O meu restabelecimento da gripe fez-se nas urgências de um hospital a rebentar pelas costuras. Não era eu a doente mas a acompanhante. Tentámos arranjar uma ambulância para transportar o doente a um hospital privado já que, felizmente, dispõe de seguro de saúde e sabíamos o estado de sobrelotação do público. Zero ambulâncias. Todas ocupadas nas horas seguintes. Inem, portanto. Como já não há Serviços de Atendimento Permanente, cai tudo nos hospitais.
Uma vez que a triagem decretou pulseira laranja (ou encarnada? - nem sei), entrou logo e foi para a chamada 'sala aberta'. E eu cá fora, sabendo o desenrolar dos acontecimentos através do 'balcão do utente'. Uma hora depois: já foi visto, vai fazer exames. Uma hora depois: ainda não se sabem os resultados. Etc, etc.
Podia agora escrever dez posts diferentes sobre o que se passa nas urgências de um hospital em dias assim. Mas não dá. Estou sem grande cabeça para isso.
Lá dentro, de um lado e do outro dos corredores, em camas ou macas, coladas umas às outras, gente gemendo, gritando, chamando. Uma coisa tétrica. Ou pungente. A vulnerabilidade humana ali exposta, sem pudor.
Depois a saga de arranjar ambulância para o levar de volta. Todas ocupadas, ligando para uma e outra empresa e nada, todas em serviço. Até que numa me atende um homem abrutalhado. Repito a conversa 'teria uma ambulância disponível para vir buscar ao hospital um doente que teve alta e levá-lo para casa, em maca?' e acto contínuo: 'o nome do doente?', digo e logo o homem 'já aí vou' e pumba, desliga-me o telefone.
Depois a saga de arranjar ambulância para o levar de volta. Todas ocupadas, ligando para uma e outra empresa e nada, todas em serviço. Até que numa me atende um homem abrutalhado. Repito a conversa 'teria uma ambulância disponível para vir buscar ao hospital um doente que teve alta e levá-lo para casa, em maca?' e acto contínuo: 'o nome do doente?', digo e logo o homem 'já aí vou' e pumba, desliga-me o telefone.
Avisei o meu marido, 'olha que há-de aparecer aí uma ambulância (e disse-lhe o nome da empresa) e eu não sei como é que os homens dão comigo, diz que estou na 'sala aberta'.
Passado um bocado aparece um homem muito pequenino, ultra-barrigudo, boné no alto da cabeça, aos gritos pelo nome do doente. Gesticulo cá de longe. Ele vem e dá-me uma desanda 'isto não é a sala aberta!'. Explico 'Pois não, mas não vê que isto está cheio, que as pessoas estão nos corredores...?.
Mas pronto. Lá fez o que tinha a fazer, lá transportou o doente para a ambulância.
Quando enfia a maca na âmbulância e se prepara, ele próprio, para entrar também, pergunto: 'Mas então não quer saber a morada!?'. Responde ele: 'Mas você não vem tamém?'. Lá fui.
Quando chegámos a casa, diz uma das pessoas que estava à nossa espera: 'mas ele conseguiu conduzir a ambulância...? é conhecido por andar sempre com os copos...'. Pronto. Estava explicado. No fim, o ajudante voltou lá. Fui abrir a porta. Diz ele 'esquecemos uma coisa. tome lá um cartanito para outra vez que precise'. Enterneci-me com o cartanito, agradeci de gosto.
Quando enfia a maca na âmbulância e se prepara, ele próprio, para entrar também, pergunto: 'Mas então não quer saber a morada!?'. Responde ele: 'Mas você não vem tamém?'. Lá fui.
Quando chegámos a casa, diz uma das pessoas que estava à nossa espera: 'mas ele conseguiu conduzir a ambulância...? é conhecido por andar sempre com os copos...'. Pronto. Estava explicado. No fim, o ajudante voltou lá. Fui abrir a porta. Diz ele 'esquecemos uma coisa. tome lá um cartanito para outra vez que precise'. Enterneci-me com o cartanito, agradeci de gosto.
Cheguei a casa há pouco, passava da meia-noite. Tomei um banho quente que me soube mesmo bem e que espero que tenha tirado de cima de mim os micróbios que por ali andam à solta e em altas concentrações. Já comi um lanchinho. E parece que me curei da gripe. Aquela bicheza lá do hospital deve ter derrotado os meus viruzecos.
Portanto, não faço ideia de notícias, não sei o que se passou, não sei se o Trump fez mais alguma das suas ou se o Marcelo foi visitar algum gatil. Não tenho ideias, não consigo pôr-me com grandes palavreados.
Só sei que a coisa é boa enquanto dura e que mais vale a gente aproveitá-la enquanto pode.
Encontrei um colega no hospital. Ficou a olhar para mim, admirado. Perguntou-me o que se passava. Contei-lhe. Ele disse-me que todos os dias, desde há quinze dias, quando o pai entrou em falência respiratória (parece que foi o que ele disse) o ia ver, despedir-se. Emocionou-se ao dizê-lo.
Encontrei um colega no hospital. Ficou a olhar para mim, admirado. Perguntou-me o que se passava. Contei-lhe. Ele disse-me que todos os dias, desde há quinze dias, quando o pai entrou em falência respiratória (parece que foi o que ele disse) o ia ver, despedir-se. Emocionou-se ao dizê-lo.
Quando nos despedimos, tive um bloqueio, não soube o que lhe desejar: 'as melhoras' não, pois se o pai estava a morrer, boas entradas também não pois o que é uma boa entrada com um pai moribundo? Não disse nada, só 'olhe...' e encolhi os ombros e ele é que me disse 'boas entradas' e eu agradeci.
Por isso, Caros Leitores, talvez compreendam que agora, depois da uma e meia da manhã e depois de um dia destes, não consiga mais do que isto.
Pode ser que mais logo, à meia-noite, se tudo se aguentar menos mal, eu consiga festejar o fim deste ano, comer passas, beber champanhe, formular votos, bater tampas para afugentar o ano velho, E se no dia 1 tudo se mantiver na mesma, menos mal, talvez eu consiga fazer o meu almoço de ano novo e ter a casa cheia e transbordante de animação.
Lingerie nova em azul cueca, para entrar no ano novo, não tenho. Velha também não. Não ligo a nada disso. Vou pelo que me agrada. Li que o que está a dar para festejar o réveillon é a lingerie encarnada. Ora bem. Parece-me uma boa maneira de sair de um ano e entrar no outro.
Tirando isso, batatas.
E viva a vida!
Não tenho boas intenções nem grandes objectivos. Tenho uma única vontade: aproveitar cada dia com a consciência plena de que tudo isto é desoladoramente efémero e que mais vale que tentemos estar bem e fazer bem a cada momento.
Não tenho boas intenções nem grandes objectivos. Tenho uma única vontade: aproveitar cada dia com a consciência plena de que tudo isto é desoladoramente efémero e que mais vale que tentemos estar bem e fazer bem a cada momento.
Devia talvez aqui colocar um poema, um bailado, qualquer coisa do género. Mas não. O que vou pôr é outra coisa porque é uma forma de eu ter bem presente um princípio cá muito meu: a subversão é importante, o politicamente incorrecto também e a alegria de viver deve vestir-se com todas as cores e sabores de que formos capazes.
Portanto, meus queridos Leitores, se acharem que a música da Melody Gardot está aqui deslocada saibam que concordo. Mas é o que está a apetecer-me ouvir. E se também acharem que as fotografias que escolhi não têm nada a ver com o que estive para aqui a escrever, saibam que vos dou toda a razão. Mas não ia aqui colocar fotografias de doentes, de ambulâncias ou de lingerie beata.
Tenho cá para mim que se eu puder quebrar regras e daí não vier mal ao mundo e, pelo contrário, se for coisa que se traduza em doces festejos... pois porque não?
Tenho cá para mim que se eu puder quebrar regras e daí não vier mal ao mundo e, pelo contrário, se for coisa que se traduza em doces festejos... pois porque não?
Até porque, a bem da verdade, estas são as regras da casa
(Por acaso são as Regras do Agent Provocateur mas poderiam ser as do Um Jeito Manso)
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E, não vá dar-se o caso de, por algum motivo, eu não conseguir vir aqui antes da meia noite, deixo-vos já os meus votos.
Para todos vós, meus Queridos Leitores, um feliz 2017.
Saúde, sorte, afecto, boa disposição. Tudo, tudo de bom.
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E, não vá dar-se o caso de, por algum motivo, eu não conseguir vir aqui antes da meia noite, deixo-vos já os meus votos.
Para todos vós, meus Queridos Leitores, um feliz 2017.
Saúde, sorte, afecto, boa disposição. Tudo, tudo de bom.
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Tudo de bom também para si, JM.
ResponderEliminarandam por ai uns maduros dizendo que parece impossível o TRAMPA fazer tantos tweets sempre no momento certo, um SUPER HOMEM. Coitados, não sabem que A filha mais velha da TRUNP é casado com um JUDEU ORTOXO, super inteligente, filho dum magnata do Imobiliário menos esperto que o Trump, pois foi apanhado pela justiça, por fuga ao fisco de MILHÕES. Este é o verdadeiro Presidente dos States, o TRUMP é apenas O PALHAÇO RICO, A coisa está a aquecer ao RUBRO. O Kushnet, escreve-se assim. mais ou me nos, arregimentou milhares de jovens yupis, que estão instalados nas TORRES, com teleponto das-dicas a Twittar. VAMOS ENTERRAR O ANO VELHO E TENTAR RENASCER NO ANO NOVO. pelo menos já nos livramos do Passos e Portas falta apenas despachar a TOUPEIRA que faz lânguidos olhares aos velhos que ficam tontos, viram o que ela fez ao TS? .Tanto andou que conseguiu vir para Lisboa para um banco qualquer para não aturar a Maria do PORTO E FICAR EMBEVECIDO COM A TOUPEIRA. Agora o TS sem poder não passa dum velho de cabelos brancos. SEM UM BOM TAXO A TOUPEIRA NÃO VAI LÁ.
ResponderEliminarSE O COMENTÁRIO TIVER UNS ERROZITOS, DESCULPEM MAS É FALTA DE HABITO.
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