terça-feira, agosto 31, 2010

Carlos Queiroz, um silly processo pseudo-kafkiano adequado à silly season

Percebo pouco de futebol e percebo talvez menos ainda das figuras que o povoam. Posso ocasionalmente achar que algum jogador sobressai ou posso sentir mais alguma empatia ou antipatia por algumas figuras mas, muitas vezes, sem conseguir fundamentar tecnica ou objectivamente essas opiniões ou emoções.

Sobre este silly event do Carlos Queiroz pouco sei para além daquilo que o meu fraco período de concentração no que a futebol se refere, me deixa ouvir.

Posso antes de mais escrever uma declaração de interesse: acho o Carlos Queiroz um fulano convencido mas sem aquela petulância liderante do José Mourinho que sorri sabendo que tem um sorriso que vale milhões no mercado publicitário, que fala sabendo que o que diz será galacticamente difundido, que desfila no estádio sabendo que a sua imagem vale milhões no mercado da moda masculina; o Carlos Queiroz é vaidoso mas falta-lhe chama e convicção, falta-lhe empatia (em geral, quer os jogadores quer o público olham-no no través). E, por isso, quando se excede, não tem uma turma que se levante por ele. A opinião pública divide-se entre os que lhe têm um grande pó, os que antipatizam ao de leve com ele e os que, por uma questão de princípio, vagamente o defendem.

O que se está a passar com ele, visto por uma leiga, parece um nonsense sem ponta por onde se lhe pegue.

Sabe-se que, especialmente depois do Mundial, é, junto de alguns, persona non grata e que de bom grado o veriam bater em retirada sem levar a indemnização a que terá direito se for despedido sem justa causa.

Face a isso, parece (do que se conhece) que terão engendrado, por pura esperteza saloia, uma forma de lhe arranjar processos disciplinares, no âmbito dos quais o poderiam afastar.

Mas é tudo tão rasteirinho que confrange. Kafka em versão provinciano-burlesca.

Que o sujeito seja um temperamental até um bocado mal educado - que atira com o casaco em campo, que anda à pancada no aeroporto e outras gracinhas do género – até se percebe que cause irritação; que é inadmissível, numa posição como a que ocupa que, num jornal como o Expresso, profira acusações graves contra uma pessoa da hierarquia da organização que o contratou, também é um facto; agora daí até o suspenderem e punirem publicamente, de forma humilhante, como se ele fosse um menino da escola que vai de castigo para casa, isso parece-me inaceitável.

Claro que talvez ainda mais inaceitável seja o facto de ele, nesta aviltante situação, continuar sem se demitir.

Alguns milhões de euros justificam estes comportamentos indignos por parte da Federação e por parte dele?

Não há orgulho, não há respeito nem auto-respeito? Não há a noção do ridículo junto da opinião pública nacional e estrangeira?

Alguém imagina uma coisa destas a passar-se numa qualquer organização (como, por exemplo, numa empresa), em que a administração perdesse a confiança num dirigente a ponto de o mandar para casa sem ordenado e com um castigo anunciado publicamente? Claro que não. Isto não existe num sítio normal, com gente normal. Num sítio normal em que exista uma manifesta quebra de confiança, não se inventam historinhas: arranja-se maneira de, em privado, as partes se porem de acordo quanto à forma de saída.

Só espero é que isto tenha rapidamente um desenlace digno para não ficarmos a assistir por muito mais tempo a este espectáculo rastejante de castigos, recursos, conversa de advogados misturada com conversa de comentadores, em vez de a Federação e o Carlos Queiroz aceitarem com maturidade e responsabilidade que já não há, de parte a parte, condições para a relação laboral se manter.




(Sempre achei que o hino da selecção portuguesa ser isto era uma coisa supinamente ridícula, ainda por cima sendo a música da publicidade do BES - é que quando o dinheiro ocupa todos os lugares no ranking de valores, perde-se a noção de tudo)

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