domingo, março 27, 2022

De que se fala quando se fala em meditação...?

 




Dia preenchido e bom. Almoço fora, em família, passeio à beira-rio, meninos felizes na brincadeira e na conversa uns com os outros, a minha mãe toda contente embora de vez em quando preocupada com o seu amigo little teddy bear, home alone. O céu estava cinzento mas ao ver as fotografias confirmei aquilo que me tinha parecido: todos estavam coloridos e sorridentes. Já lhes enviei as fotografias.

Não apareço, claro, pois eu era a fotógrafa. Mas gostava de ter podido fixar aqueles momentos em que os meninos vêm conversar comigo e caminhamos em conjunto. O meu mais crescido, já mais alto que eu, já com voz quase de homem, já com conversas e modos de rapaz crescido, é um bom conversador. Tem dúvidas, coloca questões, começa a pensar no seu futuro. Os outros ainda vivem apenas no presente, brincalhões e ruidosos na sua alegria. 

Ao fim da tarde fomos levar a minha mãe mas, antes, viemos a casa resgatar o nosso watch dog. De manhã, vendo os nossos preparativos, ele já mostrava que estava intrigado. Sentava-se a olhar para nós, seguia-nos pela casa, desconfiado. Quando saímos, veio a correr para nos acompanhar. Geralmente corre na brincadeira para ver se o conseguimos apanhar. Este sábado não, precipitou-se para o portão. Dissemos-lhe que não vinha, que ficava a tomar conta da casa. Ficou sentado, triste, a olhar para nós. Mas já está mais crescido. Antes, atirar-se-ia contra o portão, a ladrar, a ganir, num desespero. Hoje apenas ficou triste, desconsolado. 

Tínhamos deixado, no pátio junto à cozinha, a cama almofadada e a tigelinha da ração e a da água.

Quando chegámos, a almofada estava no jardim, ao lado do portão. E não tinha tocado na água nem ração. E, quando nos viu, ficou louco de alegria. Saltava, abraçava-nos, corria à nossa volta numa daquelas euforias que nos faz rir. A surpresa por ver a minha mãe, então, deixou-o fora de si, tanta, tanta a alegria. Alegria, de resto, recíproca.

Claro que, enquanto estávamos no almoço, depois a jogar matraquilhos, a passear, no parque infantil, a comer gelado e etc., todos, incluindo os meninos, perguntavam por ele e todos estavam com pena que o seu amiguinho não estivesse ali.

A minha mãe, quando íamos a caminho de sua casa, dizia que tinha sido um belo dia e que assim era muito mais descansado para mim. De facto, desde há dois anos que não íamos todos almoçar fora. Durante a pandemia todos os almoços em família têm sido cá em casa, de preferência ao ar livre. Por isso a minha mãe diz que assim é melhor para mim. Mas a verdade é que estou cansada, com sono, sem energia. É certo que acordei cedo e me tinha deitado tarde e é certo que a semana foi complicada. Talvez seja isso. É que hoje nem ânimo tenho para arrebitar a pele da cara com o pink jade-roller.

Ao sentar-me aqui, há pouco, ocorreu-me que, se calhar, está na altura de começar a meditar. Mas tenho com a meditação aquele mesmo desentendimento que tinha quando comecei a conduzir e não conseguia perceber o conceito do ponto de embraiagem. Diziam-me quando usar mas não me explicavam exactamente como era e como funcionava para se obter o ponto pretendido. Então, quando parava numa subida íngreme e tinha que arrancar, sofria horrores com medo de deixar descair o carro, bater no que estava atrás e não conseguir arrancar. Até que alguém me explicou detalhadamente os passos e a explicação. E tudo se tornou claro.

Com a meditação é a mesma coisa. Dantes, pensava que meditar era o mesmo que pensar. E que a meditação era boa quando se conseguia convocar pensamentos bons. Para meu espanto, vim a descobrir que é exactamente o oposto: não pensar. Por isso, se calhar é isso de que estou a precisar: esvaziar a cabeça, abolir os pensamentos. 

Já o contei aqui algumas vezes. Na única vez em que fui a uma sessão de meditação, deitei-me no colchão e, quando a professora mandou que fechássemos os olhos e pensássemos num lugar em que nos sentíssemos bem, pensei num campo verde, com as ervinhas a ondularem ao vento. E instantaneamente adormeci. Portanto, não sei de que se tratou entre aquele momento e aquele em que me dei conta que já tinha acabado e que estávamos a ser convidadas a respirar fundo e nos levantarmos devagarinho.

Para mim seria importante perceber de facto porque é que a meditação é benéfica: 

  • Porque, no fundo, consiste em respirar fundo, várias vezes a respirar fundo, e, portanto, oxigena-se bem todo o organismo, em particular o cérebro? é disso que se trata? 
  • E o tempo todo estamos alienados do mundo, concentrados apenas na respiração e, ao estarmos atentos à respiração, faz-nos esquecer tudo o que se passa à nossa volta? 
  • É isso que faz com que as pessoas se sintam tranquilas? 
  • Ou sentem-se revigoradas? 

Não sei e gostava de saber. Sem perceber isto parece que não consigo dar o passo seguinte que é de experimentar como deve ser.

Vejo vídeos mas é tudo muito conversa mística ou operacional e não os fundamentos científicos da coisa, as razões fisiológicas para as pessoas se sentirem bem. 

É que, por exemplo, estou a escrever isto e, ao mesmo tempo, estou a pensar que vou ter que me levantar cedo pois tenho um compromisso, estou a pensar nas horas a que tenho que me levantar, depois estou a pensar no que não posso esquecer-me de dizer às pessoas com quem me vou encontrar, depois num presente que tenho que comprar para mais um aniversariante, depois que gostava de ir comprar um banco para pôr numa parte do jardim em que é bom estar mas onde não há onde nos sentarmos a não ser no chão, nas lindas horas a que haveremos de conseguir almoçar, nas reuniões que tenho na segunda feira e em mais não sei o quê. Aliás, sei bem em quê, sei. No que se passa na Ucrânia. 


No carro, ouvimos as notícias e a minha mãe disse que o que já tinha dito ao almoço e que não reproduzo aqui para não ferir almas sensíveis. E falou, com revolta e pesar, da destruição sangrenta e feroz que está a ser levada a cabo. O meu filho diz que não devemos personalizar no Putin, que isto é uma questão geoestratégica. Não quero saber. Quando se invade um país para o destruir que se lixe a geoestratégia. E se me lembram os Iraques desta vida também não quero saber. Não determinei, aplaudi ou defendi essas guerras. Caraças para o Iraque: tantas pegas que tive nessa altura por não acreditar naquelas patranhas das armas de destruição maciça, tanto que me manifestei contra a porcaria da guerra no Iraque! E, por todas essas guerras serem absurdas, indesculpáveis, criminosas, destrutivas e desumanas é que me revolta que não se tenha aprendido nada e se volte a cometer os meus atentados contra a liberdade, contra o património, contra a vida.

Enfim. Adiante. É tarde. 

Deve estar quase a mudar a hora. Aliás: já mudou. Menos uma, ainda por cima. O que vale é que é por uma boa causa. Dias a crescerem é um sopro de oxigénio na minha disposição, fico sempre mais animada. É bom termos dias grandes, cada vez maiores, a encherem-se de luz. Tomara que tragam também mais paz a este mundo desgraçado.


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Já agora, a propósito da meditação:

Porque é que Yuval Noah Harari pratica meditação?

Seventy thousand years ago, our human ancestors were insignificant animals, just minding their own business in a corner of Africa with all the other animals. But now, few would disagree that humans dominate planet Earth; we've spread to every continent, and our actions determine the fate of other animals (and possibly Earth itself). How did we get from there to here? Historian Yuval Noah Harari suggests a surprising reason for the rise of humanity.


Qual é a ciência por trás da meditação?

Meditation has been practiced for thousands of years in many cultures to nurture calmness and inner peace. But what does science say about it, and how can we fit it into our busy, modern lives? CNN speaks to a psychologist about what it does to our brains and how we can do it better

[Não tem as respostas para as minhas perguntas mas aqui fica na mesma] 


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Pinturas de Andrey Remnev na companhia de Diana Tishchenko que interpreta Melody de Myroslav Skoryk

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Desejo-vos um belo dia de domingo 
(e que o milagre da paz comece a desenhar-se no horizonte)

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