domingo, maio 11, 2025

Derby em versão acto falhado, conversa de bebés no útero, chamuças poderosas e etc.

 

De vez em quando durmo até vir a mulher da fava rica. Este sábado de manhã foi o meu marido que me acordou, o que sempre me arrelia soberanamente. Mas, quando ia irritar-me com ele por estar a impedir-me de dormir, vi as horas e arrepiei caminho. E, apesar de sentir que dormia mais, claro que me levantei. Adoro dormir assim, de um só sono, descansada, sem sonhos stressantes daqueles em que não sei onde deixei o carro ou em que tenho que apanhar o avião e não me despacho porque estou carregada de malas e porque os miúdos não se despacham ou em que estou num hotel e tenho que ir para uma reunião mas não encontro o sítio onde se servem as refeições e quando finalmente o descubro já não há nada para comer e tenho que me ir embora em jejum para não chegar atrasada. Esta noite não, um relax total, o soninho dos justos.

Depois de almoço, estive a apanhar banhos de sol enquanto lia o 'Louvor da Terra' de Byung-Chul Han. Abro ao calhar e leio. Nem me importo de ler o que li na véspera. Até fiz dois vídeos que publiquei no instagram. Já antes o tinha feito. Aquelas palavras simples sobre flores, sobre a terra, sobre o silêncio agradam-me imenso. É o que sinto. Estou ali a ouvir os passarinhos, a ver a aragem a fazer dançar as elegantes hastes do jasmim amarelo, o cão deitado ao sol, ao meu lado, e penso que estes são dias de tranquilidade e felicidade. O contacto directo com a natureza deixa-me zen, zen, zen.

Ontem o meu marido chamou-me, disse que estava um pássaro morto ao pé da porta, eu que lá ficasse a tomar conta enquanto ele ia buscar a pá, não fosse o nosso cãomaluco querer pegar-lhe. Ainda fui, mas recuei logo. Um passarinho morto é muito triste, não suporto. Estava debaixo do ninho que está lá em cima. Era um ninho de andorinhas mas nunca mais vimos nenhuma. O ninho foi, pois, ocupado por outros. No outro dia, o meu marido disse que viu um passarinho pequeno no chão, disse que devia ter caído do ninho. Mas nunca o vi. Não sei se foi esse que morreu. A natureza tem destas coisas. A morte faz parte dos ciclos da vida. Talvez a alma do passarinho tenha voado para outras paragens. E digo isto por dizer pois há mistérios sobre os quais não ouso pronunciar-me.

Mas, para ser sincera, no outro dia vi um vídeo que me deixou a pensar. Partilho convosco. Não conhecendo nós senão menos do que um cagagésimo do que há para saber, por vezes dou por mim com pensamentos que são, certamente, irracionais. Nada a ver com religião. Apenas desconhecimento do que a ciência ainda tem por descobrir.

Dois bebés conversam no útero

Adiante.

Sendo dia de derby, os benfiquistas ficaram-se por um lado com a sua turma de aficcionados, os sportinguistas por outra, identicamente em grupo, e o meu marido, nestes dias, de tão ansioso que fica, recusou-se a ver. Acho que é superstição. Tenho ideia de que toda a gente, por mais racional que seja, quando a coisa se refere a um amor especial, fica com a mente toldada. Por isso, de tarde, fomos passear para a praia. 

E a seguir fomos comprar um frango assado a uma churrasqueira de que ouvimos dizer que tem um tempero especial. Vi que tinham lá chamuças e, como gosto imenso, trouxe também quatro. 

Quando chegámos a casa, vinha com aquele cheirinho bom do frango e das chamuças e, feita gulosa e lambona, peguei logo numa... e pimbas, uma baita dentada, um bocadão. E o que vos posso dizer é que não disparei, na vertical, em direcção ao tecto porque abalei a correr em direcção à torneira para apagar o fogo com um copo de água. Nunca tinha visto coisa assim. Quem é que se lembra de que uma chamuça pode ser picante, picante, picante? Caraças. Saborosa mas... vai lá, vai. Ao jantar, já avisado, o meu marido foi com calma. Só uma trinca numa ponta. E, mesmo assim, teve que atacar logo com cerveja. Quanto ao frango, parece que a propaganda do tempero era um pouco exagerada. 

Entretanto, os meninos que já estavam todos feitos para irem para o Marquês com o pai tiveram que adiar o festejo. E os benfiquistas, durante grande parte do tempo, estiveram a sofrer e também ficaram em stand by. O meu marido ficou contente. Tão contente ficou que o cão até ficou espantado, desatando a fazer disparates de roda dele.

E é isto.

Desejo-vos um belo dia de domingo.

sábado, maio 10, 2025

Em dia de cenas variadas e de animada conversa política com dois sportinguistas de gema

 

Andamos às voltas com equipamentos de aquecimento que faziam (e fazem) parte da casa. O filho dos ex-donos é um engenheiro que não é daqueles teóricos, é todo do tipo engenhocas. E, do que percebi, quando jovem (e ainda é jovem) terá pensado formar uma empresa e, talvez para se treinar (ou para facturar, não sei), foi montando coisas em casa dos pais. Tudo do bom e do melhor, verdade seja dito, mas nada standard, nada documentado, tudo de uma redundância e complexidade tais que ainda não desencantámos quem aqui chegue e perceba o que vê.

Tudo estaria bem se o jovem, por sinal super prestável e simpático, se tivesse mantido no 'ramo' e pudesse dar assistência. Mas não, já não está nessa. E também já não se lembra. Já comprámos a casa há quase 5 anos e a montagem de toda esta incrível traquitana deve ter acontecido bastante antes. Portanto, é natural que não se lembre.

E o que acontece é que vem um e vem outro e olham para isto tudo, equipamentos, bombas, manómetros, termómetros, tubos em todas as direcções, e ficam sem saber onde mexer. Pior, com medo de mexerem. 

No outro dia, já esta semana, veio um senhor simpaticíssimo, aumentou a pressão, purgou, injectou um líquido, fez lá o que entendeu... e o problema principal manteve-se. Hoje regressou e, depois de andar às aranhas durante não sei quanto tempo, resolveu mexer numa válvula que está num outro local e que, aparentemente, nem tem a ver com este filme... e, como por magia, o problema resolveu-se. Mas nem ele soube explicar nem eu consegui perceber. E fico com a sensação que foi uma solução um bocado às três pancadas pois resolveu-se agora mas, no inverno, quando ligarmos outro equipamento, ficaremos com outro problema. Mas, pronto, agora parece que está e só posso dar-me por contente.

O meu filho sempre disse que uma coisa tão extraordinária e tão complexa em vez de um activo, de uma mais-valia, pode tornar-se num passivo, uma dor de cabeça. Vários técnicos que cá têm vindo têm dito que, por eles, acabavam com tudo e montavam uma coisa simples. Mas quando se fala na possibilidade de o fazerem, fazem marcha atrás pois o desmontar tudo o que para ali está parece ser, em si, também bastante complexo.

Como sou curiosa, para tentar descortinar o funcionamento daquela parafernália, já recorri ao chatgpt, mostrando fotografias. Elogiou bastante o sistema e fez uma série de recomendações que igualmente não compreendi.

Tirando este tema que esta sexta-feira de manhã nos obrigou a andar de um lado para o outro, a abrir portões para passar equipamento, depois ir buscar uma escada para ir ao telhado, depois uma mangueira para juntar água ao produto, depois desligar uma coisa no sótão, depois ir ver outra coisa não sei onde -- isto dividido entre mim e o meu marido depois de termos o cão devidamente isolado, o cujo ladra freneticamente  -- hoje fomos almoçar com dois dos meninos. 

Depois fomos ver se comprávamos um corta-sebes telescópico mas que, afinal, só por encomenda. Aproveitámos ainda para ir a outra loja pois o meu marido queria comprar uma daquelas mantas térmicas de emergência. Claro que aproveitei para trazer umas coisitas para mim. Antes comprava roupa que desse para o trabalho e para situações equivalentes a nível de exigência. E o que agora verifico é que me faltam peças simples, nomeadamente para usar no ginásio. Por isso, trouxe duas blusinhas daquele tecido muito fininho e com buraquinhos que deve ser para arejar. E uns calções também de tecido maleável, meio curtos mas não shortinhos. Vim de lá bem contente com os materiais -- imagino que se lavem bem e sequem ainda melhor, obviamente sem precisarem de ser engomados -- e com as cores e os feitios.

Devo também dizer que já há caracóis (cozinhados) à venda. Por isso, ao jantar, para além da sopinha, comi caracóis. Não me pareceram excepcionais mas creio que o problema estava na cozedura, parece que estavam um bocado mal cozidos. Mas, ainda assim, bastante razoáveis.

Claro que tudo isto, dito assim, parece que nada vale muito. Mas vale. Ao almoço, estivemos a conversar sobre profissões e sobre política, incluindo a questão dos impostos e das contribuições sociais. E gostei imenso. Os manos são muito diferentes: um mais liberal, mais puxando ao pai, outro com uma consciência social apurada, mais na linha da mãe. Ouvi-los a argumentar, a forma como se rebatiam, se chamavam mutuamente a atenção para alguns aspetos, foi uma agradável surpresa. Um tem dezasseis anos, outro catorze recém feitos, e a forma ponderada, abrangente, como o mais novo, ainda tão novinho, falou sobre estes temas, deixou-me com vontade de o encher de beijinhos. E ao mais velho, tão impulsivo, com uma tal verve argumentativa, também. Meus ricos meninos. Dois futebolistas, além disso. Sportinguistas, claro -- em stress pelo jogo, já a fazerem figas para irem festejar para o Marquês.

E agora não vem muito a propósito mas vi este vídeo e gostei imenso, imenso. E, portanto, aqui está.

Teenager Forced To KILL Friend: Shocking Story from Stranger's Past


Um bom sábado

sexta-feira, maio 09, 2025

Leão, o novo

 


Apesar de nunca me ter sentido próxima, a verdade é que me sinto cada vez mais distante da Igreja Católica. Tudo ali me incomoda: o fausto, os preceitos e preconceitos, a inutilidade em termos práticos e a vocação para a formatação de mentes, o reaccionarismo, o machismo na prática, o hábito de encobrimento de crimes praticados no seu seio, pelos seus agentes -- tudo me causa até repulsa.

Ver todos aqueles cardeais, todos homens (agonia-me que as mulheres estejam excluídas de toda a sua hierarquia -- e agoniar é mesmo o verbo que melhor define o que sinto), lustrosos, paramentados, com fitas e dobras e dobrões, ornamentados a ouro, tudo aquilo me incomoda soberanamente. Apetece-me chamar-lhes parasitas, pimpões, seres anafados, instalados.

A meu ver, a fazer sentido haver uma igreja, seria para ser um local de inclusão, de ajuda a quem precisa, local despojado, apenas com o essencial, guardando tudo o que haja para distribuir pelos pobres, pelos desprotegidos, para ajudá-los a reerguer-se, a desenvolver-se. E sempre sem juízos, sem catecismos, sem aqueles moralismos que tresandam a beatice. 

Simpatizava com Francisco, como pessoa, apesar de me incomodar que não fosse tão explícito quanto devia para afastar a beatagem que continua a penalizar as mulheres que praticam aborto ou a olhar de lado para os homossexuais. Mas, apesar das peias, era uma mente aberta, era bondoso, era empático e próximo. 

E o facto de rejeitar aqueles ornamentos cagões em sedas encarnadas e douradas e o facto de usar uma cruz simples e não uma pesada cruz em ouro agradava-me.

Nada sei de Robert Francis nem tenho nada a dizer sobre ter escolhido ser conhecido por Leão. Olho para ele e acho que tem um sorriso simpático. Mas não gosto de tanto ornamento. E nem é não gostar, é mesmo desagradar-me.

De resto, apenas gostaria que fosse um homem corajoso que rompesse com tudo o que me desagrada... mas, não sei porquê (ou talvez saiba), acho que isso não vai acontecer.

Por isso, estou a escrever isto e o fumo que estou a deitar não é propriamente muito branco. 

As espertezas saloias do Governo Montenegro -- ou os impostos como matéria de ilusão.
Agora é o IMI
-- A palavra ao meu marido --

 

Duas ou três perguntas. 

Quando há um apagão, não se pagam impostos ou apenas não se pagam impostos se isso acontecer no mês em que há eleições? A pergunta é retórica pois, como vem sendo claro -- já que usar os impostos como areia para os olhos parece ser vício do Montenegro --, a segunda hipótese é a verdadeira. 

Ou seja, mais uma espertice dos espertos do Governo: agora até adiam o pagamento do IMI e do IRC, com a desculpa do apagão, claramente para tentarem ganhar votos. Será que também vão adiar o pagamento do IUC para os carros de Maio?


quinta-feira, maio 08, 2025

Uma corrente humana muito especial
ou quando os livros (ou a simpatia de uma Livreira) fazem milagres

 

Não sou chorona. Não sou de lágrima fácil. Mas há pequenas coisas que, muito provavelmente, deixam os outros indiferentes e que a mim me deixam com a lágrima ao canto do olho. Gestos de generosidade, por exemplo, comovem-me. 

O que o vídeo aqui abaixo mostra é daquelas que a mim me enternece, me faz pensar que há esperança no mundo. Vejo as imagens e os meus olhos humedecem. 

A história é simples: a dona de uma pequena livraria resolveu mudar-se para um espaço maior a umas ruas de distância. E o impensável aconteceu: centenas de voluntários juntaram-se e, ao longo das ruas, foram passando os livros de mão em mão, transportando-os para a nova livraria.

Penso que terá sido sobretudo simbólico. Imagino que uma empresa de mudanças terá sido contratada para dar um impulso mais profissional (e, nas imagens, presumo que uns dois ou três calmeirões que ali passam serão desses) mas não interessa. O que interessa é a generosidade, o amor aos livros, o sentido de união perante um desígnio que motiva que levou tantas pessoas, novos e velhos, homens e mulheres, a mostrar à simpática Livreira que estão com ela, que continuarão com ela. E os livros, de mão em mão, chegaram, certamente, mais felizes à sua nova casa.

Era tão bom se gestos assim fossem frequentes, se as pessoas se unissem, que houvesse um maior sentido de comunidade, que todos pud~essemos ter mais oportunidade de termos gestos bondosos, solidários.

Centenas de pessoas formam uma corrente humana para mover à mão uma livraria de Michigan

In Chelsea, Michigan, the local bookstore has quite a story of its own -- a story that began when Michelle Tuplin, owner of Serendipity Books, decided to relocate her business to larger space.


Dias felizes

quarta-feira, maio 07, 2025

Fazer o que apetece fazer

 

A minha filha dizia que a avó se autoboicotava. E eu concordava. E, apesar de já passar mais de um ano desde que a minha mãe se foi, penso cada vez mais isso. Na aparência, era uma pessoa solar, bem disposta, sorridente, alegre, conversadora. Mas, no seu íntimo, escondia medos. Para os esconder, refugiava-se dentro daquela persona desempoeirada e feliz que exibia perante terceiros. 

Mas, se, até quase ao fim, escondeu várias coisas de mim, houve uma de que eu sempre estive muito ciente, embora também a escondesse dos outros: a sua grande preocupação com a opinião alheia. Desde que me conheço, sempre a senti muito condicionada pelo que os outros pensavam ou podiam pensar. Tentou passar-me isso. Mas sem sucesso. Talvez até como reacção, não sei, a verdade é que sempre me estive nas tintas para a opinião alheia. Mas eram permanentes as recomendações de que não dissesse ou fizesse isto ou aquilo pois a minha tia, a minha avó, o meu pai, os meus sogros, os meus vizinhos ou fosse quem fosse poderiam pensar de mim. No entanto, no convívio social, não deixava transparecer nada disso. 

Mas a questão de se autocondicionar foi uma constante na sua vida. Desde que me lembro, a minha mãe deixava transparecer que, por ela, faria não sei quantas coisas. Mas, segundo ela, o meu pai não alinhava. Geralmente não dizia isso ao pé dele, supostamente para não o incomodar. Mas não sei se era por isso ou se era para não correr o risco de que ele rebatesse o que ela dizia.

Quando o meu pai estava limitado e, posteriormente, acamado, nós dizíamos que ela poderia fazer uma série de coisas pois a senhora que lá ia pelo menos três vezes por dia tratar dele poderia ficar lá em casa enquanto ela fosse sair para se encontrar com amigas, para passear, para o que lhe apetecesse. A própria senhora estava sempre a oferecer-se e a incentivá-la a isso. Mas nunca quis. Ao mesmo tempo falava com pena do que as amigas faziam, mostrando ter vontade de fazer o mesmo. Contudo, creio que a razão para nada fazer era que temia que pensassem mal dela por ir distrair-se enquanto o marido ficava fechado em casa.

Quando o meu pai morreu, tentámos que finalmente fizesse tudo o que sempre tinha querido fazer. A duras custas conseguimos que fizesse algumas coisas. Mas sempre como se estivesse contrariada, como se estivesse a fazer o sacrifício apenas para não a chatearmos mais. E arranjava desculpas para tudo e mais alguma coisa. Para vir passar o dia a minha casa, era uma luta. O meu marido aborrecia-se comigo pois achava que estava a forçar a minha mãe a fazer uma coisa que não queria. Mas eu tinha a sensação que era aquela sua postura de sempre, a de mostrar que não queria, que, por ela, não vinha, não lhe apetecia, para, por fim, quase como se não conseguisse ouvir-me mais, lá ceder. 

Para passar férias connosco no Algarve foi o bom e o bonito. Não queria, não, não, não. Mas, ao mesmo tempo, eu parecia-me perceber que, no fundo, no fundo, até queria, mas que ofereceria resistência até mais não poder, até parecer que ia obrigada. Depois, estando lá, estava tudo bem, mas, até ir, era uma luta incrível. E às amigas e vizinhas, do que eu depois percebia, transmitia que, por ela, não queria mas que tanto a tínhamos pressionado que, contrariada, lá tinha feito o sacrifício.

Guardo esta mágoa de pensar que a minha mãe, por motivos lá dela, nunca conseguiu libertar-se de amarras imaginárias para fazer tudo o que lhe apetecia. Mas também admito a hipótese de que  talvez nunca lhe tivesse realmente apetecido fazer aquilo com que parecia sonhar. A mente tem coisas insondáveis, não é?

As pessoas por vezes constroem barreiras dentro de si mesmas e, para lhes darem credibilidade, criam também narrativas para as justificarem e, de tanto alimentarem alguma auto-comiseração e de tanto se sentirem cercadas, acabam por acreditar que são reais.

Pela parte que me toca não sou muito disso. Geralmente, se meto uma na cabeça não descanso enquanto não a faço. Posso até admitir que vão censurar-me ou que não irão aplaudir-me, mas, muito sinceramente, nada disso me tolhe. 

Há coisas que nunca fiz. Nunca andei de helicóptero, nunca fiz paraquedismo nem asa-delta, nunca montei, nunca fiz mergulho ou escalada, nunca fumei erva (e, muito menos, qualquer outra droga), nunca conduzi uma mota, nunca cantei num karaoke, etc. E sei que nunca vou fazê-lo. Não porque não tenha oportunidade mas porque não quero. Não acho piada fazer coisas que me dão medo ou que vão contra a minha natureza. Por isso não lamento o que não fiz porque se as não fiz foi porque não quis. Em contrapartida, se houver coisas que gostaria de fazer, tudo farei para as fazer. Geralmente adequo os meus desejos às minhas possibilidades. Por exemplo, não me ocorre conduzir um Ferrari descapotável e isso não apenas porque não é coisa que me seduza mas também porque não é coisa que esteja à minha mão de semear. Ou seja, não sou de ter sonhos pois sonhos são, por definição, coisas imateriais, quase intangíveis. Sou de ter vontades pois das vontades a gente pode ir atrás. E pode agarrá-las.

Mas, do que conheço da vida, uma coisa dou como muito certa: se a gente gostava de fazer uma coisa, se tem essa vontade, deve concretizá-la. Senão, vai chegar ao fim da vida carregadinha de mágoas.

O exemplo deste vídeo é até tocante. 

Diana, de 87 anos, interpreta uma composição original, 'Dreams'
| The Piano Series 3


Nunca é tarde para ousar
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Dias felizes

terça-feira, maio 06, 2025

Na génese das 'coisas' ou dos 'fenómenos' mais complexos está sempre algo extremamente simples?
E é nessa dança entre o infinitamente pequeno e infinitamente grande que se joga todo o mistério do universo?
É aí que reside a impressão digital de Deus?

 

Nunca gostei de matemática da mesma maneira que os meus colegas que gostavam de matemática. Mais do que querer decorar ou, até, perceber axiomas ou teoremas, eu gostava de me aventurar de forma 'fluida' pelos meandros do meu próprio pensamento lógico. Há algum tempo um colega dessa altura recordou como eu surpreendia os professores com a forma como resolvia os problemas de matemática. Não me lembro disso mas lembro-me do prazer de encontrar lógica em algumas caminhos e de ir, tomada por esse prazer, ir por eles afora. 

Em todos os níveis de ensino, fosse qual fosse a complexidade dos assuntos, eu detestava o que fosse de decorar, custava-me imenso decorar o que quer que fosse, e, contrapartida, gostava de ir pela matemática como em passeio de descoberta. Acontecia-me, até, ter prazer em deixar-me guiar pela intuição, deslizar pelos raciocínios e chegar aos resultados como se fosse 'ao calhas'. Por isso, por vezes sentia o chamado síndrome do impostor pois parecia-me que acertava por acaso, por ser bafejada por alguma espécie de iluminação que me fosse exterior, alheia ao meu mérito. E o pior é que, por vezes, tudo me parecia tão incrivelmente óbvio e linear que me faltava até a paciência para lá chegar passo a passo, só me apetecendo voar directamente para o resultado final.

Acontecia-me, quando via como os meus colegas se tinham preparado, estudado, e sabiam tudo na ponta da língua, sentir admiração por eles e, a mim própria, ver-me impreparada, desleixada nos meus estudos e obrigações, à mercê de uma sorte que poderia falhar-me.

Contudo, quando posta à prova, a coisa fluía e eu a ideia que tenho é que me sentia quase como se estivesse possuída por uma luzinha que me guiava.

Essa mesma sensação já a tenho sentido também a escrever, quando não sei o que vou escrever antes que os meus dedos escrevam, como se o fizesse por decisão própria. Sinto-me como se alguma coisa dentro de mim ultrapassasse a minha vontade humana.

E, no fim, fico surpreendida com o que, involuntariamente, fiz.

E sei que, escrito assim, pode parecer que estou a armar-me ao pingarelho ou que me acho especial. Mas não é isso que acontece. Uma pessoa que estuda muito, que se prepara, que tem um método apurado de estudo, está em melhor condições que eu pois parece que me sinto sempre vulnerável, em risco de a inspiração ou a boa sorte me abandonar.

Tirando isso, o que sei de certo é que pouco ou nada sei e que o muito que desconheço me fascina como se fosse uma luz dourada e breve, uma música soprada pelos deuses ou um punhado de palavras cintilantes que alguém solta ao vento.

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Já aqui falei inúmeras vezes em fractais. É tema que me fascina. Não sei explicar porquê mas fascina-me. Acho que neles reside um mistério que parece insondável (e que, no entanto, pode ser traduzido por uma fórmula matemática simples, elegante como são todas as coisas simples.) 

Ando por aí, em geral pelo campo, em especial in heaven, a descobri-los e a deixar-me fascinar por eles. 



A expansão linear -- ou não linear -- de uma realidade infinitamente simples deve ser vista como um aglomerado, quiçá quase infinito, de coisas simples ou, a partir de um certo grau de multiplicação, a complexidade deve desligar-se da simplicidade que está na sua génese e devemos admitir que estamos perante uma realidade nova, talvez até caótica?

Não sei. Tendo a querer ater-me à sua simplicidade original. Mas não estou certa de que seja a melhor abordagem. 

Por exemplo, uma multidão é algo que tem regras próprias ou deve ser vista como um aglomerado de pessoas em que o comportamento da multidão reproduz, embora em larga escala, o comportamento de cada indivíduo?

O tema não é abstracto: aplica-se a diversos campos do saber (biológico, computacional, sociológico...).

O vídeo abaixo, da BBC, fala sobre o tema. 

O que são os fractais, padrões matemáticos infinitos apelidados de 'impressão digital de Deus'

O que as galáxias, as nuvens, o sistema nervoso, as montanhas e o litoral têm em comum?

Todos contêm padrões intermináveis conhecidos como fractais.

Os fractais são ferramentas importantes em diversas áreas — desde estudos sobre as mudanças climáticas e a trajetória de meteoritos até pesquisas sobre o câncer (ajudando a identificar o crescimento de células mutantes) e a criação de filmes de animação.

Desejo-vos dias felizes

segunda-feira, maio 05, 2025

Nem vale muito a pena falar nisto de ser Dia da Mãe. Todos os dias o são. Soa a banalidade mas é o que é.
Mas foi um feliz dia de domingo, lá isso foi.



Este domingo foi como devem ser todos os domingos: felizes. 

Entre nós dois decidimos o que seria a ementa e, como sempre, há um lado meu que puxa para a complicação. O resultado final parece simples mas a confecção é demorada. O que o meu marido fez, em contrapartida, é fácil e rápido. Com isto estive quase em contínuo das onze da manhã até às cinco da tarde a cozinhar, a preparar. Faço com gosto. 

Já agora, para não parecer que estou a fazer caixinha, digo o que fiz.

  • Canja (com carne desfiada, massinha de letrinhas e ovo)
  • Salada (com couve roxa, alface, maçã, bolinhas de mozarella)
  • Ovos recheados (foi o que o meu marido fez. Cozeu ovos, depois abriu ao meio, retirou a gema, misturou crème fraiche, sumo de limão e pickle e noutros, à gema misturou queijo cottage, filetes de salmão e sumo de limão. Com isso, voltou a encher a cavidade dos ovos)
  • Tortellini de ricotta e espinafre e de beringela e mozarela. Depois de temperado com azeite e vinagre balsâmico,  por cima, salmão fumado.
  • Cenoura à algarvia
  • Bola de carnes, segundo a minha receita mas não fiz só com frango do campo, juntei também rojões de porco, chouriço de carne e farinheira. Ficou enorme pelo que, no fim, levaram um bocado para as respectivas casas. 
  • Frutas diversas
  • Pasteis de nata (trazidos)

Depois, antes que chegassem, fui mudar de roupa, soltar o cabelo, pôr uma sombrazinha. E caí na asneira de pôr um puffzinho de perfume. O meu marido embirrou logo. Fui para a rua para arejar, a ver se não se dava muito por ela. Afinal a minha filha também se queixou. Portanto, fui mudar outra vez de roupa.

E, estando cá todos, depois de alguma convivência, passou-se à parte do repasto que é sempre uma festa, com muita conversa, muito apetite e boa disposição. Um dos meninos tinha vindo de ser apanha-bolas num jogo de futebol e ainda vinha com a pica toda. Outro tinha tido jogo de manhã. Outro tinha tido jogo no sábado à tarde. E o apanha-bolas tinha tido dois jogos no sábado de manhã. O mais novo, treino na sexta ao fim do dia. Portanto, como é bom de ver, o tema futebol está sempre muito presente. E sabem tudo o que há a saber: pontos, posições, opções do treinador, e não sei dizer mais o quê pois, quando o tema aprofunda, eu desligo.

A menina, também já mais alta que eu, não está nem aí para o futebol e trazia uns cadernos ou umas folhas ou uns moldes, uma coisa que, segundo ela, fui eu que lhe dei. Já não me lembro, já deve ter sido há bastante tempo. 

Fofos, mais lindos.

Quando se foram, eu e o meu marido fomos fazer uma pequena caminhada com o nosso cão. Ao regressarmos a casa, ele dirigiu-se imediatamente para o seu canto e foi dormir. Ele, o cão, claro.

Quanto ao meu marido, pôs-se a ver o Sporting, segundo disse o jogo era decisivo (aliás, dois dos meninos já me tinham dito isso) e eu fui para outro lado ver o debate... E, tiro e queda, ao fim de um bocado, adormeci. Depois lá consegui ir arrebitando -- intermitentemente -- mas sempre a querer deslizar para os braços do morfeu. 

Por isso, não será sério pôr-me aqui a tecer considerações sobre o desempenho dos debatentes. Do que vi melhor, gostei da frontalidade e das boas ideias do Rui Tavares e pareceu-me que o Raimundo estava invulgarmente claro e a dizer algumas acertadas. Da Mortágua não me lembro. Da Inês do PAN, do que vi, pareceu-me bem, sempre muito eficaz, sempre focada, mas se quiser aqui referir um tema apontado por ela, lamento, só me lembro da forma, não do conteúdo. Sinceramente não estou a lembrar-me da prestação do Pedro Nuno Santos nem do Montenegro. Do Rocha também nada me ficou. E, numa das vezes em que acordei, estava o Carlos Daniel à nora com o Ventura, que não se calava nem por mais uma.

Por isso, lamentavelmente perdi o único debate conjunto na televisão -- mas também não sei se me teria sido muito útil. Tudo muito chato. Falta na nossa política nacional gente com garra, gente ousada, verdadeiros líderes, gente que aponte ao longe e se atravesse por essas ideias, gente em quem a gente aposte e acredite de olhos fechados. Talvez por isso, o meu corpo aproveite para desligar o interruptor quando eles estão a falar.

Portanto, o que tenho a dizer é que já aqui temos uma nova semana. Parece que ainda não é desta que vamos ter bom tempo mas, se não estiver muito frio e muita chuva, se não houver vendaval, trovoada e granizo já me darei por contente. Espero que sejam dias felizes para todos.

domingo, maio 04, 2025

O lado lúdico de algumas pequenas coisas

 

Ontem falei da minha improdutividade mas esqueci-me de referir um outro aspecto: toda a vida trabalhei muito e sempre tive a preocupação de que fosse trabalho que se visse (muitas camisolas feitas, muitas telas pintadas, muitos tapetes feitos, muitos livros escritos e, no trabalho, quase sempre acumulando diferentes funções e, ultimamente, trabalhando até, ao mesmo tempo, em diferentes empresas). Parece que só me realizava se trabalhasse muito, se fizesse coisas complicadas, se me auto-propusesse objectivos difíceis de alcançar.

Mesmo depois de me reformar, parece que todos os dias me auto-estabelecia um monte de coisas para fazer. 

E agora, ao fim de tantos anos, vá lá eu saber porquê, começou a saber-me bem não fazer nada. Claro que o meu nada não é exactamente nada. Mas, ainda assim, é uma novidade. Permito-me passar uma tarde (quase) inteira a ler, a ver vídeos, a percorrer redes sociais, a flanar, a fotografar. 

Por exemplo, no instagram, há um cabeleireiro italiano que faz maravilhas. Vejo-o de gosto. Fico com imensa vontade de pegar numa tesoura e atirar-me ao meu cabelo a ver se consigo reproduzir aqueles feitos. Não ponho aqui o link pois não fixo o nome e depois não consigo encontrá-los. Mas não é grave pois aparece-me todos os dias. E há um número infinito de mulheres (e de homens) que se mostram a disfarçar olheiras, a maquilhar-se de maneira a alongar os olhos, a parecer que têm os lábios maiores, as maçãs do rosto mais subidas. A maquilhagem serve para tudo. E gosto de ver como põem isto e depois aquilo e mais aquilo, carradas de produtos para os mais diferentes fins, todos aplicados em cima uns dos outros, e usam pincéis de todo o tipo e feitio e esponjinhas e apetrechos para alisar, para esfumar, para iluminar. Gosto de ver. Já pensei até arranjar algumas coisinhas daquelas para experimentar. 

E, no youtube, o que eu gosto de ver animais... Acho que o comportamento inteligente dos animais é verdadeiramente maravilhoso. Espanto-me sempre. E outra coisa que vejo sempre com atenção é a construção de pequenos lagos e o efeito que eles têm na atracção dos animais. Aparecem para beber água, para brincar, para se banharem. Fico sempre com vontade de fazer isso in heaven. Só ainda não me atirei a tal pois, quando chove, é tranquilo, auto-abastece-se, mas, sem chuva, como fazemos para lá manter a água? Mas as imagens colhidas pelas câmaras mostram uma actividade fantástica.

Claro que também leio jornais, vejo entrevistas e vídeos interessantes, como o que aqui abaixo partilhei, sobre a actualidade, mas há um lado lúdico que me sabe bem quando vejo coisas como esta aqui abaixo.

Isto é o que acontece quando se constrói um lago para a vida selvagem

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Desejo-vos um belo dia de domingo

(e queiram continuar a descer)

100 dias de Trump

 

Tudo muito mau, assustadoramente mau. E choca-me que ainda haja tanta gente, por cá, que tente copiar as atitudes e as medidas deste anormal.

100 dias de caos, 100 dias que pareceram 100 anos

sábado, maio 03, 2025

Nem sei bem explicar o que é isto

 

Ando com comentários a que não agradeci ou respondi, com vários mails atrasados. Nem dei ainda os parabéns a amigos que fizeram anos nos últimos dias. Uma vergonha. Não sei o que é isto mas parece que o tempo não me chega. Incomoda-me pois só posso concluir que ando muito menos produtiva do que era antes. Trabalhava de sol a sol e tinha tempo para as coisas de casa, para ir à compras, para tratar do expediente corrente como impostos, pagamentos, para ir a casa dos meus pais, para escrever até às tantas (ou para pintar ou para fazer tapetes de arraiolos), eu sei lá. O tempo dava-me para tudo. Agora, não sei porquê, parece que o tempo não me rende. 

Ainda tive, este ano, que tratar do IRS da minha mãe. E o nosso também é meu pelouro. Quando aquilo era manual, era o meu marido que organizava a papelada, fazia as contas, preenchia, e eu estava ao lado dele para o caso de ele querer que eu conferisse alguma coisa. Quando a coisa se virou para o digital delegou em mim. Hoje foi dia de tratar disso. E de fazer uns quantos pagamentos. 

No que se refere ao IRS da minha mãe, há uma verba, logicamente pequena, a haver. Questionei o e-balcão para saber como se processaria uma vez que não pude preencher o meu iban. Informaram-me que, na qualidade de cabeça de herança, vão enviar-me um cheque mas, imagine-se, à ordem da minha mãe. Juro: nem queria acreditar. Parece uma piada de mau gosto. Naturalmente, não vou poder fazer nada com um cheque que não vem à minha ordem. Disseram-me, então, que devo dirigir-me a uma repartição de finanças, munida da documentação, nomeadamente habilitação de herdeiros, para preencher o modelo do imposto de selo. Seguidamente, devo pedir nova emissão de cheque à minha ordem. Expliquei que, quando a minha mãe morreu, já entreguei toda a papelada possível e imaginária, já tratei do imposto de selo e mais não sei o quê. Não interessa, tenho que fazer agora a mesma coisa mas em relação ao reembolso do irs. Fico pasmada. A burocracia e ineficiência da máquina administrativa está nestas merdices. Têm lá a informação que a minha mãe morreu há mais de um ano, têm a informação de que sou a herdeira, mas, ainda assim, vão mandar para minha casa, na qualidade de herdeira, um cheque à ordem da minha mãe.

O ano passado, que, do irs dela, tinha a pagar, não foi preciso nada disto. Mandaram-me um aviso de pagamento e nem questionaram coisa alguma. Paguei e ficaram contentes. Agora, como é para devolver, é esta trabalheira parva.

E isto já para não falar do imbróglio que não consigo desfazer em relação à casa, em que as Finanças pedem documentos que supostamente devo obter na Câmara e na Conservatória e que, quer uma quer outra, dizem que os das Finanças não estão bons da cabeça, que o que estão a pedir não faz sentido nem pode ser feito, e as Finanças mandam-me fazer impugnação administrativa e depois recebo uma carta a dizer que impugnação administrativa não é coisa que se faça para aquele fim e dizem que o que tenho que fazer é apresentar um recurso hierárquico e, quando, passada uma infinidade de tempo, vou ver o que se passa com o dito recurso hierárquico que apresentei, constato que o arquivaram sem dizer nem água vai. Um desespero.

E, entre umas e outras e mais as coisas normais da vida de todos os dias e mais um ou outro contratempo que, por vezes, acontecem, o tempo passa sem que eu consiga esticar-me para chegar a todo o lado. E depois ainda há outra. Sento-me no sofá à noite, depois de jantar, e adormeço. Faço um esforço danado e acordo, mas logo volto a adormecer, e mais um esforço e lá acordo... e, logo de seguida, adormeço. E, por fim, lá acordo. Aqui estou. Mas que estupor de sono é este que me ataca sem necessidade nenhuma? Será deste tempo que não abre nem por mais uma? Será mesmo coisa de long covid? Caraças.

Já para nem falar que, no outro dia, acordei com uma dor nas costas e agora a dor migrou para um pé. O meu marido tem sempre explicação para as minhas coisas e passam sempre por eu fazer alguma coisa mal feita. Neste caso, diz que ando, no campo, a caminhar, com uns sapatos que já deviam ter ido para o lixo. Duvido que tenha a ver com isso. Inclino-me para um mau jeito na cama ou para o tempo que também migrou de solzinho e calorzinho para chuva e frio.

Parece que tudo isto contribui para me atrapalhar a genica que antes andava sempre a mil e que agora parece que anda a pedal. Estava a compilar e rever um conjunto de crónicas para ver se publico e nem tenho tido tempo ou disposição para me entregar a isso. É daquelas que requer entrega, concentração. Como também ando a retomar leituras que tinham ficado em suspenso (maravilhoso 'O Caderno Proibido' da Alba de Céspedes), ainda mais limitada fico. 

E até me sinto um bocado envergonhada por estar a confessar isto pois, se me olhar com os meus olhos de antes, em que fazia mil coisas com uma perna às costas, só posso concluir que ou ando indolente ou estou a ficar limitada nas minhas faculdades. Nenhuma das duas me conforta. O meu marido também tem uma teoria para isto: acha que o meu mal é deitar-me tão tarde pois isso faz com que não madrugue como ele e que fique logo com parte da manhã comprometida. Só que isto é como aquilo da orientação sexual: a gente não escolhe. Não é por opção minha que sou heterossexual, tal como não é por minha escolha que sou noctívaga. 

Tirando isso, sobre a política nacional, o que posso dizer é que nem me apetece falar. Não mesmo. Se for mesmo verdade que a maioria das pessoas se está a marimbar para a ética, para a incompetência, para a incultura, para o respeito para com a verdade e prefere ter um primeiro-ministro cínico e pimba que faz um cocktail festivo juntando o 25 de Abril e o 1º Maio para os festejar cantando e batendo palminhas com o Tony Carreira... olhem, vou ali e já volto. A sério.

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Desejo-vos um bom sábado

Be happy

sexta-feira, maio 02, 2025

Gatinhos made in heaven

 

Claro está que, mal tomei o pequeno-almoço, fui, pé ante pé, atravessando um canteiro (no qual tinha plantado na véspera um medronheiro e uma murta), espreitar a mamã-gata e os seus bebés-gatinhos. Numa das passagens para aquele espaço o meu marido colocou uma espreguiçadeira dobrada e uns paus, para evitar que o cão por lá passe e, num outro lado, mais largo, colocou uma rede. Se não fosse isso, os pobres gatos não teriam sossego. O nosso guardião, à falta de rebanhos para guardar, guarda-nos a nós e, à falta de lobos ou outras ameaças, atira-se a tudo o que mexe. Sempre que a pobre gata se aventura para fora do seu esconderijo, provavelmente para procurar alimento, o cão-segurança atira-se a correr e a ladra, ladra, furibundo, pronto para resolver o assunto de qualquer maneira. Felizmente a gata é ágil. 

Mas, então, dizia eu, pé ante pé, lá fui. Subi para um banco de pedra e filmei (publiquei uma story no Instagram) e fotografei. A gata põe-se a olhar fixamente para mim enquanto estou naquilo, e eu percebo-a. Se eu visse algum lobisomem a rondar-me a mim e às minhas crias fazia o mesmo: embora sentindo uma certa impotência, não deixaria de atacar quem se aproximasse, possivelmente para roubar ou atacar alguma cria. Os gatinhos, em contrapartida, ignoram-me. Mexem-se encostados uns aos outros, um passou por cima da mãe e foi pôr-se do outro lado. Ainda não têm noção dos perigos.

Olho-os enternecida, maravilhada. São de uma fofura extrema. E acho a gata, pintalgada, um verdadeiro encanto. E pelo menos dois dos gatinhos parecem ter saído à mãe. Engraçado que um me pareceu todo preto e outro todo branco. A natureza é uma conjugação de milagres, de maravilhas, de coisas incompreensíveis e de uma beleza extraordinária.

Pareceu-me que são seis, os gatinhos. 


O pior é que, à tarde, quando lá voltei já só vi dois. O meu marido diz que talvez estejam escondidos no meio daquela tralha, mas andei a espreitar e só vi estes dois, espantados, imóveis. Um deles parece que tem uma máscara. Só visto. Só me apeteceu pegar neles, aconchegá-los, trazê-los para casa, arranjar-lhes uma caminha quentinha, pôr leitinho num pratinho. Mas claro que não fiz isso, acho que seria pura maldade. Estão certamente muito melhor com a sua mãe e com os irmãozinhos. 

De qualquer forma, receio que a mãe-gata, temendo as minhas intenções, tivesse pegado já em alguns e estivesse a levá-los para um lugar menos exposto aos meus arroubos fantasiosos ou às minhas sessões de paparazzi. 


De que se alimentará a mãe-gata? Ratinhos? Há séculos que não vejo nenhum. Outros bicharocos? E encontra-os sempre por lá? Nunca me apercebo de perseguições, caçadas. A vida dos animais in heaven surpreende-me. E ocorreu-me que, se há gatinhos, então, para lá da gata, há também, com certeza, um gato. Mas que será feito dele?

Só espero é que vão todos ficando por lá. O paraíso deve ser isto. Flores, animais, canto dos pássaros, ar puro, uma paz que se se impregna em nós.

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Claro que, talvez por tudo isto, porque nos habituamos a um certo grau de pureza, o nosso grau de paciência para com os disparates da Clara Ferreira Alves nos deixam transtornados.

Clara Ferreira Alves: estou a ouvi-la no Eixo do Mal e fico estarrecida com os disparates que diz.
Alguém proíba esta criatura de opinar em público!

 

O que diz -- abordando com imprecisão, distorção e baralhação aspectos técnicos misturados com aspectos políticos -- deixa-me perplexa e revoltada. O meu marido, que tem o rastilho mais curto que eu, já fez várias tentativas de mudar de canal, furioso com os disparates que ela diz. Furioso, furioso.

Eu ainda não percebi se ela é ignorante sobre a maior parte dos assuntos, se é demagoga, indo acefalamente atrás da última coisa que ouviu, se é mal intencionada, se é, apenas, tonta. Mas fico chocada com as análises que faz. Troca-se toda, confunde alhos com bugalhos. Mas, como fala com arrogância e armada em boa, parece que ainda há quem compre o que ela diz.

E eu fico intrigada: não há ninguém na SIC que perceba que esta pessoa presta um péssimo serviço à opinião pública em Portugal? Caraças.

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Quanto ao Montenegro, esse cantor pimba que ocupa S. Bento, recomendo a leitura de Montenegro "apanhado", prosa linear e objectiva de Vital Moreira, bem como a de O padrão PSD, mais um tiro certeiro de Der Terrorist.

quinta-feira, maio 01, 2025

Mamã-gata e os seus cinco gatinhos-bebés

 

Na casa 'urbana', dá para isolar a zona do nosso quarto de forma a que o cão não consiga para lá ir. Mas a casa, in heaven, é diferente. É uma casa, a todos os títulos, especial. Um dia conto-vos. Entre outras particularidades, tem aquela que eu sempre desejei: passa-se de divisão em divisão de forma contínua, sem portas. Mas tudo tem o reverso. Não é fácil isolarmo-nos. Poderíamos fazer mais do que fazemos mas não é fácil até porque não queremos deixar de ouvir o que se passa na outra ponta da casa. Encostamos a porta do corredor que dá acesso à zona dos quartos mas não fechamos a porta do quarto. E o que acontece é que, a meio da noite, o espertalhão do dog empurra a porta do corredor e vem deitar-se sobre a cama, aos pés. Como sou mais pequena que o meu marido, é aos meus pés que ele encontra mais espaço. A partir daí, fico com menos margem para me acomodar a meu gosto. Bem posso dar-lhe pontapés que ele não se torce nem se amolga. Ao fim de algum tempo acaba por sair e ir deitar-se no tapete aos pés da cama. Mas, até sair, tenho eu que me Não sei se é por isso mas acordei com uma dor nas costas. E, ao longo do dia, a dor foi mordendo com mais força.

Por isso, não apenas não dormi muito bem de noite como, de dia, não andei especialmente famosa.

Face a isso, quando me reclinei aqui no sofá para ver o debate, começou a dar-me o sono e... adormeci mesmo. O meu marido, de vez em do, perguntava-me: 'Mas... estás a dormir...?'. Tentava acordar mas debalde.

Por isso, não consigo pronunciar-me. Se calhar, ainda que involuntariamente, poupei-me.

O que posso dizer, e amanhã a ver se até publico um vídeo no Instagram, é que aconteceu uma coisa. O meu marido contou-me que, quando foi buscar um podão ao recanto bagunçado ao pé do forno de lenha onde costuma amontoar ferramentas desse tipo, redes, oleados e nem sei bem o quê, saltou de lá um gato bonito, pintalgado. 

Quando fui para aqueles lados, o cão ladrava furiosamente lá ao pé, a olhar fixamente para lá. O meu marido disse: 'Este também já percebeu que o gato se esconde aqui'. 

Às tantas lembrei-me: 'Não haverá para aqui gatinhos?'. É que estranhei o olhar fixo e o ladrar transtornado da nossa fera. E fui espreitar. Então, para minha alegre surpresa, vi a coisinha mais fofa, mais fofa, um gatinho bebé, também pintalgado, fundo branco e manchinhas pretas e manchinhas amarelas, narizinho esborratado. Uma ternurinha fofa.

E, ao longe, a gata a espreitar.

O meu marido, então, foi buscar rede e conseguiu isolar minimamente a passagem para aquela zona, senão a coisa corria sérios riscos de acabar mal. 

Passado um bocado, puxei a rede para o lado e, pé ante pé, fui-me aproximando. Já não vi o gatinho, já não estava no sítio em que o tinha fotografado. Subi, então, para cima de um banco... e vi a cena mais ternurenta, mais linda, mais maravilhosa. Do outro lado, no meio daquela inqualificável bagunça, ao fundo, a gata rodeada de gatinhos. Cinco. Cinco gatinhos fofos, lindos, um amarelinho, um pareceu-me escurinho, outro branquinho, um malhadinho e outro de que só vi a cabecinha e que me pareceu clarinho. Fofos, fofos, um milagre da natureza. Mais um milagre. Se calhar nasceram ali. 

Não sei de que se alimentam. Não sei se deveria fazer alguma coisa por eles. Admito que o melhor é não fazer nada. Mas a minha vontade é pegar neles, adoptá-los, fazer com que fiquem por aqui. Mas, claro está, tudo isto é platónico, pois, com o medo que tenho de gatos, não sou capaz de me aproximar e deitar a mão a nenhum deles. Imagino que a mãe-gata, se eu ousasse a fazer isso, me saltaria em cima e me arranharia furiosamente. Desconfio dos gatos, tenho medo deles. Estou melhor a respeitá-los de longe.

Mas não imaginam como fico feliz com isto. Se eu conseguisse ter por aqui, convivendo alegremente, gatos, esquilos, uma possível raposa, o nosso cão, passarada, ficaria ainda mais feliz. Os javalis não, podem ficar longe.

Só espero que, de manhã, a família gatinha ainda lá esteja e que eu consiga fotografá-los para vos mostrar. Hoje mostro o possível, apenas o primeiro que vi.

E mostro um pouco de como está o campo por aqui. Lindo.

O meu marido diz: 'erva e mais erva, isto está a pedir ser tudo cortado'. E, claro, eu acho o contrário. Acho tudo lindo, lindo, verdinho, viçoso, inacreditavelmente perfeito, milagrosamente perfeito.






Feliz Dia do Trabalhador.

quarta-feira, abril 30, 2025

Ainda sobre o Apagão -- resposta a um Comentador e outras breves considerações
-- A palavra, claro, ao meu marido --

 

Em continuação do que tenho escrito e relativamente aos comentários que um Leitor fez, quero esclarecer que uma coisa são as questões técnicas relacionadas com o apagão, outra coisa é a forma como o governo atuou -- e é isso que eu critico. 

E a coisa piora de hora para hora. As declarações do ministro Castro Almeida a dizer que o PM andou a gerir o gasóleo dos carros dos ministros para garantir o fornecimento de gasóleo à MAC é assustador a todos os níveis. Fica claro que o PM não sabe o que tem que fazer e como deve atuar e que não há planos de emergência para situações críticas. 

Relativamente ao que chama politiquices sugiro que ouça as declarações do  Moedas, do Pinto Luz, do Leitão e do Montenegro: isso, sim, é verdadeira politiquice. 

E não será também politiquice terem ido 11 ministros ontem às televisões para tentarem limpar o que lhes correu mal?

Já agora, uma outra pergunta: a eletricidade ainda não chegou a Belém? Ou o Marcelo está afónico?

Ainda o apagão e o spinunvivo também conhecido por Montenegro (Continuação)
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Em continuação do que escrevi ontem, ao fim da noite:

Confirma-se, uma vez mais, o que tenho escrito. O Montenegro tentou aproveitar o apagão para estar nas televisões, fazer propaganda eleitoral e passar por alguém que sabe gerir crises. Borrifou, como é costume, para os Portugueses e, segundo percebi, instruiu a Proteção Civil para não informar, como é habitual em situações de crise, a população do que estava a acontecer e o que se podia esperar. Assim,  por responsabilidade do Montenegro, o caos aumentou e ocorreram muitas situações que poderiam ter sido evitadas. 

Outro que, também completamente a despropósito, aproveitou o apagão para fazer campanha eleitoral  foi o Moedas, o que não é de estranhar porque são farinha estragada do mesmo saco. Em política não devia valer tudo, mas, para os dirigentes do PSD, vale. Infelizmente as redes sociais, a forma como uma parte da comunicação social transmite a informação, as fake news e a falta de atenção e cuidado com que as pessoas acedem às notícias não lhes  permite  distinguirem o trigo do joio. É pena. Provavelmente esta forma de percepcionar o que se passa não vai mudar rapidamente -- mas há-de mudar e os que nos tomam por parvos não terão lugar de destaque na sociedade.

O governo não existe - só existe o Montenegro, aka Spinunvivo, no seu pior
-- A palavra ao meu marido --

 

O apagão de ontem demonstrou várias coisas. 

A primeira é que não temos governo. Apareceu-nos um PM titubeante e impreparado que demonstrou uma enorme falta de liderança e de incapacidade para transmitir informações úteis e pertinentes ficando-se, como aliás é habitual, por generalidades ocas e sem qualquer utilidade face à situação que o País atravessava. Passou sempre ao lado daquilo que era importante e, ainda por cima, na intervenção que fez à noite, parecia que estava num comício, o que foi completamente despropositado. Os ministros que estão à frente dos ministérios que mais envolvimento teriam nesta situação nem apareceram. Claro que ninguém teve coragem para pôr a MAI ou a da Saúde a botar discurso porque seria mais que certo que ou entrava mosca ou saía asneira. A ministra do Ambiente apareceu em "pé de página" porque ninguém acreditaria que era moça para tomar qualquer tipo de decisão numa situação urgente. O Lentão Amaro, para não variar, não disse nada que se aproveitasse e o Castro Almeida, também para não variar, disse o que não devia dizer. Se tivéssemos esta malta no governo em tempos de COVID tinha sido bonito. Este é mesmo um governo sem cu nem pé nem bico.

Em segundo lugar tornou-se claro que as infraestruturas estratégicas deveriam ser acompanhadas pelo governo (e não estão a ser). E, ainda por cima, depois do que se passou ontem, somos levados a concluir que os contratos de venda da REN e da ANA feitos pelo Passos Coelho, ao preço da uva mijona, aparentemente não defendem os interesses de Portugal e dos Portugueses. Se defendessem, haveria instalações de produção de energia de reserva que permitiriam repor o fornecimento de energia num período muito mais curto. Identicamente, o caos instalado no aeroporto de Lisboa não teria acontecido. Assim se constata como o mais querido da direita se preocupou com os interesses dos Portugueses.

Em terceiro lugar, a Proteção Civil esteve mal. Do que soube hoje, terá sido o Governo a privilegiar a comunicação política (ainda por cima, oca e tardia) em detrimento de informação concreta, operacional, técnica, útil. Talvez por isso, a Proteção Civil não transmitiu aos Portugueses a informação que devia ter transmitido e que teria contribuído para acalmar a população e prevenido situações desnecessárias. Parece que só emitiu alertas quando a situação estava resolvida. 

Em quarto lugar, os contratos de concessão com as operadoras de comunicações têm que definir garantias de fornecimento do serviço em situações de crise. Não é admissível que, poucas horas depois do apagão, as comunicações colapsem, não permitindo efetuarmos contatos quando é mais necessário. Terá havido outras situações inadmissíveis como no caso do INEM, em alguns casos de dificuldade no fornecimento de combustíveis para os geradores nos hospitais, o caos em que ficou o trânsito em artérias críticas, e a completa desorganização dos transportes públicos. 

Com este panorama, ainda há um marmanjo, de seu nome Luís Montenegro, que vem a público dizer que correu tudo bem. É preciso ter lata! Mas, de facto, lata não lhe falta. Não nos esqueçamos do que disse sobre a Spinunviva, sobre o cimento para a sua casota, sobre a gasolineira, sobre o choque fiscal, sobre o plano dos 60 dias para a saúde,.... O que lhe sobra em lata, falta-lhe em ética republicana e em capacidade para ser PM.

terça-feira, abril 29, 2025

Um mundo a diferentes velocidades. Por um lado a Inteligência Artificial a dar passos de gigante e, por outro, de repente, falta a 'luz' e o País pára

 

Comento muitas vezes que o mundo evolui displicentemente assente em pés de barro. Por exemplo, em todo o lado temos que dar o nosso endereço de correio electrónico, que passa a ser praticamente o único meio de contacto, e, no entanto, temos as nossas contas em empresas com as quais temos uma relação muito frágil. O gmail, usado pela maioria das pessoas, só para dar um exemplo, é gratuito pelo que dificilmente haverá margem para exigir o que quer que seja. O que é que as pessoas sabem sobre os locais em que o seu correio está alojado ou o que fazer sem ficarem sem acesso a ele? Mas o correio electrónico apenas está disponível se houver comunicação de dados. Não havendo, não há correio.

Ou, na maioria, temos acesso às nossas contas bancárias através do homebanking que assenta em comunicações que são também vulneráveis. Veja-se o que aconteceu esta segunda-feira com o apagão, em que muitas pessoas ficaram incomunicáveis. O dinheiro físico praticamente já só é disponibilizado via Multibanco mas, como se viu, o sistema ficou inoperacional e, em grande parte do comércio, sem terminais de pagamento, apenas faziam compras a dinheiro.

E não vou aventurar-me a falar de sistemas de chamada como o Uber ou outros serviços que ficam indisponíveis quando as comunicações falham ou quando falha a alimentação elétrica. 

E hoje ficámos a perceber que, estando a energia a ser importada, quando falou em Espanha, ficámos nós todos 'às escuras'. Ainda não se sabe exactamente o que se terá passado mas as causas, para este efeito, são irrelevantes: o que é relevante é que tanta inteligência artificial, tantos avanços tecnológicos, tanta tecnologia gratuita ao dispor de todos... e afinal, uma borboleta bate as asas com mais força num qualquer outro país e, de súbito, tudo cai por terra. 

Ninguém sabia o que estava a passar-se, começaram a surgir explicações para todos os gostos, não se sabia se íamos ficar às cegas e isolados por horas ou por dias, a malta correu para os supermercados sem saber o que fazer, não conseguíamos comunicar-nos uns com os outros, não se conseguia abastecer os veículos, o primeiro-ministro fechou-se em S. Bento sem falar à população e, de repente, parece que tínhamos voltado à pré-história tecnológica.

Ocorria-me que as casas deveriam ter pequenos geradores e reservas de combustível, painéis solares, qualquer coisa para garantir um mínimo de autonomia. Estamos completamente dependentes de tecnologia e ao mesmo tempo completamente vulneráveis.

Pela parte que me toca, fiquei sem conseguir contactar filhos e netos até à noite (e a minha filha esteve sem saber do mais velho durante horas). Em vão tentei contactá-los por todas as vias e só por volta das nove da noite comecei a ter notícias. Preocupava-me pois pensava que, mesmo se fosse ver se a minha filha precisava de alguma coisa (pois o fogão e forno são eléctricos e, portanto, não tinha mesmo como cozinhar), não tinha como chegar até ela pois a campainha do prédio não funcionaria e, mesmo que eu soubesse o código da porta, também não funcionaria. E preocupava-me pois, mesmo que os miúdos fossem a pé para casa, sem terem a chave da porta de baixo e sem campainha e sem telefones, como entrariam? 

Mas, enfim, estão todos bem, em casa, sem problema, e já com energia em casa.

Concluindo: é isto, um progresso que, vendo bem, tem pés de barro.

Há uma reflexão a fazer sobre o que se passou. E espero bem que não seja como sempre acontece: mal tudo fica tranquilo mais ninguém quer saber de coisa nenhuma.

segunda-feira, abril 28, 2025

Montenegro e os seus vários ministros, perante uma situação de crise como esta, fecham-se o dia todo.
Ou seja, o Governo apagou-se

 

Informações concretas, recomendações concretas o que ouvi que se aproveitasse foi Pedro Sanchez que o disse.

E agora, há pouco tempo, também ouvi um Administrador da REN.

O Governo, esse bando de anhucas, continua fechado a sete chaves em São Bento. Não sabem que numa situação de contingência, a comunicação é essencial? Não sabem que, em situações assim, uma das primeiras acções é informar cabalmente a população?


8.000.000 visualizações.
E, para os assinalar, é à V., que me 'desmascarou', que dedico estes redondos oito milhões

 

Ontem, tive uma surpresa. Estava a querer referir quantas visualizações tinha em média e, para não me enganar, fui ver as estatísticas. E, para meu pasmo, constatei que, no total, já tinha passado as 8.000.000 visualizações. Há tempos, ao ver que estava a caminho disso, tinha pensado que tinha que arranjar maneira de assinalar a ocasião. E, afinal, distraí-me, e, à hora a que estou a escrever, já vai em 8.029.700 e, portanto, é absurdo estar agora com foguetórios e grandes invenções festivas quando o dia em que transpus o patamar dos oito milhões já lá vai. 


De qualquer maneira, este domingo, ao pegar no telemóvel para ver as novidades, reparei que tinha uma mensagem de um amigo com quem tinha estado na véspera. E tive uma outra surpresa, uma surpresa de se lhe tirar o chapéu. Dizia-me ele que mão mais que amiga lhe tinha feito chegar o que eu aqui tinha escrito horas antes, e agradecia a referência amigável e a empatia de festejarmos juntos. 

Como é bom de ver fiquei de queixo caído. 

Quando aqui escrevo, sou só eu. Por exemplo, agora que já são quase duas da manhã, estou sozinha na sala e é como se estivesse sozinha no mundo. É quando me apetece escrever. Durante o dia, lavei e estendi roupa, apanhei sol, li, fotografei, falei ao telefone, vi televisão. E, só quando a casa adormece, ligo o computador e dou largas ao meu gosto por escrever. 

Hoje retomei a leitura de o 'Caderno Proibido', um diário escrito às escondidas. Não é o meu caso pois, em vez de esconder um caderno no fundo de uma gaveta, abro a janela e deixo que as palavras voem por onde quiserem, que pousem no vosso colo, que cheguem até às vossas mãos. Mas, quando escrevo, é quase a sensação de que escrevo só para mim, como se ninguém me fosse ler, sem correr o risco de ter que me justificar perante ninguém, pois abstraio-me de tal maneira que nem me lembro que alguém que me conheça ou que se identifique com o que escrevo pode reconhecer-se e vir contrapor opiniões ou mostrar desagrado.

Desde sempre quis que o blog fosse anónimo. Estando eu a trabalhar num grande grupo empresarial, nunca quis que as minhas opiniões pessoais causassem desconforto na organização. Sou intrinsecamente livre e não estava para que, quem me lesse, tentasse condicionar-me com observações do tipo: 'trabalha onde trabalha e escreve estas coisas...' ou que viessem aconselhar-me a ter algum cuidado na manifestação de opiniões contrárias a certas linhas de actuação. Nem queria que, ao falar de algumas situações ou de alguns chatos que tinha que aturar em contexto profissional (e que existem em qualquer contexto profissional), pudessem parecer actos de deslealdade perante pessoas ou acontecimentos concretos. E habituei-me a este registo. Continuo a não divulgar junto da maioria dos familiares e amigos que que tenho este blog e que todos os dias continuo a vir aqui partilhar opiniões, memórias, fotografias. Parece até que sinto um certo pudor em contar. Tenho ideia que as pessoas 'normais' não escrevem tanto ou tão abertamente como eu e não quero constrangê-los, não quero que pensem que têm que ter cuidado a lidar comigo porque sou um bocado anormal.

Mas, porque me esqueço que, ao escrever aqui, posso ser identificada, alheio-me completamente e as minhas mãos voam no teclado, escolhendo as palavras que muito bem entendem. Bem sei que diariamente há cerca de duas mil e tal ou mais (por exemplo, este domingo, 5.002) visualizações. Pessoas concretas leem o que escrevo. Mas é como se fosse uma realidade abstracta, pessoas que estão por aí (vi agora que hoje, para além de uma maioria de Portugal, houve quase outro tanto do Reino Unido, mas também umas centenas dos Estados Unidos, um número significativo de Áustria, da Alemanha, do Brasil...). Para além de alguns leitores que me escrevem (e que não conheço pessoalmente), a larguíssima maioria são anónimos, desconhecidos.

E, no entanto, regularmente acompanham-me. De certa forma, justificam esta minha persistência. Sinto-me agradecida. E espantada... Têm muita paciência. Sou escalena, irregular na escolha dos assuntos, nem sempre sou bem comportada. Há muita tolerância nos que, aí desse lado, leem o que escrevo. Do fundo do coração, agradeço-vos.

Mas depois... há estas surpresas. Perguntei ao meu amigo se me poderia dizer quem era a pessoa que lhe tinha enviado o meu post. Disse um nome (vou referir apenas a inicial, V.) e acrescentou, 'minha filha'. 

Num primeiro momento, senti-me comovida. Qual a probabilidade de eu falar numa pessoa, sem dizer nome ou outro dado concreto e justamente a filha reconhecer que eu estava a falar do pai...? Logo a filha... caraças... É muito jogo... 

E, depois da comoção, fiquei estupefacta com outro aspecto. Sempre me espantei com isto: muitos leitores muito jovens. Admitindo que as pessoas quando criam a conta no google escrevem mais ou menos a idade correcta, então é com um enorme agrado que vejo que grande parte de quem me lê é gente jovem.

É o caso da filha do meu amigo. Mas se a filha identificou que eu estava a falar do pai, como percebeu ele que era eu a autora? Pois... a filha segue-me há algum tempo, sabe qual a minha formação, por sinal a mesma que a dela, e mais um ou outro tópico. Bingo. (Se há coisa que a gente gosta é de encontrar soluções mesmo quando há muitas variáveis e restrições em jogo, não é, V.?)

E, portanto, fui identificada. Não me importei nada. Pelo contrário. E tanto assim é que, ao assinalar a ultrapassagem das oito milhões de visualizações deste blog, é justamente à V. que eu dedico este valor, a ela pela sua perspicácia, a ela em nome de todos os outros leitores que, espalhados pelos quatro cantos do mundo, me aturam há tanto tempo.

A V. deve ter a idade dos meus filhos, talvez menos (como sou cusca, já googlei e já a vi: tens uma filha toda gira, I., e, pelo que li, deve ter uma pedalada intelectual que vai lá, vai... Parabéns!). Por isso, ao contrário do que costumo, que é tratar por você quem não conheço, vou tratá-la por tu. 

Afinal se trato o teu pai por tu, não ia tratar-te a ti por você, não é, V.?

Conheço o teu pai desde que éramos miúdos, V.. Sempre foi impecável, 100% impecável, muito inteligente, discreto e educado, sensível, empático. Creio que nunca nos aborrecemos um com o outro. Nem sei se alguma vez alguém se aborreceu com ele. Creio que não. Sempre o admirei. Ao contrário de mim, que sempre me achei uma despistada e efervescente de primeira, a ele sempre achei estudioso, bem comportado, meticuloso, uma pessoa com a cabeça no lugar. Saberás que participámos ambos num concurso televisivo numa altura em que, por só haver dois canais de televisão, os programas tinham outro relevo. Tempos de festa, de grande animação. Sempre fomos solidários, amigos. Fizemos também uma longa viagem por terras de África, numa altura em que, adolescentes, descobríamos a alegria de andarmos à solta, quase como se estivéssemos por nossa conta. Gratas memórias. Depois a vida levou-nos por caminhos distintos, mas agora, ao reencontrarmo-nos, sentimos que a estima ainda está viva, intacta. Quando soube do acidente, fiquei preocupada. Ficámos todos. Os amigos formam uma rede de afecto que apoia quem está a passar por momentos mais delicados. Mas no sábado já o vimos fino, alegre, em forma, e, entre nós, comentávamos como está tão bem e a grande sorte que tinha tido. Ter um acidente assim e ter escapado 'apenas' com a lesão que teve é nascer uma segunda vez.

A vida é assim mesmo, extraordinária. Reserva-nos surpresas. No caos que é a multiplicação de acasos parece haver uma curiosa ordem, uma harmonia que nos conduz a encontros virtuosos, a momentos de profunda satisfação. O teu pai, que é crente, talvez pense que é deus que nos vai encaminhando através de caminhos que nem sempre compreendemos. Eu, agnóstica, vou mais pelo milagre das inexplicações perfeitas, pela indecifrável e aleatória conjugação de arranjos e combinações que, como que por magia, por vezes convergem em inesperados e felizes encontros.

E é isto. À V. e a Todos, uma vez mais, o meu sentido agradecimento. 

E vamos continuando a ver-nos por aqui, não é?

Saúde e alegria! 

domingo, abril 27, 2025

Dia de encontros felizes

 

Já vim do Instagram onde é tudo mais na base do toca e foge. Sendo eu caudalosa como sou, vejo-me e desejo-me para poder encaixar qualquer coisa numa legenda de uma fotografia. Se faço vídeos, a maltinha cá de casa e arredores mói-me a cabeça, que aquilo não tem jeito nenhum, que ninguém faz coisas assim (ora os vídeos são longos demais, ora são malucos para além da conta).

Por isso, aqui estou. 

O dia foi muito bom. Dia de reencontros. Como sempre, mal nos vemos desatamos a falar como se tivéssemos interrompido a conversa no dia anterior. Os abraços que recebo, calorosos, são sempre aconchegantes. Espero que os que dou o sejam também. E constato como a maneira de ser das pessoas, apesar das voltas e reviravoltas da vida, se mantém. E, talvez por isso, a compreensão que havia antes se mantém intacta. As minhas melhores amigas de então continuam a ter a mesma maneira de falar, entendemo-nos como sempre nos entendemos, os gestos, os olhares, os sorrisos são os mesmos.

E depois há os romances que têm surgido. Alguns são surpreendentes, enternecedores, outros por vezes a gente percebe que são inviáveis -- mas não faz mal, o enamoramento é bom mesmo que não possam senão ser uma amizade especial e mesmo que a gente saiba que, mesmo assim, não têm grandes pernas para andar. Mas não faz mal: há coisas que são boas enquanto duram e que, mesmo que não vão acabar em casamento, um dia que acabem deixarão boas memórias. 

Mesmo quando falamos dos ausentes, é com carinho e saudade que o fazemos. Mas seguimos em frente. A vida continua. Há que saber dar valor ao que temos até porque sabemos bem que tudo é efémero, precário. Um dos 'nossos' está internado, ainda sem se saber o que tem. São médicos, sabem do que falam quando dizem que não sabem o que se passa. Ficamos preocupados. Mas o que desejamos é que, um dia destes, esteja de volta. Um outro teve um acidente que poderia ter sido dramático. Teve que ser operado, esteve internado algum tempo, ficou debilitado. Mas já está de volta, a recuperar muito bem. E sorrimos e toda a gente fica contente porque, no meio de tudo, teve muita sorte. E a boa sorte tem que ser festejada.

E, quando nos separamos, já estamos com vontade que o próximo encontro chegue rápido.

E hoje conheci a mulher de um deles, uma simpatia. E conversámos também como se nos conhecêssemos e agora até estivemos a trocar mensagens. 

A vida é muito curiosa, cheia de surpresas. Temos é que estar disponíveis. É que o comodismo tende a deixar-nos no nosso canto, como se fosse preferível estarmos sossegados, sem ondas. Mas, a mim, estas coisas mobilizam-me gostosamente. Preparo vestimentas, maquilho-me, escolho brincos. E, como estamos na onda 25 de Abril e a minha filha me ofereceu um pequeno cravo em crochet (creio que comprou na feirinha do CCB), até o levei posto como pregador (digo pregador para evitar as armadilhas da língua portuguesa).

E é isto. Quando regressei, passei pelo supermercado, depois fiz o jantar (para mim, uma coisa ultraligeira) e, a seguir, fomos fazer uma caminhada nocturna que me soube lindamente. E, entretanto, já estive a ver algumas fotografias que alguns amigos partilharam. 

Quando vinha a sair do lugar onde nos encontrámos, reparei que estavam a escrever a ementa para domingo. Vi que tinham ovas de choco. E fiquei com imensa vontade de as comer. Adoro ovas de choco, adoro, adoro. Até escrevi isso numa coisa que publiquei no Instagram. Não me saem da cabeça. Imagino-as fritas, estaladiças por fora, branquinhas e suculentas por dentro. Juro que salivo só de pensar. Caraças. 

Mas pronto, já escrevi demais. Estou com sono. Por hoje dou o expediente por encerrado.

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Fotografei estes meus hibiscos hoje. São perfeitos, lindos, exuberantes e precários.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, abril 26, 2025

Confiar em estranhos

 

Quando circulava mais, acontecia-me com alguma frequência um desconhecido começar a falar comigo e contar-me coisas profundamente pessoais. Eram situações completamente inesperadas que eu havia com atenção e respeito.

E isso parece ter-se estendido à blogosfera. Muitas pessoas têm-me escrito, ao longo destes anos, contando-me aspectos privados, alguns deveras complexos, outros muito íntimos, outros tocantes ou dramáticos. Já me aconteceu também receber apelos desesperados ou para lhes ligar por estarem no limite e não terem mais com quem falar ou para me ir encontrar com elas por estarem a viver uma situação muito complicada e não saberem com quem mais falar a não ser comigo. Nestes casos fico sempre aflita pois sei que não tenho preparação para lidar com situações limite e não quero assumir uma responsabilidade para a qual dificilmente estarei à altura.

Se eu pudesse compilar todas as 'histórias' que têm chegado até mim, quem me lesse diria que a minha imaginação é excessiva, talvez a tender demasiado para o drama, por vezes talvez delirante. Obviamente não o farei pois respeito em absoluto a confiança que ao longo de anos tantas pessoas têm depositado em mim.

Quando eu trabalhava, era frequente, quando havia alguma suspeição no ar, virem perguntar-me se eu sabia de alguma coisa pois diziam que o meu gabinete era o confessionário. Claro que, mesmo que soubesse, não contava nada -- a menos que, pela natureza da situação, me apetecesse colocar algumas achas na fogueira.

Ainda recentemente, num grupo de que faço parte, ao ter sabido da inesperada morte de uma amiga, expressei a minha surpresa e tristeza. Não sei se foi pelas minhas palavras ou se pela recordação de conversas antigas, a verdade é que, pouco depois, recebi uma longa mensagem de um amigo com quem não tinha conversas mais pessoais há anos contando-me situações da sua vida. E fiquei de queixo caído. Jamais imaginaria que ele tinha passado por tudo aquilo e que tinha desenvolvido uma 'filosofia' de vida tão adaptada a quem sente que vive no fio da navalha. Trocámos mensagens e eu estava absolutamente perplexa pela confiança que ele revelava ao contar-me tudo o que estava a desfiar. 

Muitas vezes dou por mim a pensar: porque é que isto acontece? Porque as outras pessoas percebem que me interesso genuinamente por elas? Ou que procuro compreender sem julgar? Ou por qualquer outra razão?

Claro que depois me penitencio por não conseguir desdobrar-me em mil para ter tempo para acompanhar todas as pessoas que me procuram. Tenho a minha vida, as minhas ocupações, e é impossível ter tempo para conviver, mesmo que por mail, com todos quantos têm mostrado confiar em mim como guardiã de segredos, angústias, maravilhas, sucessos, preocupações, mágoas. Faço o melhor que posso mas sei que, para muitos, isso não é suficiente. Espero que compreendam.

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Talvez por tudo isto gosto imenso de ver estes vídeos em que alguém aborda e filma estranhos e estes, sem hesitação, falam da sua vida, dos seus assuntos mais pessoais.

Jana: The Shy, Beautiful Girl in The Park


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Um dia feliz