Dormi que foi um regalo. Acordei tarde, acordei descansada.
E foi um dia bastante produtivo.
Tenho sempre muitas coisas que fazer e isso agrada-me, em especial quando são coisas que me agradam (passe a redundância). Mesmo quando trabalhava, quando não havia coisa nova e se entrava quase na monotonia, ficava stressada. De vez em quando, o Grupo comprava empresas e era preciso assimilá-las rapidamente, metê-las no perímetro de gestão das empresas do grupo (metê-las no sentido de enfiá-las, nem que fosse contra a vontade delas), organizá-las, pô-las a funcionar como as demais, e tudo em prazo recorde. Se grande parte dos meus colegas ficava em ponto de rebuçado, achando que eram prazos impossíveis, que as circunstâncias eram irrealizáveis, toda eu vibrava.
Nada me agradava mais do que ter desafios que pareciam irrealistas e equipas descrentes ou equipas que tinham que ser formadas à pressão para começarem a colaborar nesses projectos. Mesmo quando era acusada de me atravessar 'à maluca' ou me atirar para a piscina ainda sem saber se teria condições para isso, e mesmo se eu própria, cá para mim, me assustava e pensava 'caraças, para que é que me fui meter nisto...?', a verdade é que essa adrenalina era um tónico indispensável para a minha existência.
Agora, reformada, também não paro de me meter em cenas e de me atirar 'à maluca'. Gosto de arriscar, gosto de ir à luta e, apesar das derrotas (que tendo a encarar como percalços naturais), muito dificilmente desisto. Posso ajustar o rumo, posso repensar estratégias mas desistir é para mim muito difícil.
Bem. Adiante.
A meio da tarde deitei-me cá fora e pus-me a olhar para o céu. E só pensava: 'Azul'. Ou não pensava nada, simplesmente olhava. Estive ali durante muito tempo a olhar para o céu e a única coisa que atravessava a minha mente era a palavra azul. Depois reparei que, muito lá em cima, um pequeno pontinho branco se movia. Como estava presa ao 'azul' levei algum tempo a pensar: 'avião'. Mas logo retrocedi e me fixei no mesmo: 'azul'. Depois ocorreu-me que, se calhar, estava a meditar. Para a coisa ser mais consubstanciada, pus-me a fazer respirações.
No fim estava ainda mais descansada.
Depois estraguei tudo. Fui aos figos. Comi uns poucos. E isto preocupa-me pois já sei que a balança vai castigar-me. Mas é o que é. Parece que nasci mais para pecar do que para ser abstémica.
E, como habitualmente, andei a passear in heaven e, mais uma vez, me deu para fazer vídeos. Fiz dois. Mas, para não ser uma overdose de maluqueira, hoje partilho apenas um.
Um dia destes tenho que ver se é possível transformar os vídeos feitos com telemóvel em vídeos de écran inteiro. Acho que seria melhor, não acham?
Durante a noite trovejou e choveu chuva grossa embora não farta. Pelo menos, assim me pareceu. De dia, a terra continuava seca.
Durante o dia, ao passear, deu-me para fazer um vídeo pois já há muito tempo que o não fazia.
Aí falo numa lagartixa ou osga ou crocodilo, não sei, que apareceu na banheira. Disse que mostrava e aqui está ela. Mostro quando já estava a ser transportada em cima de uma pá a caminho da rua.
Ao rever o vídeo, parece que digo instagrama. Contudo, acho que disse instagram. Mas, se me distraí com qualquer coisa e deixei descair a palavra, aqui deixo as minhas desculpas.
Claro que fico sempre surpreendida com a minha voz mas tenho que me resignar. Na volta, é mesmo assim.
Mas, antes de passar ao grande momento cinéfilo, deixo a receita da sopa que fiz ontem. Quando estive no Algarve, fomos duas vezes a um restaurante vegan e, numa das vezes, comi uma sopa de curgete e ervilhas que me soube muito bem. Então, ontem, resolvi ver se conseguia fazer alguma coisa afim. Diria que sim.
Fiz assim:
Com receio de que, ao moer as ervilhas cozidas, subsistissem aquelas pelezinhas que dariam aspereza à sopa que eu queria aveludada, cozi-as à parte. Não pesei. Faço tudo a olho mas diria que uns 200 ou 300 grs. Quando vi que estavam cozidas, triturei bem. Provei. Estava tudo lisinho. Se não estivesse, coaria. Mas não foi preciso.
Na panela principal, coloquei água, uma cebola gigante (devia pesar meio quilo, pelo menos), daquelas meio novas, meio brancas. Coloquei um alho francês bem gordo, todo. Coloquei duas curgetes verdadeiramente gigantes. Só tiro a parte do pé. Não tiro a pele. Coloquei duas cenouras, também com pele. Claro que lavo tudo bem. Coloquei salsa e fui generosa. E, claro está, um pouco de sal.
Quando estava tudo cozido, juntei azeite virgem de baixa acidez. Juntei o caldo grosso das ervilhas moídas e moí tudo junto, bem, bem, bem. Garanti que ficava um puré nem grosso nem caldoso, bem aveludado.
À parte, numa mini-frigideira, juntei um dente de alho e o conteúdo de uma embalagem de bacon às tirinhas fininhas e cortadinhas. Deixei fritar um pouco, sempre mexendo para não queimar mas para ficarem com alguma agradável crocância.
Como servi directamente da panela, deitei nela, devagarinho, sobre a sopa, para ficarem a boiar, à vista, as ripinhas de bacon bem como o bocadinho de molho que se tinha formado.
Entretanto, por minha alta recreação, num tacho amplo, pus água a ferver à qual juntei um pouco de vinagre. Quando a água levantou fervura, um a um, abri sobre ela, com cuidado, 1 ovo por pessoa. Deixei escalfar.
Na mesa, ao lado da panela da sopa, coloquei os ovos escalfados numa taça e uma tacinha com coentros migados (esta dos coentros também foi minha ideia).
Quem se servia da sopa, querendo, juntava um ovo e polvilhava com coentros.
Sem falsas modéstias, direi que agradou.
Creio que é de baixas calorias e, que, com o ovo, pode constituir até refeição quase completa. Não foi o caso pois era dia de festa e tinha várias outras iguarias para agradar a todos. Comemo-la morna e estava bem. Nesta altura, não dá para sopas quentes. Curiosamente, os miúdos comeram-na sem protestarem. Soube-lhes bem.
E, agora que cumpri o tópico culinário de que ontem tinha falado, aqui vai a reportagem in heaven na qual abordo um tema assaz intrigante. Como filmei com telemóvel, ficou em formato Slim Fit.
Quando se passa na Avenida de Ceuta não podemos deixar de ver as pessoas magras, por vezes em passo apressado, outras vezes sentadas, meio ao abandono. Agora vedaram a parte de baixo das escadas que era usada para se abrigarem, drogando-se à vista de todos.
Mas não é só na Avenida de Ceuta. Há vários locais em que a triste vida dos viciados está bem à vista. Não sei como é aqueles corpos resistem a tanta provação, não sei como sobrevivem. Mesmo referindo-me a como se sobrevive emocionalmente a vidas sem afecto ou amparo, eu espanto-me. Em muitos casos, percebe-se que era quase inevitável que a vida tivesse seguido um rumo sem destino.
Não é possível salvar toda a gente até porque para uma pessoa ser salva tem que querer ser salva. Sabemos que não há recursos para acudir a todos quantos precisam mas é muito triste que não possamos ouvir todos os que caíram no vício, tratar o seu sofrimento.
Hoje tinha a ideia de vir aqui dizer como é que tinha feito uma sopa de curgete e ervilhas mas vi o testemunho de Jesse, aqui dita Sige. A forma como, muito naturalmente, diz que já morreu, impressionou-me muito.
Sije - How I Became a Drug Addict | Miami Homeless Drug Addict Interview
Por estes dias, por estas bandas. têm havido muitas festas ou encontros. As ruas enchem-se de carros e vemos os donos das casas virem à porta cumprimentar os que chegam. Hoje, numa das casas aqui em frente, todos os que chegavam vinham carregados. Não sei se seria picnic, daqueles em que cada visitante traz comida, o que é muito prático. Vi isto pois, quando ainda estávamos só nós dois em casa e eu a ler no cadeirão junto à janela, o cãobeludo estava num desatino, só a ladrar. Espreitei para ver que irritação era a dele. Quando vê movimento aqui na rua, em especial perto de nós, fica logo em modo de alerta.
Hoje soube de um caso em que, porque se juntaram cerca de oitenta pessoas numa casa aqui perto, foi pedido a cada família que trouxesse mesa e cadeiras, daquelas desmontáveis de jardim, e uma toalha branca. Não tinha pensado nisso mas, na realidade, é ter sentido prático.
Também soube que contratam sempre serviços de catering, e que entregam tudo 'quentinho'. Um amigo meu também só funciona assim e, no caso deles, não apenas contrata o fornecimento de comida como contrata louça, talheres, mesas de apoio e cadeiras. E fica lá pessoal para ir recolhendo a louça e, no fim, levam tudo e ele fica com a casa arrumada. E sem trabalho nenhum.
Eu não consigo. Neste capítulo ainda sou completamente old school que é como quem diz, bota-de-elástico. Faço tudo (com alguma ajuda do meu marido). Ainda hoje comprei quilos de carne no talho e viemos do supermercado carregados com três grandes sacos. Como este domingo vai ser casa cheia e duplo festejo, já aqui estou a programar-me para, mal me levantar, pôr logo isto ao lume e mais aquilo e mais o outro e começar a preparar as saladas e mais a de frutas e arranjar a carne e trinta por uma linha.
Há pouco, quando voltámos a ficar só os dois, saímos para fazermos uma caminhada nocturna com o nosso cão de guarda. Por aqui, há muito mais vida nas casas no período de férias ou de fim de semanas.
Por exemplo, a casa de um conhecido actor hoje estava particularmente animada. Dezenas de carros à frente da casa dele e da dos vizinhos. Só de passar ao lado sentia-se o perfume de gente jovem, bronzeada e bem tratada. E, lá dentro, uma animação. Música, risos, conversa, muitas, muitas vozes, muito movimento. O jardim todo iluminado, muito bonito. Antes das redes sociais, quando ainda havia paparazzis, festas estivais assim deviam ser pitéu a não perder. Agora já não faz sentido pois o mais provável é que muitos dos presentes publiquem fotografias e façam a sua própria divulgação.
Quero ainda falar de outra coisa, uma que não tem nada a ver com isto. Estávamos num sítio a conversar com umas conhecidas. Nisto, vimos o nosso cão, agachado no chão, a olhar fixamente para qualquer coisa mais à sua frente. Eis senão quando uma delas viu que era um passarinho ultra bebé. Claro que foi um castigo para conseguir resgatar o passarinho pois a nossa fera já estava a achar que aquilo era coisa sua.
Mas, então, uma das nossas conhecidas pegou no passarinho com todo o cuidado e pôs-se a ver de onde ele tinha caído. No entanto, na árvore por cima, um chilreio aflito, ansioso. 'É a mãe', disse ela. E, como não se tivesse descoberto o ninho, uma delas foi arranjar uma caixa pequena de cartão e conseguiu prender a caixa entre ramos para que a mãe lá fosse buscá-lo ou alimentá-lo. Fiquei comovida, rendida. As pessoas que têm cuidado e amor aos animais são certamente boas pessoas.
E hoje pouco mais tenho para dizer.
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Mas tenho aqui um vídeo que me diz muito, um tema de que antes fugia a sete pés e sobre o qual agora finalmente começo a perceber que essa atitude é um disparate. Espero que o considerem tão interessante quanto eu o achei.
Beauty of Surrender
The one unifying and undeniable fact of life is that we will all experience loss - the death of loved ones, the end of relationships, the shattering of dreams. In a society that so often tells us to ‘stay positive’ and ‘move on’, it is easy to view grief as something shameful. But what if, instead of a weakness to be avoided or a burden to be carried, embracing grief is actually a sacred invitation to heal, to grow, and to transform?
When we have the courage to feel our grief, to surrender to its depths, something miraculous happens. We begin to heal. We reconnect with our own soul, with the love and support of those around us. We find meaning in our losses, discovering that our pain is fertile soil for new growth.
So let’s not be afraid of grief. It is a fierce and loving teacher, a guide to our deepest self. Embrace it, learn from it. As the Persian poet Rumi recommends, let it crack our hearts wide open. That’s how the light of love gets in. On the other side lies a life of greater meaning and connection.
Os troca-tintas do Governo Montenegro parecem-me pueris, coisa de saloios que se acham espertos. Não se percebe ao que andam, sempre a quererem passar por autores das medidas do Governo anterior, sempre a fazerem ameaças ou chantagens ao PS não se percebe bem a que propósito, outras vezes a fazerem anúncios de cenas que a gente vai ver e são coisas para daí a um ou dois anos. Ainda não percebi se é um bando de totós ou se ainda não caíram na real. Também ainda não percebi se aquela é uma turminha mesmo de repetentes, de calinas e de broncos ou se são os maus que são tão maus que infectam toda a turma.
Mas, porque isto é tudo um bocado mau de mais, não consigo prestar-lhes muita atenção.
Por isso, a nível de televisão, preferi ver a abertura dos Jogos Olímpicos e, tirando isso, nada. Depois, estive a ver coisas relacionadas com as eleições nos Estados Unidos. E se eu não perdia o Colbert durante a administração Trump, agora voltei a não perder as suas intervenções. Fantásticas.
Ele delira com as alarveirices de Trump e tropa fandanga associada. Fica inspirado. Diverte-se e diverte-nos.
E, para ele, Kamala vai ser a próxima presidente dos Estados Unidos. Eu também acredito nisso.
Harris: We Are Not Going Back | Why Did Trump Pick Vance?
| Fox News Is Grasping At Plastic Straws
Vice President Kamala Harris is already landing effective blows against Trumpism on the campaign trail, Republicans are regretting Trump's choice of running mate, and the folks at Fox News are finding it hard to criticize Harris for her policies.
Quando nos indignamos com o populismo de André Ventura devemos ter presente que, quando não se presta, o caminho vai em crescendo e a escala da estupidez pode rebentar.
O que se passa nos Estados Unidos, com o anormal Trump e com o aberrante J.D. Vance a mostrarem onde se pode chegar, deveria ser visto e analisado com muita atenção em todo o mundo. Poderia ser um antídoto.
Claro que isso tem um risco: se aqueles duas alimárias estão onde estão é porque há muitos mais, do mesmo calibre, a apoiá-los. E gente estúpida até à milésima casa parece que só gosta de ouvir zurrar e grunhir. E quando alguém tenta demonstrar o perigo da conversa populista e violenta continuam a colocar-se acefalamente ao lado das bestas.
Se Trump, quando ficou com a orelha arranhada, a seguir se mostrou como o emissário de Deus na Terra, todo ele peace and love, mal o jogo se virou, com a saída de Biden da corrida, esqueceu-se do seu propósito e voltou a ser o cretino que sempre conhecemos.
E se ele é um parvalhão que exorbita e parece que só sabe incentivar ao medo e à maldade, que tenta despertar o que de pior os grunhos que o apoiam têm, o outro parvalhão escolhido para vice-presidente é outro que tal. Para esta dupla não há limites, não há decência, não há vergonha na cara.
Para além de pintarem Kamala Harris como uma perigosa radical de esquerda, a coisa baixou o nível a um ponto inimaginável: agora chamam-lhe gata sem filhos, mulher mal resolvida que toma conta de gatos em vez de tomar conta de filhos, alguém inapto para ocupar posições importantes. E deu-se ao desplante de enunciar outros democratas sem filhos, apontando-os com gente incapaz, quase como um lobby, o lobby de gente sem filhos que quer governar o país. Ouço isto e fico enojadíssima.
É certo que isto se passa lá longe. Mas como ignorar a relevância de quem ocupa a presidência dos Estados Unidos? Não é só a nível político que haverá um incomensurável perigo se Trump ganhar. É mesmo a nível da saúde mental de todo o mundo.
Felizmente, a mãe dos enteados de Kamala veio a público defendê-la. Mas, caraças, como é possível que haja seres humanos capazes de descerem tão baixo?
Só espero que o eleitorado decente se mobilize, derrote e humilhe esta cambada trumpista.
Kamala Harris’ husband’s ex-wife comes to her defense amid ‘childless’ attacks
The ex-wife of second gentleman Doug Emhoff defended Vice President Kamala Harris against sexist criticisms about her lack of biological children, calling them “baseless” and expressing her gratitude for the presumptive Democratic nominee.
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How Vance's bizarre family policies seem rooted in his childhood trauma
Alex Wagner looks at some of the bizarre details of JD Vance's views on families, the role of women, and the requirements of marriage, and talks with Jessica Winter, contributing editor at the New Yorker, and Sam Stein, managing editor at The Bulwark, about where he got these ideas and what they would mean for America if he and Donald Trump win in 2024.
Com sorte todos os jornalistas decentes se unir-se-ão para desmontarem as anormalidades desta gente perturbada e estúpida e que daí nasçam pequenos vídeos que inundem as redes sociais para que chegue a toda a gente a necessidade de derrubar estes desprezíveis homúnculos (ie, Trump, JD Vance e demais cambada)
Quando tirei as coisas de casa dos meus pais trouxe vários livros de saúde oferecidos por mim. Como envelhecer melhor, como não morrer, como ter um cérebro jovem, como ter um intestino saudável, qual a dieta para chegar saudável aos 100, a importância do exercício físico para uma vida de qualidade. Não garanto que sejam exactamente estes os títulos mas não devem diferir muito.
Eu queria que eles envelhecessem lentamente e bem. Para além de presentes 'normais', nomeadamente livros de ficção ou de crónicas ou outros que eu pensasse de que eles gostariam, em especial a minha mãe que lia muito mais que o meu pai (o meu pai preferia livros de cariz técnico, mesmo que a nível de saúde), eu oferecia-lhes sempre livros com 'receitas' para que vivessem muitos e longos anos.
Esses livros agora estão na estante da cave e ainda não me apeteceu ir lê-los. Talvez um dia.
Os meus pais eram muito cuidadosos com o que comiam, com o seu estilo de vida. E de facto a minha mãe viveu bem, ágil, até jovial, e aparentemente saudável praticamente até aos 90 anos. E o meu pai também viveu até mais ou menos à mesma idade, embora, no caso dele, tenha tido uns tristes últimos cerca de doze anos.
Só depois de ele ter tido o AVC quase fatal é que eu soube que ele não tomava regularmente os comprimidos que devia. Julgava ele, segundo a minha mãe depois contou, que por ter uma vida saudável estaria imune a danos maiores. Aliás, nem ele nem a minha mãe alguma vez nos transmitiram que o meu pai corria sérios riscos e que era fundamental seguir a medicação à risca. Sendo responsáveis e conscientes da importância de um conjunto de cuidados, não fazia ideia que ignoravam a necessidade de seguirem a medicação que os médicos prescreviam.
Isto porque, como tenho contado, com a minha mãe veio a suceder a mesma coisa. A minha mãe era assinante de uma revista médica, lia inúmeros livros sobre saúde e prevenção, ultimamente pesquisava imenso via google, lia todos os livros que tinha. A sua alimentação era cuidada, fazia ginástica, fazia caminhadas. Mas, também no caso dela, não quis saber de medicamentos que, para ela, eram fundamentais, nomeadamente para controlar a hipertensão. Apesar da vida saudável e de comer comida sem sal, tinha sempre tensão alta, devia ser coisa congénita. Não sei se era, se não. O que vim a saber, tarde demais, é que o facto de ter o coração sempre em esforço, provocou-lhe insuficiência cardíaca que depois também acreditou que não precisava de controlar com medicação rigorosa. Claro que, em paralelo, ter-lhe aparecido um cancro que teve um desfecho fulminante só agravou mais a grave situação dos dois últimos dois meses. Mas, no caso do cancro, provavelmente foi uma degeneração celular resultante da idade avançada.
Contudo, embora ainda não me tenha dado para andar a consultar literatura sobre doenças e como preveni-las, sou sensível à necessidade de não comer fritos ou comida puxada, à de não ingerir pouco açúcar, à de dormir bem (conquista recente pois enquanto trabalhei andei permanentemente em défice de sono), e à não ter uma vida muito sedentária.
Mas por vezes sinto curiosidade em ver vídeos ou ler alguns artigos sobre o que se sabe sobre os hábitos que talvez justifiquem a longevidade de algumas pessoas ou algumas comunidades. De tudo o que tenho lido ou visto penso que há um denominador comum: felizes são as pessoas que se mantêm activas, sentindo-se úteis, autónomas, que têm um propósito (mesmo que o propósito seja cuidar do jardim ou cozinhar), que sentem a vida não como um fardo que carregam mas como uma bênção, que se riem de gosto com elas próprias e com as suas circunstâncias.
O vídeo abaixo é mais um desses vídeos. Não que nos traga grandes novidades mas é interessante. Temos sempre qualquer coisa a aprender com pessoas assim.
Los tsimane, la comunidad de Bolivia donde las personas envejecen más lento | BBC Mundo
BBC Mundo viajó hasta el corazón de la selva amazónica de Bolivia para conocer a los tsimane, uno de los pueblos originarios más remotos del continente que destaca por una particularidad. Las personas acá envejecen más lento que otras poblaciones y sus ancianos gozan de una vitalidad excepcional, según han demostrado varios estudios científicos. ¿Cuál es el secreto de los tsimane?
Então toda a gente pode invocar a silly season e eu não? Era o que mais faltava. Silly season é bom e eu gosto.
Estou carecendo de férias e, em plena carência, resolvi levar a cabo um conjunto de coisas de que, com vossa licença, sobre algumas vou guardar segredo. O que posso dizer é o que se tem visto: ou por isto ou por aquilo ou por mil outros motivos ando ocupada e bem ocupada et pour cause tenho-me mantido saudavelmente afastada do massacre constante dos comentários sobre as notícias. Reparem no que eu disse: comentários sobre as notícias. Os omnipresentes comentários que estão a devorar as notícias. Não tenho saco. Muito menos tenho acedido a partilhar o visionamento do Big Brother CPIs. Isso ainda menos. Não há pachorra. Não me assiste.
Só tarde e más horas me sento em frente da televisão e, ainda assim, o que vejo é o que me é dado ver no intervalo dos zappings que o meu marido incessantemente faz. Tem dormido até mais tarde pelo que adormece também mais tarde. Por isso, a esta hora ainda não está a dormir: anda a fugir dos comentadores.
Poderia procurar programas lá mais para a frente, National Geographic ou assim. Mas dá-lhe preguiça e eu compreendo-o porque a mim também me dá preguiça dizer que pare com o zapping. É assim a vida.
Por isso, nestes entretantos, espreito as notícias aqui no computador e, não me interessando o suficiente por nenhuma para me adentrar no seu âmago, esgueiro-me até ao Youtube. E ai, certo e sabido, aparece-me sempre coisa que vai de encontro às minhas motivações ou necessidades, nomeadamente às de me divertir.
Hoje voltou a trazer o meu amigo Milton Cunha. Só tenho pena que ele viva tão longe. Devia vir morar para a minha rua e tornar-se meu amigo. Devia vir aqui bater um papinho todos os santos dias. E ele devia querer que eu lá fosse, a casa dele, ver as suas toilettes. Acho-o o máximo.
Milton Cunha fala sobre o troféu VEADO de OURO!
| Avisa Lá Que Eu Vou | GNT
Milton Cunha e Paulo Vieira falam tudo sobre o evento mais PROFANO cultura do CÍRIO de NAZARÉ que é a festa da Chiquita e o prêmio VEADO de OURO
Tinha a ideia antiga de visitar a Tailândia, adentrar-me por florestas, descobrir antigos monumentos quase devorados pela natureza, maravilhar-me com tudo o que encontrasse por lá.
Combinei com um grupo de amigos. O meu marido não estava receptivo. Países com culturas muito diferentes da nossa e em que os tipos de exigências que, para nós são essenciais mas que para os locais pouca relevância têm, não lhe dão confiança.
Contudo, os nossos amigos ajudaram-me a convencê-lo. Lá fomos.
Os amigos, habituados a viajar por destinos longínquos, marcaram tudo e, por isso, nem nos ocorreu pedir detalhes. Confiámos.
Contudo, quando lá chegámos, constatei que os quartos não tinham casa de banho privativa. Ora, para mim, isso é uma definitiva bandeira encarnada. Por isso, fiquei incomodada e com vontade de arrepiar caminho. Mas, claro, tarde demais.
À noite, aflita, não houve remédio: tive que me pôr na fila para as casas de banho junto à entrada do hotel. Uma fila enorme. As pessoas que, entretanto, saíam da casa de banho vinham com ar enojado, a dizerem que aquelas instalações não estavam em condições. Mas não aparecia ninguém a limpar. Eu não conseguia conceber ir usar uma casa de banho suja mas não estava a ver alternativa. Uma terrível sensação de nojo.
Mais tarde, fui até à praia. O meu marido não quis ir, disse que aquelas praias não prestavam para nada, e ficou a ler no quarto. Fui na mesma. Quando lá estava com alguns dos amigos, vimos pessoas a chegar à beira de água como se viessem a nadar de longe, vestidas. Perguntei aos que estavam comigo se seriam migrantes. Disseram-me que sim, que era normal, que não me afligisse, que apareceria alguém a ajudar. Fui a correr, parecia que aquelas pessoas precisavam de ajuda e não consegui ignorá-lo. E uma senhora, em particular, pareceu-me muito mal e tive a maior dificuldade em puxá-la, ajudá-la.
E foi isto que contei aos meus netos, ao almoço, enquanto estávamos, por mero acaso, a comer comida tailandesa. Um deles está quase a fazer anos e, antes, tínhamos ido com ele para escolher roupa a seu gosto. Depois, para o almoço, foi ele que sugeriu que trouxéssemos comida tailandesa para casa, para todos.
Ora, ao acordar, eu tinha contado ao meu marido o pesadelo que tinha tido, que me tinha feito acordar algumas vezes. Então, ao almoço, a propósito da coincidência de estarmos a comer comida tailandesa, ele disse-me: 'Conta-lhes o teu pesadelo desta noite.'
Contei. Quando acabei, todos a comermos noodles com carne ou com camarões, eu com tofu, etc, olharam para mim e perguntaram: 'Mais nada...? Foi só isso?'
'Foi. Não foi horrível?'. Eles olhavam-me com alguma condescendência: 'Não...'
E cada um disse: 'Os meus pesadelos são muito piores...', ou 'Eu sonho que tenho um monstro debaixo da minha cama, pronto para me atacar'. Outro: 'Também, sonho que vou ser atacado...' O meu marido disse: 'Isso é dos jogos e das séries que veem'. Concordaram mas isso não tirava a intensidade do susto que apanhavam.
E eu que estava ainda incomodada com o meu horrível pesadelo pensei -- uma vez mais, pensei -- que é tudo relativo.
Tive muita vontade de lhes dizer que deixassem a parte das casas de banho, que tanto me tinha incomodado, mas que pensassem como é horrível os migrantes que vão em procura de uma vida melhor, arriscando a própria vida, e como é horrível isso já ser tão normal que já ninguém presta atenção. Mas os miúdos, contentes a comerem os seus noodles com ingredientes e molhos à escolha e para quem os pesadelos piores são os dos monstros que temem que se escondam nos seus quartos, estariam receptivos a um tema destes?
Por não me parecer ser o momento adequado, passei adiante. Mas fiquei na dúvida.
Aliás, tenho cada vez mais dúvidas. O mundo é um daqueles espaços topológicos sem forma, sem contornos, em que as leis que os regem são voláteis. Um espaço assim é apelativo em termos ficcionais mas um pesadelo em termos reais.
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Entretanto, agora estou a ver televisão enquanto escrevo. Kamala Harris está em campo (e que diferença faz a sua genica...) e, por todos os motivos, desejo, muito sinceramente, que seja a próxima presidente dos Estados Unidos. Acredito que será. Há muitos americanos que são broncos até à quinta casa. Mas há muitos mais que o não são.
Se eu fosse muito rica, excentricamente rica, tentaria que algumas autarquias aceitassem instalar nas ruas esculturas que eu oferecesse. Penso que todas as autarquias deveriam proporcionar a todos os cidadãos o usufruto da arte, de preferência arte de rua (todas as formas de arte).
Tenho uma amiga escultora. Desde pequena que ela se destaca nas artes. Lembro-me das pinturas que ela fazia quando tinha doze, treze ou catorze ou quinze anos: figuras com movimento, vestuário com transparências. Enquanto todos os outros da mesma idade se esforçavam por fazer figuras minimamente credíveis, ela esforçava-se por fazer figuras com vida. Eu ficava espantada com o que saía das suas mãos. Seguiu artes, claro.
O processo criativo de alguém que imagina transformar materiais e dar-lhes um sentido ou uma forma ou um movimento ou uma emoção é qualquer coisa de mágico. Claro que o mesmo se aplica a quem pinta, a quem escreve, a quem compõe.
Gostando eu sobretudo de pintura ou escultura abstracta, fico, contudo, rendida perante quem consegue criar figuras que, podendo ser realistas, são mais que isso, são intemporais, existem para além de geografias ou eras.
A obra de Yago é assim: um assombro.
Rock star: Sculptor Jago on unveiling humankind in marble
Thirty-seven-year-old sculptor Jacopo Cardillo, better known in his native Italy as Jago, has earned a following with his contemporary approach to this classical art form, exposing on social media his process of shaping marble. When he embraced a group of teens who'd defaced one of his works, Jago won a new fan touched by his humanity: Whoopi Goldberg. Correspondent Seth Doane talked with the artist about his most ambitious project yet: creating what will be a 6-ton sculpture more than 16 feet tall.
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Quanto a Biden, pois. Não foi só o discurso que foi um acto falhado. Nem são as gaffes, os tropeços. É mais que isso. É que alguém com as responsabilidades e as exigências de cargo de Presidente dos Estados Unidos deve ter uma capacidade física e mental que dificilmente é compatível com ter 81 anos, acabando o mandato aos 86. Ser velho é respeitável, é uma coisa boa, mas a natureza é o que é. Não reconhecer isto é negar a mais elementar das evidências. É preciso saber reconhecer quando é chegada a hora de nos levantarmos da mesa. Biden não soube. E tenho pena por ele.
Hoje era para ser outra vez dia de festejo mas, porque a covid voltou a atacar a família, a comemoração foi adiada.
Quer o meu filho quer a minha filha, ao ligarem ao fim do dia, perguntaram o que tínhamos feito. Aparentemente nada e, dito assim, 'nada', temo que dê a ideia de vazio. Ora não. Foi um dia bom, muito agradável, preenchido de bons momentos.
Ao pôr-do-sol, sentada num banco de jardim que pouco tenho usado, a ler um livro de que estou a gostar bastante ('O meu pai voava' da Tânia Ganho), pensei que parece que só agora estou verdadeiramente a desfrutar o prazer de habitar esta casa.
Continuamos com os trabalhos de jardim. Dá ideia que agora que o jardim está, na íntegra, por nossa conta, é que o sentimos como verdadeiramente nosso. Olhamos em volta e há sempre o que fazer. Por exemplo, quando fui abrir a janela do quarto dito 'das meninas' vi um pássaro grande a andar ali em baixo e fiquei feliz, observando-o, mas reparei também que há, por baixo da janela, um arbusto que corta um pouco a luz. Amanhã iremos ajeitá-lo. Reparei também que há guias da glicínia que se estenderam até à armação do balouço e achei isso encantador.
Mas, ao sentir que parece que só agora estou a descobrir o grande prazer de andar aqui pelo jardim, fiquei intrigada pois a verdade é que está a fazer quatro anos que aqui moramos.
Fiz, então, o exercício de descobrir a que se devia isso.
Não foi difícil.
O primeiro ano foi o da mudança. Comprámos a casa no início de Agosto e logo de seguida, antes de nos mudarmos, a casa entrou em pinturas. Depois gastámos todas as férias com a mudança. Foi um verão estafante, estafante, estafante. Trabalhava, na altura, em duas empresas, não tinha tempo livre, não conseguia tempo para desfrutar a casa e havia sempre coisas para arrumar.
No ano seguinte, continuava afogada em trabalho, tanto mais que a pessoa com quem dividia a responsabilidade numa das empresas adoeceu, foi operada, depois fez uma bateria de tratamentos. E continuou a trabalhar salvo os dias de internamento ou os dias em que tinha exames médicos ou em que os tratamentos o deitavam abaixo. E, por sua opção, não quis que na empresa se soubesse. Por isso, desdobrei-me até mais não poder para que todos os assuntos dele mais os que eram dos dois continuassem a ser geridos sem que ninguém percebesse o que se passava. Não me sobrava disponibilidade mental para estar em paz a gozar a casa.
No ano seguinte, eu estava com responsabilidades acrescidas numa empresa que estava a atravessar um processo profundo de reestruturação e, no verão, esse meu colega, ao fazer novos exames, recebeu a notícia que mais temia: a doença tinha-se espalhado. Teve que fazer muitos exames, foi-se um bocado abaixo, e, finalmente, teve que se submeter a tratamentos muito agressivos. E continuou a não querer que se soubesse. Eu, que já tinha ideia de deixar de trabalhar, por solidariedade e amizade para com ele adiei os meus planos e desdobrei-me ainda mais, passando por períodos muito complexos, de quase exaustão (e sem querer que ele percebesse pois problemas de mais já ele tinha).
A acrescer a isso, a minha mãe, por não tomar os medicamentos que devia (sem que eu o soubesse), foi internada pela segunda vez. A seguir, ao ter alta, quis ir para uma residência assistida. Mas foi ainda pior. Regularmente eu ia buscá-la e ia acompanhá-la às consultas de cardiologia e depois levava-a de volta. Foram quatro meses terríveis pois, como não queria tomar os medicamentos, todos os dias ia ao médico da residência com toda a espécie de sintomas na esperança que os médicos suprimissem a medicação a que ela atribuía todos os seus males e, nas consultas de cardiologia, descrevia como andava a passar mal por estar a tomar aqueles medicamentos. Como eu estava com ela, ouvia o que ela dizia, o que as enfermeiras e médicos diziam, desmontava as suas intenções para que se tratasse e percebesse que, se não tomasse os medicamentos, correria risco de vida. Era para ela (e para mim) um pesadelo.
Todos os dias ela estava como estivesse em estado de emergência. Por fim, só queria voltar para casa. Falava da residência, que era um verdadeiro hotel de luxo, como uma espelunca. Queria ir para casa para não ter quem a controlasse. E voltou mesmo. Mas quase todos os dias tinha sintomas de qualquer coisa em que eu não sabia se era caso de chamar médico a casa ou levá-la ao hospital. De início eu ia buscá-la e trazia-a para minha casa mas ultimamente já não queria, arranjava mil desculpas. Por vezes lá assumia que tinha medo que os miúdos a contagiassem. Nessa altura, ela já sabia o que estava a miná-la por dentro mas nós não. Pensávamos, na família, que sofria de ansiedade e de hipocondria (em relação a doenças e a efeitos secundários dos medicamentos) e convencemo-la a ter sessões com uma psicóloga mas não descansou enquanto não deixou de ir.
Por isso, esses tempos foram para mim tempos de permanente intranquilidade. Em momento algum eu sentia paz de espírito. No final do ano passado, o seu estado de saúde agravou-se e o desfecho acabou por ser tristemente rápido (se calhar, felizmente rápido) mas, pelas razões de que aqui falei algumas vezes, foi, para mim, um processo traumatizante, angustiante.
Depois de tantos anos a sofrer o lento declínio da saúde do meu pai e sempre a recear o desfecho que esteve tantas vezes iminente e depois destes tempos de ansiedade e angústia pelo estado da minha mãe, não foi imediatamente que consegui tirar de dentro de mim o estado de ansiedade e medo que vivia permanentemente dentro de mim. Ainda agora, se me falam em ir a algum lado, involuntariamente acontece-me pensar que é melhor não, para não estar longe, não vá acontecer alguma emergência. Só depois me ocorre que esses meus medos já não têm razão de ser. E muitas vezes me vem à cabeça a preocupação em que eu sempre andava sem saber se alguma evolução nos sintomas aconselhava a cuidados médicos imediatos. Só depois penso que já não faz sentido sentir essa preocupação. Nessas alturas, sinto uma grande tristeza ao pensar que é tão estranho que a minha mãe, que tanto gostava de viver, já não exista.
Mas, enfim, aos poucos estou a conseguir assimilar que os meus pais, em especial a minha mãe que era uma presença constante na minha vida (por ser a cuidadora do meu pai e por ultimamente ter sofrido uma alteração tão abrupta na sua maneira de estar que tantas preocupações me trouxe), já cá não estão, já não estão doentes, e que, por isso, já posso viver mais tranquila.
E talvez por isso agora dê por mim a sentir-me admirada por sentir uma paz de espírito tão boa. Estou no jardim, olho para a copa das árvores, olho para o céu, ouço os pássaros, e sabe-me tão bem, tão, tão bem, estar aqui sossegada, a ler, a desfrutar o prazer deste jardim tão bonito, tão tranquilo.
Parece que, finalmente, estou a aproveitar a minha reforma, estes belos dias de ausência de turbulência profissional e em que os meus pais, libertos do seu corpo humano, também estão em paz.
E isso é muito bom.
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E porque do prazer de estar em casa falo, penso que pode fazer sentido partilhar o vídeo abaixo sobre uma casa muito bonita em Melides, em que se sente que por ali paira uma grande serenidade. A casa tem uma decoração simples e, ao mesmo tempo, requintada, recorrendo a artigos de artesanato, alguns dos quais portugueses.
Inside Carolina Irving’s Coastal Retreat Secluded on Portugal’s West Coast | Design Notes
Carolina Irving welcomes us into her romantic retreat in an unspoilt coastal region of Portugal. When Carolina purchased the property nearly 15 years ago, there was barely one wall left standing from the previous structure. She accepted the challenge, undaunted, and has created a home that is perfectly compact, where nothing is unaccounted for.
Not simply a weekend pied-à-terre, Carolina’s house had to function as a year-round escape from her home in Paris — for herself, her partner, French documentary producer Bertrand Devaud. Watch the full episode of ‘Design Notes’ as we tour Carolina Irving’s Portuguese home from home.
Como vem sendo hábito nos últimos tempos, não li ou ouvi notícias até ter agora ligado a televisão (e é quase meia noite) e isto não é nada mau. Nem espreito no telemóvel nem vejo notícias durante o almoço. Abstinência quase absoluta.
Para além de idas às compras ou ter ido com o lovely dog ao tratamento e de termos feitos as nossas duas caminhadas diárias, e para além de preparar as refeições e etc. sobretudo estivemos de roda do jardim. Como estou numa onda libertina, receptiva a desbastar fortemente alguns arbustos, o meu marido está nas suas sete quintas. De forma inédita, temos estado alinhados na abordagem à coisa e a verdade é que, fruto disso, o jardim parece estar a ganhar uma nova vida. Estou encantada. Já olho para cima a ver se há mais que possa ser cortado. A quantidade de ramos e de grandes folhas (como, por exemplo, as do filodendro que está gigante) que têm sido cortadas é inenarrável. O jardim agora respira, há novos espaços, mais luz.
A alegria que isso me dá é difícil de explicar.
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Agora, ao 'ligar' o youtube, apareceu-me o vídeo abaixo em que Lídia Jorge explica como uma bolsa que lhe foi atribuída pela Fundação Gulbenkian. Confesso que não sou fã da escrita de Lídia Jorge mas acho que é uma pessoa empenhada, franca. E a sua casa algarvia é bem bonita.
Mas, a seguir, ao pesquisar, fiquei a saber de outras histórias de vida em que a bolsa Gulbenkian foi identicamente determinante. Partilho convosco pois há assuntos dos quais nem sempre nos lembramos e, na verdade, como é relevante que quem tem uma vontade intrínseca e não tem meios para a cumprir possa receber uma ajuda. Uma bolsa, nestes casos, é uma alavanca que pode mudar uma vida.
Histórias de Vida: Lídia Jorge
A premiada escritora Lídia Jorge fala-nos da importância que a atribuição da Bolsa Gulbenkian teve no seu percurso pessoal e profissional, destacando as suas passagens por Angola e Moçambique, que influenciaram decisivamente a sua escrita.
Histórias de Vida: Pedro Tochas
A História de Vida do multifacetado ator, comediante, malabarista (e até palhaço!) português que, como Bolseiro Gulbenkian, foi estudar para a Academy of Circus Acts & Physical Theatre, em Bristol.
Histórias de Vida: Marcelino Sambé
Marcelino Sambe, bailarino principal no Royal Ballet, em Londres, conta-nos a sua História de Vida. Antigo bolseiro Gulbenkian, Sambé fala-nos do seu percurso pessoal e artístico e conta-nos como surgiu a Dança enquanto interesse profissional. Conheça neste vídeo esta fascinante história!
Histórias de Vida: Manuel Cargaleiro
A História de Vida de um dos mais reconhecidos artistas plásticos portugueses, em Portugal e no Mundo, também bolseiro Gulbenkian, que divide os seus dias entre Lisboa e Paris.
Tenho tido uns dias daqueles, já aqui contei. Mas há uma que ainda não contei.
O nosso cãobeludo, temível fera que nos defende contra tudo e contra todos, é, na realidade, um serzinho que fica infeliz e altamente carente quando não está connosco.
Estivemos fora, umas belas férias a sul, e deixámo-lo no que nos pareceu o melhor lugar possível e onde já tinha ficado quando estivemos no País Basco, por alturas da Páscoa. Na altura, não fomos nós que o levámos e parece que não correu mal de todo.
Desta vez, fomos levá-lo e ele, quando viu que ia lá ficar e que nós nos estávamos a ir embora, ficou num desconsolo, a atirar-se às redes, a chorar, um desatino.
De vez em quando, a dona do hotel canino mandava-nos vídeos a dizer que ele ainda estava tímido mas que estava bem. Mas o que eu via era um cãozinho triste, a olhar para o lado, sem interagir, ignorando a pessoa que falava com ele enquanto o filmava.
Depois disseram que ele estava com alergia no peito. Estranhámos. Alergia a quê?
Quando o fomos buscar fiquei impressionada pois vi logo que estava nervoso, ansioso, desfigurado, parecia que tinha os globos oculares para fora e as orelhas todas para trás, coladas à cabeça, parecia que estava sem orelhas.
Ficou doido de alegria ao ver-nos e, aos poucos, fisicamente normalizou. Mas estava reactivo, ansioso, diferente do habitual.
Ontem, por causa do estado em que tinha o peito, já fomos ao veterinário (horas! como em tudo nestes últimos dias, horas de espera, horas, horas, um desespero...!) e o que nos disse que é que deve ter sido stress, que deve ter ficado com o sistema imunológico reduzido, lambendo-se e criando sensibilidade e irritação na pele. E agora, como coça o peito, já está em ferida, e todo encarnado escuro.
E tem que aplicar um produto mas, reactivo como está, mal nos vê com o medicamento na mão, começa a rosnar, a fazer dentinhos, e, claro, foge. Se o queremos prender para lhe aplicar aquilo mostra com aviso sonoro e os enormes dentes que é prudente não nos arriscarmos. Portanto, não melhora.
O veterinário disse que tínhamos que lhe pôr um colar isabelino. Só que o problema maior agora é coçar-se e isso não vai resolver-se com o colar. E aquele funil de plástico enerva-o, incomoda-o, anda a bater com aquilo em todo o lado. Ora, com os stresses todos por que têm passado, não queremos estar a sujeitá-lo a ainda mais essa.
Como se não bastasse o pobre bichinho já andar stressado e incomodado com o peito em ferida, ontem de manhã, quando o meu marido foi caminhar com ele, foram surpreendidos com um cão gigante à solta que correu para cima da nossa ferinha. Tendo um tamanho muito maior que o nosso, saltou-lhe para cima e pô-lo de rojo pelo chão, a mordê-lo nas costas e no pescoço. O meu marido tinha-o pela trela e tentou separá-lo mas claro que teve a maior dificuldade. Gritou por socorro mas não apareceu ninguém e pensou que a besta gigante ia matar o nosso fofo bichinho. Depois, não tendo como afugentar o outro, que ladrava e rosnava e mordia o nosso, viu um contentor de lixo vazio e conseguiu dar-lhe um pontapé para cima do cão. Entretanto apareceu um senhor que abriu o portão para o meu marido entrar e, com o contentor ou com o facto de apareceu esse senhor e depois mais outro, o meu marido lá conseguiu puxar o nosso e fechar-se no jardim do senhor.
Finalmente o outro foi-se embora e o meu marido lá conseguiu sair e vir para casa. O meu marido vinha um bocado transtornado e o nosso cãobeludinho vinha encharcado da baba da outra fera horrível e vinha assustadíssimo. Deitou-se, encolhido, sem se mexer. Felizmente, e milagrosamente , não ficou ferido. Foi o pelo que o salvou. Com pelo curto, teria ficado desfeito. Mas se não ficou rasgado, ficou certamente dorido, traumatizado.
Mas, portanto, se passou pelo stress de se ver abandonado pelos seus adorados donos, agora passou pelo stress de ser atacado por uma besta gigante.
Liguei para a polícia. Pensei que iriam tentar apanhar o cão. Contudo, passada para aí hora e tal, tocaram-nos à campainha. Três polícias armados, com a artilharia toda à cintura, perfumados e simpáticos. pediram a identificação do meu marido e a do cão com o respectivo boletim de vacinas. Quanto ao cão à solta, admitiram que já não o achariam e disseram que, se ainda estivesse à solta, teriam que resgatá-lo e que seria uma situação complicada. Portanto, lá se foram.
Hoje fomos comprar um bastão de caminhada para levarmos pois servirá, pensamos nós, para tentar afugentar um possível agressor. Claro que se eu estiver com eles, será mais fácil pois estar a segurar a trela de um cão a ser agredido tentando protegê-lo não deixa muita margem para, ao mesmo tempo, manobrar um bastão.
Mas, portanto, tem sido isto.
Quando vínhamos de comprar o bastão e de comprar umas coisas no Leroy, ainda parámos no supermercado para trazer um frango assado e taboulé pois já ando sem energia, já não me apetecia ainda pôr-me a cozinhar.
E agora, ao estar aqui a escrever isto, adormeço de minuto a minuto. Dá ideia que estou a precisar de férias desta sucessão de maçadas, de não ter ralações em cima umas das outras, de poder estar sem nada em que pensar, sem ter que ir a lado nenhum.
Mas adiante.
O meu marido tem andado a dar volta ao jardim. Arrancou um arbusto seco, depois estivemos os dois a podar e a dar um jeito engraçado a um outro arbusto, estive a cortar ramos desnecessários num outro. Agora o jardim está mais amplo, mais arejado, mais bonito. Dá ideia que finalmente o jardim está a ficar mais a nosso jeito, e isso agrada-me muito, nada que se compare com quando cá andavam os pseudo-jardineiros.
No meio de tudo há sempre momentos bons e isso é que é preciso.
Pois é. Continuo cheia de afazeres e, em todo o lado, a ter que esperar horas para ser atendida. Chego a um sítio e está um cliente com um funcionário em cada balcão ou secretária. E assim ficam, os mesmos, por mais de meia hora, se não mesmo uma hora. Não sei se as pessoas andam carentes e vão confraternizar para os espaços de atendimento ao público. Fico possessa, apetece-me ir mandar vir, insultar, desafiar as pessoas a irem conversar para outra banda. Depois respiro fundo, interiorizo que não ganho nada em estar enervada, forço-me a ser zen. O tempo passa, ninguém se despacha, sinto-me a desesperar e eu nada, caladinha. Por vezes penso que, em situações assim, seria normal que alguém se passasse, desatasse aos berros, aos pontapés, puxasse pelos cabelos os clientes que se sentam a conversar na maior das calmas. Avalio se poderia acontecer isso comigo. Concluo que não, sou demasiado atada para dar escândalo, não tenho voz para gritar de forma que imponha respeito. Ainda me saía um gritinho de falsete que pusesse toda a malta a rir à gargalhada.
Hoje, antes de mim, entrou uma figura. Primeiro estive sem perceber se era um binário ou uma não-binária. Não estou a gozar, estou a falar a sério. O ser estava vestido de uma forma bizarra. Tudo em branco, uns calções largos abaixo do joelho, uma blusa branca, larga, de alças, com uma abertura nas costas e com um capuz. E um penteado que não dá para acreditar, empeçado, ripado, uma ponta para cima, outra para baixo, outras para o lado, cada ponta de seu tamanho, e como se contivesse carradas de laca ou, então, sujidade. Quando se virou, pareceu-me que seria um homem novo ou, então, uma mulher jovem em processo de transição. Ou vice-versa. Ou poderia não ser nada disso e estar simplesmente maquilhad@ ou, então, nem sei bem dizer. Uma figura que, vistas bem as coisas, até tinha a sua graça. E tinha uma argola no nariz e piercings variados numa das orelhas. E por todos os braços, costas, peito e pescoço, tatuagens de monstros, caras assustadoras como se a gritar, de boca aberta, algumas com sangue a escorrer dos dentes. Quando ficou, de novo, de costas para mim vi que tinha tatuada no pescoço a palavra humanoid. Tinha um ar infeliz. Fiquei intrigada. O que estava aquele ser a fazer ali? Claro que não se pode concluir nada pela aparência mas, fazer o quê?, uma pessoa, mesmo sem querer, tem preconceitos. Quando se virou de novo, fiquei com a impressão que é alguém conhecido aí do mundo artístico. Ou, quiçá, do mundo dos influencers.
Quando chegou a vez, dele temi que fosse uma alma atormentada à procura de amparo e que tão cedo não desamparasse dali. Afinal não, nem um minuto, pelos vistos tinha ido ali ao engano. Lá se foi, cabeça baixa.
Mas com isto e com aquilo, a verdade é que, nos últimos três dias, tenho saído de casa de manhã, regresso de tarde, e hoje, como havia outros compromissos, ainda foi pior. Eram para aí umas oito e tal, talvez nove da noite, enfiei-me na banheira para um duche a pensar que estava mesmo a precisar de me refrescar e de me sentar a descansar. Eis senão quando o meu marido apareceu à porta a perguntar se íamos fazer uma caminhada. A minha vontade foi dizer que nem pensar, que não conseguia. Mas depois lembrei-me que ainda não tinha andado, que se calhar até me saberia bem caminhar ao lusco-fusco.
E assim foi. Soube-me bem, sim senhores.
Conclusão: jantei às dez da noite. E, para vossa informação, o meu jantar foi:
Salada de alface, cenoura ralada, um pêssego cortado aos bocadinhos, sementes daquelas que se compram para saladas, queijo fresco de cabra, tudo temperado com orégãos e com azeite. E fiquei bem. Para sobremesa, um pequeno quadrado de chocolate preto.
Portanto, como poderão compreender, não tenho nada a dizer sobre o Montenegro, sobre o Estado da Nação, sobre a legionella que se alojou na Presidência ou sobre a covid que veio atrapalhar ainda mais o Biden. E não tenho nada a dizer simplesmente porque não tenho informação, só tenho sono.
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E como, uma vez mais, o post padece desta pobreza franciscana, para tentar que não vão daqui com vontade de reclamar o preço do bilhete, partilho uma conversa que tem bolinha no canto não porque o tema seja cabeludo mas porque aquele ali não levou pimenta na língua quando era pequeno.
Mas, agora que escrevi que o tema não é cabeludo, estou aqui a pensar que é cabeludo, sim. Aliás é, até, chifrudo.
Vade retro Satana.
Antonio Tabet tentou SALVAR a Jéssica na entrevista de emprego! | Que História É Essa, Porchat?| GNT
Continuo nas minhas aventuras burocráticas. Uma amiga, quando teve que tratar de assuntos resultantes do falecimento primeiro dos pais e depois da sogra, chegou a um ponto em que, de cada vez que tinha que ir a repartições, conservatórias ou afins, dava-lhe vontade de chorar. Sentia-se impotente, à mercê, derrotada.
Assim estou quase eu.
Pela terceira vez de ir ao mesmo sítio, primeiro porque a pessoa, a única habilitada a tratar daquilo, não estava, segundo porque, tendo eu levado todos os documentos que li nas instruções, segundo a dita pessoa entendida, ainda faltava mais um. Hoje lá me apresentei de novo carregada de todos os documentos possíveis e imaginários. De facto estava tudo mas, azar, a minha situação não estava actualizada no sistema pois estou reformada e ainda não o tinha actualizado lá (pois não fazia a mínima ideia que tinha que fazê-lo). E, para a dita pessoa proceder a essa actualização, tinha que ter um comprovativo. Podia ser a declaração de rendimentos para efeito de IRS. Ora como é que eu ia ali ter isso comigo...? Não tinha, não é?
Comecei por me sentir rasteirada, agredida. Mas não me deu para chorar, deu-me para ficar furiosa.
Depois de grande e assertiva negociação, lá consegui que avançasse com o processo, garantindo-lhe eu que lhe enviaria o documento por mail. Não queria, não podia fazer uma coisa sem ter ali o comprovativo, e isso bloqueava todo o processo.
Horas, horas, horas.
Segundo ela são regras novas para garantir isto e aquilo e aqueloutro e que também há cada vez menos pessoas, anda toda a gente pressionada, com muito trabalho, não conseguem ter cabeça para ajudar as pessoas como deve ser.
Uma desgraça. Para tudo o que não é banal e que não se consegue fazer online (porque há coisas que têm que ser presenciais), estamos no mato.
Por fim, lá acreditou que lhe enviaria o documento mal chegasse a casa e lá avançou com o assunto.
Um desgaste...
Depois, à tarde, em casa, ao querer fazer uma operação bancária banal e que requeria códigos e tretas e que me enviariam mais um código por mensagem no telemóvel, não recebi a mensagem. Depois de várias tentativas (com a sessão a ir abaixo de cada vez que passavam mais uns minutos, por razões de segurança), liguei para o número que lá indicavam. Fui atendida por uma voz que se anunciou pelo nome, uma assistente virtual. Pediu que eu dissesse o que queria. Disse devagar mas a gaja (vou chamá-la assim pois a burra deu-me conta do juízo) percebeu outra coisa. Várias tentativas, em que fui dizendo de maneiras diferentes ('Não recebo mensagem no telemóvel', 'não recebo código por mensagem', etc) e a estúpida a perceber tudo ao lado. Por fim, em novo telefonema, resolvi outra abordagem: 'Quero falar com um funcionário'. E ela 'Não percebi o seu pedido, diga outra vez'. Repeti. Desta vez a gaja teve outra abordagem 'Digite o NIF'. Lá digitei e ela 'agora diga devagar o que pretende'. E eu: 'Falar com pessoa'. E de cada vez que me pedia que repetisse eu dizia: 'Falar com pessoa'. Por fim, lá disse que ia transferir para um assistente. Quando me apareceu um ser humano do outro lado senti uma alegria que não imaginam. O problema é que as mensagens estavam a ir para o spam das mensagens de telemóvel e o rapaz lá me disse como confirmá-lo e como des-spamizar aquele número. Simples... mas o que desesperei para que me aparecesse uma pessoa de verdade para me ajudar...
Eu não sei para onde é que estamos a caminhar mas pode acontecer que um dia tudo ou quase tudo esteja entregue a bots e a tretas que nos façam a vida negra. Queremos que alguém nos ajude a fazer uma coisa simples e não conseguimos chegar a esse alguém porque, pelo meio, temos uma máquina que nos barra o caminho e nos leva ao desespero.
Tirando isso, só posso dizer que, ao pé disto, andar a fazer de ajudante de jardineiro é uma felicidade. O meu marido anda com a máquina corta-relvas e eu vou recolhendo a relva cortada que se junta no depósito e levo-a para a horta. Até lhe disse que poderíamos começar a oferecer os nossos serviços de jardinagem à vizinhança. Ele ocupava-se dos trabalhos mais pesados que requerem maquinaria mais pesada (cortar a relva, serrar ramos de árvores, desbastar sebes) e eu do trabalho menos nobre e mais miúdo, varrer, despejar lixo, amparar as trepadeiras. Não achou graça.
E ainda houve outro aspecto positivo. Pensava que de manhã, levando a papelada todíssima, me despacharia cedo. Como surgiu toda aquela confusão, acabei por me despachar tarde. No caminho para casa pensei que o melhor era irmos comprar qualquer coisa para o almoço. Ele ficou no carro e eu fui numa corrida. Vi umas sardinhas vivinhas da costa e não lhes resisti. Mas depois pensei que ir assá-las talvez não. Então lembrei-me de fazer caldeirada de sardinhas. Bolas... que bem cheirava... Ficou mesmo boa.
Fiz assim:
Comecei por escamar bem as sardinhas. Não pode haver escamas numa caldeirada. Não tirei as tripas pois acho que ajudam a dar um sabor mais encorpado.
Descasquei batatas daquelas de casca roxa. Lavei tomates. Descasquei cebolas e cenouras.
Num tacho largo coloquei no fundo as duas cebolas grandes às rodelas grossas. Por cima, coloquei tomate maduro, talvez uns cinco. Por cima, duas cenouras grandes às ripas (Usei cenouras pois as cenouras cortam a eventual acidez dos tomates). Por cima, as batatas às rodelas grossas. Coloquei um pouco de sal. Por cima as sardinhas. Por cima destas, uns bons bocados de pimentos. Depois, mais dois tomates maduros às rodelas. E, para finalizar, salsa em quantidade generosa. E mais um bocadinho de sal. No fim, tudo bem regadinho por azeite.
Tacho tapado e lume ao máximo. Quando começou a ferver, baixei o lume. Passado um bocado (não sei bem quanto, no mínimo uma meia hora) espetei as batatas. Já estavam macias. Desliguei e deixei o tacho tapado, a apurar.
Pois digo-vos que estava mesmo saborosa. Colocámos umas fatias de pão de Rio Maior no prato e servi a caldeirada por cima, com o caldo. Não pus água nenhuma, o caldo era só os sucos dos próprios ingredientes.
Mas, com tudo isto, não tenho conseguido pegar num livro nem escrever nem sequer tirar um cochilinho. Mas, pronto, todos os males fossem estes. Haja saúde. E boa disposição.
Hoje o dia foi daqueles. Muita a coisa a tratar, muita burocracia, os serviços lentos, reduzem-se pessoas, tudo fica complicado, perdem-se horas. Cansam-me estas coisas. Almocei perto das 5 da tarde e não fiz algumas coisas que, para mim, eram prioritárias.
E acresce que estamos na era dos caranguejos. Dantes era o meu pai que começava. Agora já sou eu, É verdade, Filo, é verdade. O tempo passa e a gente soma e segue. E, enquanto for assim, está-se bem. Venham eles que a gente cá está para os pegar de frente.
A seguir a mim vem o meu filho e depois vem um dos meus netos. E logo de seguida chega uma avalancha de leões.
E isto é a vertente boa, convivial e festiva.
Mas depois, no meio de tudo, deixámos de ter jardineiro. Era uma luta que eu travava. Só faziam o que queriam e não percebiam patavina de jardinagem. A missão deles, na óptica deles, era limpar as folhas secas e aparar a relva. Ponto. Porque eu lhes pedia, podavam uma sebe de buganvílias mas faziam-na à bruta, sem pitada de competência, ou seja, de uma maneira que nunca conseguia florir. Quando lhes pedia para apararem a cameleira não faziam ideia do que era a cameleira 'É melhor a senhora vir dizer qual é para não ter como errar". Quando pedia para cortarem os rebentos ladrões de um arbusto, perguntavam: 'Ah é? Quer, é? Então, sim, a gente corta.'. Se eu não dissesse, por eles não viam o que tinham que fazer. Ramos velhos que mereciam corte, era coisa que não lhes despertava qualquer interesse. Trepadeiras a avançarem para cima do telhado, correndo o risco de levantarem as telhas era matéria transcendente que parecia não lhes despertar a mínima preocupação. Para eles, isso não estava dentro do âmbito. E, se faziam uma coisa, já não faziam outra. Depois era semanas em que iam de férias e se, na semana seguinte, o dia calhasse a um feriado e, ao todo, na prática ficassem 1 mês sem cá pôr os pés, por eles não havia problema. E a gente a pagar. E o ano passado quiseram um aumento de 20%. Protestei, a inflação não era nada disso. Este ano, vieram com aumento de 10%. Protestei outra vez. A inflação nem 5% é, como um aumento de 10%? Respondeu que não se fiava nos números da televisão, que ele é que sabia o preço das coisas e os aumentos que os 'meninos' pediam, não eram cá os da televisão, mas, se não quiséssemos, não haveria problema, ficávamos amigos. E clientes não lhe faltam. Não gostámos. Estávamos fartos e aqueles modos foram a gota de água.
Portanto, o assunto agora está connosco. Mas parece que até está melhor. Aquela sebe de buganvília está linda, toda florida, nunca a tinha visto assim.
Mas tivemos que ir comprar um corta-relvas. E já combinei que amanhã temos que levar o escadote lá para fora pois há uma trepadeira cujas guias estão soltas em vez de seguirem por onde devem. O meu marido protesta, claro. Por vontade dele, cortava tudo a eito pois é quase como os jardineiros-estouvados que se estavam nas tintas para tudo o que é jardinagem propriamente dita. E o filodendro, gigante, está com os troncos descaídos tal o peso, temos que pôr uns paus a segurá-los. O meu marido diz que aquilo é um peso grande demais para nós dois conseguirmos fazer isso. Mas acho que temos que tentar.
Também tinha uns vasos que estavam raquíticos. Claro que regar vasos ou tratar das flores dos vasos era coisa totalmente fora do radar dos pretensos jardineiros. Podiam os vasos estar com plantas secas ou cheios de folhas velhas que eles não estavam nem aí. Comprei adubo líquido e tenho posto na água do regador e a verdade é que já começaram a espevitar.
No outro dia, quando estive a falar com a anterior proprietária da casa, constatei que ela já tinha despachado os jardineiros dela, diz que de jardineiros não tinham nada, que o marido se passou com eles, que agora é o marido que trata sozinho do jardim. Não eram os mesmos que os que vinham cá mas pela descrição pouco diferiam.
Mas, enfim, é mais um trabalho. No outro dia, na piscina, uma colega sugeria que eu fizesse uma horta, que plantasse legumes, dizia-me ela que os tomates, as alfaces, as cenouras, etc, que consome são todos da sua horta. E já nem falo no meu filho que, volta e meia, sugere que tenhamos capoeira com galinhas. Mas nem pensar. Galinhas que têm que ser alimentadas todos os dias e que nos impediriam de sair de cá e uma horta a cuidar, regar, apanhar ervas daninhas e caracóis...? Em abstracto é lindo. Legumes e ovos e tudo biológico... Mas qualquer dia estávamos escravos de afazeres em cima de afazeres em cima de afazeres. Não... Quero sossego. Ambiciono algum descanso. Ando com vontade de escrever... mas querem acreditar que há não sei quanto tempo que não tenho tempo...?
Quando me perguntam o que é que tenho feito até fico sem saber o que dizer pois a verdade é que toda a gente pensa que os reformados são gente ociosa, sem nada que fazer, velhinhos especados em frente da televisão. Mas a verdade é que eu não paro, parece que não tenho tempo para nada. Hoje saí de casa de manhã, regressei perto das cinco, esgalgada de fome. Depois tomei banho, passeámos o cão, voltámos a sair, regressámos tarde. Ontem à noite tinha pensado que de tarde conseguiria sentar-me em frente ao computador e conseguiria escrever qualquer coisita. Sim, sim. Népias.
Devo dizer que tenho vivido dias felizes. Com os que me são mais queridos juntos, todos bem dispostos, a conversa a fluir de gosto, todos em volta da mesa, com a casa cheia, com a maluqueira nocturna que me fez rir de gosto, com o madrugar bem mais cedo do que me é habitual, com a alegria de todos... sinceramente, a nível pessoal, não posso querer mais.
De vez em quando lembro-me do que disseram e dou por mim a rir sozinha.
Todos têm a sua vida pessoal e profissional (ou escolar), certamente todos terão, de quando em vez, os seus contratempos e preocupações. Mas, como por magia, quando nos encontramos todos, parece que os problemas perdem relevância e a ninguém lembra falar de maçadas.
Estou boa do meu pé. Quase boa. A nível visual está praticamente normal. Claro que, quando olham, ficam um bocado enjoados pois acham-no esquisito. O dedão (e arredores) está a perder a pele. Mas a mim isso não me incomoda nada. Também ainda tem umas manchinhas escuras mas nada de mais. Também já mexo razoavelmente o dedo. Dói-me ainda um pouco mas já não me tira o sono e, na maior parte do tempo, nem me lembro de tal coisa. E da tendinite do ombro que me causou rigidez também já estou quase a cem por cento. Vou eu fazendo uns exercícios e a coisa está a ir ao sítio. Só aqui é que me ponho a falar nisso. Quando estou com a minha turma nem me lembro das chatices que tive nem do que ainda sobra delas.
Claro que, no meu íntimo, sinto saudades da minha mãe e faz-me muita impressão que tenha sido uma presença tão constante na minha vida e que, como que por artes mágicas, em pouco tempo, se tenha despido de matéria. Era alguém tão presente e agora é apenas memória. E já passaram quase seis meses. Por vezes, parece-me impossível. E no outro dia o meu pai faria anos e, no entanto, ao mesmo tempo, parece que já não existe há imenso tempo, quase como se já não pertencesse à minha vida actual. E não pertence. Mas a verdade é que pertenceu até 2020.
O tempo tem o seu lado cruel, a vida tem o seu lado de traiçoeira.
Mas forço-me a manter estes pensamentos no lado adormecido da minha mente. E consigo que isso coexista com a minha alegria em estar viva e rodeada por aqueles que tanto amo.
E depois há as pequenas coisas. Infra-mínimas. Mas que me dão prazer, me motivam, me animam.
Por exemplo: estava com o cabelo comprido que geralmente apanhava em rabo-de-cavalo, muitas vezes dando-lhe uma reviravolta ao alto, para cima. Mas andava com vontade de o transformar. Então hoje, há bocado, fiz assim: estando apanhado num rabo de cavalo alto, como é costume, meti-lhe a tesoura e lá vai disto. Ou seja, agora, depois de cortado, dá para o apanhar na mesma, à tangente mas dá, e, curiosamente, ficou com um escadeado bem curioso. Saiu um monte de cabelo, ficou muito mais leve, e acho que não ficou mau de todo. Ainda lhe dei mais umas duas ou três tesouradas à frente para fazer um degradé mais harmonioso. Já não vou à cabeleireira há anos e fico com pena pois gostava dela e espero que as restantes clientes sejam mais fiéis do que eu. Mas isto de ter a liberdade de fazer coisas assim, na base do 'lá vai disto', faz-me sentir muito bem.
A outra coisa pertence à mesma categoria, a das frioleiras: andava com vontade de usar vestidos compridos mas nada me agradava pois não sou bem o género de intelectual de esquerda daquelas que usam saias compridas, largas e desengraçadas, nem sou exactamente o estilo hippie. Não estava a ver-me como uma maria-pendona. Mas também não queria usar vestidos que parecessem de noite, muito menos de baile de finalistas. Portanto, mantinha-me no classicismo das calças, dos vestidos pelo joelho, e, numa versão mais estival, calções brancos com blusinhas coloridas. Mas finalmente dei o salto. Encontrei o género de que gosto. A minha filha ofereceu-me um, que me assenta de uma forma superconfortável e com o qual gosto mesmo de me ver. E eu comprei os outros. E sinto-me tão bem... Há um que ainda não estreei mas sobre o qual estou com uma boa expectativa: cai como seda, suave, muito leve, é justo em cima mas alarga um pouco para baixo, é super decotado à frente e atrás, de alcinhas finas, e é em cor de coral com pavões gigantes de alto a baixo naqueles tons verdes e azulões. E, para conjugar, tenho um brinco, um único, com uma pena nos mesmos tons. Penso que vai ser exótico e isso agrada-me.
E toda a vida usei brincos discretos. Poderiam ser coloridos e adaptados às toilettes mas nada de exuberâncias. Contudo, andava com vontade de ter brincos ousados, coloridos, incomuns. E descobri-os. Estou mesmo feliz com eles. A ver se amanhã os fotografo para vos mostrar pois acho-os especiais e, sobretudo, os pais da criadora comoveram-me e apetece-me transmitir-lhes o meu carinho.
E ainda mais uma: chapéus. Adoro chapéus. Mas sempre me fiquei por modelos que me parecessem elegantes mas discretos. Provavelmente as pessoas discretas já os achariam algo destacados mas, para mim, estavam aquém do meu gosto intrínseco. Pois vi um que imediatamente chamou a minha atenção. A minha filha, ao vê-lo na loja, disse que todo ele é, em si, um statement. De facto. E não fujo a isso. Mas, ainda assim, receei que fosse demasiado aparatoso. Contudo, acabei por não resistir. Acho-o um espectáculo e sinto-me mesmo feliz quando o ponho. (Não é este. Este aqui ao lado é um que encontrei via google)
Quando era adolescente gostava de modelos originais e de me maquilhar e os meus pais zangavam-se, não queriam que eu desse nas vistas, diziam que não tinha idade para isso. Depois, pela minha profissão, tinha a noção de que não deveria mostrar-me a tender para o radical ou para a desalinhada (até porque era acusada disso). Agora já não tenho que provar nada a ninguém nem tenho que recear as opiniões alheias. Não que me preocupasse com isso mas, enfim, vivia o meu dia a dia integrada numa realidade em que as fugas à regra tendiam a ser mais ou menos vistas como perigosas excentricidades.
Claro que para coroar o bolo só mesmo uma cerejinha a enfeitá-lo: durante a semana fomos, por duas vezes, almoçar a um restaurante veggie. Não me tornei e acho que não me tornarei veggie mas a verdade é que gostámos imenso. Comemos agora muito menos carne, preocupamo-nos cada vez mais com uma alimentação equilibrada e saudável. E o meu filho ofereceu-me um conjunto de alimentos biológicos, saudáveis, e isso agrada-me e atrai-me bastante.
Portanto, apesar de não estar a ir para nova, a verdade é que me sinto cada vez mais disponível para procurar e acolher novidades e para me libertar das poucas peias que já tinha.
Ao mesmo tempo que a maltinha do quarto dos rapazes fazia toda a espécie de tropelias contra a maltinha do quarto das meninas (sendo que hoje, por escassez de camas nos quartos usuais, o mais novo dormiu no quarto das 'meninas' -- mas, obviamente hoje não chamámos ao quarto o quarto das meninas senão ainda ele se recusava a dormir lá), no meio de risotas, barulhos indistintos e até de puns (dos quais, como sempre, ninguém se acusou), e enquanto eu tentava pôr ordem nas camaratas, estava Trump a ser bafejado pela sorte de ter levado um raspão na orelha, dando-lhe a oportunidade de se mostrar como um valentão.
Quando reentrei na sala, estava o meu marido a apontar para a televisão para eu ver o tratante de punho erguido, parece que a dizer Fight! Fight! enquanto o sangue lhe sujava a cara e enquanto os apoiantes se levantavam a aplaudi-lo.
Parece que, no meio disto, mataram uma pessoa, creio que a polícia terá atingido o suposto atirador. Só espero que não tenham tirado a vida a algum inocente. E agora li que talvez tenham morto duas pessoas.
E, assim, enquanto Trump recebe este impulso que vai granjear-lhe muito mais intenções de votos, Biden vai-se arrastando, sem dar mostras de compreensão de que está mais do que na hora de se retirar. Só espero que os democratas consigam reagir de forma assertiva para contrariar a vontade de Biden se manter na corrida e para encontrarem um candidato forte, capaz de desmontar a palhacice de Trump.
Que mundo mais estúpido, este.
[Entretanto, por aqui, num dos quartos já se dorme. Espero que os restantes 'hóspedes' também estejam quase pois parou a bagunçaria e a risota e já só ouço bocejos. É que, na sequência de um dia preenchido e bem animado, já são mais do que horas de descansarem...]
Como deve ter dado para perceber, tenho estado fora.
Dormi outra vez mal pois o pé desinfectou e desinflamou, está agora com uma mancha escura e algumas crostas e pele a cair, sobretudo no sítio em que estavam as bolhas, mas agora dói-me; mas é uma dor de tipo inflamação da articulação. Está um bocado rígido e doloroso. A médica tinha dito que tinha que se atacar logo 'até porque está mesmo em cima da articulação...'. Como andava com o pé um bocado de lado, pois custava-me assentá-lo, devo agora estar a pagar as favas da questão posicional. Nada de mais mas o suficiente para me dificultar o sono. Ora eu passo mal com défice de sono.
De qualquer forma, depois de uns belos dias de praia (a ver se um dia destes conto qual a praia e a terra que, se calhar, se posiciona no pódio das praias algarvias, na volta até no 1º lugar. Não conto hoje pois estou perdidésima de sono), foi dia de regresso.
Voltámos hoje à tarde e fomos directamente buscar a fera ao hotel em que tinha ficado. Portou-se mal e, tal o estado de ansiedade em que ficou, até parecia desfigurado, parecia que tinha os olhos projectados para fora, esbugalhados, e as orelhas, pelo contrário, encostadas para trás, até parecia que as não tinha. Estranho, transfigurado, hiper reactivo. E está com uma alergia na barriga que a senhora nos disse que poderia ser da relva ou do stress.
Ficou feliz, exuberantemente feliz da vida, da vida quando nos viu, parecia que estava a ser resgatado do inferno. E, no entanto, aquele 'hotel' em que estava é um luxo. Mas afastar-se de nós é para ele um pesadelo dos piores.
A seguir fomos dar uma voltinha com ele e, claro, tal como nas vezes anteriores, fez não sei quantas vezes cocó. Tal como os meus netos que vêm da escola sempre aflitos pois não gostam de fazer cocó na escola, assim esta nossa pequena fera. Vem de lá e mal se apanha no campo é fazer cocó umas vezes a seguir a outras.
Depois fomos ao supermercado pois vamos ter casa cheia e tínhamos o frigorífico com pouca coisa. A seguir fomos à farmácia comprar produtos para o tratar.
E ainda fomos fazer uma pequena caminhada junto à praia e buscar sushi para o jantar.
Depois, em casa, foi desarrumar as malas (devo confessar que vieram bem mais carregadas do que foram pois embora eu tenha começado por dizer que não queria nada mais, não precisava de nada mais, que nada de nada, acabei por trazer mais um fato de banho, mais um chapéu, mais dois vestidos, mais uns brincos e uns anéis e etc), arrumar os sacos do supermercado, tomar banho, etc. E isto já tarde, tarde.
Conclusão: mal pousei aqui no meu querido sofá, apaguei. Acordei estremunhada, a sentir que deveria era arrastar-me para a cama. Mas como tenho esta necessidade de não acabar o dia sem vir aqui dar um arzinho da minha graça, aqui estou.
Tenho coisas para contar, coisas bonitas para mostrar ,mas tem que ser quando estiver acordada... Por isso, sorry mas este é mesmo um post que não é post...
Cheguei há pouco e, ao ligar a televisão, constato que meio mundo está em bicos de pés à espreita, a ver se Biden consegue chegar até ao fim sem voltar a chamar Putin a Zelensky ou se consegue manter o rumo da conversa, sem se enfiar por algum beco sem saída.
Começou agora e parece que vai bem lançado. E fico contente pois custar-me-ia bastante vê-lo passar pela humilhação de se ver perdido em palco ou com o olhar parado sem saber onde está.
Seja como for, faz muita confusão que os democratas não tenham resolvido a tempo e horas este embaraço de ter um candidato de 81 anos, necessariamente a precisar de descansar mais e, de vez em quando, já com alguns bugs, a fazer frente a um trafulha encartado.
Os investidores começam a tirar-lhe o tapete mas a mulher anda a fazer comícios atrás de comícios para convencer a malta que o marido ainda está vivinho da silva. E eu não percebo. Se eu chegar à idade deles, alguma vez eu quereria que o meu marido andasse a sujeitar-se a canseiras, a esgotamentos, a confusões...? Não. Haveria de querer que ele gozasse os seus últimos anos sossegado, em serenidade, longe de situações embaraçosas. Ou, se fosse eu a presidente, alguma vez eu andaria a impor a minha presença mesmo quando todos os anteriores apoiantes mostrassem reservas sobre a minha integridade mental? Não. Só se já estivesse senil.
Entretanto, Biden acabou a sua intervenção e está a responder a questões. E vai bem, está seguro e com a cabeça no sítio. Até ver não se espalhou. Mas, caraças, como estará daqui por um ano, daqui por dois...? Se, quando está cansado fica em estado de estupor catatónico, ficarão os States (e o mundo) seguros? E os eleitores, receando isso, não se encolherão e não abrirão o caminho a Trump?
Faz sentido um homem de 81 anos com o prestígio que ele tem estar a sujeitar-se a mil perguntas sobre a sua capacidade mental...? Todas as perguntas andam à volta da sua forma física e mental, todas. E ele, coitado, ali está a tentar demonstrar que está rijo como um pero e que, por natureza, é um sempre-em-pé.
Até pode estar bem, razoável, mas... caraças... com um patife populista, mentiroso e perigoso como Trum pela frente, é esta a melhor muralha que os democratas têm para erguer?
Não sei.
O mundo anda um lugar muito bizarro, parece que dia após dia nos deparamos com coisas ilógicas.
Enfim.
A ver se amanhã mostro umas coisas bonitas. Hoje não pois ficariam aqui desenquadradas.