A professora do meu filho, na reunião de pais, contou que, na aula de religião, pela Páscoa, a colega, quando contou o episódio da ressurreição, foi interrompida pelo meu filho que disse, 'é porque não estava morto, só devia estar desmaiado'. E os outros meninos concordaram. E que a colega já não conseguiu prosseguir porque ele não acreditava e porque ela não conseguiu explicar de forma convincente que Jesus tinha morrido e tinha voltado a viver.
Eu sabia que isso se tinha passado porque ele me tinha contado. E eu também não consegui convencê-lo completamente porque, claro, este é um dos episódios da história de Jesus que sempre tive muita dificuldade em perceber. Como poderia eu explicar a uma criança uma história mal contada?
Mas tentei. Expliquei-lhe que em volta da vida real de um homem que viveu há muitos anos se tinha construido uma história e que as histórias têm momentos de fantasia. Lembrei-lhe várias histórias infantis conhecidas que estão também cheias de factos que não correspondem à verdade, que são coisas da imaginação e que não é bem para acreditar tal e qual mas apenas para ver o lado bonito da história. E que Jesus tinha sido um homem muito bom e que as pessoas preferiam acreditar que ele estava vivo para as ajudar quando fosse preciso.
Tenho ideia que encolheu os ombros, como se tivesse achado que não valia a pena muito mais conversa sobre o assunto. Provavelmente percebeu que tinha que dar um certo desconto e não fazer interpretações tão literais do que lhe diziam.
Tenho ideia que encolheu os ombros, como se tivesse achado que não valia a pena muito mais conversa sobre o assunto. Provavelmente percebeu que tinha que dar um certo desconto e não fazer interpretações tão literais do que lhe diziam.
Tinha seis anos na altura, o meu filho. Presumo que, agora que é um homem feito e pai de filhos, ainda pense o mesmo que pensava na altura. Criados num ambiente de racionalismo, livros de ciência, explicações lógicas para os factos, os meus filhos nunca foram dados a efabulações e eu, as que me ocupam a mente, são as que resultam da minha imaginação ou as que me levam pela mão quando as leio através das belas palavras dos escritores.
Em tempos, um colega meu, muito frequentador da igreja mas, simultaneamente, muito racionalista, desejou-me uma boa Páscoa. Agradeci mas disse-lhe que para mim é dia que não tem significado. Ele disse-me, então, que para ele é, de todos os dias, o mais especial, o dia da verdadeira Fé.
Objectos que antes embelezavam outros espaços, renascendo em beleza aqui, no Ginjal, trazidos pelas águas do Tejo |
Tentei que me explicasse como era possível que gente inteligente pudesse acreditar que alguém que tivesse morrido ressuscitasse. Perguntei-lhe ainda que se, de facto Ele não tivesse morrido mas, sim, estado em coma e depois tivesse recuperado a consciência e o andar, porque não havia registos da sua morte, já que, de facto, era um homem. Respondeu-me que aquilo em que os crentes acreditam é que não mais morreu, vive ainda entre nós. Que isso é a Fé.
Para mim isto é ficção, claro.
"Amizade é muito mais que picas e litrosas!", lê-se numa parede do Ginjal E é: é estarmos por perto, é termos uma palavra, é apoiarmos na procura de um tempo melhor. E é mais que isso ainda. |
No entanto, sinto com muita interioridade (se é que assim me posso exprimir) o facto de acreditarmos (e eu acredito!) na bondade humana, na generosidade, no perdão, na dádiva, na partilha, na compreensão, na ajuda, na esperança.
Espaço recentemente recuperado no Ginjal. Onde antes havia uma ruína há agora um edifício arranjado em cujo beiral nascem flores |
Perante todas as provas em contrário, perante toda a maldade, toda a arrogância, toda a ganância, perante todas as desgraças, toda a tristeza, todo o desânimo, eu acredito sempre que melhores dias virão, acredito que o tempo da paz, do desenvolvimento, do saber, da serenidade, do afecto, chegará, acredito que vale a pena lutar por ele, por esse luminoso tempo de felicidade que nos está reservado.
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Muito gostaria que me visitassem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras espreitam um espaço vazio e desolado para verem a luz que há ao fundo e vou guiada por um imprevisto poema de Gonçalo M. Tavares. A seguir Anna Netrebko e Marianna Pizzolato cantam Stabat Mater Dolorosa de Pergolesi.
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E nada mais que isto. Desejo-vos, meus Caros Leitores, um dia muito feliz.
Chove muito enquanto escrevo, talvez chova durante todo o dia. Vou passar o dia com os meus amores e amorzinhos. Um dos pequeninos faz anos e, também por isso, é dia de alegria e festa. Os tempos andam sombrios mas não tarda virá o sol e a esperança. Por isso, não desanimemos: melhores dias virão para todos nós. Acreditemos e lutemos por isso.