sábado, dezembro 31, 2016

Acabar o ano sem listas de intenções, sem firmes propósitos e apenas com uma em mente:
viver o melhor possível.
Quanto à lingerie, não sou dada a começar o ano com lingerie da avó em cor azul cueca.
Prefiro entrar nele mais à minha maneira, com alguma provocação à mistura




O meu restabelecimento da gripe fez-se nas urgências de um hospital a rebentar pelas costuras. Não era eu a doente mas a acompanhante. Tentámos arranjar uma ambulância para transportar o doente a um hospital privado já que, felizmente, dispõe de seguro de saúde e sabíamos o estado de sobrelotação do público. Zero ambulâncias. Todas ocupadas nas horas seguintes. Inem, portanto. Como já não há Serviços de Atendimento Permanente, cai tudo nos hospitais. 

Uma vez que a triagem decretou pulseira laranja (ou encarnada? - nem sei), entrou logo e foi para a chamada 'sala aberta'. E eu cá fora, sabendo o desenrolar dos acontecimentos através do 'balcão do utente'. Uma hora depois: já foi visto, vai fazer exames. Uma hora depois: ainda não se sabem os resultados. Etc, etc. 

Podia agora escrever dez posts diferentes sobre o que se passa nas urgências de um hospital em dias assim. Mas não dá. Estou sem grande cabeça para isso.

Até que me chamaram: alta. Medicação, vigilância, tudo explicado, os riscos, os cuidados. 

Lá dentro, de um lado e do outro dos corredores, em camas ou macas, coladas umas às outras, gente gemendo, gritando, chamando. Uma coisa tétrica. Ou pungente. A vulnerabilidade humana ali exposta, sem pudor.

Depois a saga de arranjar ambulância para o levar de volta. Todas ocupadas, ligando para uma e outra empresa e nada, todas em serviço. Até que numa me atende um homem abrutalhado. Repito a conversa 'teria uma ambulância disponível para vir buscar ao hospital um doente que teve alta e levá-lo para casa, em maca?' e acto contínuo: 'o nome do doente?', digo e logo o homem 'já aí vou' e pumba, desliga-me o telefone.

Avisei o meu marido, 'olha que há-de aparecer aí uma ambulância (e disse-lhe o nome da empresa) e eu não sei como é que os homens dão comigo, diz que estou na 'sala aberta'.

Passado um bocado aparece um homem muito pequenino, ultra-barrigudo, boné no alto da cabeça, aos gritos pelo nome do doente. Gesticulo cá de longe. Ele vem e dá-me uma desanda 'isto não é a sala aberta!'. Explico 'Pois não, mas não vê que isto está cheio, que as pessoas estão nos corredores...?.

Mas pronto. Lá fez o que tinha a fazer, lá transportou o doente para a ambulância.

Quando enfia a maca na âmbulância e se prepara, ele próprio, para entrar também, pergunto: 'Mas então não quer saber a morada!?'. Responde ele: 'Mas você não vem tamém?'. Lá fui.

Quando chegámos a casa, diz uma das pessoas que estava à nossa espera: 'mas ele conseguiu conduzir a ambulância...? é conhecido por andar sempre com os copos...'. Pronto. Estava explicado. No fim, o ajudante voltou lá. Fui abrir a porta. Diz ele 'esquecemos uma coisa. tome lá um cartanito para outra vez que precise'. Enterneci-me com o cartanito, agradeci de gosto.

Cheguei a casa há pouco, passava da meia-noite. Tomei um banho quente que me soube mesmo bem e que espero que tenha tirado de cima de mim os micróbios que por ali andam à solta e em altas concentrações. Já comi um lanchinho. E parece que me curei da gripe. Aquela bicheza lá do hospital deve ter derrotado os meus viruzecos.

Portanto, não faço ideia de notícias, não sei o que se passou, não sei se o Trump fez mais alguma das suas ou se o Marcelo foi visitar algum gatil. Não tenho ideias, não consigo pôr-me com grandes palavreados. 

Só sei que a coisa é boa enquanto dura e que mais vale a gente aproveitá-la enquanto pode.

Encontrei um colega no hospital. Ficou a olhar para mim, admirado. Perguntou-me o que se passava. Contei-lhe. Ele disse-me que todos os dias, desde há quinze dias, quando o pai entrou em falência respiratória (parece que foi o que ele disse) o ia ver, despedir-se. Emocionou-se ao dizê-lo.

Quando nos despedimos, tive um bloqueio, não soube o que lhe desejar: 'as melhoras' não, pois se o pai estava a morrer, boas entradas também não pois o que é uma boa entrada com um pai moribundo? Não disse nada, só 'olhe...' e encolhi os ombros e ele é que me disse 'boas entradas' e eu agradeci.

Por isso, Caros Leitores, talvez compreendam que agora, depois da uma e meia da manhã e depois de um dia destes, não consiga mais do que isto.

Pode ser que mais logo, à meia-noite, se tudo se aguentar menos mal, eu consiga festejar o fim deste ano, comer passas, beber champanhe, formular votos, bater tampas para afugentar o ano velho, E se no dia 1 tudo se mantiver na mesma, menos mal, talvez eu consiga fazer o meu almoço de ano novo e ter a casa cheia e transbordante de animação.

Lingerie nova em azul cueca, para entrar no ano novo, não tenho. Velha também não. Não ligo a nada disso. Vou pelo que me agrada. Li que o que está a dar para festejar o réveillon é a lingerie encarnada. Ora bem. Parece-me uma boa maneira de sair de um ano e entrar no outro.

Tirando isso, batatas. 

E viva a vida!

Não tenho boas intenções nem grandes objectivos. Tenho uma única vontade: aproveitar cada dia com a consciência plena de que tudo isto é desoladoramente efémero e que mais vale que tentemos estar bem e fazer bem a cada momento.

Devia talvez aqui colocar um poema, um bailado, qualquer coisa do género. Mas não. O que vou pôr é outra coisa porque é uma forma de eu ter bem presente um princípio cá muito meu: a subversão é importante, o politicamente incorrecto também e a alegria de viver deve vestir-se com todas as cores e sabores de que formos capazes.

Portanto, meus queridos Leitores, se acharem que a música da Melody Gardot está aqui deslocada saibam que concordo. Mas é o que está a apetecer-me ouvir. E se também acharem que as fotografias que escolhi não têm nada a ver com o que estive para aqui a escrever, saibam que vos dou toda a razão. Mas não ia aqui colocar fotografias de doentes, de ambulâncias ou de lingerie beata.

Tenho cá para mim que se eu puder quebrar regras e daí não vier mal ao mundo e, pelo contrário, se for coisa que se traduza em doces festejos... pois porque não?


Até porque, a bem da verdade, estas são as regras da casa

(Por acaso são as Regras do Agent Provocateur mas poderiam ser as do Um Jeito Manso)



.......

E, não vá dar-se o caso de, por algum motivo, eu não conseguir vir aqui antes da meia noite, deixo-vos já os meus votos.

Para todos vós, meus Queridos Leitores, um feliz 2017. 

Saúde, sorte, afecto, boa disposição. Tudo, tudo de bom.

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3 comentários:

  1. Tudo de bom também para si, JM.

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  2. andam por ai uns maduros dizendo que parece impossível o TRAMPA fazer tantos tweets sempre no momento certo, um SUPER HOMEM. Coitados, não sabem que A filha mais velha da TRUNP é casado com um JUDEU ORTOXO, super inteligente, filho dum magnata do Imobiliário menos esperto que o Trump, pois foi apanhado pela justiça, por fuga ao fisco de MILHÕES. Este é o verdadeiro Presidente dos States, o TRUMP é apenas O PALHAÇO RICO, A coisa está a aquecer ao RUBRO. O Kushnet, escreve-se assim. mais ou me nos, arregimentou milhares de jovens yupis, que estão instalados nas TORRES, com teleponto das-dicas a Twittar. VAMOS ENTERRAR O ANO VELHO E TENTAR RENASCER NO ANO NOVO. pelo menos já nos livramos do Passos e Portas falta apenas despachar a TOUPEIRA que faz lânguidos olhares aos velhos que ficam tontos, viram o que ela fez ao TS? .Tanto andou que conseguiu vir para Lisboa para um banco qualquer para não aturar a Maria do PORTO E FICAR EMBEVECIDO COM A TOUPEIRA. Agora o TS sem poder não passa dum velho de cabelos brancos. SEM UM BOM TAXO A TOUPEIRA NÃO VAI LÁ.

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  3. SE O COMENTÁRIO TIVER UNS ERROZITOS, DESCULPEM MAS É FALTA DE HABITO.

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