Hoje não consegui caminhar ao fim da tarde. Cheguei a casa quase de noite. Quando estacionei, vi o meu marido a vir com a feríssima pela trela. Quando se aproximaram e ele percebeu que era eu que estava a sair do carro, ficou fora de si, tal a alegria (quando digo 'ele', refiro-me à feríssima). Fez peões no ar, saltos quase com flic flac à rectaguarda, uma alegria borbulhante. O meu marido, incapaz de competir, apressou-nos: 'Vá, já chega". Depois, já no jardim, por uns instantes sentou-se a olhar para mim e via-se que sorria, os dentões todos à vista mas com o semblante aberto e feliz (continuo a referir-me à feríssima). Mas foi mesmo apenas uns segundos pois, de imediato, se pôs ao alto para que eu o abraçasse. Abracei-o, fiz-lhe festinhas, disse-lhe palavrinhas fofas. Um amigo exuberante.
Na parte da manhã tinha tido reuniões e, ainda por cima, estava cheia de sono. De manhã, ou melhor, praticamente de madrugada, estava ainda a dormir, senti-o a tapar-me melhor (e agora, sim, estou a falar do meu marido). Eu, de noite, abro o vidro pois gosto de sentir o frio nocturno e ele, quando se levanta e me vê meio destapada, acha sempre que estou com frio. Ou melhor, dá essa desculpa. Só que, ao tapar-me e ajeitar a roupa, acorda-me. Já lhe disse mil vezes que, se faz aquilo para ter a certeza que estou viva, não faça. Se estiver morta, mais hora menos hora, não faz diferença. Por isso, deixe-me dormir. Ri-se e diz para eu me deixar de disparates. Desde que me aconteceu aquilo do coração, acho que gosta de se certificar de que estou viva. O pior é que acordei quase duas horas antes da hora. E se há coisa que me deixa em défice durante todo o dia é privarem-me das minhas preciosas horas de sono. Ele desculpa-se: tapo-te quase todos os dias e uns dias acordas e outros não. Como se a culpa ainda fosse minha. Zango-me. Não me mexas, deixa-me dormir destapada ou como me apetecer. Mas tenho a sensação que continuará a fazer o mesmo.
Quanto ao que aconteceu no mundo durante o dia, não consegui aprofundar. Passei por alto pelas notícias e fiquei sem certezas. Começa a ser claro que o grande czar tem patas de barro e orelhas de burro. Mas, psicopata como é, até se estatelar no chão, vai continuar a mentir, a agredir, a matar, a destruir.
Como sempre, depois das notícias escritas, sigo para o Youtube. Abaixo já partilhei a rábula do Hitler que mete o neo-Hitler à mistura e agora, num outro comprimento de onda, partilho dois vídeos muito tocantes embora em sentidos opostos.
No segundo vídeo, uma outra realidade, uma já bem conhecida. A cor da pele é outra mas não estou certa de que isso seja determinante. Talvez a questão da baixa escolaridade que mais pese. Mas não sei. Neste caso, ao contrário do primeiro, a maioria dos que deixaram tudo para trás é masculina. Aqui onde estão e no lugar para onde querem ir não são bem acolhidos. Trazem sonhos de uma vida melhor e, ao contrário do que acontece com os ucranianos que pensam vir por pouco tempo para voltarem logo que regresse a paz, neste caso penso que quererão fazer vida por cá. Sabem que de onde vêem não terão muitas oportunidades para concretizarem os seus sonhos. Estão em França a tentar chegar ao Reino Unido. As condições em que vivem são mais do que precárias. Tudo muito triste -- e ainda mais quando o jovem conta as dificuldades em tentar iludir a mãe para que ela não perceba as condições em que vive. Clandestinos, indesejados, perseguidos e maltratados.
São duas faces de uma realidade que é dura para quem tem a pouca sorte de se ver no lado traiçoeiro da vida.
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Ukrainian refugees shelter with monks in Romanian monastery - BBC News
Ukrainian refugees have found shelter living amongst monks at a Romanian monastery, until one day they can return home to their country.
Iryna and her family, who are staying the Carpathian monastery in north-east Romania after fleeing from Kharkiv, said they have settled into life there.
“Only here, at the monastery, I stopped hating. Last Sunday, I even prayed for Putin,” said Iryna.
Almost four million refugees have fled Ukraine so far following Russia’s invasion of the country.
Life as a refugee in Calais: 'the Ukraine war is a wake-up call'
After the Ukraine invasion, hundreds of people found themselves stranded in Calais as they tried to navigate the UK visa process.It put a spotlight on the city where many young refugees have been living outside all winter in harsh conditions, while NGOs struggled to provide the most basic services. The UK has given millions of pounds to France to try to prevent border crossings but people continue to attempt to get to Britain. Meanwhile, the residents of Calais complain of an increasingly militarised city.