Por cá, depois de uma mão cheia de caranguejos, entrámos agora no tempo dos leões. A partir desta semana que aí vem, é também sempre a abrir.
Por isso, o fim do dia foi reservado às compras. Entre presentes e supermercado e uma ou outra coisita para mim que nao sou esquisita e as pechinchas mexem comigo, chegámos a casa quase à meia-noite. Como sempre, o meu marido a achar que eu sou a culpada de tudo. Como estava estafada não dei muita luta, apenas quis perceber. 'Culpada? Mas culpada de quê?!?!'. Responde: 'Se não quisesses ver tudo antes de comprar, despachávamo-nos em metade do tempo'. Não respondi. Ando há anos a tentar que perceba que não é possível fazer uma selecção acertada sem antes conhecer a totalidade dos artigos. Ora, se até agora não consegui, não era hoje, a esta hora, que ia conseguir. Se vamos escolher roupa para a menina mais linda do mundo, ao entrar na loja tenho que ver o que há para a idade dela e só depois seleccionar. Ele é o oposto. Entra já com vontade de sair. Depois, chega ao pé da zona da roupa para a idade dela, pega em 3 ou 4 coisas e por ele ia direito para a caixa. Como se pudesse ser assim. Claro que agradeço as sugestões dele e fico com elas. Mas vejo atentamente cada coisa, vou retirando aquilo de que gosto, depois vou-lhe passando coisas para ele porque, com os braços cheios já não consigo tirar mais nada, e, só depois da ronda completa, examino a pré-selecção e faço, tentativamente em conjunto com ele, a selecção final. Por vontade dele, só para não ter que olhar para a roupa, levava tudo. Mas não pode ser. A seguir repete-se o processo para outro leãozinho. Ele já passado.
Quando vamos pagar ainda me lembro de ver se há coisinhas para o cabelo dela, para fazer totós, elásticos com lacinhos ou brilhantes, qualquer coisa assim. Fica danado. Que me deixe ficar quieta ali na caixa. Mas como vou, pergunta se é para pedir talões de oferta, se vai tudo no mesmo embrulho. Anda comigo há mil anos e ainda tem dúvidas sobre estas coisas. Quando saímos ainda vem a protestar. Mas não interessa. Faz parte. A verdade é que hoje o dia rendeu imenso. Presentes despachados, compras feitas e até sapatos resolvidos.
Ele andava há que tempos à procura de uns sapatos castanhos escuros, simples. Só descobria ou com sola clara ou com pespontos claros ou com a ponta quadrada ou com a ponta arrebitada. Sapatos simples, clássicos, normais: nada. É como quando quer comprar calças em cinzento escuro, corte clássico, normalíssimas, e só encontra com tecidos estranhos, com pregas, com cortes afunilados, com toda a espécie de pormenores que lhe desagradam, e calças normais está quieto. Pois bem. Hoje descobriu uns sapatos tal como os queria. Aleluia.
Eu andava na mesma. Há 4 anos comprei uns sapatos de pele fina castanha, rasos, fechados à frente mas com recortes, super confortáveis e frescos. Desde então, tenho procurado uns do mesmo género para substituir aqueles pois as palmilhas estavam a ficar velhas e os próprios sapatos começavam a querer dar de si.
Eu acho que não, que estão ainda bons mas, quer a minha mãe quer o meu marido, sempre a chatearem, a perguntarem se eu ia usar os sapatos até se desfazerem.Mas não descobria nenhuns que me agradassem. Pois bem, hoje, na mesma sapataria que ele, uns sapatos quase iguais aos outros, confortáveis, do mesmo género. E comprei também umas palmilhas de pele para ver se prolongo a vida aos meus sapatinhos idosos.
E ao ir ao supermercado, encontrei kefir, coisa que nem sempre encontro, ou porque não há ou porque mudaram as coisas de sítio e não as encontro nem descubro nenhum empregado a quem perguntar. Que sorte tive hoje... Mal posso esperar por amanhã ao pequeno almoço para o misturar com sementes, frutos secos, cereais. Love, love, love.
Também trouxe um gel de banho de leite e rosas que nunca tinha experimentado. Quando agora cheguei a casa, estive a refrescar-me e usei-o. Ah que cheirinho mais bom. Fiquei eu suavemente perfumada e ficou a casa de banho igualmente cheirosa. A seguir entrou o meu marido e perguntou todo intrigado: 'Que raio de cheiro é este?', e quem o ouvisse falar até parecia que o cheiro não era bom. Faz sempre estes espantos quando mudo de gel de banho. Ele há anos que usa do mesmo, um que não tem cheiro. Até nisto é o meu oposto. Eu mudo sempre, de marca e de perfume.
Bem. Nem sei a que propósito vem isto.
Se calhar é porque não ouvi notícias nem estou com paciência para me ir informar. Estive o dia todo fora do mundo noticioso.
Durante o dia estive no campo, no remanso. Andei passeando ao sol, entre as cigarras, a terra exalando um cheiro bom, a calor, a rosmaninho e pinheiro, a sombra de eucalipto e alecrim.
As ameixas desapareceram. O costume. Os sacanas dos pássaros comem-mas todas. Os figos ainda não estão bons. Tomara que fiquem maduros, Adoro figos. O meu filho veio do Algarve e trouxe-nos figos torrados com amêndoas lá dentro e eu lambo-me com eles. Diz que engordam mas olha, perdoa o mal que fazem o bem que sabem.
As ameixas desapareceram. O costume. Os sacanas dos pássaros comem-mas todas. Os figos ainda não estão bons. Tomara que fiquem maduros, Adoro figos. O meu filho veio do Algarve e trouxe-nos figos torrados com amêndoas lá dentro e eu lambo-me com eles. Diz que engordam mas olha, perdoa o mal que fazem o bem que sabem.
Trouxe mais orégãos. Têm um cheiro fresco. Claro que ando por ali feita turista, a fotografar, encantada como se estivesse a ver tudo pela primeira vez: as árvores que plantei e podei, os muros que imaginei e que já deviam ser pintados mas aos quais acho graça assim, embelezados pelas marcas do tempo.
Também li. Comecei pelo Science is Culture, um prazer de leitura, e depois passei para A Sibila da Agustina, livro que me apetecia reler pois na altura em que o li não estava preparada para degustar a suculência da escrita daquela sumptuosa e desbragada mulher. Há coisas que apenas com alguma vivência no corpo e na alma se conseguem apreciar como deve ser.
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E pronto não vos maço mais com esta conversa mole. Isto é a minha forma de descansar, sabem. O meu marido já dorme a sono solto -- e eu nisto. Mas ainda só mais uma coisa.
"Uma laranja para Alberto Caeiro", poema e voz de Natália Correia sobre música de António Victorino D'Almeida.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.
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