No dia em que o omnipresente e caleidoscópico Presidente Marcelo apareceu a espetar alfinetes nos balões da crise que o pafiano Láparo e amigos para aí têm andado a encher (Crise? Qual crise? Se havia, evaporou-se -- riu o tal catavento, escarninhamente), aparece o relatório do multicéfalo FMI a dizer que a receita aplicada aquando do so-called resgate a Portugal parece exercício académico feito por inexperientes totós. Que não resulta, que não atacaram a raiz dos problemas, que, ao exigirem objectivos inantigíveis, humilharam inutilmente os pobres portugueses que não tinham mesmo como alcançá-los -- e por aí fora.
Como tenho um certo lado de menina marota, ao ler isto, só me apeteceu ir pôr-me à frente do intelectualmente pouco dotado láparo ou do ex-irrevogável e de todos quantos andaram a esporear os portugueses -- e gozar com eles mas gozar mesmo, esfregar-lhes na cara o relatório do FMI, obrigá-los a engolir, uma a uma, cada página até as conclusões lhes saírem pelos olhos. Depois pensei que não, pronto, nada de vinganças, coisa mais feia. Devia, isso sim, arranjar uns quantos capangas para conseguir obrigá-los a confessarem, em público, que foram burros, sabujos, e anti-patriotas. Obrigá-los a pedirem desculpas aos portugueses. Isso sim.
Qualquer pessoa que tenha olhos de ver e que conheça minimamente a realidade do país percebe que Portugal tem problemas estruturais sérios e que nenhum deles foi objecto de intervenção por parte do esgazeado governo cujo objectivo foi ir além da troika.
Refiro alguns desses problemas:
Refiro alguns desses problemas:
Portugal não tem capitalistas. Eu gostava de saber que dinheiro ou que património livre (livre de garantias, penhoras, etc) têm, de facto, os mais ricos de Portugal. Vivem bem, sim, ok, mas dinheiro mesmo seu? Casas em seu nome? Que impostos pagam? Ok, são accionistas de empresas valiosas. Mas... e qual a dívida dessas empresas? Se quiserem investir, têm capitais próprios que não sejam activos já alocados como garantia a financiamento alheio? Pergunto.
O que temos, sobretudo, são empresas endividadas até ao tutano. Daí que, por muito bem que o patriotismo fique na lapela, quando a crise aperta os nossos soi-disant capitalistas vendem ao primeiro que apareça (angolano, chinês, omanita, francês, fundos apócrifos, whatever).
Ora, num país em que nem os capitalistas têm dinheiro, em que a classe média estava endividada a pagar a casa e pobres, mesmo que envergonhados, eram (e são) mais do que muitos só pela cabeça de gente muito burra é que passava a brilhante ideia de que a receita para a crise consistia em secar a pouca liquidez circulante, cortando nos rendimentos e aumentando a eito os impostos.
Depois não temos indústria a sério. Temos um ou outro pólo industrial - coisa sem grande expressão. Parte da pouca indústria foi vendida a estrangeiros cujos centros de decisão estão lá na terra deles. Não ter indústria forte é sinónimo de importação em força e de débeis exportações, ou seja, é sinónimo de uma economia frágil.
Se Portugal precisava (e precisa) muito de alguma coisa é de um forte apoio à reindustrialização. Com a reindustrialização principal vêm as empresas fornecedoras, vem o emprego qualifificado, vem o ensino e a investigação para suporte à diferenciação.
Um apoio intensivo na identificação de oportunidades, de modernização das redes logísticas a começar nos portos, um apoio intensivo aos centros de investigação e desenvolvimento e um apoio forte ao ensino a todos os níveis -- isso, sim, Portugal precisava e precisa como de pão para a boca. Mas a receita da troika passou por aqui...? Passou, passou. Como cão por vinha vindimada.
A agricultura é marginal. Não são as hortas das tias que animam um sector que, em tempos (nos vis anos do reinado do tal das cagarras), foi apoiado para pôr as terras de lado (a chamada política do set aside).
Temos uma administração pública ainda, em parte, antiquada que consome muitos recursos dando, em alguns sectores, pouco em troca. O programa Simplex foi asininamente parado pelos pafiosos. Não apenas não fizeram qualquer reforma como, estupidamente, pararam o que estava em curso. Felizmente a Maria Manuel Leitão is back e com ela as reformas são de fundo e a sério.
Portugal tem ainda um outro problema grave (e só porque estou a escrever depois da meia-noite, deitada num sofá e mais para lá do que para cá é que coloco um problema desta natureza a meio do texto, quando deveria ser um dos primeiros): a definhante demografia.
São necessários apoios sérios e integrados de apoio à natalidade. É indispensável que os portugueses sintam confiança no futuro e sintam que serão apoiados na criação dos seus filhos. Os troikanos e seus discípulos perceberam isto e actuaram...? Então não...? Fizeram foi tudo ao contrário.
A dívida é imensa e impossível de pagar? Ah pois é. Tem que ser renegociada, os prazos dilatados. E tem que ser percebido que a dívida é uma consequência, não um objectivo primário.
Se for encarado como um objectivo primário como o foi por parte do FMI, congéneres da troika e membros do trágico governo PSD/CDS, acontece o que aconteceu em Portugal: se for necessário, correm-se com os portugueses de Portugal, corta-se a reforma aos mais velhos, atira-se com milhares de empresas para a falência e com centenas de milhares de portugueses para o desemprego para chegar ao fim de cada ano e verificar que a dívida tinha aumentado e que o país estava cada vez mais arrasado.
Que me lembre a única reforma que conseguiram levar por diante foi a laboral. Leia-se: foi precarizarem o trabalho. Como se algum empresário ou gestor que se preze, daqueles que trazem desenvolvimento ao país, gostasse de vulnerabilizar a segurança dos trabalhadores e, apesar de não ter dinheiro, fosse investir só pelo gozo de poder explorar à vontade os trabalhadores.
O que esta cambada pafiana conseguiu foi que se banalizassem os ordenados de 500 euros e a precaridade de tanta e tanta gente que trabalha para empresas que são subcontratadas por outras que, por sua vez, são subcontratadas de outras. O que conseguiram foi ferir a dignidade de quem dá o melhor de si para chegar ao fim do mês e receber trocos que mal chegam para o mês inteiro. É assim que se projecta o futuro de um país!?
Cambada.
Se for encarado como um objectivo primário como o foi por parte do FMI, congéneres da troika e membros do trágico governo PSD/CDS, acontece o que aconteceu em Portugal: se for necessário, correm-se com os portugueses de Portugal, corta-se a reforma aos mais velhos, atira-se com milhares de empresas para a falência e com centenas de milhares de portugueses para o desemprego para chegar ao fim de cada ano e verificar que a dívida tinha aumentado e que o país estava cada vez mais arrasado.
Broncos do caraças. Quando penso nisto, sinto cá uma raiva.Quando se ouve a cambada a lamentar que o actual governo reverta as reformas estruturais, só me pergunto: mas referem-se a quê?
Que me lembre a única reforma que conseguiram levar por diante foi a laboral. Leia-se: foi precarizarem o trabalho. Como se algum empresário ou gestor que se preze, daqueles que trazem desenvolvimento ao país, gostasse de vulnerabilizar a segurança dos trabalhadores e, apesar de não ter dinheiro, fosse investir só pelo gozo de poder explorar à vontade os trabalhadores.
O que esta cambada pafiana conseguiu foi que se banalizassem os ordenados de 500 euros e a precaridade de tanta e tanta gente que trabalha para empresas que são subcontratadas por outras que, por sua vez, são subcontratadas de outras. O que conseguiram foi ferir a dignidade de quem dá o melhor de si para chegar ao fim do mês e receber trocos que mal chegam para o mês inteiro. É assim que se projecta o futuro de um país!?
Cambada.
Outra coisa que me dá uma raiva do caraças é o desplante de uns caras-de-pau militantes. Então, não é que acabo de ver o Ricardo Costa, na SIC, todo videirinho, a falar do mea culpa do FMI e falando como se os erros fossem óbvios e como se ele próprio não tivesse feito outra coisa nos 4 anos da dupla Láparo&Irrevogável do que denunciar os clamorosos erros...? Que topete. Se houve opinadores que tivessem andado aos balcões da televisão a pregar a favor da receita troikiana e, com ar douto, a explicar que ou aquilo ou o dilúvio, foi ele e todos os que, tal como ele, andam pela trela.
Muito do que é a microcefalia ou, mesmo, a acefalia de parte da população portuguesa se deve ao excesso de lavagens cerebrais que toda a espécie de apaniguados e papagaios avençados fazem a toda a hora na comunicação social.
Mas não o fez. Uma vez mais falou como se os portugueses fossem estúpidos.
E eu, quanto a isso, o que tenho a dizer é que Ricardo Costa e os que o secundam ainda acabam por levar à falência os órgãos de comunicação social por onde deixam essa sua sonsa matreirice.
Teria ficado bem ao mano Costa olhar de frente os espectadores e reconhecer que se enganou quando defendeu o FMI, a troika e o Governo de Passos Coelho. Em vez de se pôr, como esta noite, a lavar a imagem dessa trupe, dizendo que era a primeira vez e que, pronto, não se conhecia bem como funcionavam aqueles mecanismos, deveria ter dito que ele próprio tinha acreditado acefalamente, não dando ouvidos aos piegas que alertaram que a coisa não ia correr bem. Ricardo Costa devia ter pedido desculpa por ter induzido os portugueses em erro ao fazê-los acreditar que estavam a ser sugados e tratados como indefesas cobaias mas que era para seu bem já que, no fim, viriam radiosas e cantantes amanhãs.
Mas não o fez. Uma vez mais falou como se os portugueses fossem estúpidos.
Os amigos da TINA |
É que já não há paciência para tanta chico-espertice. Não há paciência! Uma pessoa não tem outro remédio senão fugir sempre que os vê.
Para acabar, que isto já vai para além de longo, uma palavrinha relativa ao cherne: boa malha a da Goldman Sachs ao terem a soldo um acéfalo que se enganou tão redondamente em tudo em que se meteu.
Porque não nos esqueçamos: nisto das medidas da troika, ao lado da galinha bronzeada do FMI, que dá pelo nome de Lagarde, esteve sempre, inútil e esponjiforme, o cherne Durão.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira.
Dias felizes para todos.
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Tanta inútil pobreza. Tanto contar de tostão - ou cêntimo - sem resultado. Mas todos os sabíamos. É a consequência de sermos mandados por maus governos. Ó democracia que és bem o regime mais arriscado do mundo. Mas também, até ver, o melhor. E não queremos nem por nada perder-te. Volta que a gente perdoa. Mas não esquece.
ResponderEliminarÉ por isto que eu venho aqui diariamente ler aquilo que gostaria de ter escrito!...
ResponderEliminarOlá Bea,
ResponderEliminarO mal não é a democracia, é o nosso desinteresse. Vamos deixando que as lideranças vão perdendo qualidae, aceitamos tudo.
Por mim falo. Volta e meia dá-me vontade de me chegar à frente e ter uma qualquer intervenção política. Mas, por comodismo, arrepio caminhos. Dá muito trabalho...
E também não somos instruídos para aceitar como natural que sejamos agentes activos na nossa sociedade.
Acho eu.
Olá Anónimo/a,
ResponderEliminarMas olhe que, volta e meia, até deve dar um salto para trás, não...? É que se há dias em que me dá para escrever a minha opinião de forma muito directa, há outros em que me dá para a fantasia e para a maluqueira. A menos que seja como eu e goste de, de vez em quando, se portar mal...
Mas venha sempre mesmo que, às vezes, fique de olhos arregalados, ok?
E obrigada pelas palavras simpáticas. A sério.