É LaPaliciano mas é verdade: quem vai a votos, fica dependente da opinião dos votantes.
Ora, a opinião de cada votante forma-se quer através de processos racionais e objectivos, coligindo e apreciando informação sobre os candidatos quer, mais superficialmente, subjectivamente mesmo, através de fragmentos que vão sento fornecidos pelos media (os casos em que o votante adquire conhecimento sobre o candidato de forma directa, em 1ª mão, são uma escassíssima minoria).
Mas os media, eles próprios, também já condicionam a informação porque:
1. Regra geral, a selecção que fazem de excertos tem em atenção é que eles sejam vendáveis, que reportem a notícias polémicas;
2. regra geral, estão enformados por simpatias editoriais ou por lobbies;
3. ou, mais simplesmente, porque obtêm a informação através de dicas das agências de comunicação as quais trabalham para determinado cliente.
Ou seja, dificilmente um eleitor consegue formar uma opinião bacteriologicamente pura.
Mas, para além da exiguidade e da subjectividade ou manipulação da informação que chega ao votante há, no entanto, a empatia inexplicável ou a antipatia visceral, a opinião empírica que se vai formando baseada na imagem, no tom de voz, nas imagens que vão chegando, nos minutos ou segundos de um discurso que passou – ou seja, há um puzzle que, de forma involuntária e inconsciente, se vai desenhando na sua cabeça.
Claro que, com isto, mil injustiças se cometem, claro que mil opiniões mal fundamentadas se emitem. Mas é disto mesmo que se forma a opinião pública, é assim mesmo que se vota.
Coloque-se uma câmara e um microfone à frente de quem sai apressadamente do comboio para ir trabalhar e pergunte-se: ‘Acha que se deve fazer o TGV?’ ou: ‘Acha que o novo aeroporto deve ser em Alcochete?’ e não se ouve ninguém a dizer o que seria correcto:’Isso é uma questão que tem várias vertentes técnicas, nomeadamente gestão de transportes, demografia, economia, finanças, etc, e não estou minimamente habilitado a formular uma opinião’. Não. Pelo contrário, todos, com ar douto, emitem opiniões definitivas. É da natureza humana ou é fruto da sociedade em que vivemos. Temos pena mas é assim mesmo.
Ou seja, quem anda nesta vida de se expor publicamente e de ir a votos deve saber que dificilmente todos os eleitores conseguirão captar a verdadeira alma da ‘personagem’, avaliar a sua competência, a sua honradez. Quem anda nesta vida saberá que não basta ser, há que parecer e que o tempo de antena para o demonstrar é curto, não pode haver passos em falso (porque será sobre esse momento que todos vão falar), uma gravata mal escolhida (porque serão as fotos com essa gravata que se vão espalhar pela net), uma palavra áspera ou um esgar fotogenicamente desfavorável (porque será isso que se espalhará endemicamente nos blogues, nos comentários aos blogues).
Mas e do lado dos votantes? Cientes da perversidade que é este processo, conscientes da falta de rigor com que forçosamente se avaliam os candidatos, como devem agir? Em coerência devem abster-se ou, pelo contrário, usando os indícios de que dispõem (porque, de facto, não passam de indícios) e usando a intuição, devem formular a opinião possível?
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’Isso é uma questão que tem várias vertentes técnicas, nomeadamente gestão de transportes, demografia, economia, finanças, etc, e não estou minimamente habilitado a formular uma opinião’. Tendo em conta a já relativamente alta percentagem de portugueses licenciados, não é de esperar que as pessoas sejam assim tão ignorantes sobre matérias ditas técnicas. Lembro que a Ota foi para as urtigas graças à "sociedade civil" - que incluía gente altamente capacitada, é certo, mas nem só! -, não graças aos gabinetes dos ministérios que deveriam estudar imparcialmente as questões em causa.
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