terça-feira, outubro 31, 2023

A casa de Bella Freud, filha de Lucien Freud, neta de Sigmund Freud
(para ver se me redimo de vos maçar, outra vez, com os meus problemas...)

 


Estou um pouco esgotada. E o 'pouco' é, claro, uma maneira de dizer. Já passei por tanta crise, tanta situação difícil, por vezes por dentro de situações limite que nunca esperaria viver, e nunca me senti tão exausta e sem saber como dar a volta às coisas como agora.

Ao longo de toda a minha vida, mesmo no meio de furacões ou terramotos, sempre me mantive relativamente serena, com a perspectiva do que fazer para escaparmos o mais incólumes possível. Sempre reconheceram em mim a característica de não perder o pé, não perder o rumo, não perder o sangue frio, não perder o optimismo. Por vezes, eu própria me questionava se isso não seria sinónimo de inconsciência.

Pois, neste momento, isso não acontece.

Quem me veja a lidar com a situação talvez ache que, apesar das circunstâncias, consigo manter o racionalidade, a tranquilidade. De facto, tento manter a argumentação, tento convencer, tento aguentar as coisas, tento mostrar-me calma. 

Mas, por dentro, sinto-me quase derrotada, pois todos os dias, várias vezes durante o dia, sou submersa pela mesma onda, sempre a mesma onda, cada vez mais forte, cada vez mais alta. Como se eu não tivesse dito nada antes, como se antes não me tivesse esgotado em explicações, em argumentações, como se não lhe tivesse feito a vontade e falado com médicos, uma e outra vez, ido a consultas, etc. Sempre a mesma conversa, as mesmas queixas, o mesmo choro, a mesma postura, a mesma respiração de quem está muito mal, e as mesmas reivindicações, a mesma atitude que, sinceramente, já não sei se é genuína ou se é também uma (talvez inconsciente) manipulação para tentar levar-me a fazer exactamente tudo o que quer (e digo isto pois sintomas que eram gravíssimos, insuportáveis, no dia seguinte, por milagre, já desapareceram dando a vez a outros, ou desaparecem se falo com os médicos conforme ela queria, embora no dia seguinte possam reaparecer, já que os médicos nunca dizem o que ela quer ouvir). 

Por mais que lhe evidencie que nada disto faz sentido, que nos últimos tempos isto repete-se diariamente e que a resposta que obtém de todos quantos a examinam é sempre a mesma, não se convence. Ninguém presta, ninguém sabe, ninguém quer saber, nem quem a examina e, certamente, nem eu.

Hoje foi a um outro médico, um que não tinha nada a ver com nada disto, mas a quem, inacreditavelmente, foi contar a mesma história, recorrentemente contada, a de que os medicamentos estão a acabar com ela. O médico, certamente pensando que isto não tem sido objecto de não sei quantas idas a médicos e urgências, disse que ela devia pedir uma segunda opinião. E, então, a seguir, a conversa era esta, a de que este médico tinha aconselhado isto e que era isto que se devia fazer. Ora isto como se já não tivesse pedido mais de umas vinte opiniões. 

Quando, já exausta, lhe digo que, em vez de andarmos nisto, nesta insanidade, se ela quer deixar de se tratar, que tome ela essa decisão pois, como já constatámos, nenhum médico lhe retira ou altera a medicação pois é a indicada (todos o confirmam). E, se os médicos o dizem, não sou eu, que não sou médica, que vou fazê-lo.

Nessa altura, aconteceu o que acontece também frequentemente: que ela não quer fazê-lo, eu é que percebi tudo mal, eu é que não presto atenção ao que ela diz, que eu é que invento coisas. 

E não saímos disto. 

Porque, de facto, o que se passa é que anda obsessivamente a arranjar sintomas e argumentos para justificar que, com carácter de urgência, continuemos a tentar descobrir um médico que faça o milagre de a pôr vinte anos mais nova, sem necessidade de qualquer medicamento. Ora como não sei onde descobrir tal médico, vou continuar nisto. 

Os meus filhos dizem-me que não ligue, que não me deixe abalar. Dizem-me até que lhe diga que não quero falar mais de doenças ou que, se é para continuar com a mesma conversa de sempre, não estou disponível para isso. Ou seja, acham que não devo alimentar a conversa pois é um loop do qual não saímos. Mas é impossível fazer o que sugerem pois ela chora, simula que mal respira, queixa-se de tudo como se estivesse numa fase terminal, sendo que os sintomas, como já aqui referi, vão literalmente da cabeça aos pés e, segundo ela, tudo indicia uma coisa de gravidade extrema. Ora, perante este cenário, como é que posso dizer que não quero falar mais disto? Até porque sei lá se é a pancada de sempre ou se, algum dia, está mesmo doente. 

Hoje voltei a perceber que o que queria mesmo era voltar a ser internada para ser examinada  em contínuo, todos os dias, exames integrais, de todo o tipo. Mas isso não existe, não vou chegar às urgências e dizer um disparate destes. Então fica num desespero como se eu não quisesse que se soubesse o que tem para poder tratar-se como deve ser.

Receio, sinceramente, dar em maluca com isto. 

Mas, enfim, hoje tinha resolvido não falar deste mesmo tema, ninguém tem que estar a levar com coisas tão chatas. Mas como a última cena foi mesmo há pouco e como estou deveras apreensiva sem saber como resolver esta situação, voltou a sair-me esta prosa... 

Garanto que amanhã não vou reincidir... Já dou com cada seca aos meus filhos... Era o que faltava terem vocês que estar também a ser sacrificados. 

Não falo no meu marido pois ele assiste diariamente a esta crise permanente, cada vez mais aguda, cada mais consecutiva, e, portanto, não o massacro a relatar o que se passa pois ele, coitado, também anda a passar por ela. E se, por um lado, é adepto do que os meus filhos dizem, que não devo alimentar a conversa, pois acha que se eu me recusar a falar sobre o mesmo de sempre talvez ela acabe por 'atinar', por outro, percebe que é praticamente impossível, concretizá-lo. Talvez algum psicólogo saiba desviar a atenção de alguém que obsessivamente se alimenta destes medos. Eu não sei. Mas já andou uns meses numa psicóloga e não descansou enquanto não a largou, achando-a incompetente, com conversas parvas que não levavam a lado nenhum. Por fim até ficava quase agressiva quando eu lhe recomendava que lá voltasse.

Bem. Calo-me já. Caraças. Peço mesmo desculpa. Vou arranjar um automatismo para, se um dia destes me der para voltar a falar do assunto, um martelo automático entrar em acção em cima das minhas mãos.

Nem eu já me aguento... Sorry.

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Para ver se me redimo, vou partilhar um vídeo em que Bella Freud (que aparece nas pinturas lá em cima), filha do pintor Lucien Freud (com quem aparece na fotografia aqui mesmo acima) e bisneta de Sigmund Freud, mostra a sua casa e fala do pai. Tem peças interessantes e até tudo muito engraçado.

Está legendado mas algumas palavras, na tradução, saem um bocado ao lado, há que dar o devido desconto.

Inside this Designer’s Eclectic London Home Filled With Sentimental Objects | Vogue

Cult fashion designer Bella Freud's west London abode is filled with playful details that speak to her eclectic circle of friends and collaborators. While taking us throughout the home, Bella talks about her late father, her great grandfather (the legendary Sigmund Freud), shows off a mini golden replica of Nick Cave's hand, and more.


Desejo-vos um dia bom
Saúde. ânimo. Paz.

segunda-feira, outubro 30, 2023

Domingo de chuva. Bem bom.

 



Em dia felizmente mais tranquilo. Consegui que a acalmia me tirasse um pouco do peso da inquietação que tem vindo a alojar-se em cima de mim.

Choveu que deus a deu e continuo a gostar muito de dias assim. Não apenas gosto de estar em casa a ver a torrente a cair sem parar como não desgosto de andar pelo campo enquanto ela cai. 

Quem frequenta a natureza sabe como as terras estavam ressequidas e precisadas de hidratação. E as bacias hidrográficas ainda precisam de muito mais. Portanto, que venha ela que bem falta faz.

Claro que, para fazermos as nossas caminhadas, escolhemos os momentos em que ela abrandou. 

Tudo molhado, a caruma ensopada, muitas poças de água, muitos líquenes, os cogumelos a rebentarem do chão. E o urso felpudo doido de alegria, a procurar as poças para passar por elas, a beber água, a cheirar tudo, de um lado para o outro, sem querer perder nada.

Fomos a meio da manhã e fomos agora ao fim da tarde, aliás já noite cerrada. 

É verdade. De manhã, acordei outra vez com barulhos. Desta vez não ouvi escadas a serem desdobradas mas não consegui identificar o que era. Como durmo com as janelas do quarto abertas e uma dá mesmo para o lado do jardim em que estão as árvores, qualquer coisa que ali se passe ouve-se logo. 

Portanto, levantei-me, abri a janela para averiguar. O dog, que estava na rua, pôs-se logo de pé, as patas dianteiras apoiadas no peitoril. A dar ao rabo e a rir, todo contente por ver a sua julieta a assomar ao balconete.

Afinal era o meu marido que estava a serrar os ramos mais grossos de entre o monte que ontem resultou do desbaste, para aproveitar a lenha, e a atar os ramos finos para serem levados para compostagem. Como lhe pedi encarecidamente para não se pôr a desbastar as árvores enquanto eu estivesse a dormir, fez-me a vontade. E não se apercebeu que o barulho da serra e do podão nos ramos que estavam no chão também iriam acordar-me. Enfim...

Mas, pronto, paciência. Também já eram horas de acordar.

Antes de irmos fazer as nossas caminhadas, entre duas intensas cargas de água, fomos até à árvore que está junto à vedação da entrada. 

Com as ramagens a pingar, o meu marido encavalitado na escada, cortou mais um conjunto de ramos, formando mais um grande monte. E ficou outro tanto por cortar. Mas não só esta árvore é muito aberta não sendo fácil chegar aos ramos mais afastados como é difícil arranjar apoios para a escada. Temos que avaliar bem a situação.

Só que depois voltou a chover intensamente e tivemos que nos recolher. 

Hoje estivemos só os dois. Os dois mais o urso cabeludo, claro.

Parte da família esteve a ver um dos jovens futebolistas a jogar (à chuva) e outra parte andou em tarefas relacionadas com arranjos em casa. Ambas as partes também com os meninos em estudos. 

A minha mãe, depois da pesada crise da véspera, felizmente esteve mais descontraída o que, naturalmente, me deixa a mim mais descansada.

Do lado dos meus amigos chegaram-me notícias de estragos feitos por um cachorro ou de aventuras culinárias. Até do lado deles foi um dia muito tranquilo.

Só mais uma coisa: não sei se contei que por aqui têm aparecido umas coisas que saem da terra. Parecem bocados das raízes das árvores que aparecem à superfície. Mas, quando pisamos, sentimos que aquela matéria não é tão dura como a madeira das raízes. Se formos com uma daquelas pás pequenas e escavarmos, arrancamos e são bolas, compactas, rijas. Serão sensivelmente do tamanho de ovos mas esféricas. Suponho que sejam cogumelos mas a verdade é que não parecem nada cogumelos. Serão trufas? Não faço ideia. Mas há montes dessas bolas estranhas a rebentarem da terra.

E, por hoje, é isto. De guerras ou outros problemas não tenho cabeça ou disposição para falar...

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As fotografias foram feitas este domingo. 

Lá em cima, Luísa Sonza, a bonita e talentosa jovem de cuja existência só hoje soube através da minha filha, interpreta Chico.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira.

Saúde. Esperança. Um milagre. Paz.

domingo, outubro 29, 2023

Desbastar árvores.
Tentar controlar exacerbados medos (alheios)

 

Estava ainda na cama, comecei a ouvir um barulho. Claro que a essa hora o meu marido já estava levantado há não sei quanto tempo, já tinha regressado do seu passeio matinal com o urso felpudo. 

Apurei o ouvido. Percebi que estava a trazer qualquer coisa da cave.

Depois ouvi abrir a porta da frente. E um ruído metálico. Depois ele a dizer à fera que se desviasse.

Estremunhada, um sino tocou na minha cabeça. Ia desbastar as árvores do jardim junto à entrada.

Num salto, apeei-me da cama e, à trouxe-mouxe, enfiei uma roupa qualquer. Num ápice, estava fora de casa

Já ele tinha desdobrado a escada, já estava encavalitado, lá em cima, em acção, com serrote e podão de cabo extensível.

Concordei que fosse podar aquela profusão de ramos pois as duas árvores estão gigantes, compactas, não deixando passar o sol e impedindo o desenvolvimento da relva por baixo. E provavelmente a falta de sol ia atrofiar a magnólia. Mas não quero é que ele faça isso sozinho. Primeiro, receio que a escada resvale ou que ele resvale e que eu não esteja para acudir. Depois, receio que corte o que não deve pois, estando lá em cima, no meio dos ramos, perde a perspectiva e pode cortar a eito. Acresce que há uma trepadeira que dá flores muito bonitas que se suporta nos ramos da árvore. Por isso, não se pode cortar nenhum ramo em que ela esteja presa, senão é para a desgraça.

Portanto, andei a ajudá-lo, não só apontando para os ramos que podiam vir abaixo como, depois deles cortados, puxando-os e arrastando-os para um monte.

Foi mais de uma hora, talvez mais de duas, não sei, de volta daquela árvore. Ainda podia tirar-se mais uns quantos mas já não são alcançáveis com a escada.

Talvez este domingo se trate da outra árvore.

Este é o tipo de coisa que gostamos os dois de fazer: desbastar árvores. 

Sempre gostei embora na base da cabeleireira. Aparar, cortar umas pontas, com um gentil podãozinho. Batia-me por elas quando o meu marido queria reduzi-las a metade do volume, de serrote e podãozão em punho. Mas agora já percebi que, se não tentamos conter a natureza, ela acaba por nos devorar. E, com sensibilidade e bom senso, as coisas podem parecer em estado natural e, ainda assim, estarem sob controlo.

Claro que este foi o momento levezinho pois houve também o momento denso com a minha mãe. Nada de diferente dos outros dias. Mas uma pessoa chega a um dia em que parece que atinge o limite das suas capacidades.

Não consigo perceber se ela sempre foi como é agora, embora tivesse mão em si própria (e, portanto, fazendo com que não nos apercebêssemos), ou se está mudada. Não consigo perceber. Os meus filhos acham que está mudada, dizem que a avó não era assim. Eu não estou certa disso. O que sei, e disso tenho a certeza, é que o medo que tem de estar doente e o medo de não estar cabalmente diagnosticada, associado ao medo de fazer os exames como deve ser e, sobretudo, tudo potenciado pelo medo de tomar medicamentos, dão-lhe cabo da cabeça a ela e a mim. Por mais exames que faça, acha sempre que ainda não foi devidamente avaliada. Ou acha que os médicos não prestam. E, sempre que lhe receitam alguma coisa, faz de tudo para não tomar os novos medicamentos. E faz de tudo, mas tudo, para convencer toda a gente, nomeadamente os mil médicos a que já foi, que os medicamentos que está a tomar a deixam mais doente do que se não se tratasse. Isto apesar dos exames todos demonstrarem que não tem nada a não ser a doença para a qual está a ser tratada.

Como também tem medo de tomar ansiolíticos, fica muito difícil de lidar com a situação (difícil, muito difícil, para ela e para quem lida com ela, nomeadamente, eu).

Tantas vezes, tantas, tantas, parece estar muito mal, convence-se que está muito mal, transmite-me e mostra-me que está nas 'últimas' e tantas, tantas, tantas vezes não é nada -- e, mal se distrai ou abstrai, fica como se nada fosse --, que fico sempre a achar que é mais uma das suas crises exacerbadas. Mas receio que um dia seja a sério e que eu erradamente desvalorize. Mas, quando estou nesta preocupação, passado um bocado já ela está noutra. Noutra... pois, logo de seguida, já está outra vez muito, muito mal, mas com um outro sintoma.

Hoje disse-me que os meus tios é que têm sorte de ter uma filha médica pois assim a minha prima sabe sempre avaliar o estado de saúde dos pais. Pois. Infelizmente não posso fazer nada para resolver essa pouca sorte dela. Não apenas não tenho conhecimentos médicos como, além disso, ela não liga patavina ao que eu digo. Por vontade dela, para ultrapassar as minhas limitadas competências, todos os dias eu pegava nela e levava-a para as urgências. 

Muito complicado. 

De facto, nunca pensei que se transformasse desta maneira. Não quer fazer tricot ou crochet, diz que não tem paciência, diz que nada na televisão lhe interessa, não pega num livro, não conversa de outra coisa que não das suas doenças. Em cima disso, sabe de cor as bulas dos medicamentos, pesquisa no google tudo sobre doenças ou tratamentos e... fica com todos os sintomas que lê. 

Desperdiça estupidamente estes seus anos. E, por mais que a tentemos convencer a tratar-se da ansiedade, não quer, irrita-se comigo, fica furiosa: acha que está tão mal, fisicamente tão, tão mal, e eu, insensivelmente, a desvalorizar. Isto apesar de todos os médicos lhe dizerem o mesmo. Mas depois acha que eu é que influencio os médicos. Por mais que lhe diga que não falei nisso aos médicos, não acredita.

(Enfim, é o que é. Escuso de para aqui estar nesta lamúria porque é o que é. Além disso, acho que só que quem passou por isto é que consegue perceber como é.)

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A conversa hoje está pouco animada, não está...?. E eu não gosto de vir para aqui chatear os outros com as minhas minudências. Por isso, pedindo-vos desculpa pela conversa, bora mas é lá dançar.

Play by Alexander Ekman


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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Ânimo. Paz.

sábado, outubro 28, 2023

Uma sexta bem preenchida mas muito curta

 

Acordei com uma dor num dos pulsos. Não sei se dormi em cima da mão dobrada, se quê. O meu marido perguntou se não poderia ser da mudança de tempo? Questionei o ChatGPT se a mudança de tempo influi nas articulações. Pensava eu que me ia mandar dar uma volta ao bilhar grande com uma pergunta tão antiquada. Afinal, os antigos é que têm razão. Influi, sim senhor. Pode a diferente pressão atmosférica ter efeito na pressão interna nos líquidos sinoviais ou coisa que o valha, 

Subsistiu a dúvida sobre a mudança de tempo pois creio que tem estado igual, instável. Fomos passear para a praia e estava uma humidade tal, nem percebíamos se estava a chuviscar, se era o mar que estava a pulverizar-nos, se era, simplesmente, a humidade ambiente.

A minha mãe perguntou se esta dor incomodativa e inexplicável não será da ginástica em suspensão que é bem puxada. Não sei, creio que não. Contudo, no fim, na altura dos alongamentos, repuxamos os dedos e a própria mão e, na volta, também pode ser isso.

Mas não interessa.

Esteve cá hoje a anterior proprietária da casa. Admira-se sempre com o ímpeto das coisas. Nunca na vida tinha visto a árvore das limas de tal forma carregada. Tantas que não se sustêm, caem que se fartam.

A cameleira alta que ela nem estava a perceber. 

A árvore grande, que veio da Madeira e da qual não sei o nome, deixou-a pasmada, nunca imaginou que, em tão pouco tempo, crescesse desta boa maneira. 

Depois não reconheceu aquela que a minha amiga me ofereceu e que designava por árvore da baunilha até perceber que, afinal, é uma borboleteira. Não conhecia. Expliquei-lhe o que era e que ia dar florzinhas tão lindas que atraíam as borboletas.

Como sempre, vejo que tem pena. Diz que o seu novo jardim não tem nada a ver com este. E eu disse-lhe que também gosto muito dele e que, se fosse eu a fazê-lo, não ficaria tão bom com está. 

É sempre um vendaval de energia e boa onda. Estou-lhe muito agradecida. Foi ela e o marido, em conjunto com a irmã, que conceberam esta casa em que vivo. Escolheram o desejo, os materiais, tudo. E agora vivo cá eu. E parece que a casa foi feita para mim. Acho isto uma coisa fantástica. O acaso, a sorte. Poderíamos não ter vindo ver a casa quando estava à venda, poderiam os valores ser incomportáveis, poderiam mil coisas ter acontecido. Mas tudo convergiu. No caos que é a miríade de possibilidades desta vida, de vez em quando acontecem acasos virtuosos. Este foi um deles.

Diz que, para a próxima, me vai trazer um frasquinho de doce. Muito simpática.

Perguntou-me como tenho ocupado o meu tempo. Perguntou se tenho pintado. Não sei porquê, sempre achou que sou artista. Contei-lhe tudo o que tenho feito, incluindo que me deu para escrever a ver se um dia acontece o milagre de uma editora querer apostar em mim. Ficou admirada, disse que isso era uma coisa fantástica, que ela também gostava de ter uma ocupação assim que a motivasse a sério mas que não sabe a fazer o quê, que, para escrever, não se ajeita.

E, não sei como, entre isto, aquilo e o outro, e conversas e telefonemas, o dia passou-me sem eu dar por isso. Quando dei por ela era de noite e ainda não tinha feito algumas coisas que tinha querido fazer. Às sete já tinha anoitecido. Quando agora mudar a hora, será às seis. E isso é um bocado chato. Mas, enfim, todos os males fossem estes.

Tirando isto, só coisas ainda mais irrelevantes que as acima referidas.

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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Boa onda. Paz.

sexta-feira, outubro 27, 2023

O fascínio das raízes e dos frutos

 

Há uma qualquer disfunção entre mim e a Covid, seja na forma de doença seja na forma vacinal. A maior parte das pessoas que conheço que têm covid ou levam a vacina passam por ela de fininho. Eu, quando tive, fiquei a dormir e com um sono macaco durante meses. Agora é com a vacina. Ontem à noite uma soneira. Hoje ainda não dormi de dia, até porque não pude, mas tenho estado todo o dia sem gás, sem pilhas, o corpo a pedir-me cama e sono.

Para além disso ,dói-me um bocado o braço onde a dita me foi espetada. Cheguei a pensar que não estava em condições de ir para a piscina dar o corpo ao manifesto. Mas fui e lá me aguentei. Também pensei que não iria aguentar uma caminhada. Mas lá me aguentei. E até me soube bem. Caruma molhada, cogumelos, cheiro a pinheiros molhados, a erva verde. Oxigénio bom.

Resisti a isso. Mas teve consequências: as pilhas esgotaram-se mais um pouco.

Em contrapartida, o meu grupo de amigos esteve muito activo durante o dia: muita picardia, muita brincadeira. Assisti sem ter força para intervir. Como muitos são médicos, há sempre muita diversão em torno disso. Já aquela minha amiga médica que morreu sem ninguém perceber que estava a morrer (já falei aqui nisso algumas vezes pois fez-me muita impressão) passava a vida a enviar anedotas e cartoons sobre médicos, sobre doentes, sobre gaffes médicas, etc.

É isso e gays: não há quem diga mais anedotas sobre gays do que os gays. 

Mas acho isso saudável. Uma pessoa não se levar demasiado a sério dá saúde. As piores pessoas que, até hoje, conheci são as que se acham o máximo, que desprezam os outros, que não têm nem compaixão nem tolerância nem sentido de humor. Pessoas assim são intragáveis.

E, por falar em saúde: parte da família está constipada. Ou isso (que com tanta evolução já nem sei distinguir uma constipação das outras coisas) ou virose. Ou resfriado. Tanto dá.

Felizmente, até ver, tenho escapado. E deixa cá bater três vezes na madeira senão já sei no que vai dar. Durmo de janela aberta para sentir o frio que chega da rua, em especial de madrugada. Como a persiana fica mal corrida, entra a penumbra e a luz e o frio e os sons da chuva e da noite. E durmo apenas com uma fina mantinha (para além do lençol, claro). O meu marido abomina sentir o ar frio da rua e, por cima da fina mantinha, tem uma grossa mantona e, se necessário for, ainda uma outra. Tudo do lado dele. Eu não aguentaria, morreria assada de calor.

Mas já estamos naquela época do ano em que, quando vou para a cama, lá para as duas ou mais da manhã, me é confortável encostar-me a ele. Aqueço num instante.

E agora está a dar um programa fantástico na RTP 2, Raízes e Frutos. Uma raridade. Quem não viu e puder pôr a andar para trás, sugiro que o faça. Muito bom. Dizem coisas extraordinárias. E simples. E há imagens incríveis. Um fascínio.

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Grandma’s Hands | Kori Withers and Friends | Live Outside | Playing For Change

In celebration of Bill Withers' birthday, we invite you to experience music that will ignite your soul with this amazing, heartfelt Live Outside performance at Mark’s Park by Kori Withers and Friends, in a tribute to her father, performing a rendition of his beloved classic, "Grandma's Hands." Kori’s connection to the song is palpable, carrying the legacy and spirit of her father's music with grace and power.

“Grandma’s Hands” is an ode to Bill Withers’ grandmother, Lula Carter Galloway. This story of gratitude and shared memories is now told in a beautifully illustrated children’s book, painted by multiple award-winning artist R. Gregory Christie and published by Joel Harper’s Freedom Three Publishing in collaboration with the Withers Family’s Mattie Music Group. 

Desejo-vos um dia feliz

Saúde. Amor. Paz.

quinta-feira, outubro 26, 2023

Não conseguindo falar do super-bacano Major-General Arnault Moreira, mostro a super-gira casa do super-fofo Troye Sivan

 

Apanhámos hoje as vacinas. E, ao escrever isto, 'apanhámos', fico na dúvida se é a forma correcta de dizer. Será apanhámos ou levámos? Ou fomos injectados? Ou comemos com elas? Não sei.

Da gripe num braço, covid no outro.

Tudo tranquilo, até ver. A doer um bocado o braço mas, sendo só isto, não me doa a mim a cabeça.

Fizemos as caminhadas na mesma, tudo normal. 

Mas há pouco, enquanto via um programa com muito interesse, o meu marido adormeceu profundamente. E eu, certamente logo a seguir, fui pelo mesmo caminho. Como se estivéssemos pedrados -- e isto digo eu que de pedradas só conheço estas assim, de tiro e queda mas santinhas, sem recurso a substâncias alucinógenas.

Apenas uma mensagem me fez acordar. Mas com que sacrifício... Agora estou acordada mas a voltar a sentir um daqueles sonos de tipo boa-noite-cinderela de que padeci ao longo de meses no pós-covid. Presumo que seja só hoje, até porque amanhã não me daria muito jeito andar a cair de super-sono pelos cantos.

Mas agora estou assim, E, assim sendo, não estou capaz de nada. Desculpar-me-ão mas estou a escrever com os olhos a meia-haste.

Há pouco estava a ver o Major-General Arnault Moreira, pessoa simpatiquíssima e que diz coisas com que, se bem me lembro, sempre concordo, e estava a pensar escrever qualquer coisa sobre a excelente capacidade didáctica destes militares (com excepção para aqueles dois horríveis, mal-encarados que vêm para a televisão bolsar a cartilha putinista e de quem nem é bom a gente dizer o nome).

São cultos, bem informados, uma visão abrangente, uma perspectiva histórica, uma compreensão integrada das várias camadas em análise. É um gosto ouvi-los. 

O meu marido, no outro dia, comprou um livro deste risonho (Arnault Moreira) e, do que folheei, deve ter sido uma boa compra.

Entretanto, recebi de uma amiga, por mensagem, um vídeo com o belo bar em que ela está e onde se dança e canta e convive. No Rio. Ambiente giríssimo, super boa onda. Estou mesmo a vê-la, isto é, a imaginá-la, a soltar a franga na maior alegria. Dança que se farta, ela, mesmo que o ambiente não seja caliente e desinibido. Fará lá.

Mas, portanto, como ia dizendo, tenho que ficar por aqui enquanto consigo acabar isto com alguma decência, senão ainda me arrisco a adormecer com o dedo em cima do comando de publicação e sai o post mal amanhado, por concluir.

Vou é, antes, partilhar um vídeo em que um puto que aprecio até mais não poder (e gay até mais não poder como ele o diz), mostra a sua casinha. Tem graça e bom gosto.

Inside Troye Sivan’s Mid-Century Melbourne Oasis | Open Door | Architectural Digest

Today Architectural Digest brings you to Australia to visit Troye Sivan at his beautiful Melbourne home. Unpretentious yet expertly decorated, Troye collaborated with designer David Flack of local firm Flack Studio to bring the vision of his sunny, soulful home to life. An erstwhile brick factory and handball court, the property was transformed into a residence in 1970 by architect John Mockridge, preserving the essence of its Victorian-era origins. Today, it’s an eclectically decorated sanctuary - and a home for Troye’s artistic imagination. 

quarta-feira, outubro 25, 2023

Mosab Hassan Yousef, filho do fundador do Hamas, depois um dos principais agentes secretos ao serviço de Israel, diz o que pensa (e sabe) sobre o que está a passar-se
[E Yuval Noah Harari reflecte sobre a situação]

--- E a palavra ao grande Eugénio Lisboa ---

 

Nestas guerras sangrentas, somos todos vítimas. 

Mas as vítimas não são todas iguais.

Umas morrem, outras são violadas, estropiadas, roubadas, agredidas, humilhadas, ameaçadas, forçadas a ver o horror.

E depois há as que estão a ver de longe -- nós.  

Estamos no bem bom das nossas casas, perto dos nossos, livres de perigo. Somos vítimas mas vítimas numa escala que, de forma alguma, se pode comparar com as que sofrem com o corpo e com a alma a dor e o medo das guerras sangrentas. Somos, isso sim, vítimas da verdade, vítimas de manipulação a que diariamente estamos sujeitos. 

Perde-se a perspectiva histórica, opina-se sem se conhecer a total verdade dos factos, fala-se do que não se sabe. O pó que nos entra em casa através das televisões não cobre apenas os corpos ensanguentados: cobre também a verdade que nunca conseguimos, realmente, ver.

Como sou ignorante, tenho dificuldade em dissertar sobre tema tão complexo. Mas tento adquirir informação para conseguir navegar neste mar encapelado e com tão fraca visibilidade.

Nos dois vídeos abaixo, pode pôr-se legendagem automática para português (mas, se o fizerem, não se espantem com gralhas que são de gargalhada...).

Hamas leader's son who became a spy explains what Hamas really wants

Mosab Hassan Yousef, the son of Hamas' founder who later became one of Israel's top informants, speaks with CNN's Jake Tapper about Israel's war on the terror group and the situation in Gaza


Yuval Noah Harari & Rosemary Barton - Israel's war with Hamas


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Recomendo a visita e a leitura de um texto do Grande Eugénio Lisboa no qual me revejo em absoluto: 

Começo, para não haver dúvidas sobre aquilo a que venho, por dizer que condeno com a maior veemência, o comportamento arrogante, brutal e invasivo que Israel tem demonstrado, ao longo dos anos, para com os palestinianos da faixa de Gaza. Mesmo tendo em conta que Israel passou por períodos altamente perigosos, no começo da sua formação, quando foi atacado por todos ou quase todos os Estados árabes da redondeza, o que lhe terá criado um complexo de “excesso de resposta”, este excesso tem ultrapassado todas as linhas vermelhas de uma desejada proporcionalidade. 
(...)
O fanatismo só pode levar à destruição e faz pena ver uma certa esquerda a pôr-se embevecidamente ao lado de fanáticos religiosos, que os devorarão, assim que tiverem oportunidade. Por detrás destes está um país infernal, tirânico, retrógrado e misógino, que a esquerda – uma certa – não gosta de atacar, porque financia os delírios revolucionários de grupelhos mais ou menos genocidas. Dizia o grande Umberto Eco que “as pessoas nunca são tão completamente e entusiasticamente más, como quando agem em nome das suas convicções religiosas.” Ficam aqui estes avisos destinados àqueles que se referem sempre à triste tragédia do povo palestiniano, esquecendo-se de mencionar o HAMAS, como um dos encenadores dessa tragédia. Com Israel, sim. Juntos.

Peço que o visitem e leiam o texto na íntegra

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Desejo-vos uma boa quarta-feira

Saúde. Boa sorte. Paz.

terça-feira, outubro 24, 2023

Os grupos do WhatsApp.
E uma receita de um bolo japonês.

 

Sendo eu tão avessa a redes sociais, a verdade é que agora faço parte de um grupo de amigos no whatsapp. 

Antes, grupos, só os restritos, de família. 

Mesmo no trabalho, quando estava no activo, havia muita gente que formava grupos destes para falarem entre si, fosse por departamento, fosse por projecto, fosse pelo que fosse. Nunca aderi. Às tantas criam-se canais informais que, mais cedo ou mais tarde, vão conflituar com os canais oficiais. 

Mas, noblesse oblige, agora que estou aqui no remanso caseiro, é mais fácil a convivência estando nós todos ligados por esta rede whatsappiana. Aqui se combinam coisas, aqui se trocam informações, aqui se pedem opiniões. E, portanto, optei por abrir uma excepção e entrar.

O que, sobretudo, sempre me afastou das redes sociais é o poder imparável de viralizarem o que quer que seja, exponenciando o número de pessoas que visualizam determinada coisa, seja ela uma coisa útil ou interessante, seja um disparate, uma anormalidade, uma obscenidade, uma piadola de mau gosto, uma mentira, um incitamento, uma descarada manipulação emocional.

E se antes o sabia apenas porque teoricamente não poderia ser de outra maneira (e quem sabe de matemática não tem dúvidas sobre isso), agora constato, na prática, que é mesmo assim.

Se grande parte dos membros deste meu grupo é gente com tino e os alqueires bem medidos, há outros, felizmente uma insignificante minoria, na volta apenas uns brincalhões, que, caindo-lhe uma porcaria qualquer no facebook, logo a propagam também no nosso grupo. A quantidade de lixo que ali dá à costa é de uma pessoa ficar de queixo caído. Vídeos que obviamente são uma manipulação pegada, notícias aldrabadas, entulho de toda a espécie e feitio -- tudo por ali tem aparecido. E o que me causa espanto é como há sempre uns quantos, distraídos, que caem e, frequentemente, reagem indignados contra incertos, não percebendo que estão a fazer parte de uma imensa cadeia de incautos que papa tudo o que se lhes põe à frente.

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De resto, tenho a assinalar que a temperatura desceu que foi um disparate. A semana passada fazia as minhas caminhadas de saia-calça curta e tshirt, manguinha curta, e, se o sol estivesse de feição, com decotezinho generoso. Tudo a bem da vitamina D. Pois hoje já vesti um blusão fininho de manga comprida e, para a caminhada da noite, por cima, um outro mais encorpado. E soube-me bem ir assim aconchegada. 

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Outra coisa: não sou de fazer bolos. E tento não comê-los. Mas gosto do cheirinho deles.

One Winter Day in Japanese Countryside|Chocolate Steamed Cake


Uma boa terça-feira

Saúde. Juizinho (do bom). Paz.

segunda-feira, outubro 23, 2023

Tendo o Bernard rumado a sul, aventurámo-nos e fomos dar ar à pluma. Mas coisa pouca.
Disto, hoje, salva-se uma casa muito interessante

 

Adaptámos o programa de festas às anunciadas façanhas do Bernard. Afinal o moço, pelo menos por aqui, não deu as caras. Não que o tempo estivesse de feição mas ventania e chuveiral, não.

Caminhámos por aqui mesmo, depois fiz uma bacalhauzada apenas para os dois e, mais para o fim da tarde, quando percebemos que o bom do Bernas tinha desandado para o Algarve, fomos comprar um livro que tinha despertado o interesse ao meu marido. Acabei por trazer também o Post-Scriptum do Jorge de Sena que está aqui ao meu lado e que vou abrindo de quando em quando. 

E demos uma caminhada por aqueles lados, pelo parque, tudo verdinho e lindo, o dog num excitex, a correr, a saltar, feliz da vida, tanto cheiro novo e bom.

E fomos dar um beijinho à parte da família que mora mais perto. Os pimentinhas todos crescidos e lindos. Estão na fase de espigar, espigar. Coisas mais fofas. 

Soube depois que, do outro lado, um deles está constipado. Talvez seja frio que apanhou. De resto, está é aquela altura do ano em que aparecem viroses, em que apanham frio. Tomara é que se ponho logo bom.

E depois, quando vínhamos, eu disse: 'Com um tempo destes, calhava bem era um bolo daqueles bonzões, nem sei se com um chocolate quente.'

Dito isto, logo me arrependi: tento manter-me bem comportada, não comer daquelas coisas que se alojam directamente nos pneus que encontram pelo caminho. Pensei que o meu marido iria ironizar: 'Isso faz parte da dieta?'

Mas não. Perguntou: 'Onde é que se arranja disso?'

E eu: 'Mas é porque também te apetece?'. É porque se fosse só para ser simpático, eu não aceitaria. Seria o pretexto de que precisava para esquecer as guloseimas. Mas afinal ele disse que, de facto, também estava in the mood.

Assim sendo, não quis que se privasse, não é? Portanto, dali fomos até uma Padaria Portuguesa. Infelizmente, àquela hora, a coisa já estava nos finalmentes. Nada de bolos radiosos a escorrer creme. Comi a última fatia de folhado com doce de ovo. O meu marido ficou-se por um scone. E, para beber, um simples sumo de maçã e tangerina. Mas soube bem.

Logicamente, para compensar, o jantarinho foi inho-inho, minimalistazinho.

E agora não tenho mais nada para contar. Estou a ver o The voice embora o meu marido, volta e meia, faça zapping. 

Gosto imenso da Sara Correia. Acho-a das mais extraordinárias vozes da actualidade, uma fadista de mão cheia. Nunca tive vontade de ouvir cantar o fado ao vivo mas estou com vontade de ir ouvi-la. É genuína, intensa, tem o fado a correr-lhe nas veias.

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E, por ora, nada me ocorrendo ou apetecendo dizer mais, passo ao tema que o Youtube anda a sugerir-me e que me tem trazido coisas bem interessantes. 

Inside The Art-Filled Home/Studio This Textile Designer Has Rented For 48 years

Pauline Caulfield’s home and studio has long been an artist’s haven. Before she and her ex-husband, the late painter and printmaker Patrick Caulfield, began renting their red-brick cottage in north London nearly 50 years ago, it belonged to, among others, the book illustrator Arthur Rackham, the abstract artist John Hoyland and the Pre-Raphaelite painter John William Waterhouse. It was already a place of creative legacy – and now it’s one that Pauline has become a part of. Much like her large-scale hand-printed wall hangings, Pauline’s interiors are full of pattern, personality and punchy tones aplenty – as we discover for our new episode of Seven Wonders.


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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Saúde. Esperança. Paz.

domingo, outubro 22, 2023

Olha, o Paddy Cosgrave demitiu-se de CEO da Web Summit... Que pena...
Sendo assim, vou virar-me para a decoração... Fazer o quê...?

 

A má notícia é que os esquilos foram-se mesmo embora. Não sei o que posso fazer para voltarem. Custa-me muito isso. Sinto-me uma megera, uma desnaturada, uma mal agradecida. Indesculpável.

Bolas para isso, que chatice. Até a mim aquela semana doeu. Só homens a desbastarem árvores e arbustos e a cortar mato. Barulho e mais barulho. Uma violência. Os ramos a caírem por terra. Imagino o susto que eles, coitadinhos, apanharam.

O musgo, entretanto, desponta pela terra, dando ao capo um belo tom de patine. E isso é muito bonito.

A chuva torna tudo verdinho. Como o terreno é do caraças, pouca terra e muita pedra, depois de chover, passado um bocado, já não se dá por ela. Só em alguns bocados, cá em cima, mais junto em casa, certamente onde o piso faz uma pequena barriga mas ao contrário, barriga encolhida, é que se formam pequenas poças. Isso ou nas reentrâncias das pedras. Claro que o urso peludo, quando as vê, bebe daí que é um mimo. Para ele água em pocinha de água é piteuzinho do bom.

Entretanto, agora estive divertidíssima a ver o Task Master. Que coisa mais engraçada. Programa mais bom.

Aliás, o TM foi quase tão engraçado quanto aquilo do Cosgrave ter dado uma de coiso e tal e depois vir pedir desculpa e dizer que sim mas também. Quando as feras da coisa vieram dizer que não vinham à web summit, oh que pena, veio ele e demitiu-se de ceo. Uma cena quase tão marada como aquela da Alexandra Tomba Todos q que, ao pintar a manta lá na Tap, a seguir fez cair uma data deles. No fim, vai-se a ver e nada.

A esta hora deve estar o fofo do Moedas, moço tão esperto quanto diligente, a mover mundos e fundos para ver se alicia os big ones ou uns unicórnios quase tão bons como os bigs a virem dar um ar da sua graça. E o nosso ubíquo Marcelo, que tinha no Cosgrave uma contracena ideal, também deve estar a pensar como vai fazer o seu número espectacular sem aquele lá. 

Mas pronto, fazer o quê?

Portanto, não tendo eu mais do que falar, como não sou dada a bolos viro-me para a decoração. Não sei porquê mas dá-me ideia que quase todos os homens que aqui me aparecem a mostrar objectos bonitos da sua casa são casados com outros homens. Nada de mais mas é curioso. Se calhar é porque o gosto refinado está mais com os gays do que com os outros. Já cá me queria parecer isso.

Inside Designer Erdem's London Townhouse Filled with Antique Objects 

| Vogue

In the latest of Vogue’s “Objects of Affection” series, London-based fashion designer Erdem Moralıoğlu's home proves to be just as romantic as the gowns he creates. The home was previously owned by artist Duffy Ayers, and Erdem keeps her memory alive with a still life she once possessed that now sits above the fireplace of what was her studio space. Erdem also talks about his fascination with busts and how Cecil Beaton inspired an entire fashion collection. 


Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Esperança. Paz.

Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. 

sábado, outubro 21, 2023

O horror de se ver crianças estropiadas e assassinadas como conteúdo privilegiado nas fake news

 

Informação e contra-informação, notícias verdadeiras e fake news, empolamento de número de mortes, obscenas encenações, manipulações de emoções, terrorismo de toda a espécie e feitio, vontade de vingança, loucura, radicalização. E tantas vezes com base em mentiras.

No meio disto, uma coisa me faz confusão (e me causa profunda repulsa): a posição do PCP, sempre colado a todos os criminosos, terroristas, ditadores, psicopatas, matem eles quem matarem, torturem, destruam, chacinem, violem, mintam, espezinhem... desde que sejam contra os Estados Unidos e o Ocidente em geral. Os Estados Unidos e o Ocidente em geral, apesar de falhas ou erros, estão do lado da democracia, da liberdade, do humanismo -- valores que não têm preço. Como se pode estar contra isso e a favor dos que se opõem a estes valores e se comportam como imperialistas tirânicos, como terroristas, como psicopatas tarados?

[Com isto não quero dizer que considere que a postura de Israel em relação à Palestina, em especial nos últimos anos, seja exemplar. Não considero. Pelo contrário. Nem gosto de saber que há sede de vingança (de ambos os lados). Ou que se sacrifica população inocente, seja de que nacionalidade ou religião for. Não.  Nunca. Mas isso não me cega, não me leva a pôr do lado dos acima referidos]. 

Sugiro que vejam a intervenção de Rodrigo Moita de Deus, na RTP3, no programa 'O último apaga a luz', em que ele desmonta a evolução da notícia sobre a farsa do falso ataque de Israel ao hospital que afinal não foi de Israel mas, muito provavelmente, um rocket falhado da Jihad Islâmica, que afinal também não caiu no hospital mas no parque de estacionamento ao lado, em que afinal não morreram 500 pessoas mas se calhar menos do que 100. 

Seja como for, coitados dos que morreram. Mas a verdade é que meio mundo se atiçou contra Israel quando Israel não teve, muito provavelmente, nada a ver com o assunto. E que vergonha, que vergonha obscena, os que jogam com as emoções das pessoas para propagarem mentiras e apelarem ao ódio.

No meio disto quero crer que ainda se pode confiar na BBC.

Two American hostages freed by Hamas - BBC News

Hamas has released two US hostages who were abducted during the Palestinian group's deadly raid on Israel.

Israel confirmed that mother and daughter Judith and Natalie Raanan had been handed over to them from Hamas at the Gaza border.

It follows a visit to Israel by the US President Joe Biden.

Hamas said the pair were freed for "humanitarian reasons".

They were the first captives released since the gunmen raided Israel on 7 October, killing 1,400 people and taking around 200 hostages.

More than 4,000 people have since been killed in Israeli air and artillery strikes in Gaza, according to Palestinian officials.

Clive Myrie presents BBC News at Ten reporting by Jeremy Bowen in Jerusalem and Sarah Smith in Washington.


sexta-feira, outubro 20, 2023

Aline com folhas de outono, mar revolto, barcos em terra.
Cá em casa, depois da guerra, a paz.

 



A Aline deu-lhe com alguma força mas foi sobretudo perto da hora de almoço. Chuva, chuva a jorros.

O pior foi que a grande buganvília que cresceu para cima do telheiro sob o qual deixamos o carro, quase desabou. Deve ter sido da força da água ou do vento, não sei. O que sei é que, quando demos por ela, estava a nossa meia altura. Nem o carro passava nem nós. Felizmente o tronco não se partiu, apenas tudo vergou, pendeu. Tentámos, os dois, levantá-la para que uma parte se apoiasse no muro que separa dos vizinhos. Mas não conseguimos. Aliás, o peso daquilo, ainda por cima, ensopado, é brutal, Os dois a dar o máximo e aquilo nem se mexeu. A única hipótese foi ir buscar o podão e desbastar, desbastar. No fim, ficou um monte enorme de ramos cortados. 

Como para o fim da tarde a coisa tinha abrandado, fomos buscar um quadro que estava a emoldurar. 

O quadro é em tons azul, verde esmeralda, acinzentado, com uma mancha em branco. Abstracto, como quase tudo o que temos. 

Mas a tela veio da galeria esticada e presa a um passpartout. Quando na casa das molduras perguntaram se era para tirar o passpartout, resolvi deixar ficar e pôr, por cima, um vidro-museu que é invisível. 

A moldura que escolhemos (nestas coisas conto com a opinião do meu marido que chega lá, aponta e diz: 'Esta'. Fico sempre na dúvida se tem uma fantástica visão panorâmica e, num único olhar, vê tudo o que há para ver, aliada a extrema convicção, ou se é, apenas, vontade de não estar na loja mais do que quinze segundos). Como lhe reconheço bom gosto, apesar das dúvidas, gosto de contarcom  a sua opinião. Desta vez foi uma moldura larga, simples, num tom entre o prateado e o suavíssimo dourado, mais prateado do que dourado, mas pouco uniforme e quase sem brilho. Por dentro desta moldura, encaixado nela, escolhi uma outra fininha em azul claro alfazema, acinzentado, que puxa aos tons da tela. Fica como que um filet, entre a moldura propriamente dita e o passpartout branco. Acho que este apontamento valoriza a obra em si. Coisas minhas. 

Coloquei aqui a fotografia de pormenor para que percebam o que estou a dizer (a parte de fora que se vê em cima e à esquerda é a parede)

Fomos ainda comprar o livro 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins, que o meu marido está desejando de ler. Estive a folheá-lo e parece-me que também eu vou gostar bastante de saber o que lá se diz.

Comprei também o 'O outro nome' do Jon Fosse. Também já o folheei. E, mais uma vez, torço o nariz. Não me parece que me convença. Não sei o que se passa comigo. Já no outro dia falei nisso. Estou de má boca, nada parece ser para o meu bico. Enjoadinha. Agora, ao escrever isto, para ver se me convenço a mim própria, fui ler o princípio do livro. Perdoem-me os puristas, os nobelistas, os entendidos mas a mim pareceu-me uma seca. 

Depois fomos ver o mar. Ficámos cá em cima. Mar bravo, bravo. Barcos em terra. 

Muito bonito. Andei a fotografar. Maravilha.

E, como dois pensionistas a preceito, preguiçosos e a apreciar a boa vida, a seguir fomos buscar um sushi bem apetitoso.

O pior, claro, foi, ao chegar a casa, conseguir que pendurasse o quadro até porque pensei que deveria fazer uma movimentação entre outros, obrigando a ajustar a altura do penduramento dos que mudaram de poiso. É sempre cegada das antigas quando tem que fazer um buraco na parede. E, se é mais do que um, aí é a guerra total. E eu que ando há anos a dizer que tenho que aprender a pegar no berbequim, a escolher buchas e parafusos, continuo na ignorância e, portanto, dependente dele.

Por fim, contrariado, quase furioso, lá o fez. Quando a obra foi dada por concluída, feita boa menina, agradeci. 

Depois pus-me de longe a contemplar. Fiquei contente.

A assinalar ainda que o nosso cão mais fofo hoje voltou a deitar-se na caminha dele que está aqui num cantinho da sala. Aninhou-se, enroscou-se. Há meses que dorme pelo chão, certamente onde se sentia mais à fresca. Hoje deve achar que o tempo mais frio já aconselha a algum aconchego. Cão mais lindo, mais querido.

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E agora estive aqui a ver uns vídeos e vou partilhar um, legendado, em que o dono de uma casa, um estilista bem simpático, mostra objectos bonitos que lá tem. 

Inside This Fashion Designer's Modern Belgian Home, Filled With Wonderful Objects | Vogue

Fashion designer Pieter Mulier, Maison Alaïa's creative director, takes us through his Belgian home and shares some of his most precious possessions. As the successor to the legendary Azzedine Alaïa at Maison Alaïa, Pieter's taste and passion for art come shining through as he tours his abode. 


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Lá em cima Eva Cassidy interpreta Autumn Leaves
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Desejo-vos um belo dia 
Saúde. Tranquilidade. Paz.
Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz.

quinta-feira, outubro 19, 2023

Amigos contra as tempestades

 

Por aqui ainda não dou pela Aline. Mas parece que vem mesmo. A ver se não faz estragos, pelo menos, estragos de maior. 

Passa da meia-noite e meia e agora é que estou a pegar nisto. Não sei como me arranjo mas parece que, sejam quais forem as minhas circunstâncias, arranjo sempre maneira de andar sempre ocupada. 

Hoje foi na conversa com uma amiga de longa data. Impressiona-me muito como algumas amizades resistem ao tempo. É como se fossemos sempre as mesmas pessoas. A nossa história vai mudando, já vivemos muitas vidas, temos mais experiência, mas nós, nós mesmas, estamos aqui, capazes de falar horas a fio, compreendendo-nos, com vontade de conversar, de saber mais, de mostrar as nossas coisas.

Há algum tempo, quando estava na fase de me desligar do meu trabalho, eu a querer sair e a quererem que eu ficasse mais e mais, e eu, sobretudo por solidariedade e estima para com um colega que não estava bem de saúde, ia ficando e ficando, mas cheia, cheia, cheiinha de vontade de me pôr ao fresco, eu desejava dar uma volta completa na minha vida. 

E isso está a acontecer. Tenho a gestão do meu tempo, tenho a minha vida, posso estar na minha casa, que era uma coisa que eu desejava tanto, posso ler e escrever. Tenho escrito muito. Sei que tenho que passar por algumas provações até chegar onde quero. Mas passarei. Sou resistente. E resistente. E confiante. 

E o reencontro e reaproximação de amigos de quem a vida me tinha distanciado está a ser uma surpresa e uma alegria muito grandes.

...

Hoje pouca televisão vi. Entre uma e outra coisa, não me sobrou tempo. Está agora a televisão ligada mas estou a escrever ao mesmo tempo pelo que a atenção está um pouco desligada.

Sei que o mundo está muito perigoso, que o malvado e hipócrita Putin deve estar feliz por toda a atenção e esforços estarem concentrados na crise Israel/Hamas, sei que as ameaças terroristas saltaram de imediato para a Europa. E isso custa-me imenso. Uma vez, estávamos para ir a Paris mas havia atentados e ameaças de atentados e tivemos que adiar. Até há pouco tempo isso parecia-me longínquo. Paris sempre foi dada a greves a sério (uma vez fomos de comboio pois os aeroportos estavam em greve e o meu marido tinha reuniões de trabalho e eu tinha metido férias para aproveitar para ir laurear), dada a manifestações atribuladas. Mas os atentados ou as ameaças terroristas pareciam ter dado algumas tréguas. Agora, voltaram. E isso é um terror. A imprevisibilidade do local e da hora do ataque e a barbaridade que assumem é de estragar a tranquilidade a qualquer um. Dir-me-ão que é isso que sofrem os desgraçados da Palestina, de Israel, da Ucrânia e de todos os países assolados pela guerra, sempre na contingência de ser atacados, de perder a vida, de perder a casa e a família. É certo. Mas eu falo da minha realidade, a de viver numa realidade pacífica e temer, por mim e pelos meus, que aconteça alguma coisa que me parece impensável nos dias de hoje.

Enfim.

Não vos maço mais. Não vale a pena estar para aqui com ladainhas. 

Vou mudar. Não vem a propósito, pelo contrário, mas, nestas situações, apetece-me sempre, distrair a cabeça. Por isso, com vossa licença, que entre quem possa fazer-nos sorrir.

Chaplin and Keaton Violin and Piano Duet 


Desejo-vos um dia feliz, tranquilo

Saúde. Afecto. Paz.

quarta-feira, outubro 18, 2023

O que diz Fareed
(Vídeo publicado antes do sangrento ataque desta terça-feira mas, nem por isso, menos actual)

 

Gosto sempre de ouvir as opiniões, fundamentadas, bem informadas e sensatas de Fareed Zakaria. Há sempre um enquadramento e uma visão que situa os acontecimentos nas perspectivas histórias, geográficas e político-económicas.

Neste vídeo (legendado), divulgado antes do que aconteceu (e cuja autoria está a ser discutida), Fareed fala de Israel, da Autoridade Palestiniana, do Hamas, da Arábia Saudita e dos Estados Unidos e dos players que intervêm nesta triste e insana situação.

É um vídeo de curta duração e merece atenção.

Fareed shares what the 'severest setback' would be for Hamas now

CNN's Fareed Zakaria explains why he believes the Hamas attack on Israel was predictable and argues what the goal of the country should be now

Quando um príncipe se encontra em frente a um rei

 

Em dia de dúvidas e perplexidades, movo-me para um território mais seguro. Dois grandes, um ainda jovem, outro maduro (maduro mas não a cair de maduro, calma...), numa gostosa conversa.

Está legendado.

Timothée Chalamet & Martin Scorsese Have numa conversação épica | GQ

It's the pairing of a lifetime and Timmy brought notes. Our newest GQ cover star Timothée Chalamet sits down with legendary director Martin Scorsese for an epic conversation. From their collaboration on new Blue de Chanel fragrance campaign to "Killers of the Flower Moon" and the death of "mainstream," the native New Yorkers are equally in awe and inspired by one another during this interview.


terça-feira, outubro 17, 2023

Momentos de devoção em noite de ventania

 

Não me apetece falar do meu dia. Não que tenha sido mau e, à tarde, até tive uma experiência interessante sobre a qual aqui poderia falar e, em especial, fazer comparações com uma realidade antagónica que é que a que melhor conheço.

Mas não está a apetecer-me. 

Talvez esteja preguiçosa. Cheguei tarde a casa. Acabámos de jantar já passava um bom bocado das dez e meia da noite. Depois ainda estive a trocar uns dedos de prosa com alguns amigos. E ainda estive a fazer, aqui no google e chatgpt, algumas pesquisas. Por isso agora estou um pouco off. Não respondi ontem aos comentários e acho que hoje vou pelo mesmo caminho. Li-os, claro que sim, e agradeço-os mas acho que as minhas pilhas se vão extinguir no fim deste post. As minhas desculpas. Tentarei responder amanhã. 

Mas também acontece que está muito vento. E eu gosto de ouvir o vento, gosto mesmo. Apetece-me estar sem fazer nada, a cabeça encostada ao sofá, a ouvir o vento. Mais nada. Tenho o estore corrido mas a janela de vidro está a bascular. Gosto de sentir o ar fresco da noite. Por isso, ouço tão bem o vento. E quando há árvores por perto, como é aqui o meu caso, ouve-se como que uma espessa valsa, um sopro forte como se mil tigres soprassem ao mesmo tempo.

Mas isto é o lado poético do vento. Há o outro lado. Há sempre outro lado. Há pouco, começámos a ouvir barulhos não identificados. Depois percebemos que vinham do outro lado da casa. O meu marido foi ver lá fora. O estendal de pé tinha caído e um regador andava a rebolar pelo chão. 

Gosto de ouvir o vento mas sinto sempre algum temor perante os mais indefesos (sejam pessoas, animais ou árvores). Lembro-me de quando um pinheiro grande, in heaven, ajoelhou. E um cipreste caiu. E um cedro enorme tombou e, quando se quis endireitá-lo, as raízes desenterraram-se. Dias de susto para as minhas árvores.

Mas pior é para as pessoas que não têm boas casas em que possam estar abrigadas.

E, de tudo o que fui conseguindo ler, aos poucos, ao longo do dia, o que mais despertou a minha atenção foi o último post do Steve McCurry. Moments of Devotion

These are people who are capable of devotion, public devotion, to justice. 
They meant what they said and every day that passes, they mean it more.

– Wendell Berry


For the person who is religiously or spiritually inclined, 
work even becomes a vehicle for devotion, a way of utilizing one’s gifts and talents to serve others.

– Marsha Sinetar

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Quanto ao que homens loucos andam a fazer pelo mundo não consigo dizer nada. Pessoas em que não habita a bondade, a tolerância ou a compreensão são seres que me são estranhos. 

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Desejo-vos uma boa terça-feira
Saúde. Serenidade. Paz.

Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz.

segunda-feira, outubro 16, 2023

O que éramos, o que somos. Os que deixaram de ser.
E o mundo que não compreendo.

 


A minha mãe encontrou uma carteirinha de fotografias pequenas daquelas a que, há milénios, se chamava 'tipo passe' com algumas fotografias de colegas de liceu. Nem todas têm o nome atrás. Naquela altura devíamos pensar que não fazia falta escrevê-lo. Agora olho para algumas dessas, lembro-me das pessoas que elas representam mas não tenho ideia do nome.

Partilhei com outros colegas dessa altura. Duas dessas foram identificadas. Outras não. Desapareceram nos meandros da memória de toda a gente.

De uma disseram que não está bem da cabeça, ausente, desinteressada do mundo. Fez-me muita impressão, isso.

Claro que, de tudo, o que me faz impressão são os vários que já morreram. Parece-me uma coisa muito contra natura. Já falei disso e estou a repetir-me. Mas a sério que isso me incomoda muito.

Não sei se também falei no seguinte: dou por mim a olhar para as fotografias em que estão os que já morreram. Tento perceber se, neles, naquela altura, já alguma coisa poderia fazer prenunciar o que iria acontecer. De uma delas já não me recordava. Ao ver as fotografias, reparo que estava sempre um pouco isolada, parecia um pouco distante. Ou triste. Um outro era muito divertido, gordinho, muito simpático. Vejo-o nas fotografias. Qualquer coisa nele me parece agora assimétrico. Uma outra era muito carismática quer na maneira de ser quer na maneira de se vestir. Vejo-o nas fotografias. Parecia quase nossa mãe, muito mais desenvolvida, rosto já um bocado marcado. Uma outra, médica, disse-me agora que foi terrível, que era a médica dela. Como me viu muito perturbada, disse-me que naquela família todos têm morrido de cancro. Ela disse-me isso como para me dizer que eu não estivesse impressionada pois ela já estaria 'fadada' à morte por aquela doença. Mas eu fiquei a pensar que os filhos e netos dessa que morreu devem estar bem apreensivos com essa triste sina.

De uma outra de quem fui muito próxima e a quem depois perdi completamente o rasto, disse-me a minha mãe que, tendo ela engravidado ainda miúda, foi afastada, levada para uma quinta que tinham no campo.

Mas agora soube que está bem, que se reformou agora, que também tem uma mão cheia de netos. Vejo a fotografia dela. Tão bonita e alegre que era. Já aqui falei delas algumas vezes. Gostava de voltar a vê-la. 

Uma coisa que, olhando para aquelas fotografias, também reparo é que antes, alguns de nós, quando éramos pequenos parecíamos mais velhos. Por exemplo, uma que, deveria ter uns catorze ou quinze anos, já parecia ter uns vinte e tal ou trinta. Não dá para perceber. Mas mesmo as que tinham ar de miúdas, frequentemente se mostravam circunspectas. 

Poder-se-ia pensar que o mundo hoje é mais leve para as crianças.

E, contudo, sabemos como isso pode não ser verdade em algumas partes do mundo. A televisão mostra crianças a sofrerem horrores pelos quais nem os adultos deveriam passar. Vejo-as a falarem, cheias de medo, a chorarem e o meu coração quase me dói. Não falo por falar, não é uma metáfora. É mesmo dor. E é sobretudo uma grande incompreensão.

Por vezes penso que se um dia um grande meteorito ou uma qualquer outra coisa chocar com a Terra e der cabo de grande parte dela, se calhar até fará algum sentido já que parece que grande parte dos humanos têm uma pulsão brutal pela autodestruição, não só de si próprios e dos outros, como do seu habitat. 

Tirando isso, vou falar de quê?

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Só se, por exemplo, partilhar um vídeo. Um qualquer. Talvez este aqui abaixo.

President Joe Biden: The 2023 60 Minutes Interview

President Biden answers questions on Israel, efforts to locate American hostages in Gaza, the state of the war in Ukraine and more during a wide-ranging conversation with Scott Pelley.

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Lá em cima, Jakub Józef Orliński interpreta "Amarilli, mia bella" (Giulio Caccini)

A fotografia lá em cima é da autoria de Ali Jadallah/Anadolu Agency/Getty Images e outras poderão ser vistas no Guardian

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Desejo, a todos, uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Força. Paz.

Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. 

domingo, outubro 15, 2023

O horror antes e depois do horror

 

Sábado tranquilo. Até me pareceu mentira não ter aparecido nenhuma crise. Por isso, aproveitámos a calma e o sol para lavar e estender roupa, caminhar, descansar. 

Escrevi. Li. Dormitei. Escovámos o cãobeludo e cortámos-lhe alguns nós.

Tenho quatro novos vasos de flores. Recebi de presente. No prazo de dois meses já recebi, de três pessoas diferentes, várias plantas. Estas que recebi agora, segundo me disse quem mas ofereceu, são plantas que trazem alegria e boa energia. Parece que cada uma tem sua função mas agora não me lembro. Mas sei que é tudo na base das coisas boas para a casa e para quem aqui vive. Sobretudo, sinto-me agradecida por haver quem goste de me oferecer plantas. 

Parece que este domingo vai chover e é bom que chova. Complica-nos um pouco as caminhadas e o dog chega encharcado que nem um pinto e, para o limpar, é uma tourada, corre, rebola-se, sacode-se, anda aos saltos à nossa volta. Por fim, estamos nós cansados e ele ainda molhado e todo contente. Mas faz tanta falta, é tão bom que ela venha.

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E depois há o que as notícias nos trazem. A agonia. A dor. A destruição. A perda. Podem os mais cépticos, os que já viram de tudo, os que já assistiram à morte, ao silvar das balas, ao estrondo das bombas, ao esgarçar dos corpos, à desistência, olhar para tudo isto com indiferença. Mas eu, que vivo no conforto abrigado da minha casa, que tenho a alegria consolada da proximidade dos meus, olho para todo isto com uma grande aflição. Não consigo conceber como se pode fazer mal a alguém. Não consigo compreender como se pode pensar que a destruição de pessoas e bens pode servir para alguma coisa.

A nossa vida já é, em si, tão difícil de justificar que, se a usamos para destruir outras pessoas, tornamo-la, então, inútil, desprezível.

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Partilho um vídeo que talvez nos ajude a pensar. Talvez. Nisto uso talvez, talvez, talvez. Não sei nada. 

Yuval Noah Harari on CNN Amanpour - Hamas' aim was 'to assassinate any chance for peace'

Watch Christiane Amanpour's interview with Yuval Noah Harari, exploring the long-term implications of Hamas' attack on Israel and the subsequent retaliation in Gaza.


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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Esperança. Paz.

Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz.

sábado, outubro 14, 2023

Dias sombrios

 

Esta sexta-feira tive mais um daqueles dias. 

Se não morrermos cedo, um dia damos por nós e estamos velhos. E não sei se é um processo progressivo em que vamos admitindo que, aos poucos, o nosso corpo vai ficando mais débil, ou se vamos indo, na boa, e, quando damos por ela, não queremos aceitar, julgamos que é maleita que deve ser tratada, imediatamente tratada, tratada com rigor, com ciência.

E, se for este o caso, como, por mais que nos tratemos, nos examinemos, nos aconselhemos, não sentimos que voltámos a ficar como éramos quando tínhamos menos vinte ou trinta anos, entramos num ciclo de ansiedade, medo, preocupação exacerbada. E queremos mais médicos, mais exames, mais cuidados.

Se calhar uns são assim, outros são de outra maneira.

Tenho uma amiga cuja mãe está perto dos cem e, segundo ela, a mãe, apesar das muitas limitações, nunca se queixa, mostra-se sempre agradecida e bem disposta.

Não sei como será comigo. Nem sei se chegarei lá. Mas, se chegar, do que me conheço, o que desejo é estar ocupada e animada, agradecendo todos os dias as flores, os frutos, as palavras, a luz, os sorrisos. E, se me vir limitada (como, por exemplo, o meu pai tão radicalmente se viu), recolher-me ao meu interior, às minhas memórias, viver apaziguada e não revoltada.

Mas não sabemos, de facto.

Acontece que, portanto, o meu dia foi outra vez assim.

Os meus amigos, no grupo, questionaram o que era feito de mim que não dava ar de minha graça. Pois. Não é fácil ter tempo para o que tem que ser e, depois, ter disposição para o resto.

Ao fim do dia, a televisão a mostrar o impensável. Não há explicação nem perdão para quem faz tanto mal aos outros. Mas uns fazem porque os outros começaram e os outros fazem porque não podem admitir e têm que vingar e os outros fazem porque os outros também fazem. E, no fim, agora, o ponto em que estamos, o mal anda à solta porque tem que ser. 

E, quando o mal parece obrigatório e incontornável, onde podemos encontrar o espaço para a bondade, para o afecto, para a humanidade? 

Em lado nenhum...?

Claro que é o que o Corvo diz num comentário abaixo. Nós, na nossa cultura, agarramo-nos, com unhas e dentes, à vida. Mas há aqueles para quem a vida vale zero e bom é morrer a lutar pela fé. Não há convergência possível. 

Nem faz sentido, perante isto, tentar perceber quem são os bons e quem são os maus porque haverá sempre quem venha com uma adversativa diabólica justificar que o sangue e o horror são devidos porque antes houve quem também o fizesse.

Mas há uma coisa que talvez possamos convencionar: não faz sentido o fanatismo religioso, não faz sentido considerar as mulheres como um animal de segunda, não faz sentido a pena de morte ou a tortura. Etc. Coisas assim. Talvez a gente possa, em casos limites, quando não há consenso sobre quem começou ou quem são os maus e os bons da fita, dizer que regimes assentes em conceitos maus a gente não quer. E pôr aí a linha vermelha.

Mas a verdade é que, no meio de consecutivos bombardeamentos, de tantas e tantas casas destruídas, de tantos mortos, de tanto terror, de tantas ameaças, do pavor pelo que ainda está por vir, do pó que tudo cobre de ruína e dor, não há espaço para pensar em nada.

Nunca pensei chegar a esta fase da minha vida, em pleno 2023, e viver num mundo tão perigoso, tão insano, tão desumano. Nunca pensei que o mundo em que os meus filhos e netos iriam viver seria este lugar tão cheio de maldade e falta de esperança.

Por mais que puxe pelo meu optimismo, não estou a conseguir ver uma saída feliz para a tragédia que se abateu sobre tantos países, sobre tantos milhões de pessoas.

Que tristeza.

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Estava a querer acabar isto com um toque de bom ânimo mas não vejo como. O melhor que consigo é ir buscar a Chuva, até porque o dia esteve sombrio e, ao anoitecer, choveu que se fartou.


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Um bom sábado.

Saúde. Harmonia. Paz.

Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz.