Só para que se saiba como sou distraída e ignorante: na minha pouco abonatória cabeça, Moledo era uma praia ali a seguir a Vila Praia de Âncora. Caminha era a terriola ali a seguir, a caminho de Valença. E se uma vez lá tínhamos ido jantar, a um restaurante recomendado, a visita nocturna à vila foi exígua e deixou impressão de ser terra apagada, sem nada de relevo a registar. Portanto, como tenho vindo a registar, foi agora com grande surpresa que descobri que é absolutamente encantadora.
Mas não sou só eu. O meu filho, naquela noite em que estávamos com vontade de nos pôr a caminho e sem saber para onde, perguntou porque não íamos 'lá para cima', Gerês por exemplo. Disse-lhe que lá tínhamos estado não há muito. Logo a seguir, o meu marido, que não tinha ouvido o telefonema, sugeriu: 'E se fôssemos até lá acima? Por exemplo, outra vez, até à praia de Moledo?'.
Ao fazer pesquisa, o booking sugeriu-me um hotel em Caminha. Vimos e gostámos. Mas o meu marido interrogou-se: 'Ficar mais do que uma noite em Caminha...? Não sei...' Para ele também não haveria lá nada que se visse. Portanto, segundo ele, ficaríamos um dia lá e seguíamos para outro lugar. Mas uma qualquer intuição me fez acreditar que devíamos ficar mais.
Ao fazer pesquisa, o booking sugeriu-me um hotel em Caminha. Vimos e gostámos. Mas o meu marido interrogou-se: 'Ficar mais do que uma noite em Caminha...? Não sei...' Para ele também não haveria lá nada que se visse. Portanto, segundo ele, ficaríamos um dia lá e seguíamos para outro lugar. Mas uma qualquer intuição me fez acreditar que devíamos ficar mais.
E foi o que vos tenho dito: uma descoberta, um deslumbramento. Sob todos os pontos de vista. As fotografias que tenho feito são mais do que muitas e as dificuldades em escolher umas quantas para aqui vos mostrar muitas.
As praias não têm quase ninguém. Pode praticar-se nudismo ou semi-nudismo nas calmas. A largueza é total. A praia de rio, mais pequena (mas não pequena), é abrigada. Mesmo se do lado do mar faz algum vento, no lado do rio está-se lindamente. Além disso, as cores do pôr-de-sol bronzeando o rio e o casario, embelezam ainda mais a paisagem. A praia de mar é extensa, orlada por pinhal, com o monte espanhol em frente, com a ínsua, com uma beleza paradisíaca.
Fotografei os casais, fotografei as aves, fotografei as casas, fotografei o mar e tudo o que vi e achei belo. E fotografei algumas sereias. Não interessa a idade, as 'medidas' ou o design da vestimenta (ou a ausência dela). Uma mulher pousada no areal é sempre uma sereia.
A fotografia aqui abaixo não foi feita de noite. Pelo contrário, foi feita em pleno sol. O que acontece é que lhe toldei um pouco a visibilidade pois, ao fotografar, tento captar o instante em pura abstracção, sem que se identifique a sereia em causa.
E até já, não com sereias mas, talvez, com freirinhas. Ou ciclistas.
Nestas “reportagens” nota-se uma certa sobranceria relativamente ao Norte (ou outro local que não Lisboa). A alfacinha que sai de Lisboa e vai conhecer o tal País, a Norte (e poderia ser a Sul, por exemplo o Alentejo, pois o Algarve é um ponto de encontro dos alfacinhas, desde há décadas).
ResponderEliminarMas depois, o regresso à capital lava a alma ao alfacinha. Ou à lisboeta. “Finalmente de regresso, ufa! Já basta de “selva”!
a)António...de Serpa!
Oh António, tem malta dos dois lados sobranceira. :)
EliminarVamos lá deixar essas coisas de parte e perceber que as diferenças gigantes de percepção sobre o território de uns e de outros até é mais uma riqueza que temos que um problema. Falta um bocadinho mais de consciência aos centros de poder (geralmente as cidades,e Lisboa como expoente máximo) do papel destruidor que, por vezes, inconscientemente, exercem? Concordo. Mas o antídoto é exatamente que os "alfacinhas" (e outros) saiam da sua alface e sejam bem recebidos nestes outros lugares. Mesmo que o regresso lhes lave a alma, vêm sempre mudados. E o contrário (os da "província" para a cidade) a mesma coisa!
Abraço,
Boa noite UJM,
ResponderEliminarContinuação de boas férias.
Conheço o Minho razoavelmente. O lado paterno do meu marido tem raizes entre Melgaço e Monção.
Nestes últimos dois anos verificámos uma diferença muito positiva nas cidades, na qualidade de vida dos seus habitantes e no interesse turistico.
O Gerês é lindo, mas como não sou aventureira, só lá volto com guia. Há uns 15 anos apanhámos um susto com um nevoeiro repentino.
Ainda há, contudo, na zona de Castro Laboreiro um lado muito rural, muito puro com as suas cascatas, que sugiro descubra.
De inverno a neve da-lhe um encanto especial. E a gastronomia é tão diferente do resto do país.
E adoro aquele sotaque galego!
Um beijinho e obrigada por se deslumbrar com o nosso país que ainda é tão bom.
Mesmo! O gerês tem um microclima muito diferente e apanha a malta desprevenida com grande facilidade. Todos os anos lá vêm notícias de grupos de aventureiros resgatados. :) Ainda que não tivesse de ser resgatado, também já apanhei lá um leve susto. Especialmente no Inverno e Primavera esse microclima é mais agudo. Mas não nos deixemos intimidar. Além de existirem imensas empresas a organizar caminhadas (coisa para custar 6/7€ por pessoa) mesmo sozinhos é planear a coisa bem. Levar telemóvel com mapas (esta APP é a melhor que conheço: locusmap) e suplemento extra de bateria. Alguns percursos pedestres (nas zonas mais selvagens) só podem ser feitos legalmente com guias autorizados.
EliminarAbraço! Boas caminhadas no verde Minho!
Olá António pouco-alfacinho,
ResponderEliminarEntão acha que mostro sobranceria em relação ao Norte...? Jura? Quer ser mais explícito e transcrever alguma frase minha que o demonstre? Estou curiosa.
É que eu juraria que não. Adoro o meu país de norte a sul (passando por Lisboa, claro, que é também linda todos os dias) e acho que não mostro sobranceria nenhuma em relação ao Minho ou ao Alentejo ou às Beiras ou ao Ribatejo ou a Trás-os-Montes ou ao que quiser. Mas, na volta, sem querer, algum neurónio tresmalhado prega-me essa rasteira.
E quanto ao regresso a Lisboa, vire essa boca para lá. Estou quase a acabar as férias, nem me fale no regresso à selva alfacinha.
E fico à espera do que lhe pedi, ouviu...?
E volte sempre, selvagem António Serpês.
Nas praias, hoje, a elegância foi-se, emerge a vulgaridade de rabos a engolirem a parte de baixo do bikini. Pequenos, grandes.. feios, bonitos.
ResponderEliminarQualquer dia é como no Brasil, tapa sexo apenas. Os homens, pelo contrário, usam calções quase até aos joelhos... Grande discrepância nas vestimentas de umas e de outros.
Ir à praia hoje em dia é ver um desfile infinito de rabos de fora e de insinuações várias. A praia está cada vez mais um lugar de engate.
As mulheres têm sido exímias a encurtar a mini-saia e a diminuir o bikini e chamam a isto liberdade... Isto prova que estão cada vez mais desnorteadas, vulgares, e não admitem um assédio que seja, nem piropos.
Elas são tão pouco inteligentes, assim como a Joana Amaral Dias, que adora expôr-se, fisica, mental e intelectualmente falando, e depois não quer receber as ditas "dick pics" de desconhecidos. Se ela é despudorada os homens acham-se no direito de serem despudorados com ela. Por que não?...
Elas fartam-se de se auto fotografar nas redes sociais e depois vêm queixar-se dos "assédios", não faz sentido tanto falso pudor pós-selfie.
Sou jovem (30 anos) uso bikini mas não gosto de fio dental nem nada que exponha em demasia o meu corpo e sensualidade.
Encontrei o seu blog por acaso.
Matilde
Olá Pôr do Sol
ResponderEliminarGosto muito do Minho e nos últimos anos tenho ido lá com alguma frequência. E gosto muito do Gerês. Mas sabe? Cada vez mais percebo que o que conseguimos ver tem muito a ver com a nossa disponibilidade para ver. Só assim posso compreender que, tendo ido já antes a um sítio, ao voltar lá, o encontre diferente ou como se antes não o tivesse visto. O Gerês é desses sítios. A primeira vez que lá fui foi numa excursão, andava eu no liceu. Adorei. E de cada vez que lá vou, vejo-o como pela primeira vez. As aldeias, as quedas de água, a beleza dos caminhos, o gelo nas pequenas nascentes no inverno. Uma maravilha.
Conheço uma pessoa que o ano passado se perdeu lá com o marido. Apanhou um susto terrível, diz que andavam completamente desnorteados. E sem rede nos telemóveis. Andaram perdidos durante horas, até à noite, sem verem nada. Jurou para nunca mais. E não são aventureiros, nem pouco mais ou menos. Simplesmente saíram sem querer do trilho e, a partir daí, com a tarde a cair, a ver-se cada vez pior e, provavelmente, assustados, ficaram desatinados. Imagino o susto.
Por isso, tem razão, não é lugar em que uma pessoa se afoite adentrando por aqueles caminhos de montanha.
Quanto ao sotaque galego, também concordo: aquela gente canta. Bem bonito.
E beijinhos Sol Nascente!
Olá Matilde,
ResponderEliminarHoje, ao falar com a minha mãe, que já vai nos oitentas, quando eu lhe disse que ela está mais jovem agora do que quando tinha vinte ou trinta anos menos, ela recordou como, durante anos, a sociedade portuguesa era fechada e as mulheres tinham receio de serem 'faladas'. Vestiam-se, pois, desengraçadamente, sem pingo de sensualidade. Havia um cinzentismo que durou décadas e que se impregnou na maneira de ser das mulheres.
É, pois, natural que, com a liberdade, progressivamente as mulheres tenham vindo a reconquistar o poder sobre o seu corpo. Se querem apanhar sol e expor a maior parte do seu corpo, pois que o façam. Não me parece mal. Nem creio que isso reduza a sua elegância. É apenas uma questão de gosto.
Agora também percebo quando diz que, se uma mulher expuser o seu corpo de forma pública, assertivamente exibindo a sua nudez, fica mais sujeita a que alguns 'extrovertidos' resolvam retribuir, fazendo a gentileza de enviar os seus melhores ângulos. Acho que os parvalhões que fazem isso não são bons da cabeça mas, admito que, na fraca cabeça deles, não seja nada de mais face ao que viram da parte dela.
E concordo que nesta era de auto-exibição, em que grande parte das pessoas (maioritariamente, mulheres), se fotografa e filma em todas as poses possíveis e imaginárias para divulgar nas redes sociais, há uma contradição e um cheiro a falso pudor quando criticam qualquer piropo ou olhar como sendo assédio criminoso.
Quanto aos fios dentais, se só agora chegou aqui, sugiro que espreite os 'cus dentais' (como o meu marido lhes chama) que fotografei há dias, no Algarve:
http://umjeitomanso.blogspot.com/2019/09/esqueletos-fugirem-do-armario-bichos.html
E, tendo 30 anos e preservando o seu pudor e o resguardo da sua sensualidade, espero que consiga sobreviver em plena sanidade neste mundo de 'faces' e 'Instas'.
Apesar de ter dado com o blog por acaso, volte sempre, Acidental Matilde.
Gosto muito dessa zona do País. Lembro-me de férias encantadoras com vistas para a ilha da Boega, num sítio com o mesmo nome.
ResponderEliminarOlá UJM
ResponderEliminarComeço por dizer que concordo bastante com a Matilde. Não tenho 30 anos, tenho 59 mas a minha postura foi sempre a mesma. E não sou nenhuma puritana com as roupas. Gosto de decotes, até porque sempre sofri um bocado com o calor excessivo da minha cidade. Uso vestidos um pouco transparentes e por aí adiante (só não uso fio dental), mas acho que muitas vezes é apenas um bocadinho que faz a diferença entre o que é aceitável e o que é despudorado e também a atitude. Não sei se me fiz entender.
Nas suas fotos não vejo nada de mais, porque as pessoas parecem deixar transparecer uma atitude/pose natural.
Bem, mas adiante...
Não conheço o norte e tenho um grande desejo de o conhecer (ainda não fui porque tenho compromissos familiares que não mo permitem). Assim como fazer o Caminho de Santiago (mas seguramente só depois da reforma). Tenho 3 familiares que já fizeram, caminhos diferentes, por motivos diferentes, em alturas diferentes e têm idades completamente diferentes e recursos monetários também(ah!ah!ah!). Um deles já repetiu e é para voltar. Outra também é para voltar. O outro não sei.
Há muitas possibilidades de caminhos, vindos de vários países.
A concha tem um significado simbólico.
Bem, este comentário vai longo...
Fico à espera de ver mais fotos dessas terras maravilhosas.
Beijinhos e bom domingo de regresso in heaven:))
Olá AV
ResponderEliminarClaro que tive que ir googlar para saber onde é a ilha da Boega... e afinal, se soubesse, teria tentado descobrir. Fui passear a Vila Nova de Cerveira, terra também muito bela. E também fiz por lá a minha reportagem fotográfica. Só não mostro para não cansar quem me acompanha aqui no blog.
Da próxima vez que lá for tentarei ver a ilha.
Obrigada pela dica.
Abraço, AV1
Paulo,
ResponderEliminarMais duas boas dicas, essa do locusmap e da bateria extra. Para quem costuma geralmente deslocar-se de carro e, portanto, é verdadeiramente ignorante em relação ao b-a-ba dos passeios a pé, todas essas dicas são importantes.
Obrigada. Útil para mim e para outros caminhantes que por aqui passem.
Olá Isabel,
ResponderEliminarSomos duas nisso do encaloramento. E concordo que o que é natural, fica bem e é prático não tem problema mas o que é excessivo, feito para dar nas vistas e até ridículo é escusado.
Será que a maior parte das pessoas vai a Santiago de Compostela numa de pagar promessas ou fazer 'pedidos' ou será mais numa de fazer um passeio a pé? Ou pela beleza do percurso? Ou numa de superação, para ver se conseguem aguentar fazer tantos quilómetros a pé? Não sei. Nunca tinha prestado muita atenção a isto. Mas fiquei francamente curiosa.
Quem sabe uma vez, daqui por algum tempo, não nos encontramos num desses percursos? Mas a pé. Acho que de bicicleta deve ser ainda mais puxado.
Beijinhos, Isabel.
Boa tarde!
ResponderEliminarAs peregrinações a São Tiago remontam à Idade Média depois de ter sido "descoberto" o túmulo deste Apóstolo. Eram apenas superadas em importância pelas peregrinações à Terra Santa no atual Israel e Palestina. Havia certamente um forte motivo religioso dos peregrinos caminhantes: visitar o "túmulo" deste apóstolo de Jesus e contribuir para a salvação das suas almas.
Hoje em dia os motivos serão mais diversificados... Há quem faça os caminhos sem ser propriamente "religioso" mas como forma de conhecimento interno de si mesmo, testar seus limites, convivio com os outros caminhantes.. O caminho em si torna-se tão ou mais importante como o destino final...
Tiago Gonçalves
Olá Tiago,
ResponderEliminarNão sei se é santo se é pecador. Teria que ver para crer. Portanto, que seja Gonçalves.
Gostei de ler o que escreveu. Não fazia ideia de que as peregrinações até ao túmulo de São Tiago são tão antigas assim e que, desde há muito, movimentam tantas pessoas, primeiro apenas os crentes, agora também os que procuram encontrar-se, encontrar-se com outros ou perceber até onde consegue o seu corpo e mente aguentar.
O caminho faz-se caminhando, não é? E nesse caminho se aprenderá o que houver a aprender. É isso, não é?
Obrigada. Estou cada vez com mais vontade de me pôr a caminho.
Um abraço, Tiago.
Boa noite UJM!
ResponderEliminarAs primeiras peregrinações remontam ao século IX quando o suposto túmulo foi encontrado. Tornaram-se bastante importantes na Idade Média, superadas apenas pelas peregrinações à Terra Santa e Roma. Perderam alguma importância posteriormente. Note-se que é bastante improvável que os restos mortais de São Tiago lá estejam, visto ter sido martirizado na Judeia na primeira metade do século I da nossa era. Alguns séculos mais tarde surgiriam lendas que referiam a sua presença na Península Ibérica e posterior trasladação do seu corpo para Compostela.
Como referiu, o caminho faz-se caminhando e nele se aprenderá o que se vier a aprender.. é essa experiência "interior" no seio de uma caminhada "exterior", que é por muitos valorizada.
Eu já lá estive duas vezes... mas fui de quatro rodas..
Sobre ser santo ou pecador.. bom.. teria de ver mesmo, provavelmente. Mas se observar as belas "sereias" contam como pecado...
Um abraço.
Olá Pecador São Tiago,
ResponderEliminarGracias outra vez. Já lá esteve duas vezes? A passeio de carrinho? Bom na mesma. Eu já lá estive uma vez e claro que também de carro mas foi numa fase muito bárbara, não ligava patavina para caminhadas interiores, não prestava atenção a coisas profundas. Achei aquilo monumental demais, o largo árido demais, uma xaropada sem pitada de graça. Hoje pasmo com o que achei na altura e, também por isso, estou curiosa com uma possível revisitação.
E só por causa disso das sereias, acho que devia era ir já rezar uma avé-maria.
Ámen.
Abraço.
Olá Santa Pecadora UJM.
ResponderEliminarCertamente consoante as fases da vida, ou o seu contexto, olhamos com diferentes olhos a "mesma realidade"...
A ideia de monumentalidade tinha possivelmente como objetivo impressionar, nos sentidos e nas emoções, os fiéis que chegavam.
Quanto às sereias... Bom nesse caso acho que vou ter muito que rezar...
Ora pro nobis!
Abraço :)