Caso queiram tentar ajudar-me a desvendar o mistério das palavras encriptadas do Cavaco, um dos membros da mal afamada dupla Passavaco & Cavapasso, é favor descerem até ao post abaixo.
Aqui, agora, a conversa é outra. Falo-vos do que andei a fazer no meu milésimo aniversário de casamento. Não... estou a brincar... qual milésimo? Nem décimo, talvez um ou dois.
A sério: foram mais do que 20
(mas não parece nada, foi há tão pouco tempo)
(mas não parece nada, foi há tão pouco tempo)
Música, por favor
Não posso dizer-vos ao certo quanto anos já festejei senão ainda pensam que sou do tempo da implantação da República.
De facto, embora já seja casada (e sempre com o mesmo herói, um resistente...) há resmas de anos, a questão é que (na maior parte dos dias) ainda não estou a cair da tripeça, não ando (sempre) de óculos, ainda ouço bem, não ponho a dentadura num copo de água, não uso carrapito grisalho nem um xailinho nos ombros (excepto se a toilette o solicitar, claro) nem uma mantinha nos joelhos (excepto se o frio o justificar): e tudo isto porque casei quando ainda era menina e moça.
Adiante: desde sempre, se nenhum compromisso de um ou do outro não o impedir, reservamos estes dias para nós. Vamos para longe. Tempos houve em que saíamos do País. Agora a opção é outra: mergulhamos no País.
Cada vez gosto mais do meu País.
No sítio onde tenho estado nos últimos dias (e esta terça feira já rumamos a sul), acordo, vou à janela e fico logo feliz: cabritas brancas sobem a verde encosta aqui em frente da janela.
Dizem que estes são os domínios da chanfana mas eu, depois de ver a inocência alegre das cabrinhas maltesas, não me aventurei por aí |
Aqui a natureza é muito limpa, muito verde, há muita água, pequenos rios que correm com força e, ao caminharmos, há sempre a música forte e genuína da água saltando sobre as pedras, pequenas quedas, tudo muito puro.
Por aqui andamos os dois, passeando, caminhando pelas margens destes rios límpidos e vigorosos |
Ao passarmos nalgumas ruas de pedra, ruas íngremes, onde apenas o som da água e dos pássaros se faz ouvir, geralmente não nos cruzamos com ninguém. As pessoas estão recolhidas em suas casas ou trabalhando longe dali.
De vez em quando, ouvindo os nossos passos, algumas cabras vêm cá fora espreitar e olham-nos com olhos espantados, inteligentes. Não nos conhecem e não sabem ao que vamos, andando por aqueles sítios onde não passa vivalma.
Diziam elas, uma para a outra: Ó vizinha, mas quem são estes? Já os tinha visto por aqui ...? Mas que anda esta gente a fazer por aqui? Gaivotas em terra...? |
Claro que, na vila, já se vê uma ou outra pessoa mas, ainda assim, a admiração também é grande (NB: volto a dizer que, se alguém que apareça nas minhas fotografias o não permitir, bastará que me escreva que eu logo as retirarei)
Outros resistentes como nós. Um casal peso pluma, unidos, a mesma expressão, quase iguais: anos de empatia, sintonia e cumplicidade é no que dá |
E depois subimos aos castelos que parecem castelinhos de cinema, castelos em cima de rochedos de onde se vêem as aldeias e os montes.
Dali de cima avista-se o mundo As pedras têm muita história e são eternas, talvez por estarem já dentro do céu |
Passear por estes caminhos, nestas estreitas estradinhas, muito íngremes, tudo muito verde e sempre a água a correr, é um sonho. O ar é puríssimo, a vista é linda, e não se pode falar em silêncio ou solidão em sítios que são, sobretudo, mágicos.
Montes a perder de vista. Esteve muito frio nestes dias e, talvez também por isso, o ar esteve muito transparente, muito azul |
No meio desta natureza tão bela, quase excessivamente bela, há verdadeiras aparições. Encontrei uma árvore tão grande, um sobreiro incrível, o tronco enorme, aberto.
A parte de baixo do tronco do sobreiro, visto de fora |
Claro que não resisti a entrar dentro do tronco. Fi-lo como se entrasse numa capela. Por cima o tronco é aberto e à volta da abertura de luz nascem os ramos e as folhas. Uma obra de arte maravilhosa.
Corrijo. Não, não é uma obra de arte. As obras de arte são criação do Homem. Uma árvore assim não foi feita por ninguém. Fez-se a ela própria. É para além de bela.
Interior do tronco visto de baixo: eu dentro do tronco do sobreiro, eu olhando a luz |
Depois descemos até onde o rio se alarga, suave, sob as grandes árvores e, rodeado por rendilhados fetos, se deixa, por momentos, possuir: uma das mais belas praias fluviais que já vi.
Em primeiro plano o rio já liberto mas, no plano acima, piscina natural: podem ser vistas as escadas para entrar na água e prancha de saltos |
Mas tão depressa estávamos cá em baixo, junto às levadas, junto ao curso largo dos rios, como no alto das serras.
Como sabem, gosto de conhecer as igrejas de todas as terras onde ando e, por aqui, não tem sido excepção.
Como sabem, gosto de conhecer as igrejas de todas as terras onde ando e, por aqui, não tem sido excepção.
Todas as igrejas são especiais, cada uma à sua maneira: umas muito ricas, cheias de talha dourada, muito trabalhadas, outras muito simples, imagens quase ingénuas, outras quase pobres. Por aqui, são sobretudo igrejas simples as que tenho encontrado. Simples mas muito bonitas, sempre carinhosamente tratadas, sempre com flores frescas, soalho encerado, velas a Nossa Senhora acesas. Mas algumas a revelar alguma falta de manutenção - o que é compreensível pois a população vai escasseando e tendo menos rendimentos. fez-me pena sentir um soalho abaulado a precisar de obras. Penso que, por aqui, aquele é o ponto principal em que as pessoas se reúnem e como é importante que o sintam digno e arranjado. Mas, enfim, melhores dias virão.
Por aqui vim descobrir um Cristo Rei, no alto de um monte, abençoando as cercanias |
Para o post não ficar excessivamente longo (ou melhor: ainda mais longo do que já está - e, confesso, porque, se não apago a luz, ainda vou dormir para o corredor), deixo para amanhã um mosteiro onde não consegui entrar e uma aldeia encantada.
Mostro-vos apenas a placa com um poema de Miguel Torga que está à entrada da fantástica aldeia.
Bucólica A vida é feita de nadas de grandes serras paradas à espera de um movimento ... |
Amanhã, já afastada deste mundo verde e muito belo, contar-vos-ei desta aldeia e de outros sítios muito bonitos. E contar-vos-ei de como se come muito bem por aqui. E talvez vos conte de como é ser envolvida por um maravilha comme la neige.
E espero que alguém adivinhe onde é este pedacinho de paraíso verde, um belo destino para uma escapadinha romântica. Eu estou a adorar e o meu namorado também.
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Relembro que para descortinar os pensamentos secretos do Cavapassos é no post a seguir a este, é só descer um pouco mais.
Muito gostaria ainda de vos convidar a visitar-me no meu Ginjal e Lisboa. Continuo em formato atípico mas hoje com um post que me deu enorme prazer: por sugestão de uma Leitora, fui redescobrir Luís Cília e dei com uma faceta que não conhecia: a de cantor de poetas portugueses. Muito bom.
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E é isto. Acabo já e nem vou rever senão o meu casamento ainda acaba hoje aqui. Tenho mesmo que apagar a luz.
Tenham, meus Caros Leitores, uma óptima terça feira: saúde, alegria, energia é o que vos desejo!