sábado, dezembro 31, 2016

Sair de 2016 na boa porque 2016 foi melhor que 2015 e porque 2017 vai ser ainda melhor.
Salve!




Não consegui responder a todos os mails dos Leitores que me enviaram os votos de feliz Ano Novo mas tentarei fazê-lo amanhã. Contudo, não gosto que mensagens tão importantes (pelo menos para mim são) fiquem sem resposta e, por isso, aqui num instantinho, venho agradecer a todos quantos fazem o gosto de me dirigir mails pessoais, generosos.

Muito obrigada e tomara que todos os votos se cumpram. E, para todos Vós, também um excelente 2017.

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E, para que o post não pareça meio coxo aos olhos de quem aqui vem com vontade de ler mais do que meia dúzia de palavras, acrescento uma meia dúzia de linhas...

Não estou com muito tempo agora mas posso dizer-vos que, pelo menos por hoje, não houve agravamentos de estados de saúde familiares, novas gripes, complicações. Eu própria parece que, por obra e graça, depois do dia jeitoso de ontem, me curei.


Portanto, havendo programa de festas em preparação, o dia foi azafamado e alguns dos preparos gastronómicos já foram adiantados. Contudo, dia de fim de ano não pode ser deixado só por aí. Portanto, passeio matinal, fotografias pela beira do rio, aspiração de ar limpo e de céu azul, aquela sensação boa de que, no intervalo das crises, surgem sempre momentos bons e que a beleza natural é um potente antídoto contra males e medos. Depois passeio pela cidade, fotografias de rua. Pelo meio Dim Sum. E, para que o dia não ficasse a rir-se, livraria. E daquelas sossegadinhas, livros bons de ter na mão.

Conto-vos quais os livros que trouxe porque estou tão contente com eles aqui ao meu lado:

O silêncio de...., Rui Chafes 

Incandescência, Cézanne e a Pintura, Tomás Maia 

Zen, e a arte do caminho das flores, Gusty L. Herrigel

Manon Lescaut, Padre Prévost (espero bem não o ter já...)

As lágrimas de Eros, Georges Bataille

E, portanto, acabo o ano com livros novos ao meu lado, com a maresia correndo no meu sangue, com os olhos cheios de azul, com música e rodeada de afecto. Tudo certo.

2017 vai ser um ano bom, vai sim. E vamos entrar nele com alegria porque é a melhor forma de espantar todos os males.


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Boas saídas, meus Caros Leitores. E ainda melhores entradas!

Que venha o 2017 que chegamos bem para ele.


Acabar o ano sem listas de intenções, sem firmes propósitos e apenas com uma em mente:
viver o melhor possível.
Quanto à lingerie, não sou dada a começar o ano com lingerie da avó em cor azul cueca.
Prefiro entrar nele mais à minha maneira, com alguma provocação à mistura




O meu restabelecimento da gripe fez-se nas urgências de um hospital a rebentar pelas costuras. Não era eu a doente mas a acompanhante. Tentámos arranjar uma ambulância para transportar o doente a um hospital privado já que, felizmente, dispõe de seguro de saúde e sabíamos o estado de sobrelotação do público. Zero ambulâncias. Todas ocupadas nas horas seguintes. Inem, portanto. Como já não há Serviços de Atendimento Permanente, cai tudo nos hospitais. 

Uma vez que a triagem decretou pulseira laranja (ou encarnada? - nem sei), entrou logo e foi para a chamada 'sala aberta'. E eu cá fora, sabendo o desenrolar dos acontecimentos através do 'balcão do utente'. Uma hora depois: já foi visto, vai fazer exames. Uma hora depois: ainda não se sabem os resultados. Etc, etc. 

Podia agora escrever dez posts diferentes sobre o que se passa nas urgências de um hospital em dias assim. Mas não dá. Estou sem grande cabeça para isso.

Até que me chamaram: alta. Medicação, vigilância, tudo explicado, os riscos, os cuidados. 

Lá dentro, de um lado e do outro dos corredores, em camas ou macas, coladas umas às outras, gente gemendo, gritando, chamando. Uma coisa tétrica. Ou pungente. A vulnerabilidade humana ali exposta, sem pudor.

Depois a saga de arranjar ambulância para o levar de volta. Todas ocupadas, ligando para uma e outra empresa e nada, todas em serviço. Até que numa me atende um homem abrutalhado. Repito a conversa 'teria uma ambulância disponível para vir buscar ao hospital um doente que teve alta e levá-lo para casa, em maca?' e acto contínuo: 'o nome do doente?', digo e logo o homem 'já aí vou' e pumba, desliga-me o telefone.

Avisei o meu marido, 'olha que há-de aparecer aí uma ambulância (e disse-lhe o nome da empresa) e eu não sei como é que os homens dão comigo, diz que estou na 'sala aberta'.

Passado um bocado aparece um homem muito pequenino, ultra-barrigudo, boné no alto da cabeça, aos gritos pelo nome do doente. Gesticulo cá de longe. Ele vem e dá-me uma desanda 'isto não é a sala aberta!'. Explico 'Pois não, mas não vê que isto está cheio, que as pessoas estão nos corredores...?.

Mas pronto. Lá fez o que tinha a fazer, lá transportou o doente para a ambulância.

Quando enfia a maca na âmbulância e se prepara, ele próprio, para entrar também, pergunto: 'Mas então não quer saber a morada!?'. Responde ele: 'Mas você não vem tamém?'. Lá fui.

Quando chegámos a casa, diz uma das pessoas que estava à nossa espera: 'mas ele conseguiu conduzir a ambulância...? é conhecido por andar sempre com os copos...'. Pronto. Estava explicado. No fim, o ajudante voltou lá. Fui abrir a porta. Diz ele 'esquecemos uma coisa. tome lá um cartanito para outra vez que precise'. Enterneci-me com o cartanito, agradeci de gosto.

Cheguei a casa há pouco, passava da meia-noite. Tomei um banho quente que me soube mesmo bem e que espero que tenha tirado de cima de mim os micróbios que por ali andam à solta e em altas concentrações. Já comi um lanchinho. E parece que me curei da gripe. Aquela bicheza lá do hospital deve ter derrotado os meus viruzecos.

Portanto, não faço ideia de notícias, não sei o que se passou, não sei se o Trump fez mais alguma das suas ou se o Marcelo foi visitar algum gatil. Não tenho ideias, não consigo pôr-me com grandes palavreados. 

Só sei que a coisa é boa enquanto dura e que mais vale a gente aproveitá-la enquanto pode.

Encontrei um colega no hospital. Ficou a olhar para mim, admirado. Perguntou-me o que se passava. Contei-lhe. Ele disse-me que todos os dias, desde há quinze dias, quando o pai entrou em falência respiratória (parece que foi o que ele disse) o ia ver, despedir-se. Emocionou-se ao dizê-lo.

Quando nos despedimos, tive um bloqueio, não soube o que lhe desejar: 'as melhoras' não, pois se o pai estava a morrer, boas entradas também não pois o que é uma boa entrada com um pai moribundo? Não disse nada, só 'olhe...' e encolhi os ombros e ele é que me disse 'boas entradas' e eu agradeci.

Por isso, Caros Leitores, talvez compreendam que agora, depois da uma e meia da manhã e depois de um dia destes, não consiga mais do que isto.

Pode ser que mais logo, à meia-noite, se tudo se aguentar menos mal, eu consiga festejar o fim deste ano, comer passas, beber champanhe, formular votos, bater tampas para afugentar o ano velho, E se no dia 1 tudo se mantiver na mesma, menos mal, talvez eu consiga fazer o meu almoço de ano novo e ter a casa cheia e transbordante de animação.

Lingerie nova em azul cueca, para entrar no ano novo, não tenho. Velha também não. Não ligo a nada disso. Vou pelo que me agrada. Li que o que está a dar para festejar o réveillon é a lingerie encarnada. Ora bem. Parece-me uma boa maneira de sair de um ano e entrar no outro.

Tirando isso, batatas. 

E viva a vida!

Não tenho boas intenções nem grandes objectivos. Tenho uma única vontade: aproveitar cada dia com a consciência plena de que tudo isto é desoladoramente efémero e que mais vale que tentemos estar bem e fazer bem a cada momento.

Devia talvez aqui colocar um poema, um bailado, qualquer coisa do género. Mas não. O que vou pôr é outra coisa porque é uma forma de eu ter bem presente um princípio cá muito meu: a subversão é importante, o politicamente incorrecto também e a alegria de viver deve vestir-se com todas as cores e sabores de que formos capazes.

Portanto, meus queridos Leitores, se acharem que a música da Melody Gardot está aqui deslocada saibam que concordo. Mas é o que está a apetecer-me ouvir. E se também acharem que as fotografias que escolhi não têm nada a ver com o que estive para aqui a escrever, saibam que vos dou toda a razão. Mas não ia aqui colocar fotografias de doentes, de ambulâncias ou de lingerie beata.

Tenho cá para mim que se eu puder quebrar regras e daí não vier mal ao mundo e, pelo contrário, se for coisa que se traduza em doces festejos... pois porque não?


Até porque, a bem da verdade, estas são as regras da casa

(Por acaso são as Regras do Agent Provocateur mas poderiam ser as do Um Jeito Manso)



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E, não vá dar-se o caso de, por algum motivo, eu não conseguir vir aqui antes da meia noite, deixo-vos já os meus votos.

Para todos vós, meus Queridos Leitores, um feliz 2017. 

Saúde, sorte, afecto, boa disposição. Tudo, tudo de bom.

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sexta-feira, dezembro 30, 2016

Rosa Amador





Em miúda tive umas duas ou três vezes 'anginas'. Aquilo dava-me uns febrões que me faziam delirar. Era uma coisa terrível. Não estava a dormir. Estava acordada, com alucinações. Ficava apavorada. De tal forma apavorada que ainda hoje me lembro. O filme de terror era sempre o mesmo: estava numa casa imensa, muito alta, cheia de coisas, 'muito, muito...', gemia eu, e tinha que encontrar qualquer coisa no meio de milhares ou milhões de coisinhas pequenas. Encontrar agulha em palheiro. Sabia que não conseguia mas, por algum motivo, era como se estivesse obrigada, e era a impotência absoluta, 'tanto, tanto... não consigo...'. Depois os meus pais molhavam-me a testa, os pulsos, e, aos poucos, eu saía desse estado. Ficava então como que em letargia. Lembro-me de ficar de cama. Doía-me muito a garganta, não conseguia engolir. 

Felizmente nunca mais tive tal coisa. Agora acho que não estou com febre e, muito menos, estou aterrorizada. Mas estou como que desligada. Não é preciso ter gripe para me sentir assim. Aliás, não raras vezes, me impaciento ao ter que passar parte do meu tempo entre pessoas que são quase o meu oposto a todos os níveis ou ao me ver cercada, a nível de opinião dominante, por vacuidades ou por sentir que o meu tempo se extingue sendo consumido de uma forma tantas vezes contrária à minha natureza.

No entanto, não estou a vitimizar-me. Não passo os meus dias agrilhoada nem faço nada que belisque a minha consciência. Podia era, num mundo ideal, levar uma vida mais em consonância com a pureza íntegra da terra, conviver mais com a gente que ainda não se deixou conspurcar por uma coisa que não é senão um arremedo de progresso, podia ter mais tempo de qualidade para mim.

Não estou a delirar. Mas o que as minhas mãos procuram hoje não é senão agulha em palheiro. Não quero escrever sobre assuntos que perdem a relevância no dia seguinte a terem surgido. Não quero escrever sobre as futilidades que diariamente me cercam, quase me asfixiam.


Já andei pelo Cézanne, já andei por vários lugares assim e, nesta demanda, agora vim parar a um lugar maravilhoso. 

Estou há um bom bocado, encantada, ouvindo pessoas a falarem. Não falam de nada que seja decisivo para o futuro do mundo nem pensam que têm a chave do conhecimento universal. São pessoas que falam da sua vida, das suas memórias. Pessoas tão pessoas como eu ou como quem aqui me lê ou como quem escreve blogs altamente reflexivos ou artigos em jornais ou livros ou como quem perora nos balcões comentadeiros dos canais de televisão ou como quem discursa na Assembleia da República. E, no entanto, pelo menos para quem vive nas grandes cidades, como é o meu caso, pessoas que é como se já nem existissem.

Para aqui partilhar convosco, escolhi as palavras de Rosa Amador. Mas poderia ter escolhido as de Júlia Emília Esteves Tavares, as de João Alberto Barroqueiro, as de José Rebimbas ou as de José Passarinho e de Angelina, conhecida por Passarinha, ou de outros.


Ouvindo e vendo Rosa Amador lembrei-me de um gosto meu de que já me tinha esquecido.

Na casa onde antes vivia, quando os meus filhos eram pequenos, havia um tanque na varanda. Por causa do tanque, não podíamos lá pôr a máquina de lavar roupa. Tinha que estar na cozinha que não era enorme nem tinha recanto para máquinas, e isso não dava muito jeito. De vez em quando, o 'problema' vinha à baila e os homens da família, reconhecendo a dificuldade em transportarem o tanque (e iam colocá-lo onde? ao lado do contentor do lixo...?), arranjavam soluções. A conversa geralmente acabava na mesma solução radical de sempre: partirem o tanque à marretada e transportarem os pedaços. Nunca aderi à ideia. A verdade é que gosto imenso de lavar roupa à mão. Houve uma altura em que a máquina se avariou e não conhecíamos quem a arranjasse. Durante um ou dois meses lavei a roupa toda à mão. Meter a roupa na água, trazê-la escorrendo para a pedra, ensaboá-la, esfregar, passá-la por água, torcê-la. Tudo coisas que me davam prazer. Volta e meia ainda lavo roupa à mão mas num alguidar ou no lavatório da casa de banho pois nesta casa não há tanque.


Lembro-me, quando era pequena, de as minhas avós terem tanques. Tinham também máquinas que tenho ideia de serem, as primeiras, relativamente elementares, um simples tambor sem qualquer outra função que não a de rodar a roupa, a água e o pó (como elas chamavam ao detergente). Mas lembro-me, também, de, relativamente perto da casa de uma das minhas avós, haver uns tanques colectivos. E lembro-me de gostar de ir ver as mulheres a lavarem roupa que levavam em grandes alguidares de madeira (selhas, seria?). Eram mulheres com braços fortes, com uma energia transbordante. Batiam a roupa com força na pedra, punham a corar ao sol para ficar mais branca, conversavam enquanto lavavam, era um festim. Os tanques estavam debaixo de um telheiro e ao lado havia as cordas que eram levantadas a meio com paus, caso estivessem muito pesadas. Observar aquilo era para mim um fascínio.

Onde ficou esse meu mundo, agora que apenas piso corredores de edifícios energeticamente eficientes, com elevadores equipados com equipamento de imagem e som, com salas onde se faz video-conferência ou se usam flip charts inteligentes? Sinceramente não sei.

Mas ainda existe. Num qualquer recôndito lugar dentro de mim, ainda existe esse lugar. Imaculado.


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As magníficas fotografias e os maravilhosos filmes são do veterinário Jorge Bacelar que também é fotógrafo e, como se vê, muito mais que isso.


Rosa Amador conversa com Jorge Bacelar.
Os lavadouros públicos.



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Mais vídeos neste lugar mágico


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E, a quem ainda não visitou o post mais abaixo, permito-me recomendar uma ida até ao mundo de Cézanne.

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Com uma maçã, ele surpreendeu Paris





Debaixo de anti-histamínicos e anti-piréticos mas, felizmente, sem dores de cabeça ou no corpo, apenas alguma tosse e dor de garganta, depois de um dia de trabalho e outras preocupações, aqui estou finalmente na minha sala. Envolvo-me em sono e calor, desligo do que me traz apreensiva e espreito as notícias. 

Não há uma única notícia que me motive. Ou melhor: haver até há. Não sei é escrever sobre ela. A ver se me informo melhor pois é tema que me acorda. Refiro-me a saber-se que há um rio de ferro que corre a uma velocidade crescente no interior do nosso planeta e que está a uma temperatura quase equivalente à do sol. Acho interessante e acho que é coisa não neutra. 

Mas não vou pôr-me, para aqui, a dissertar sobre assunto que requer conhecimento. Só se me pusesse a ficcionar mas, no estado em que estou, mal consigo reportar-me à realidade, quanto mais à ficção.

Em dias assim movo-me para outro comprimento de onda. Prefiro a companhia daqueles que são independentes do seu corpo, cujas ideias ou obras sobrevivem ao corpo. Por vezes, em vida, são pessoas atormentadas e custa-me pensar nisso ao apreciar o seu legado nem me ocorrendo o que pensava ou sentia o artista enquanto executava a obra.


É o caso de Cézanne. Gosto de Paul Cézanne. Já vi obras suas ao vivo e é sempre aquela emoção de a gente ver uma celebridade ao vivo.
(Estou a gozar.)
Mas há um pouco de verdade nisto. Já se conhece e reconhece e depois está-se ali e vê-se ao vivo. Há um certo sentimento de déjà-vu mas, ao mesmo tempo, a satisfação por ver a obra tal como o pintor a deixou.
Abro um parêntesis para dizer que, de vez em quando, a sensação é mil vezes mais do que isto. Por exemplo, quando vi Caravaggio ao vivo fiquei quase aterrada, quase não conseguia fitar tamanha energia, tamanho frenesim telúrico. Outras vezes também uma emoção grande. Rothko, nos antípodas, também me deixou quase sem palavras, como se tivesse vontade de ser sugada para dentro daquele vazio, um vazio que, no entando, estava tingido de cores vibrantes. Ou o pano de boca de cena de Chagall, uma imensidão onírica.
Mas volto a Cézanne.


Vi um escrito sobre ele e entretive-me a ler e a ver mais umas coisas.

Transcrevo um pouco:
Cézanne sempre trabalhou sozinho, sem alunos. A sua pintura era sua maneira de existir. Sua vida fora marcada e envolvida por sua melancolia e cólera que permeava a sua vida inócua, instável, indecisa. Pinta na tarde em que sua mãe morre. Não é admirado por parte da família. Ao envelhecer acreditava que a sua pintura era fruto apenas dos distúrbios visuais que perseguiam seu corpo. Duvidava do seu talento e da genialidade que o transbordava, pois as circunstâncias e as reviravoltas da vida, não permitiam o reconhecimento de suas produções. A fraqueza e a baritimia o perseguiram no percurso de sua vida. Quando se mudou para Paris, decidindo ser pintor, escreve “Não faço mais do que mudar de lugar e o tédio me persegue”. Não conversava, pois não sabia argumentar. Preferia a solidão. Encontrar os amigos em Paris, quando via casualmente algumas vezes, apenas os cumprimentavam à distância evitando conversas prolongadas. “A vida assusta”, dizia Cézanne. 
(...)

Um dia, apanhado por uma tempestade, continuou a pintar à chuva durante duas horas. Dias depois morreu com uma pneumonia. Em 1906. 

E, no entanto, ao vermos as suas pinturas, que diferença faz o ano em que morreu, ou se tinha sessenta e sete anos quando isso aconteceu ou setenta ou oitenta ou se já se foi há mais de cem anos ou apenas há dez ou se ainda está vivo?

Divago, talvez. Mas penso isto, mesmo. 
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"Avec une pomme, je veux étonner Paris!" 


Gustave Geffroy rapporte que Cézanne répétait souvent cette phrase. C'est dire la place qu'il attribuait à la pomme : à la fois insignifiante et essentielle.

Selon Meyer Schapiro (Style, artiste et société p 224, Ed Gallimard), ce calembour réunit toute sa carrière, depuis Paris-Pâris jusqu'au motif exemplaire qui fait de la pomme un équivalent de la figure humaine et de ses passions. Effrayé par les modèles féminins, il préférait ces objets détachés de leur fonction sociale, sur lesquels il pouvait projeter ses désirs. (...)

(Cézanne, Pommes sur une table, 1900)

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quinta-feira, dezembro 29, 2016

Mas querem lá ver que hoje vai ser aquele dia em que não vou conseguir escrever um post....?





Desde há uns dias andava cansada, com alguma dor de cabeça, a sentir-me murcha. Como nada disto me é usual, pensei que não estava lá muito bem.

Passei o dia de natal e o dia a seguir a caminho de casa dos meus pais, preocupada, a minha mãe com gripe, muito abananada, com febre. Com a idade que tem e com esta estirpe de gripe que por aí anda fiquei apreensiva. Não sou fatalista mas nos últimos dias morreram as mães de três conhecidos. Sintomas um bocado idênticos, fraqueza e tiro e queda. Chamou-se médico a casa. Pulmões limpos mas repouso, muitos líquidos, medicação até passar. Lá fomos à procura de farmácia de serviço no dia de natal. 

Na segunda feira tinha metido dia de férias. O meu corpo estava a pedir descanso, a minha cabeça tréguas.

Zero. Na segunda-feira era o meu pai. Tosse permanente, febre. Para agravar, não quer a cabeceira da cama levantada. Quase afogado na tosse. E a minha mãe fraca, muito apanhada. Médico a casa. Necessidade de antibiótico e mais isto, aquilo e o outro. E eu de roda deles.

Às tantas, recebo um sms. Vou ver. Era do meu marido que estava lá na sala, a avisar-me para não andar completamente de volta deles e para lavar as mãos.

E à noite eu já com frio, frio, a cabeça a incomodar-me. Fui trabalhar mas a sentir que não estava na forma normal.


Esta quarta-feira mais um dia de férias para ficar com dois dos pimentinhas. Mas toda eu arrepios, os olhos vermelhos, a arder, a cabeça a estalar, o corpo dorido.

Agasalhada, com chapéu (a minha filha deu-me um chapéu lindo), lá fui com eles para um parque infantil. O meu filho também de férias juntou-se-nos mas apenas com o mais novo porque a menininha tinha ido ao médico com a mãe, tosse, febre.

Para começar, quando lá cheguei vi que me tinha esquecido do telemóvel em casa. E o meu filho ainda sem chegar, se calhar a ligar-me para ver onde é que eu andava. Imaginei: vai ligar para o pai, o pai vai ligar e eu não atendo, vai ser logo um drama.

Lá fui com os dois irrequietos rapazes a uma pastelaria pedir se me deixavam telefonear. Felizmente tenho um papel mínimo, já meio gasto, com alguns números (porque não sei nenhum número de cor, só meu e o fixo de casa da minha mãe). Liguei ao meu marido. Atendeu-me furioso, que sou sempre assim, despistada, que já estavam fartos de me ligar e de ligar um para o outro, já preocupados, há mais de meia hora.

Passado um bocado, lá chegou o meu filho. Jogo de futebol, viril, sarrafada de criar bicho. Três pimentinhas e um pimentarolas, a jogarem a sério, com faltas, discussões. E eu enregelada.

Depois fomos lanchar. À chegada perto cá de casa, ainda aproveitaram para uma futebolada. E eu toda apanhada.

Ao fim da tarde, já sozinha em casa, enrolei-me numa manta e dormi, dormi. Não tenho feito outra coisa senão dormir. Acho que estou com febre. Dói-me a cabeça, dói-me o corpo. Já tomei um comprimido. Ainda não começou a fazer efeito. Se calhar mais daqui a nada vou tomar paracetamol.

Não sei se amanhã consigo ir trabalhar. Dói-me um bocado o peito, estou a ficar com tosse.


Gostava de ser capaz de escrever alguma coisa minimamente de jeito e não sei sobre o quê. Está a dar uma entrevista ao Júlio Isidro. É um homem inteligente e equilibrado. Mas não consigo prestar muita atenção. A sala está quente e eu super agasalhada mas não me passa o frio e o mal-estar. Também me está a doer a garganta.

A médica que foi ver o meu pai e o médico que foi ver a minha mãe acharam que mais valia ficarem em casa, em repouso, a beberem líquidos e a serem medicados, pois, disseram e vi na televisão, os hospitais estão caóticos.

Já lhes telefonei hoje umas três vezes. Parece que estão melhores. Mas agora está doente a senhora que vai lá a casa tratar da higiene e das refeições do meu pai e dar um jeito na casa. Tomara que não vá à cama, senão como é que ficam os meus pais?

Ai....


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As fotografias mostram arranjos florais que o florista Geoffroy Mottart espalha pelas estátuas de Bruxelas, fotografando-as ao abrigo de um projecto a que deu o nome de Fleurissements. Não têm nada a ver com o que escrevi. Só se for pelo facto de eu achar que era bem bom que me apetecesse ter flores a enfeitar o cabelo.

A música é um bocado mal empregada aqui mas é o que suporto ouvir. Trancrevo directamente do youtube:
"O Virgin Pure”, Hymn of Saint Nectarios, num arranjo vocal e musical de Vassilis Tsabropoulos
Voz: Nektaria Karantzi; Piano: Vassilis Tsabropoulos
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Um dia feliz para vocês, meus Caros Leitores, e saúde. 
Abifem-se e abafem-se a ver se escapam a esta malvada gripe. 

quarta-feira, dezembro 28, 2016

2016





Não sei se já alguma vez fiz um balanço de um ano que passou, coisa como deve ser, rigorosa, pensada. Só a nível profissional e é porque a isso sou obrigada. Chego a Dezembro e lembro-me lá eu bem do que aconteceu lá para trás. Não me lembro e estou-me nas tintas para isso. Posso ter uma ideia geral. Mas de que serve isso, agora que já passou?Neste tempo de reacções exacerbadas e efémeras, de que serve a reflexão sobre o que passou? 

Por exemplo, sei que a nível político, cá pelo burgo, a oposição começou por aboborar, depois definhou e, finalmente, feneceu. Em 2016 Passos Coelho cobriu-se de ridículo a cada dia que passou apesar de as televisões continuarem a levá-lo ao colo. Mas é ao colo. Não em ombros como antes: levam-no ao colo como se leva um inválido. Isto o Passos Coelho. Do lado dos orfãos do ex-Irrevogável, a desgraça não é menor. Enquanto o Láparo se vai deixando cobrir de moscas, a Madame Cristas-da-coxa-grossa aposta no glamour à moda da colunável Katia Aveiro. Infelizmente nem uma nem outra conseguem ser levadas a sério. O rapazito Adolfo do verbo fácil e olhinho faceiro lá tenta fazer de conta que o partido ainda mexe mas não consegue. Aquilo vivia dos trocadilhos do Portas. A sucessora, Madame Cristas, que não tem a verve do ex-discípulo do Esteves Cardoso, aposta nos quadrinhos e lembrancinhas 'tipo' pré-primária e o garçon Adolfo, não sabendo como fazer pendant com essas gracinhas escolares, aos poucos, vai também perdendo o brilho que lhe vinha do reflexo do tutor.


Quanto ao PS, lá vai andando, sem grande brilho, a reboque da energia catapultante de António Costa. Muita gente agarrada ao passado, a épicas memórias, muita gente com os pés agrilhoados ao aparelho, muito culto de seita que vem do espírito das jotas e muito encosto a facilitismos por via de nomeações para assessorias e outras mordomias. Mas, aqui e ali, alguém sobressai e consegue caminhar sobre esse terreno, alguém consegue formar uma equipa de gente que consegue puxar o barco e seguir em frente, com presciência, competência e determinação. António Costa tem estado a ser um exemplo de energia, capacidade de agregar diferenças, vontade de tirar o pé do país da lama -- e sempre num registo descontraído, não como um missionário, não como um mestre-escola castigador. Um primeiro-ministro que não nos envergonha. Pelo contrário: um primeiro-ministro de que nos podemos orgulhar.

O PCP é cada vez mais um agrupamento de gente desnorteada -- mas séria. Jerónimo de Sousa é um homem honrado. O PCP já não consegue ter ideais porque todos os seus modelos ruiram. Agora apoiam-se em utopias. No entanto, pode ser gente antiquada e, por vezes, um pouco quadrada, mas é gente de bem. Penso que uma aliança com o PCP, seja sob que forma for, é um esteio de honorabilidade.

O BE não é que, de vez em quando, não tenha razão. Tem. Concordo, com frequência, com o que dizem. Mas há ali um onanismo latente e um histrionismo cansativo que estraga o efeito do que dizem e quase anula a razoabilidade de algumas ideias. Se calhar, ao escrever isto, estou a pensar essencialmente na Mortágua e na Catarina Martins e a ser injusta para os outros. Mas a verdade é que, tirando elas, o resto não risca.

Marcelo é o que é e está na presidência como esteve nas campanhas (nas presidenciais e nas autárquicas). E como esteve nos comentários. Aliás, entre mil outras coisas, ainda está nos comentários. É a personificação do dom da ubiquidade, da hiperactividade e da criatividade ao serviço da política. Envolve o país em sorrisos e afectos, transporta uma mensagem de optimismo e confiança e isso é positivo. Não tem sido lesivo do País e tem ajudado a limpar a sombra negra do Cavaco e, enquanto assim se mantiver, nao está mal. Além do mais, não vai descansar enquanto não conseguir limpar o PSD de Passos Coelho e isso é motivo para todo o País lhe ficar grato.

Tirando isso, o que mais?


Na UE a pasmaceira do costume, a falta de visão, a calhandrice inconsequente a que já habituaram o mundo. Um bando de burocratas inúteis. E a vergonha de ter um ex-presidente da Comissão a enxovalhar uma instituição que, já de si, não sabe dar-se ao respeito. Durão Barroso é a bosta do regime cavaquista -- e eu, que nunca emprego esta palavra e que não acho graça a quem a usa, tenho que pensar mesmo muito mal da criatura para a usar.

Nos EUA, o cúmulo do ridículo a que isto chegou: um palhaço eleito presidente. E palhaço aqui não é profissão, é insulto mesmo. Os riscos que o mundo vai correr com um parvo daqueles aos comandos do mundo são difíceis de antever. Custa perceber como um país que é tido como um bastião da liberdade e do progresso elege um parvalhão retrógrado, uma nulidade, um perigoso bronco. Um perigo.

A Rússia continua a ser o urso grande que caminha sem medo por entre a negra floresta, de quando em vez até pode parecer amigo e fofinho, mas logo deixa claro que é capaz de dar abraços que asfixiam e que não se ensaia nada para deixar pegadas de sangue, 

A China é o grande império que se deixou deslumbrar pelo pechisbeque mas que mantém os hábitos ancestrais de planear a longo prazo, de avançar com a paciência milenar de quem sabe que a vida de um homem é curta mas que a cultura impregnada nos genes da nação é vasta. E avança. E avança a caminho do ocidente. Delicados, avançam por onde os caminhos são fáceis e as portas abertas. 


Tirando isso, o terrorismo, essa doença infantil de um mundo que não tem sabido lidar com a democracia, com a inclusão, com as dificuldades de um progresso que deixa muito a desejar. Este é um mundo onde abunda a testosterona besta, onde campeia o aproveitamento da situação por parte de quem vive da indústria de armamento e, sobretudo, onde os agentes evidenciam uma cultura de Play Station e muito poucos neurónios -- e isto quer do lado de quem pratica o terrorismo quer do lado de quem não é capaz de o combater. Talvez o ano que aí vem traga algum separar de águas nesta matéria.

Omnipresente, o capitalismo desregulado, a ganância insaciável, a corrupção boçal. Um mundo que se move a partir dos bastidores.

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Nas artes, nada de disruptivo, pelo menos que me lembre. O mais significativo talvez seja mesmo que a ceifa em 2016 tem sido brutal, levando mais artistas do que era costume. A grande malvada não tem sido branda.

Mas grandes obras, grandes livros, grandes pinturas, grandes músicas, grandes esculturas, grandes coreografias, grandes filmes, etc, etc,... assim que agora possa destacar não estou a ver. Contudo, talvez seja lapso de memória da minha parte.

Nas ciências, certamente por ignorância minha, mas também talvez devido à fraca visibilidade de um mundo que parece viver muito em circuito fechado, talvez devido ao estupidificante desinteresse da comunicação social, também não consigo pronunciar-me.

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E, no entanto, há todo um mundo aprazível, um mundo de gente boa, corajosa, heróica, especial. Ou de gente normal capaz de milagres. Do milagre da sobrevivência, por exemplo. Gente generosa. Gente inteligente. E há a natureza. O milagre da renovação da natureza. E a ciência. Gente que espreita o desconhecido, que procura o que se esconde debaixo da pedra, gente que procura a luz ao fundo do indecifrável labirinto. E a arte. Pode não acontecer a obra prima mas há a arte de todos os dias. A arte das palavras perfeitas, de as escrever, de as cantar, de as dizer, e a arte dos acordes sublimes, e a arte das cores e da luz, e a arte de mudar a forma dos materiais, e a arte de desenhar o movimento. 

E é isto que faz mover o mundo e que faz valer a pena viver.


E a nível pessoal, o que se passou comigo?

Uma avalanche de trabalho desabou em cima de mim. Muitas vezes sinto que não sei se vou aguentar ou conseguir dar conta do recado. Depois lá vou pondo de lado esses pensamentos e seguindo em frente. A nível de saúde, tive uma tendinite tramada que, porque fui deixando arrastar a toque de brufens consecutivos, deu também em bursite. Durante algum tempo escrevi aqui cheia de dores, com gelo, cheia de anti-inflamatórios. Devia ter descansado mais mas continuei a trabalhar, a conduzir, a fazer a vida normal (apesar do esforço, por vezes, tremendo). Lá passou. No tempo livre, passeei sempre que consegui, caminhei, fotografei, estive com os meus, porque sem eles é que não passo, carreguei com mais toneladas de livros cá para casa. Quase não pintei. Que me lembre só três quadros para a minha filha. E cada vez mais constatei que o mais importante na vida é o afecto. Talvez tanto ou mais que a saúde.

E agora, assim de repente, acho que mais nada que valha a pena figurar aqui. Ou melhor, haver mais, há. Se calhar o mais importante nem está aqui. Mas são coisas cá minhas.


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As imagens são algumas das fotografias do dia que, ao longo do ano, foram sendo publicadas pelo site National Geographic.

A música, interpretada por Nick Cave é To Be By Your Side porque assim me mantive ao longo de 2016, ao vosso lado.

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Permito-me ainda convidar-vos a descer até ao post seguinte onde me interrogo sobre qual a forma de lidar com alguém que está com uma depressão ou com um esgotamento.

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Como se lida com uma pessoa com uma depressão ou com um esgotamento?





Conheço uma pessoa que penso que está com uma depressão ou com algum transtorno emocional. Trabalha como se não houvesse amanhã, tem um fraco rendimento pois as horas de trabalho a fio traduzem-se em pouco, acha-se uma vítima dos colegas, do chefe, da família, de toda a gente. Volta e meia a passividade prega-se-lhe ao rosto e olha-nos como se não houvesse vestígios de vida no olhar ou como se estivesse a magicar na forma de nos matar. Outras vezes, do nada, nasce uma agressividade inusitada, grita com desaforo, é inconveniente, desafia quem calha. Logo depois, vendo o espanto no rosto dos outros e percebendo que pisou o risco, pede desculpa, muita desculpa, pode até chorar, pede ajuda, quase se humilha. Noutras ocasiões, querendo mostrar que está bem, ostenta uma euforia deslocada, diz piadas que deixam os outros perplexos ou incomodados: tudo forçado e desconcertante. Em paralelo com isso, envia mails com imagens como que infantis e que pretendem ser descontraídas ou humorísticas mas que se revelam, isso sim, patéticas.


Quando se lhe sugere que descanse, que trabalhe menos, que vá ao médico, que se trate, diz que já anda a tratar-se. E continua na mesma. De relações cortadas com parte da família e com o casamento em risco, com os colegas de trabalho preocupados achando que enlouqueceu ou que está em vias disso, o que relata, para se desculpabilizar, são factos bizarros em que se coloca sempre numa perspectiva de vitimização.

Não sei bem como lidar com uma situação destas pois, aparentemente, não acata conselhos e nada faz para se tratar pois, de facto, não reconhece que se passa algo de estranho consigo, colocando a responsabilidade integral pelo seu mal estar no comportamento dos outros. Não sou só eu a estar apreensiva: somos todos quanto observamos o que se passa. E todos constatamos o mesmo: quase não é possível lidar com uma pessoa num tal estado. 

Ao mesmo tempo, tememos o desfecho disto pois o isolamento é progressivo e o estado de esgotamento parece iminente.


Por vezes interrogamo-nos sobre o que se pode fazer num caso destes. Não se pode amarrar a pessoa que atravessa um problema destes e levá-la à força a um psiquiatra nem obrigá-la a meter baixa e ficar em casa a descansar.

Dizemos que passeie, que durma, que descanse a cabeça, mas a resposta é invariavelmente a mesma: que também queria fazer isso mas que as obrigações são mais que muitas, que tem que fazer isto, aquilo e o outro e que tomara ter tempo para fazer tudo o que recomendamos mas que não pode, que infelizmente não pode. Depois encolhe os ombros, baixa o tom de voz e acrescenta com auto-comiseração: apesar de ninguém reconhecer, apesar de ninguém agradecer... Penso que imagina que o mundo pára se da sua parte houver um abrandamento. Contudo, quase não consegue acabar um trabalho pois aparecem-lhe dificuldades que diz não controlar, depois verifica tudo mil vezes, depois encontra sempre problemas e volta ao início, num stress por não cumprir prazos nem entregar trabalho em condições.

Sei que não se deve abandonar à sua sorte uma pessoa que está assim mas a vontade de ajudar quem não quer ser ajudado também se esgota.

Não sei o se deve fazer nestas situações. Ouço falar em burnout, coisa muito na moda, mas não sei se é isto nem sei como se faz para uma pessoa 'apanhada' sair destes estados quase incapacitantes. Como se ajuda uma pessoa assim?


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As imagens mostram instalações 'psicadélicas' do austríaco Peter Kogler
O vídeo lá em cima mostra a cena final de 'Os Pássaros de Hitchcock.

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De manhã publico um outro post, com um balanço de 2016.
Já está quase pronto mas tenho que dar uma ajeitada nas fotografias e agora estou com sono.

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terça-feira, dezembro 27, 2016

Os robots sexuais estão para breve
(até porque os cálculos necessários para o sexo são pura matemática)
- e este é um mundo com que as Anas Avoilas, Mários Nogueiras e Arménios Carlos desta vida, distraídos como são, nem sonham
[e, quem diz este mundo, diz quase todos os outros]




Há notícias que deveriam ser lidas com pasmo. E, contudo, passam despercebidas. 

As notícias que calhou eu ver nesta segunda feira andaram à volta das trocas de presentes de natal -- reportagens em directo de alguns centros comerciais, clientes a explicarem que as trocas eram devidas a trocas de números ou a não terem gostado do que receberam, empregadas de lojas a explicar que se espera grande afluência aos saldos -- ou aos aumentos previsíveis de alguns bens ou serviços agora no início do ano. Tudo dito e redito em tom empolado como se de grandes notícias se tratasse. Acresceu a repetição ad nauseam de aspectos da vida e da carreira de George Michael. Depois algumas incursões a motivos bélicos ou aeronáuticos, tudo condimentado com sangue e lágrimas -- e pouco mais. 

Tirando isso, debates. Evitei-os, claro. Já não consigo. Atingi o ponto de saturação. Se vejo um Adolfo, um Ângelo, uma Mortágua ou um outro desses, imediatamente mudo de canal. Não acrescentam nada. Só poluem o éter com argumentos estafados, que cansam a paciência de quem os anda a ouvir desde que as televisões inventaram isto de que os portugueses gostam de ver encher chouriços.


Bem podem decorrer congressos sobre investigações relevantes para a vida das pessoas, bem podem ocorrer desenvolvimentos cruciais a nível científico, bem podem acontecer mil coisas relevantes para o progresso e para o conhecimento... que as televisões e os jornais não estão nem aí.

O mundo pode estar no limiar de um caminho que levará a civilização a um outro mundo, desconhecido, e nós, alienados humanos, conduzidos por medias estupidificantes, também nem aí.

Que os transportes estejam um dia destes entregues a máquinas que se conduzem sozinhas, dispensando milhares e milhares de trabalhadores, ou que as plataformas informáticas de todos os tipos estejam a atentar rapidamente contra sectores tradicionais (Booking et al. versus agências de viagens, Airbnb versus hotéis, Uber versus taxis, etc, etc) ou que as fotografias que tiramos com o telemóvel estejam, sem o sabermos, na nuvem, indicando data, hora e local onde foram feitas, ou que todos os nossos passos sejam rastreáveis de várias maneiras, ou que o nosso correio electrónico seja 'varrido' por robots para que diversas empresas saibam junto de quem anunciar os seus produtos --- nada disto nos faz tocar campainhas.


Os sindicatos, cheios de gente que não se esforça por perceber o mundo, continuam agarrados a temas imediatos sem acautelarem minimamente os interesses dos trabalhadores num futuro próximo.

Os meios académicos que, presumo, estejam mais do que despertos para esta realidade que já aí está, continuam fechados sobre si próprios sem saberem como comunicar com a sociedade (ou sem meios para o poderem fazer).

E a comunicação social, cheia de caniches permanentemente a correrem atrás da própria cauda, não se dá conta que o mundo sobre o qual focam as câmaras é o mundo velho do consumismo barato, das modas inúteis, do pensamento gasto.


E vêm todos estes meus desabafos a propósito da notícia de que teve lugar, agora em Dezembro, em Londres, o Segundo Congresso Internacional sobre o Amor e o Sexo com Robots (SECOND INTERNATIONAL CONGRESS ON LOVE AND SEX WITH ROBOTS -- 19-20 DECEMBER 2016 -- GOLDSMITHS, UNIVERSITY OF LONDON, UK). Não foi uma daquelas feiras disparatadas com Cicciolinas a metro e dildos animados. Não. Foi organizado por uma universidade e contou com apresentações a cargo de diversos investigadores e os tópicos incidiram sobre:


Robot Emotions, Humanoid Robots, Clone Robots, Entertainment Robots, Robot Personalities, Teledildonics, Intelligent Electronic Sex Hardware, Gender Approaches, Affective Approaches, Psychological Approaches, Sociological Approaches, Roboethics, Philosophical Approaches


Não estamos a falar de futurismo já que uma das mais conhecidas fábricas de 'bonecas do amor' anuncia que, já em 2017, vai ter à venda robots sexuais com aparência humana. Não as vulgares bonecas insufladas ou bonecas humanizadas do tipo Real Dolls mas bonecas 'inteligentes'. As vantagens que referem dos parceiros robots sobre parceiros humanos são inúmeras desde o não adoecerem, não haver conflitos, ciúmes ou vinganças, poderem ser 'customizadas' à vontade do freguês (mais interventiva ou mais passiva, mais doce ou mais atrevida). E há robots homens e mulheres embora se espere (porque será...?) que a de humanóides femininos seja superor.


Os investigadores falam em que, face aos avanços fantásticos nos domínios da inteligência artificial e da interacção computador/humanos é de esperar que a ciência caminhe cada vez mais no sentido de incorporar nos sistemas que alimentam os robots humanóides mecanismos que simulem ou reproduzam emoções. Assim, dizem, é razoável esperar que, dentro de duas ou três décadas, se esteja a regulamentar o casamento entre humanos e robots ou a falar em 4º género para enquadrar os 'seres' assim construídos.

Uma das inovações que deu que falar foi o que parece ser uma tontice: o Kissenger, um dispositivo que permite simular a sensação do beijo e que tem, para já, como público alvo os que mantêm relacionamentos à distância. Cada um dos membros do casal encosta o dispositivo à boca e beija-o. Os seus movimentos são transmitidos para o parceiro e o mesmo se passa com ele, ou seja, supostamente os lábios do dispositivo reproduzem o que o outro está a fazer. Visto em filme parece um disparate. Contudo, para quem não pode beijar-se de outra forma, pode parecer uma alternativa válida. Para cada descoberta há sempre uma razão que parece válida. A questão é que, daí, é fácil passar para a subversão das intenções. Por exemplo, o Kissenger existe também na versão humano/robot em que uma pessoa pode simular um beijo com alguém do mundo virtual, um mero personagem de ficção ou, mesmo, com um robot.


Portanto... É isto: os homens a fazerem máquinas para os substituirem em todas as vertentes da vida (desde a profissional à afectiva). Um mundo desregulado em que talvez alguns humanos consigam sobreviver. Alguns. Talvez.

É ver os vídeos abaixo: este é o estranho futuro próximo

NB: Contêm imagens chocantes




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O que peço a sua mercê ouça com muita atenção e vontade, porque nisso favorecerá o partido de meu trabalho.





Alguns que escrevem livros acostumam fazer, nos princípios, prólogos de sua defensão, o que eu não fiz. E tenho esta rezão, que me não quero queixar antes de ser ofendido. E mais, quem pode dizer mal de mi, que bo seja, pois aos maus não posso fugir, mas por qualquer parte sempre me hão de mal tratar. E contudo eu não dou licença que alguém possa ser meu juiz, senão quem ler os livros que eu li, e com tanto trabalho e tão bem ou milhor entendidos. E ainda assi a sentença há-de ser que, para emendar meus erros, escrevam da mesma matéria outras obras milhores, nas quais mostrem saber mais q'eu disto de que falamos.

E senão, tudo o que mais fezerem é murmurar, que não cabe antre homens sabedores. Pois quant'à dos inorantes não faço conta, e bem sei que não deixam de reprender senão o que não entendem. E mais, porque algum tanto me fiz nestes princípios breve, reprenderão mui asinha o que dixe, e não saberão, louvando, manifestar o que calei (como diz Cícero no segundo livro a seu irmão).

E não convido eu aos que mais sabem, cuidando que os não há i no mundo, mas seria eu ditoso que minhas faltas fossem causa do proveito que sua doutrina pode fazer. Ser eu curto em meu escrever, e não muito ornado com bos exemplos, e a falta d'algumas cousa que devera escrever e não fiz, e a dissonância d'alguns termos novos nesta arte que pus, usando de vozes próprias da nossa língua, tudo ante quem não folga de dizer mal terá escusa com olhar a novidade da obra e como escrevi sem ter outro exemplo antes de mi. E isto muito mais escusará o defeito da ordem que tive em meu proceder, se foi errada.

E contudo, o que com rezão pode ser reprendido, eu confesso que o não escrevi com malícia, e pode-se emendar. Antes peço a quem conhecer meus erros que os emende. E todavia não murmurando em sua casa, porque desfaz em si.



[Capítulo L (e último) da Gramática da Língua Portuguesa de Fernão de Oliveira (c 1507 - c 1582 , edição Da Fundação Calouste Gulbenkian]

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Fernão de Oliveira nasceu em Aveiro, em 1507. Foi um homem de múltiplos interesses, tendo desenvolvido atividades como gramático, historiador, cartógrafo, piloto e teórico de guerra e de construção naval. Iniciou os estudos, aos nove anos, no Convento de S. Domingos daquela cidade, tendo sido transferido, em 1520, para o convento da mesma ordem, em Évora. Aos 25 anos, fugiu para Castela, onde se dedicou ao estudo da língua espanhola e se tornou clérigo secular. Em 1536, regressou a Lisboa, dedicando-se ao ensino e publicando a primeira gramática da língua portuguesa, intitulada Grammatica da Lingoagem Portuguesa. A partir desta publicação, passou a integrar o grupo dos gramáticos do Renascimento que se dedicaram à descrição das suas línguas maternas. Por volta de 1541, partiu para Itália, onde se dedicou à diplomacia secreta, provavelmente relacionada à complexa questão a respeito dos cristãos-novos que o rei D. João III manteve com a Santa Sé. Em 1543, regressou a Portugal, onde foi ameaçado de ser denunciado ao Tribunal da Santa Inquisição, por heresia. Temendo a perseguição do Santo Ofício, Fernão de Oliveira deixou o sacerdócio e fugiu para a França, onde se alistou como soldado e serviu na guerra contra a Inglaterra.

(Ler mais sobre Fernão de Oliveira...)

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Lá em cima o Te Deum Zelenka (Per singulos dies) é interpretado pelo Coro Gulbenkian e Orquestra Divino Sospiro

O título do post é a frase que fecha a primeia anotação que Fernão de Oliveira fez da língua portuguesa, dirigida ao mui magnífico e nobe fidalgo, o senhor dom Fernando d'Almada, filhor herdeiro do mui prudente e animoso senhor dom Antão, capitão-geral de Portugal, etc.

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segunda-feira, dezembro 26, 2016

E agora bochechas


No seguimento do post de ontem das receitas pouco natalícias, junto agora a das bochechas de porco.


Começo por dizer que pouco as vejo à venda. Por isso, encomendei-as num talho de rua.

Num tacho, deito um pouco de azeite e cebola cortada aos bocados. Deixo alourar. Junto rodelas de alho francês, folhas de louro, um pouco de vinho tinto e as ditas bochechas. Ponho no mácimo até ferver. Quando ferve, ajeito-as para ficarem imersas no caldo que se formou. Ponho um pouco de sal. Fica ao lume a cozinhar durante umas duas horas com calor na intensidade 3. Quando já estão macias, juntos quartos de duas pêras (descascadas) e fica ao lume até que as peras estejam praticamente desfeitas. Com um garfo, torno o molho mais homogéneo. 

O aspecto não fica nada como estas da fotografia já que não fica nada com ar 'puxado', uma vez que são estufadinhas em lume brando e uma vez que a pera no final amacia o molho e corta qualquer sabor mais agressivo

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Havia outros pratos de carne tais como lombo com mel e alecrim (logo digo como fiz), galo capão (trazido por outros convivas) e lagartos no forno. Para acompanhamento, tinha arroz basmati, salata de tomate e batatas no forno.

Batatas de forno 

(uma espécie de wedges)


Cozo em água e sal batatas que descasco e corto aos bocados. Quando estão cozidas, coloco-as num tabuleiro de forno onde, no fundo coloquei um fio de azeite. Ponho uma camada de batatas, polvilho com bacon cortado aos micro-bocadinhos, depois mais batatas e depois mais micro-bocadinhos de bacon. No fim, polvilho com orégãos, rego com azeite e vai ao forno a 180º ou menos até que as batatas estejam louras, ar quase estaladiço, e o bacon com ar de quem já perfumou as batatas e se deixou ficar tostatinho.

Também não ficam bem como estas da fotografia mas foi o mais do género que arranjei. A ver se, para a próxima, fotografo os meus cozinhados.

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E até já ou até mais logo com fotografias do meu passeio matinal ou com mais receitas.


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Receitas muito pouco natalícias
- Post em evolução
Folhadinhos de cenas
Empadas (ou queijadas?) de espinafres e chouriço



Já adormeci tantas vezes que acho que isto só à força é que lá vai.

Vou publicar com o post a meio que assim sempre tenho a pressão de não deixar isto desta linda maneira, e pode ser que acorde.

Portanto, de cada vez que escrever duas ou três linhas, publico. Depois, abro de novo o post e escrevo um pouco mais. Se pelo meio adormecer mais profundamente, é só esperarem um pouco mais. Credo. Que pancada de sono medeu, senhores.

Bem. Vou publicar e a ver se volto, no mesmo post, mas com mais uma receita.

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Folhadinhos de cenas


Cada um com seu sabor. Depois perguntavam-me: 'São de quê?' e eu não sabia dizer porque um era de salmão, outro de alheira, outro de farinheira, outro de espinafres e outro de etc.

Conto.

Compro massa folhada fresca, já estendida. Tiro o círculo de massa da embalagem. Vem enrolada em papel vegetal. Desdobro e deixo ficar o círculo de massa em cima do papel, Com uma faca, corto ao meio. Ficam duas meias luas.

Numa frigideira, ponho um fio de azeite. Ponho lá dentro um bocado de recheio de alheira. Frito ao de leve e junto espinhafres congelados que vou rodando até descongelarem.

Noutra, faço idêntico mas com farinheira. No fim, junto pêra crua aos bocadinhos pequeninos.

Em cada meia lua coloco uma linha generosa, ao alto, de ricotta. Por cima dessa linha, deito respectivamente os espinhafres e a alheira ou a farinheira e pêra. Depois enrolo. Fica um rolo comprido. Dobro as pontas para o recheio não se lembrar de sair.

Volto a usar as frigideiras, desta vez uma com bacon e espinafres mas poucos e noz cortada aos bocadinhos pequeninos. Na outra idem mas com chouriço aos bocadinhos pequeninos e maçã aos bocadinhos.

De novo mais uma base de massa folhada, cortada ao meio, de novo uma linha de ricota, cada uma com o que acima descrevi. Enrolo.

Mais um rolo: desta vez Philadelphia de ervas em vez de ricotta.

Num, coloco salmão fumado e amêndoa torrada cortada aos bocadinhos pequeninos, noutro só espinafres salteados com maçã em cima do philadelphia.

Enfim, variável e à vontade do freguês.

Entretanto, o forno aquece ao máximo.

Em cima da grelha do forno, coloco papel vegetal, ponho um fio de azeite que espalho no papel. Coloco os rolos em cima. Com uma colher, espalho um pouco de mel em cada rolo. Por cima, polvilho com sementes de sésamo e de papoila.

Introduzo então no forno, com calor em cima e em baixo. e reduzo para uns 180º. É capaz de lá ficar uma meia hora, não sei bem. É até estarem lourinhos e estaladiços.

Quando se colocam na mesa, corta-se cada rolo em vários bocados. Assim, pode experimentar-se um pouco de cada um e nunca se sabe o que se vai comer.

Serve de entrada.

Veredicto dos comensais: dos mais velhos aos mais novos, toda a gente come e gosta. Até uma bebé de ano e picos se lambeu com eles e, depois, andava com o dedinho a apanhar as sementinhas.


Não tenho fotografias porque o tempo nunca me chega para fazer reportagens. Mas imaginem pastéis de tentugal em ponto grande, obviamente sem açúcar, mais lustrosos e com sementinhas por cima.

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Empadinhas (ou queijadinhas?) de espinafres, chouriço e queijo


Os folhados foram para a véspera de Natal. As empadas para o almoço de Natal. Ou seja, não coexistiram. Digo isto porque se fossem para a mesma refeição teria improvisado outra coisa para dentro das empadinhas.

Numa tigela, junto farinha, três ovos e vou juntando leite, mexendo com as mãos (mas, se calhar, também podia ser com uma colher de pau ou até com a varinha mágica) até ficar uma massa mole e homogénea. Para tal, até ficar a meu gosto, vou juntando leite ou farinha. Junto também umas pedrinhas de sal. E mexo, as mãos completamente metidas na massa.

Noutra tigela, enquanto a massa anterior repousa um pouco, misturo um pacote de natas magras (coisa que me parece a contradição dos termos já que nata, por definiçao, é matéria gorda -- mas, enfim, há matérias em que a lógica pode ficar de fora) e um ovo. Misturo bem com um garfo.

Numa frigideira, alouro dois dentes de alho juntamente com uma folha de louro. Depois retiro, era só para dar sabor, e, no azeite, junto chouriço cortado finamente e espinafres congelados. Frita ao de leve.

Barro forminhas de tarte (uso tabuleiros anti-aderentes que têm 6 cavidades cada) com manteiga, depois polvilho com farinha e sacudo. Entretanto, o forno está a aquecer no máximo. 

Com uma colher ponho, então, uma colherada generosa da primeira massa. Depois coloco uma colherada dos espinafres com o chouriço. Depois tapo com uma colherada da massa das natas. Seguidamente, cubro cada uma com um bom bocado de queijo mozzarela ralado. Por fim, polvilho com orégãos e com sementinhas.

Coloco o tabuleiro das formas no forno e baixo para 180º. É rápido. Talvez uns 10 a 15 minutos, não sei. Vou espreitando até crescerem e ficarem louras.

Quando me parece que estão no ponto, desenformo ainda quentes. Ficam fofas. Bem boas, também.

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A ver se ainda conto das bochechas de porco estufadas, das batatinhas no forno com bacon... e de mais uns petiscos.

Não sei é se ainda é agora, de seguida, ou se vou dormir e conto o resto durante o dia.

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