segunda-feira, maio 30, 2011

Passos Coelho versus José Sócrates e Paulo Portas

Na sequência do meu post sobre Passos Coelho e a IGV, recebi um longo comentário do leitor Carlos ao qual me sinto no dever de responder mais circunstanciadamente do que fiz ontem à noite.

Diz o Carlos, e certamente com alguma razão que eu, até razoavelmente tolerante, deixo que a consciência se me tolde quando ataco Pedro Passos Coelho, o que contrasta com a minha benevolência para com Sócrates ou mesmo para com Portas.

No entanto, se sou tendenciosa é involuntariamente.

Já aqui várias vezes critiquei Sócrates e Paulo Portas e, de forma mais ou menos sintética, expliquei o que penso deles (aqui e aqui).

Devo dizer que, de há uns tempos para cá, voto sempre contrariada. Acho que o nível da classe política vem decaindo perigosamente e o resultado está à vista. Acabei há pouco de ouvir na SIC o Miguel Sousa Tavares dizer que ainda não sabe em quem votar e eu estou, mais ou menos, na mesma.

A partir de Junho estaremos a ser governados a partir do exterior e tomara que ao menos isso saibamos ser governados porque há sérios riscos de que nem isso consigamos acatar e que, não tarda, estejamos como na Grécia.

Não reconheço a nenhum dos actuais líderes partidários craveira moral ou intelectual que me tranquilize.

Para que fique claro o que penso deles:

A imagem de marca de Sócrates: à chuva, sem desistir, sem abrandar

Sobre Sócrates: é um lutador, tem uma energia quase biónica, não sei onde encontra força anímica e resistência física para aguentar dia após dia, desde há tantos anos, tanta pressão, tanto contratempo, tanto ataque (devidos ou indevidos, não importa), como consegue, em cima disso, estar sempre tão bem preparado, saber números, saber rebater o que qualquer um lhe diz, e de manhã está numa reunião aqui, a seguir está em Bruxelas, depois está no norte, a seguir está no sul, e sempre a vender optimismo até ao limite do improvável (não creio que, quando omite, seja mentir por mentir - penso que o que ele quer é incentivar ao optimismo, pelo efeito de contágio, se transmitir boas notícias). Leva tareia e não esmorece, lançam campanhas de toda a ordem contra ele e não desaba. Não se percebe uma elasticidade destas num vulgar ser humano.

No entanto, isto não faz dele o primeiro ministro ideal. Em primeiro lugar porque por vezes é mais inteligente pedir ajuda do que tentar, até ao limiar do risco inadmissível, não a pedir; em segundo porque, perante o risco de derrocada iminente das finanças públicas, teria sido preferível cair na rua (se necessário fosse) do que aumentar funcionários públicos, do que  ir de Pec em PEC. Deveria ter sido capaz de declarar que ou se parava de vez com a ilusão ou o país entraria em incumprimento. [No entanto, temos que reconhecer que tudo isto foi acelerado pela pressão das agêncais de rating e pela pressão da oposição que instilou nos mercados a desconfiança sobre a governabilidade do país].

É claro também que algumas coisas no passado dele me deixam muito incomodada: tirou um curso superior às 3 pancadas (tal como vários outros políticos o fizeram – mas o erro dos outros não desculpa outro o erro dele) e, dessa forma, menosprezou a necessidade de esforço para se alcançar um título académico, temos notícia de alguma chico-espertice nalguns esquemas e amiguismos – enfim, esse género de coisas não faz dele alguém de quem eu adorasse ser amiga pessoal.

Mas quando se vota, vota-se para que ocupe um cargo político, não para que seja nosso amigo pessoal.

E ele é patriota, é trabalhador, é um lutador. E isso conta.

Não incluo na lista das coisas que me incomodam o freeport porque isso ficou provado à saciedade que alguém usou o nome dele para meter umas massas ao bolso e que alguém, de outros partidos (e sabe-se quem exactamente), espalhou insinuações, falsas acusações, cartas anónimas para o denegrir. Isso ficou demonstrado e o caso está resolvido.

A imagem de marca de Paulo Portas: de chapéu, nas feiras

Quanto a Portas nem vale a pena recuar ao seu passado, quando, no tempo do Independente, se entretinha a inventar parangonas para dar cabo de Cavaco Silva e do PSD. Ou ao tempo em que deu cabo de Manuel Monteiro, sem dó nem piedade. Ou que arranjou caldeiradas e incompatibilidades com Maria José Nogueira Pinto ou Luís Nobre Guedes, conseguindo que, um a um, se fossem afastando, acabando com quem lhe fizesse frente. Ou aos tempos da Moderna, do centro das sondagens ou, mais recentemente, às insinuações de que estará envolvido no esquema de corrrupção dos submarinos. Ou que também se dizia à boca pequena, ao tempo em que estava na Defesa, que haveria, sempre que se faziam grandes aquisições, uns frais latins (metáfora para ‘luvas’) para as hierarquias ao mais alto nível.

Mas nisto, é difícil provar-se pelo que falar para quê? Os alemães provaram que houve corrupção a portugueses no valor de vários milhões-  agora a quem? Não sabemos, pelo que deixemos que a justiça siga o seu curso. De qualquer forma, a minha opinião pessoal é que a ter havido qualquer coisa, seria dinheiro para o partido e não para ele próprio. Seja como for, será grave porque terá saído dos cofres de Estado mais dinheiro do que devia para ir financiar um partido. Mas não o acusemos sem provas.

E há que reconhecer que vem amadurecendo, nota-se que está mais consistente. Provavelmente a influência da mãe tem sido benéfica. Está mais sóbrio, mais ponderado e, nunca se sabendo bem se é encenação, se é genuíno, tem tido dos melhores desempenhos nesta campanha.


Uma das primeiras grandes gaffes de Passos Coelho: a escolha do ex-BE Fernando Nobre para Nº2 do PSD, convidando-o para Presidente da Assembleia da República. Dois erros crassos.

Chego a Passos Coelho. E, você, Carlos, tem razão. O sujeito tira-me do sério. E não, não estou a desdenhar para comprar por melhor preço. Não, nada disso, nem dado.

É que os dois anteriores têm defeitos, têm fragilidades, têm o que você quiser - mas são políticos, têm uma agenda, seguem uma linha de rumo. A gente pode discordar, mas sabe o que é que eles defendem.

Agora Passos Coelho é um caso mais sério. A questão é que não tem espessura como político, nem tem jeito, nem envergadura. É um erro de casting. Talvez estivesse melhor num musical do La Feria (se tivesse passado no casting) ou à frente de uma pastelaria. Mas como político? Um dia diz uma coisa, outro dia diz o contrário. Lança temas para os quais não se preparou, depois desdiz-se, põe grupos a estudar assuntos mas não os coordena, pelo que saem coisas contraditórias que ele não sabe dirimir, divulga um programa e, à primeira crítica, prontifica-se a mudar de rumo – em suma: é um desastre.

Tem um ar afável, parece que quer agradar mas, no entanto, há nele qualquer coisa de postiço. Aquele vídeo que circula na net, aquela cena da enxada, aquele arzinho não mostra nada de bom, resvala para o baixo nível.

Mas o grave mesmo é a parvoíce intrínseca, é dizer uma coisa no país e dizer o contrário, em inglês, quando fala para o estrangeiro, é hoje em campanha em Valença andar a falar espanhol e as coisas que diz, é o disparate do aborto, são os sucessivos disparates.

Repare como os nomes mais sonantes do PSD se afastaram dele. Apenas, por dever de ofício, se aproximaram agora na recta final da campanha e apenas muito relativamente.

É que não se pode ser primeiro-ministro assim. A questão aqui nem é de simpatia ou antipatia, ou de falta de isenção.

A questão é apenas que PPC não tem perfil, não tem preparação, não tem condições, não cumpre os requisitos mínimos para ocupar um cargo de responsabilidade política. Talvez apenas presidente da Junta de Massamá e mesmo aí seria bem capaz de armar confusão.

E é isto, escrito com toda a minha tolerância.

3 comentários:

  1. packard em rodagemmaio 30, 2011

    O Portas aprendeu com a mãe, com quem foi criado (o Miguel com o pai), e a mãe era do Gabinete da Área de Sines. Lembra-se? Pois...

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  2. No post seguinte, a senhora citou um homem inteligente, que escreveu isto:

    "O PS está a mentir aos portugueses

    Henrique Raposo (www.expresso.pt)
    8:04 Sexta feira, 27 de maio de 2011

    Concedo que, em 2009, o PS não estava a mentir. Estava só iludido, pobrezinho. Concedo que, vá, o PS foi apenas irresponsável e irracional do ponto ideológico quando desprezou o problema da dívida. A Ferreira Leite era uma velhinha, coitadinha, que não sabia o que estava a dizer, burrinha, o endividamento não era um problema, ora-essa-queremos-a-nossa-modernidade, o PS podia continuar a pedir dinheiro emprestado para fazer as suas estradas e TGVs. Ora, em 2011, o PS já não está na ilusão, está na mentira pura e dura. O PS está a mentir aos portugueses, e é bom que isso fique escrito na pedra. Isto não é uma questão de opinião. É uma questão de facto. E não, não é marketing político (o que raio é isso de marketing político, já agora? O nome antigo era mais honesto: propaganda). O nome epistemológico da coisa é mentira. Existe uma linha na areia que divide o marketing da mentira. E essa linha é ultrapassada quando alguém nem sequer respeita a sua própria assinatura, como é o caso deste PS.
    Neste momento, os líderes do PS falam como se o documento da troika não existisse . O tal documento que Sócrates assinou, o tal documento que Sócrates considerou como bom. Em 2009, os socialistas falavam como se a realidade não existisse. Problema sério, sem dúvida, mas em 2011 o problema é ainda maior: o PS não está a respeitar a sua própria palavra. O PS assinou um documento que é bem claro sobre as medidas que têm de ser tomadas pelo próximo governo. E - usando a linguagem do PS - essas medidas são todas "neoliberais", são todas de "dirrrreita"(carregar nos R's, como faz Louçã). Nos comícios, o PS diz que a "dirrrrreita" portuguesa quer privatizar tudo. Só falta dizer que a "dirrrreita" quer privatizar a luz de Lisboa. Mas, no documento, podemos ler que o PS também aceitou um vasto programa de privatizações. Nos comícios, o PS diz que "ai, jesus, que querem privatizar a CGD". No documento,podemos ler que o próximo governo tem de privatizar a área de seguros da CGD (tal como Passos tem defendido). O PS fala dos despedimentos selvagens da "dirrrreita". Pois, no documento podemos ver que o PS se comprometeu a"preparar uma proposta que visa introduzir ajustamentos aos casos de despedimento individual por justa causa".
    O PS está a fazer um discurso à BE, à Manuel Alegre quando acabou de assinar um documento que o compromete com uma política à Blair, à liberalismo social-democrata nórdico. O PS está a mentir aos portugueses, porque não acredito que tenha mentido à troika. Ou mentiu?"

    E sobre o jeito de mentir de Sócrates, poderá ler mais da autoria deste homem inteligente, em

    http://aeiou.expresso.pt/henrique-raposo-a-tempo-e-a-desmodo=s25269

    Antes a inexperiência de que mentira como eixo de caracter.

    O caminho faz-se caminhando...

    Obrigado por ter respondido.

    Carlos J. Costa

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  3. Carlos,

    É um prazer ler os seus comentários, tão bem escritos.

    De qualquer forma e concordando com os factos que refere, tenho dificuldade em coincidir nas suas conclusões.

    Reconheço que Sócrates não é um poço de virtudes mas, entre ele e Passos Coelho (e apetecendo-me dizer: vá o Diabo e escolha), ainda assim acho que Sócrates, malgré tout, (e tal como hoje voltei a escrever num novo post), consegue ser mais credível do que Passos Coelho que, por pouco mentiroso que seja (e não faço ideia se é ou não)não tem um mínimo de competência ou de jeito ou de potencial para assumir um cargo de responsabilidade.

    É que é mesmo destituído, não dá, não dá mesmo.

    É que, você sabe, eu olho para ele e o que vejo é que é daqueles que quanto mais caminhar, mais se vai enterrar.

    Por isso, Carlos, tenho pena se o desaponto mas você não vai conseguir convencer-me. E eu não o convenço a si?

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