De vez em quando durmo até vir a mulher da fava rica. Este sábado de manhã foi o meu marido que me acordou, o que sempre me arrelia soberanamente. Mas, quando ia irritar-me com ele por estar a impedir-me de dormir, vi as horas e arrepiei caminho. E, apesar de sentir que dormia mais, claro que me levantei. Adoro dormir assim, de um só sono, descansada, sem sonhos stressantes daqueles em que não sei onde deixei o carro ou em que tenho que apanhar o avião e não me despacho porque estou carregada de malas e porque os miúdos não se despacham ou em que estou num hotel e tenho que ir para uma reunião mas não encontro o sítio onde se servem as refeições e quando finalmente o descubro já não há nada para comer e tenho que me ir embora em jejum para não chegar atrasada. Esta noite não, um relax total, o soninho dos justos.
Depois de almoço, estive a apanhar banhos de sol enquanto lia o 'Louvor da Terra' de Byung-Chul Han. Abro ao calhar e leio. Nem me importo de ler o que li na véspera. Até fiz dois vídeos que publiquei no instagram. Já antes o tinha feito. Aquelas palavras simples sobre flores, sobre a terra, sobre o silêncio agradam-me imenso. É o que sinto. Estou ali a ouvir os passarinhos, a ver a aragem a fazer dançar as elegantes hastes do jasmim amarelo, o cão deitado ao sol, ao meu lado, e penso que estes são dias de tranquilidade e felicidade. O contacto directo com a natureza deixa-me zen, zen, zen.
Ontem o meu marido chamou-me, disse que estava um pássaro morto ao pé da porta, eu que lá ficasse a tomar conta enquanto ele ia buscar a pá, não fosse o nosso cãomaluco querer pegar-lhe. Ainda fui, mas recuei logo. Um passarinho morto é muito triste, não suporto. Estava debaixo do ninho que está lá em cima. Era um ninho de andorinhas mas nunca mais vimos nenhuma. O ninho foi, pois, ocupado por outros. No outro dia, o meu marido disse que viu um passarinho pequeno no chão, disse que devia ter caído do ninho. Mas nunca o vi. Não sei se foi esse que morreu. A natureza tem destas coisas. A morte faz parte dos ciclos da vida. Talvez a alma do passarinho tenha voado para outras paragens. E digo isto por dizer pois há mistérios sobre os quais não ouso pronunciar-me.
Mas, para ser sincera, no outro dia vi um vídeo que me deixou a pensar. Partilho convosco. Não conhecendo nós senão menos do que um cagagésimo do que há para saber, por vezes dou por mim com pensamentos que são, certamente, irracionais. Nada a ver com religião. Apenas desconhecimento do que a ciência ainda tem por descobrir.
Dois bebés conversam no útero
Adiante.
Sendo dia de derby, os benfiquistas ficaram-se por um lado com a sua turma de aficcionados, os sportinguistas por outra, identicamente em grupo, e o meu marido, nestes dias, de tão ansioso que fica, recusou-se a ver. Acho que é superstição. Tenho ideia de que toda a gente, por mais racional que seja, quando a coisa se refere a um amor especial, fica com a mente toldada. Por isso, de tarde, fomos passear para a praia.
E a seguir fomos comprar um frango assado a uma churrasqueira de que ouvimos dizer que tem um tempero especial. Vi que tinham lá chamuças e, como gosto imenso, trouxe também quatro.
Quando chegámos a casa, vinha com aquele cheirinho bom do frango e das chamuças e, feita gulosa e lambona, peguei logo numa... e pimbas, uma baita dentada, um bocadão. E o que vos posso dizer é que não disparei, na vertical, em direcção ao tecto porque abalei a correr em direcção à torneira para apagar o fogo com um copo de água. Nunca tinha visto coisa assim. Quem é que se lembra de que uma chamuça pode ser picante, picante, picante? Caraças. Saborosa mas... vai lá, vai. Ao jantar, já avisado, o meu marido foi com calma. Só uma trinca numa ponta. E, mesmo assim, teve que atacar logo com cerveja. Quanto ao frango, parece que a propaganda do tempero era um pouco exagerada.
Entretanto, os meninos que já estavam todos feitos para irem para o Marquês com o pai tiveram que adiar o festejo. E os benfiquistas, durante grande parte do tempo, estiveram a sofrer e também ficaram em stand by. O meu marido ficou contente. Tão contente ficou que o cão até ficou espantado, desatando a fazer disparates de roda dele.
E é isto.
Desejo-vos um belo dia de domingo.