Gosto de pessoas inteligentes, lutadoras, determinadas, corajosas. Gosto. Não precisam de ser santas, de ser certinhas, de ser bem comportadas, de usar sempre argumentos piedosos e lisos. Não, não precisam, porque para lhes perceber as manhas estou cá eu.
Não tenho grande paciência para gente burra, básica, gente que não percebe nada de nada, gente inculta, gente manipulável. Nem paciência nem compaixão. Assim como não tenho paciência para com gente amorfa, beata, cinzenta, sempre muito politicamente correcta.
Gosto de gente com carisma. Gente que concita paixões, ódios, que divide as águas. Gente que provoca, que tira os mansos das tábuas, que os traz para o meio da arena.
Não precisa de ser gente que nunca pisa o risco. Claro que não. Porque para perceber quando estão a pisar o risco e permitir ou perdoar (ou não) estou cá eu.
Posso não concordar sempre com o que fazem ou dizem. Mas gosto de gente que dá o peito às balas, que se expõe, que vai a terreiro e arca com as consequências. Se forem homens, podem não ser gente com quem casasse a minha filha (se ainda estivesse casadoira) ou gente que eu queira para meu amigo íntimo - mas a questão não é essa. São planos distintos.
À frente de uma empresa tem que estar gente inteligente, com querer, com carisma, com pulso, com uma voz própria, com empatia. Pode ser alguém que por vezes manipula, por vezes é incoerente, alguém que erra. Mas tem que ser alguém que vá no bom sentido, com convicção. À frente de um país tem que estar alguém assim e mais, muito, muito mais. Tem que ser culto, generoso, resiliente, corajoso (fisica e moralmente corajoso), tem que ser confiante, tem que ter uma visão de futuro e de conjunto. E mais, muito mais. Mas não precisa de ser perfeito. Muito menos santo.
À frente de uma empresa tem que estar gente inteligente, com querer, com carisma, com pulso, com uma voz própria, com empatia. Pode ser alguém que por vezes manipula, por vezes é incoerente, alguém que erra. Mas tem que ser alguém que vá no bom sentido, com convicção. À frente de um país tem que estar alguém assim e mais, muito, muito mais. Tem que ser culto, generoso, resiliente, corajoso (fisica e moralmente corajoso), tem que ser confiante, tem que ter uma visão de futuro e de conjunto. E mais, muito mais. Mas não precisa de ser perfeito. Muito menos santo.
A entrevista de Sócrates na RTP 1 mostra a fibra dele. À vontade, solto, livre, com permissão para ser politicamente incorrecto, disse de sua justiça. Bem preparado, afirmativo, veemente, foi ele próprio.
Estou agora a ouvir alguns comentários nos vários canais e, salvo algumas análises inteligentes e interessantes, aqui estão alguns pequenos homens (homens em sentido lato, claro: homens e mulheres), presos a minudências, a irrelevâncias, a enredarem-se em coisas de nada. E aqui ouço os patetas do costume que falam do que não sabem, misturam números e conceitos, confundem coisas que não têm nada a ver, diabolizam palermices. O costume. Muitos dos que por aqui andam na comunicação social são uns papagaios que mais não fazem do que poluir a opinião pública. Faz-me muita impressão ouvir falar de economia a pessoas que não distinguem as causas das consequências. O nefasto que isto é...
Mas volto a ele: será Sócrates um homem perfeito? Não. Claro que não. Errou algumas vezes? Errou, claro que sim. Mas que é muito melhor que os incompetentes que lhe sucederam, disso não haja dúvida. E as escolhas políticas fazem-se por comparação.
Que seria importante que houvesse gente melhor que ele, isso é verdade. A política e a qualidade de vida ganham quando há gente inteligente, com visão estratégica, determinada, culta, no terreiro a debater, a lutar por melhores condições, pelo desenvolvimento; em suma: a puxarem uns pelos outros.
Que um dos grandes males deste país é a rarefacção que levou a que os bons deste país se tenham marimbado para a política é um facto - e uma pena.
A governação de Sócrates (especialmente a recta final, porque a sua primeira fase foi muito razoável) teria ganho muito se na oposição tivesse havido gente de qualidade e se o Presidente também fosse de outra cepa. O drama é que tenha sido derrubado por gente mil vezes pior que ele. Os resultados estão à vista.
Ouço os comentadores, muito aborrecidos por Sócrates, nesta sua primeira entrevista depois de dois anos de silêncio, não ter assumido erros. Deveria ele ter um espírito mais humilde, deveria aparecer de corda na garganta a dizer pequei aqui, pequei ali...? Talvez. Mas isso não seria ele. Ele é um combatente. Um combatente daqueles que morre a lutar. Para lhe dar o devido desconto, cá estamos nós.
Vejo que as pessoas que gostam de sentir a sua superioridadezinha, precisam de ver os outros em momentos de fraqueza, em exercícios de auto-punição. Prefeririam vê-lo a pedir desculpa, a bater no peito, em actos de contrição, lágrima no canto do olho. Sócrates não dá esse gosto a ninguém. Não está na sua natureza. Talvez daqui por muitos anos, quando for um velhinho muito velhinho, apaziguado, cheio de artrites e bonomia, quando estiver a escrever as suas memórias, confesse alguns arrependimentos, algumas dores. Antes disso, não.
Antes disso, há-de esconder sempre algumas dúvidas que o assaltem, há-de calar os lamentos, há-de fazer das tripas coração - e há-de aparecer sempre a desafiar quem o questiona, quem o afronta.
Os amigos devem dizer-lhe mil vezes que se modere, que seja mais polido, mais contido, que tente parecer mais humilde. Mas ele não consegue. Ele existe para ir à luta, para desafiar, para atacar, para abrir caminho. Acredito que, mil vezes, depois destas contendas, chegue a casa esfarrapado. Mas jamais dará o braço a torcer. É dele.
Os amigos devem dizer-lhe mil vezes que se modere, que seja mais polido, mais contido, que tente parecer mais humilde. Mas ele não consegue. Ele existe para ir à luta, para desafiar, para atacar, para abrir caminho. Acredito que, mil vezes, depois destas contendas, chegue a casa esfarrapado. Mas jamais dará o braço a torcer. É dele.
José Miguel Júdice, ao falar de Sócrates, comparou-o a Marilyn Monroe que, quando entrava numa sala, atraía sobre si todas as atenções.
De facto, todo o país parou para ouvir Sócrates e, agora que escrevo, as televisões todas estão numa euforia, não se fala noutra coisa: finalmente apareceu alguém que agita as águas, que eleva a discussão política, que baralha o jogo, que dá que falar.
O que estarão Cavaco Silva, Passos Coelho, Miguel Relvas... e Paulo Portas, a dizer a esta hora? Imagino. Imagino como devem estar de cabeça perdida.
O ataque que desferiu a Cavaco foi um frontal, violento. Justo. A mão escondida atrás do arbusto, disse Sócrates de Cavaco. E disse bem. E disse que não lhe reconhecia autoridade moral para falar de deslealdade. E disse bem.
O ataque que desferiu a Cavaco foi um frontal, violento. Justo. A mão escondida atrás do arbusto, disse Sócrates de Cavaco. E disse bem. E disse que não lhe reconhecia autoridade moral para falar de deslealdade. E disse bem.
Perguntar-me-ão: e Seguro? Não sei. Talvez aproveite. Talvez seja bom para ele. Sócrates abrir-lhe-á o caminho que ele, pela sua natureza, tem dificuldade em abrir.
No meio disto alguma coisa me chateou na entrevista? Sim. A enxurrada de 'narrativas'. Senhores! Parece que não lhe ocorria outra palavra, credo. Narrativa para aqui, narrativa para acolá. A ver se para a próxima já lhe passou esta febre narrativa porque não suportarei mais uma nova indigestão de narrativas.
Uma palavra sobre os entrevistadores: Sócrates chamou-lhes um figo. Gente que o desafie é do que ele gosta e, quanto mais o desafiarem, mais ele gosta. Por isso, foi uma animação quando 'enquadrou' o Paulo Ferreira. Quanto ao pasmado e sorridente Vítor Gonçalves, penso que quase nem deu por ele.
Penso também que, agora que falou do passado e se defendeu, voltará ainda à carga mais algumas vezes para garantir que diz tudo o que tem a dizer mas acho que, logo a seguir, vai virar-se para o futuro. Pessoas como Sócrates, depois de limparem a honra do convento, viram-se para a frente.
Gosta de correr, ele. Não nos esqueçamos.
E, quem corre, corre para a frente.
Gosta de correr, ele. Não nos esqueçamos.
E, quem corre, corre para a frente.
*
Hoje no meu Ginjal o dia é diferente. José Saramago diz a sua poesia e podemos ainda ouvi-la noutras vozes, dita e cantada. Na música há também uma surpresa: Julia Fischer aparece-nos não como uma grande intérprete de violino mas, hoje, no piano. Interpreta Grieg e vale bem a pena ouvir o talento desta miúda.
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Hoje fico-me por aqui. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quinta feira muito boa, muito feliz.
Hoje fico-me por aqui. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quinta feira muito boa, muito feliz.
Olá UJM,
ResponderEliminarOuvi a entrevista de Sócrates e os debates que se seguiram e que continuam a decorrer... e estou de acordo com a análise que fez de tudo o que vimos e ouvimos.
Também aprecio pessoas de fibra, lutadoras e sem medo de mãos escondidas atrás dos arbustos!...
Um beijinho grande e boa noite!
Sócrates não disse muito mais do que já sabiamos, Mas era importante que ele o recordasse.
ResponderEliminarNão desejando candidatar-se a cargos politicos fica mais à vontade para descobrir algumas carecas e parece-me haver muita gente receosa.
Creio que fez bem em aparecer.
UJM
ResponderEliminarvejo que muito aprecia Sócrates. De facto ele é bom no que faz, metódico, com o discurso estudado ao pormenor. Repetiu as mesmas ideias, as mesmas palavras vezes sem conta para que se infiltrassem bem na mente de quem o ouvia. Ele sabe bem o que faz. Isto traz água no bico, não duvide. Se ele é bom? Foi bom? Foi menos mau que estes que agora ocupam o seu lugar, mas nem por isso foi bom. Não nos esqueçamos. Não pode lavar as suas mãos como Pilates. Cá estaremos para ver o que vem dali.
Quanto aos entrevistadores... fraquinhos... fraquinhos... o Vitor Gonçalves nem sequer o olhava nos olhos! Devia estar com receio das farpas que podiam saltar! Olhe, espontaneidade é coisa que acho que falta a Sócrates. E se gosto de pessoas de fibra como a UJM, ainda gosto mais de pessoas espontâneas e que trasmitam seriedade. Apesar de reconhecer que ele é extremamente bem preparado, falta-lhe humildade. E olhe que pessoas humildes também podem ser fortes, correr para a frente e vencer.
MS
Serei básica e ignorante, mas para mim a inteligência não vale sem a honestidade e sentido de justiça.
ResponderEliminarGente bem inteligente fez barbaridades ao longo da história.
Está tudo muito atento ao Ex PM. Assim o governo fica um pouco esquecido...
Um beijinho e boa Páscoa
Olá UJM
ResponderEliminarO que terá Sócrates de especial que leva pessoas como
Manuel Maria Carrilho:
"Sócrates é igual a Relvas" no DN
Paulo Rangel:
"Sócrates é igual a Chavez e não gosta da democracia tipo ocidental" no Público
Esther Muznik:
" Sócrates comparado a Hitler" No Público
a dizer imbecilidades?
Falta de argumentos, o ódio que tolda raciocínios ou apenas a estupidez natural???
um abraço
Hoje comento com um simples poste:
ResponderEliminarhttp://bonstemposhein-jrd.blogspot.pt/2013/03/socraticas.html
Bom fim-de-semana
Abraço
Sócrates vai dar que falar, quer-me parecer. Goste-se ou não da criatura, tem fibra, sabe defender-se, sabe atacar, é feroz. Seguro é uma avezinha, a seu lado. Uma coisinha inofensiva. A sua moção de censura, cheira a birra. Com Sócrates era mesmo para levar a sério. Quanto ás críticas que dirigiu ao PR, só tenho pena que que não tenham sido mais. Cavaco ficará na História como o pior Presidente depois do 25 de Abril. Uma figura politico-caricata. E Passos, com a quela sua voz de opereta também lhe fica atrás (de Sócrates).
ResponderEliminarNão sou, nem de perto nem de longe, simpatizante de Sócrates e não o gostaria de ver de volta, como PM, por exemplo. Mas, até nisso, estou em querer que nunca se rebaixaria como o tonto do Passos o está a fazer perante a Troika, a D. Merkel, etc. Nem nunca se deixaria dominar por um seu ministro, como sucede com Passos perante o incompetente Gaspar.
Enfim, ainda fará correr muita tinta. Ainda agora começou o baile, vamos ver como acaba.
Pedro Santos Guerreiro escrevia hoje na Sábado umas linhas muito oportunas, sobre Sócrates, Passos e o que se nos apresenta de Políticos. Acabo por ter de concordar.
Boa Páscoa!
P.Rufino
Sócrates ! Devia ter enveredado pela carreira de actor ! Tem jeito
ResponderEliminarnão tinha por hábito ver debates quinzenais na Ar, mas no tempo deste homem dava gozo, chegava para todos. Daí esta entrevista tirar o sono a muitos.E foi moderado.
ResponderEliminarLa vem ele descobrir as carecas a muitos .. Tbm eu nao via muito debates no AR concordo com o comentário a cima
ResponderEliminarComo socrates nesse pais nao haverá igual. Como portuguesa posso dizer que é uma pena, mas socrates era o unico que nos podia dar esperança, mas nao aconteceu.
ResponderEliminarpalavras para quê... está tudo dito e mais que dito. Pensem o que ...
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