto do J.


"Quando se fala do valor de uma mala na ordem dos milhares de euros e da existência de uma fila de espera para a comprar compreendemos que existe uma distorção do que deveria ser a lógica do valor do produto.

Aqui não está em causa o material ou mão de obra; paga-se a marca, paga-se o status, valoriza-se a sensação de poder associado a possuir um bem raro. É uma questão de classe, um factor de diferenciação.

Este sentimento humano de poder e posse é tão antigo quanto o Homem.

Vivemos num sistema em que estas distorções são legítimas e são vistas como um sintoma de uma economia saudável com uma classe alta pujante, constituída por abastados detentores de capital (dos tais que investem, criam emprego…)

Sempre que se fala em dinheiro fala-se em recursos – o dinheiro é um instrumento virtual para representar o poder de compra acumulado ou, seja a capacidade de adquirir recursos.

Num mundo de recursos notoriamente limitados, onde a larga maioria da população mundial vive com carências, fome, ausência de recursos médicos, etc. são realmente aceitáveis estas aberrações de gastos despesistas?

A questão que tem de ser colocada é se quem as realiza é ou não culpado pela fome e miséria do outro hemisfério, se tem ou não culpa “por todo o mal do mundo”?

Há um exemplo interessante de um filósofo americano que se adapta: Se após comprar a mala o seu dono se visse colocado numa situação em que tinha a mala presa numa linha de comboio que se bifurcava e tinha de optar por escolher se o comboio atropelava a mala ou no outro lado uma criança africana subnutrida qual escolhia?

Naturalmente dar cabo da mala!

No entanto, sempre que a compra faz a escolha contrária sem o perceber!

O que está em causa não são as pessoas são sim os sistemas! É inegável que essas somas de dinheiro representam recursos mal distribuídos que pairam por esferas a que a maioria dos mortais jamais terá acesso!

Estão sempre escudados pelos valores da liberdade, da oferta e da procura, do mercado livre! Mas que liberdade existe na fome e na miséria? Não é retórica oca é a realidade! Ainda que seja impossível alterar o curso dos acontecimentos, na realidade a desproporção brutal na acumulação de recursos entre pessoas, entre países, entre continentes dá nisto… e cabe tudo dentro de uma mala de mão.

PS – Para substanciar o que digo, sugiro a compra do documentário Earth na fnac (4 euros). Fica-se a saber que no mundo já se produz alimento suficiente para alimentar todos os seres humanos.

No entanto mais de 50% da população sofre de carências alimentares graves.

Para onde vai então a comida?

A maioria, cereais, vai para alimentar o gado que se come em claro excesso no Ocidente – e a proporação é: 10kg de cereais = 1kg de carne! Ou seja o alimento vai para onde o lucro orienta e não para onde as necessidades reclamam, porque no Ocidente a acumulação de riqueza é tal que se podem desperdiçar recursos com tanta facilidade.

Será isso justo? Ou será um problema a resolver?
“c’est la vie”…?"


Seria interessante ter agora a opinião do J. sobre formas objectivas de se evitar que uma parte do mundo viva sistematicamente na miséria (sabendo-se que os povos mais pobres são os que vivem em países governados por tiranos, ou assolados por lutas tribais, ou subjugados por déspotas corruptos, ou em países sem recursos). E isto, claro, sabendo-se que o mundo desenvolvido produz mais do que necessita, consome mais do que necessita.
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José Manuel dos Santos escreve sobre Tony Judt

Do artigo hoje publicado no Expresso por José Manuel dos Santos:

O último livro (de Tony Judt, pensador, historiador, escritor) defende um regresso à grande tradição da social-democracia (a que pertence o socialismo democrático e o trabalhismo) e do Estado-Providência, aquela que, embora com falhas, melhor aliou os valores da liberdade e da igualdade. É um triste sinal do tempo a que chamamos nosso que tal defesa tenha sido olhada como um radicalismo suspeito. Estes têm sido os anos de um extremismo agressivo, ávido e vertiginoso, que fez do aumento da desigualdade, da desprotecção e da exclusão uma virtude.


(…) Isto por si prova a necessidade e o merecimento da proposta de Tony Judt. E é uma boa razão para persistirmos nela, dizendo com ele: “A social-democracia não representa um amanhã que canta nem um ontem que cantou. Mas, entre as opções políticas, é melhor que qualquer outra ao nosso alcance.”
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Ruy Belo, num excerto de um longo e belíssimo poema

Procuro o teu  mistério nos teus olhos
o teu rosto é tão vasto como um mundo
e quanto mais te olho mais pressinto
que é em vão que te procuro o fundo;
eu tinha o meu passado a minha vida
conhecia o lugar de certas coisas
e agora tudo esqueci
e se não tenho nada nem te tenho mesmo a ti
como posso pensar em ter futuro
se tu és para mim o puro instante
e a eternidade em que me transfiguro?

(do livro O Tempo das Suaves Raparigas e outros Poemas de Amor, da Assírio e Alvim)

quinta-feira, agosto 19, 2010

Telhado no Ginjal e Tàpies


Hoje de novo no Ginjal, imagem de uma habitação arruinada junto à Boca de Vento.

Decadência à parte, volto a referir que todo o local é quase mágico.

A vista para onde quer que se olhe, o cheiro e o som do rio, tudo é transcendente.




(Quadro de Tàpies, http://www.stiftelsen314.com/oldweb/exhi_prog/antoni/tapies2small.jpg)

Antoni Tàpies i Puig, marquês de Tàpies (nascido em 1923), é um pintor catalão, considerado como um dos mais importantes do Séc. XX.

Uma parede em Almada e Pollock


Parede em Almada, de uma harmonia e com um colorido que me tocaram.



Pintura de Jackson Pollock
(http://www.leninimports.com/jackson_pollock_gallery_27.jpg)


Jackson Pollock (1912 – 1956) foi um pintor americano, figura marcante do expressionismo abstracto.

O excelente filme 'Pollock' de 2000 que vivamente recomendo (até porque gosto de conhecer a vida dos pintores) mostra o seu algo atormentado processo criativo e retrata bem a sua vida marcada pelo alcoolismo (morreu num acidente automóvel relacionado com esses problema).

Pollock está representado nos mais importantes museus, as suas obras são valiosíssimas e, sobre a sua pintura, têm sido realizadas algumas notáveis exposições retrospectivas.


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Prenda ou Presente? Mala ou Carteira. Confira.

Presente
(latim praesens, -entis)
s.m.
Coisa oferecida a alguém, dádiva, mimo, oferta, prenda

Prenda
s. f.
Dádiva, presente.

Ou seja, sinónimos.

E desde há muito tempo que são palavras com o mesmo significado.

Já Fernão Mendes Pinto (1510-1583) na Peregrinação usou o termo prenda. E Luís de Camões, seu contemporâneo (1524-1580), n’Os Lusíadas, usou a palavra presente com o mesmo significado.

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E é mala (segundo a plebe) ou carteira (segundo a gente 'fina')?

Uma vez mais, podem ser sinónimos mas geralmente mala é grande e pode transportar vários objectos e carteira geralmente usa-se para transportar apenas documentos, cartões, dinheiro.

E, já agora uma pergunta para o J.

Sobre a mala acima, o modelo Birkin da Hèrmes que custa milhares de euros e que tem uma procura tal que faz com que a lista de espera seja de meses: a Hèrmes que tem uma margem fabulosa está errada em praticar estes preços? Ou o que poderemos questionar é o enriquecimento de quem as compra?

Ou é melhor nem pensarmos muito nisto?

C'est la vie, J.

São como coelhos, eles multiplicam-se pelos cantos


Os meus companheiros de sempre, pacientemente à espera que haja tempo e inspiração para me dedicar a eles a sério, arrumando-os e reorganizando a biblioteca.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Almada - Um passeio pela Rive Gauche de Lisboa


Hoje a passear em Almada Velha: todos os dias uma caminhada de quase 1 hora, sempre sítios bonitos para descobrir (benevolentemente fechando os olhos ao que é menos bonito ou menos limpo...)


E o Tejo sempre presente e Lisboa, a Luminosa e Branca, sempre majestosa do outro lado.

terça-feira, agosto 17, 2010

Filantrocapitalismos - populismos, simplismos e outros ismos


(Rui Nabeiro, em Campo Maior - fotografia disponível na net)
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O texto seguinte foi inspirado na leitura, que me foi sugerida, do seguinte artigo de João Rodrigues do Jornal Ionline do dia 16 de Agosto:
http://www.ionline.pt/conteudo/73929-filantrocapitalismos
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Há em toda a gente, especialmente nos que se sentem, de alguma forma, abençoados, a vontade de deixar algo que perpetue a sua memória para além dos tempos.

Toda a gente mais facilmente justificará a sua existência se sentir que ela teve um propósito e que esse propósito foi fazer algo em prole da comunidade ou da humanidade (consoante a ambição).

Isto acontece em todo o lado, a todos os níveis, em todos os graus.

Não há vila que não tenha um pequeno busto em honra de quem ajudou a Misericórdia local, não há cidade sem ruas com nomes de pequenos filantropos locais. Desde o industrial de uma cidade de província que financia a construção ou apenas o arranjo de uma ala de um hospital deixando lá uma placa com o seu nome, ao Dr. Vieira de Carvalho antigo presidente da edilidade maiata, que dá nome à praça principal e que mandou erigir uma edifício em torre que se visse dos municípios circundantes dizendo que, com isso, iria desenvolver a cidade, passando por Joe Berardo e mais as suas colecções e fundações, até ao honorável Rui Nabeiro que tudo tem feito por Campo Maior, em todos, de forma mais ou menos altruísta, mais ou menos respeitável, existe a vontade de ser recordado pelas gerações vindouras e de deixar o seu nome ligado a causas nobres.

Os exemplos são inúmeros, cá como em toda a parte do mundo. A Oprah Foundation, a Melissa and Bill Gates Foundation ou a Warren Buffett Foundation são inegavelmente, e àparte intuitos mais ou menos egoístas ou narcísicos, nobres ideias e valiosos contributos à comunidade.

A doação de António Champalimaud a uma Fundação que promova a investigação e o desenvolvimento em sectores de ponta ou a Fundação Francisco Manuel dos Santos, liderada por António Barreto que visa a investigação histórica e sociológica portuguesa, são outros notáveis exemplos - e isto apenas para referir dois casos recentes e sobejamente conhecidos.

Trata-se, no fundo, da redistribuição da riqueza acumulada por pessoas ou empresas.

É da natureza humana e é meritório.

Construir escolas, promover vacinação e outro apoio médico gratuito junto de populações carenciadas, patrocinar investigação, são iniciativas que ninguém pode senão louvar.

(Não me refiro aqui a um outro fenómeno, muito banalizado nos EUA, que é a filantropia como ocupação social. Nos EUA, universo de todos os extremos (em que, de cada coisa, existem todos os tipos de gradações - desde o pouco até ao excesso, quase caricatural) existe, especialmente na classe mais conservadora (e mais desfavorável ao Estado Social – vide o que se passou com a votação da reforma da Saúde), a ocupação, geralmnete por parte das ‘esposas’ dos empresários ricos, de organizar festinhas de angariação de fundos para tudo e mais alguma coisa. Mas isso é apenas mais uma demonstração do que é o mix cultural americano. É um epifenómeno que deve ser visto enquanto tal)


Outra questão, bem diferente e que deve ser equacionada como um assunto distinto é a que se prende com o que levou à acumulação de riqueza por parte dos patronos das fundações.

E aqui é perigoso generalizar. Basta ver os casos referidos para se perceber que acumular riqueza não é sinónimo automático de espoliar os desfavorecidos e, portanto, não é criticável de per se.

Casos há, e talvez sejam a larga maioria, em que, quem acumula riqueza para além do normal, o faz porque teve uma ideia inovadora que transformou num negócio super rentável (Bill Gates), ou porque construiu um modelo de negócio sustentável (Rui Nabeiro) ou, ainda, porque tem méritos profissionais que o torna altamente remunerado (Oprah, Luís Figo, etc) e milhares de outros exemplos em que nada há de reprovável.

Ser empreendedor e ter sucesso nos negócios é meritório e desejável. Assim se constrói a economia de um País.

Aplicar bem o capital é uma virtude e esse é o bom capitalismo.

Onde eu já não consigo ver tanta virtude é no capitalismo em que se joga o capital pelo capital, os investidores que não colocam as mãos no negócio, apenas transaccionam capital. O lucro especulativo tout court.

Penso que nem será justo incluir nesta categoria, de forma simplista, um capitalista puro como Warren Buffett pois, pelo que sei, é um corredor de fundo, aposta numa área e aí investe durante anos, não entra e sai, ao sabor das flutuações bolsistas.

Da mesma forma, me custa incluir no grupo dos ‘maus’ capitalistas um exemplo ultimamente muito referido, o Miguel Paes do Amaral pois, do que conheço, investe, desenvolve e, quando lhe parece oportuno, vende, é certo, mas o facto é que, enquanto investe, desenvolve e isso não é coisa pouca. O que tem feito no mercado editorial não é negligenciável e prepara-se para avançar para mercados de outra dimensão como o africano ou o brasileiro. Faz lucros, é certo, mas desenvolve o mercado livreiro e cria mais-valias no país.

Ou seja, mau mesmo - porque não acrescentam valor, senão para os directamente beneficiários - são os que destroem uma empresa ou a super valorizam artificialmente, que arrasam uma economia, que desvalorizam fundos de pensões, que anulam postos de trabalho apenas por especulação, na insana busca de lucros bolsistas imediatos.

Uma economia que assenta económica e financeiramente em actividades como estas é uma economia volátil, como se viu. Proporciona súbitas riquezas, acumulações ilógicas de capital, a concentração condenável de muito dinheiro numa minoria, estimula o espertismo, o egoísmo, o desprezo pelos mais fracos pois, para quem gira nesta órbita, o que interessa é a obtenção de mais-valias imediatas e nada mais. É, como se tem provado à saciedade, uma economia assente em coisa nenhuma: a quem por aqui gravita não interessa a agricultura, a indústria, a educação, nada. Nem são estes, regra geral, os filantropos.

Um outro assunto, distinto dos dois anteriores (a filantropia e as várias formas de capitalismo) é o da visão social de quem governa um País, questão política fracturante. Os Estados Unidos (especialmente nos períodos republicanos, como a recente era Bush) e os países do Norte da Europa são dois modelos antagónicos. Ambos encaixariam no que simplificadamente se podereia chamar de economia capitalista e, no entanto, é toda uma concepção de Estado que é diferente.

A este tema voltarei noutro dia que este post já vai longo.

Mas, como síntese, direi que uma análise que, generalizadamente, mistura capitalismo, filantropismo, os ricos e os pobres, medicina privada e medicina pública pode soar bem mas é uma misturada pouco rigorosa, é a típica análise populista da esquerda prêt-a-porter.

Chill out no Ginjal - um fim de tarde ou uma noite à beira Tejo


(Fotografia tirada ao cair do dia, um anoitecer hoje algo cinzento mas igualmente belo)


É verdade: ontem não referi os dois restaurantes/bares mesmo em cima do rio, com aquela visão ímpar sobre Lisboa, que poderão ser o local de paragem depois de um passeio pelo Ginjal e de onde se poderá desfrutar, com tempo, um apaziguador fim de tarde ou uma noite romântica, o Atira-te ao Rio e o Ponto Final.

Em locais assim somos forçados a pensar que é muito bom viver.

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segunda-feira, agosto 16, 2010

Lisboa vista do Ginjal





Duas fotos de Lisboa reclinada à beira do Tejo, ao cair da tarde de hoje, vista do seu melhor ângulo.

A todos os que a queiram ver assim, tranquila, de uma beleza sem par, tendo como passe-partout o rio e o céu, com o fio de brilhantes que parece ser a ponte, aconselho o passeio ribeirinho do Ginjal.

De Cacilhas até ao Olho de Boi, com passagem pelo lindíssimo jardim do elevador, um relvado romântico a cair sobre o Tejo, o cheiro do mar, os pescadores, a vista que nos enche o coração, tudo vale a pena.

Vale a pena mas tem coisas que fazem pena e não posso aqui deixar de as referir. A decadência (ultra-fotogénica, contudo) das fachadas à beira da ruína, alguma falta de asseio que estes lugares abandonados sempre propiciam, faz muita pena.



Em tempos escrevi uma carta à Presidente da Câmara a sugerir que transformasse aquele local num espaço polivalente de artes, com ateliers alugados a artistas plásticos, com galerias de arte, etc. Acho que seria uma mais-valia em termos de revitalização da zona e um atractivo turístico.

Mas, provavelmente, a resolução dos problemas inerentes não é fácil e parece que genericamente deixamos por resolver as questões mais difíceis. Li há tempos que parece haver planos para o local. Não os conheço mas esperemos que venham rapidamente e que tenham a qualidade que o local merece.

Penso que em qualquer parte do mundo, um local privilegiado como é o Ginjal, seria um dos grandes pontos de atracção. Por cá, é um local pouco conhecido, maioritariamente frequentado por jovens de aspecto mais ou menos alternativo, dois ou três casais de turistas, uns quantos pescadores, um ou dois solitários.

De qualquer forma, apesar das circunstâncias, no verão ou em qualquer outra estação, ao cair do dia, de manhã ou de noite, recomendo vivamente o passeio a pé neste local único: ou vindo de barco até Cacilhas, ou deixando o carro no parque de Cacilhas ou, para os afoitos, que se aventurem pela Almada velha, da Capitão Leitão, descendo a estrada íngreme até ao Olho de Boi ou, então, fazendo o percurso no Elevador Panorâmico.

Lembro-me de há uns anos ler um artigo do Romeu Correia dizendo que a melhor vista de Lisboa era esta, a do Ginjal.

Mas não é apenas a fantástica vista de Lisboa: é o próprio local que tem, de facto, uma magia inigualável.

Maternidade



Picasso a retratar a ternura de uma mãe a amamentar o seu filho.

Aqui fica como separador, a imagem que escolhi para ilustrar o Jeito Manso na 1ª semana de vida da nossa menina bonita.

sábado, agosto 14, 2010

Miró - Um jardim


(http://users.uoa.gr/~cplainak/miro-garden.jpg)

Fazes hoje uma semana, minha pequenina bonita e, para o festejar, aqui te deixo a imagem da pintura de um jardim feliz, irreverente.

A defesa da natureza que aqui pretendo simbolizar e a irreverência, o permanente estado de open-mind, a alegria, a jovialidade como exemplos a seguir.

Um dia destes irei contar-te histórias de flores, pássaros, borboletas coloridas, sóis e luas, caminhos, meninas e meninos, castelos, grutas, e, por cima de todos, como diz o teu primo, um grande chéu ajúli.

quinta-feira, agosto 12, 2010

O meu pé de laranja lima



Esta semana é dedicada aos meus amores pequeninos. E é para eles que aqui deixo o apontamento de um livrinho que enterneceu os pais deles, um livrinho que abre a porta para outra realidade social.

A história do Zézé, menino pobre, que encontra no pé de laranja lima plantado no seu quintal o seu amigo e confidente, é uma história de sempre.

Escrita por José Mauro de Vasconcellos em 1968, traduzida para 32 línguas e publicada em 19 países, adoptada em escolas e adaptada para o cinema, televisão e teatro, é uma leitura que recomendo aos meus pequeninos para que nunca se esqueçam de como é a vida dos meninos que têm menos sorte que eles.

quarta-feira, agosto 11, 2010

A liberdade como um bem de primeiríssima necessidade

Para os meus dois pequenos amorzinhos, dois filmes de sempre. Os grandes espaços, a visão e a ambição, a determinação, a ausência de preconceitos e, sobretudo, a luta pela liberdade, seja a liberdade pessoal seja a liberdade colectiva.




sábado, agosto 07, 2010

Um mundo maravilhoso para o meu pequeno amorzinho



Partilhando Felicity Wishes, por Emma Thomson, em: images.worldgallery.co.uk/i/prints/rw/lg/1/0/Emma-Thomson-Felicity-Wishes-I-104075.jpg

Ao som de What a Wonderful World