Agradeço os comentários ao que escrevi ontem que muito apreciei.
Parece cada vez mais evidente que, mais uma vez, estando ou não respaldado na legislação, o MP atuou com uma enorme falta de bom senso e não como faria "um bom pai de família", expressão utilizada em muitos contratos em que estive envolvido e que significa que as partes devem atuar com boa fé, com bom senso e da forma com atuaria um bom pai com a sua família.
A atuação do MP parece-me o mais criticável possível. Então prendem-se, julgo que cinco pessoas, e mantêm-se estes nossos concidadãos presos durante uma semana antes de serem ouvidos e conhecerem as medidas de coação? Por que razão não iniciaram de imediato as diligências para que as pessoas não estejam detidas, se calhar indevidamente?
Está em causa o sagrado direito da liberdade de pessoas que ainda não foram acusadas de nada e de cujo passado, que se saiba, não consta que tenham praticados crimes. Porque não notificam as pessoas para serem ouvidas, num prazo curto, em vez de serem presas? Para o MP mostrar que faz o que quer? Poderá estar suportado pela lei este tipo de comportamento do MP; mas será socialmente legítimo numa democracia? Não, não é obviamente legítimo!
E a violação constante do segredo de justiça em todos os processos mediáticos, crime para o qual nunca houve castigo? Numa democracia, é socialmente admissível, nestes casos, punir os envolvidos, presumivelmente inocentes, com envios seletivos de informação para os jornais que a publica da forma a enxovalhar o mais possível os arguidos? Não, não é obviamente admissível!´
É aceitável numa democracia dar cabo da vida de pessoas, inocentes ou culpadas, com ataques continuados efetuados por determinados órgãos de informação aos quais é fornecida informação em segredo de justiça, com o óbvio interesse em fazer julgamentos na praça pública? Não, não é obviamente aceitável!
É razoável numa democracia que o MP demore anos e anos para investigar os processos gastando provavelmente muito mais dinheiro do que deveria? Não, não é obviamente razoável!
É concebível numa democracia que o MP não preste esclarecimento sobre as ações que desencadeia mesmo que estas afetem o funcionamento e a imagem externa do País? Não, não é obviamente concebível!
É pelas razões apontadas -- e provavelmente pela incapacidade de gestão intrínseca -- que a responsável pelo MP devia obviamente demitir-se (e já o devia ter feito, por vontade própria ou por sugestão, há muito tempo).
Outros dois apontamentos.
O inefável Presidente anunciou ontem o que já tinha sido anunciado pelos seus porta-vozes. É mais uma tentativa para que haja um governo de direita quando ele for pregar para outra freguesia. Parece, segundo um conceituado constitucionalista, que o discurso escrito do Presidente tinha várias incorreções em termos constitucionais. É de pasmar! Volto a dizer: o Prof. Marcelo não vai ficar bem quando se fizer a história do período em que foi Presidente. Só não digo que será, para ele, "azar dos Távoras" porque a fraca avaliação será justa e merecida.
O António Costa e outros políticos de vários partidos estão a ser, foram e serão vítimas de nunca terem alterado a legislação que suporta a atuação do MP. Deviam tê-lo feito. Espera-se que, de futuro, alguém pegue no assunto de frente, com coragem e sem medo de afrontar o corporativismo instituído nesta área. A Justiça não pode continuar a ser o pilar mais fraco e carunchoso da democracia.
👍👍🏻👍🏻👍🏻👍🏻👍🏻
ResponderEliminarBom dia a UJM e seu marido. Obrigada pelos vossos comentário lúcidos. Infelizmente, raros nos tempos que correm. O nosso MP não conhece o Mundo, não conhece a vida, vive entrincheirado na sua bolha corporativa, incensados pelo seu estatuto, presenteados, em 2019, por um governo socialista, com o bónus remuneratório de não se lhes aplicar o travão existente para todos os dirigentes da Administração Pública, permitindo assim aos magistrados receberem um vencimento superior ao do Primeiro Ministro. O conceito do direito romano de “bonus pater familiae”, que em 1970 aprendi nas aulas de Direito Romano do Professor Raul Ventura, é desconhecido dos que aplicam o Direito sem o bom senso que está subjacente a todo o edifício jurídico. Ao invés de terem tomado a iniciativa de reformar o sistema judicial, os vários governos tiveram como objetivo agradar as magistraturas para que os deixassem sossegados. Como é possível que, estando qualquer remuneração sujeita a IRS, os magistrados recebam subsídio de renda de casa isento de tributação, aplicável mesmo que já não se encontrem no ativo (jubilados e não aposentados, como a maioria dos que foram trabalhadores, estatuto de jubilação esse, que lhes confere idênticas condições, remuneratórias e não só, aos que ainda estão a exercer)? E, mesmo que marido e mulher sejam magistrados, tenham direito a receber, cada um deles, esse subsídio? Dir-me-ão, é legal, tem suporte legal, pois sim, mas é imoral. Estas considerações são apenas para ilustrar a minha ideia de que a atuação do MP tem muito na base uma percepção, por parte de alguns dos seus agentes, de que constituem uma classe, um grupo à parte no País, pois lhes é reconhecido um estatuto que os diferencia do resto dos cidadãos. Não sei que conjuntura astral ou o que quer que seja que está a suceder, mas o Mundo está a girar ao contrário… Que Deus nos conserve alguma lucidez!
ResponderEliminarUm bom domingo
Filo
O primeiro-ministro é vitima de si próprio. "Á justiça o que é da justiça" Agora toma lá na fuça, para aprenderes que raposa no galinheiro dá no que dá. Quando Rui Rio queria a reforma da justiça, Costa assobiou para o lado, agora aguenta.
ResponderEliminarUJM, Mais uma vez, lucido artigo do seu marido.
Gostei.
Que aborrecimento! Então, mas agora é o seu marido que escreve o blogue? Que maçada!
ResponderEliminarTudo argumentos que se compreendem e não repugnam, pelo contrário. Todavia, subsiste a questão de fundo, que explica este comportamento do MP. As decisões que foram tomadas pela Justiça (MP e pelo juiz de instrução criminal) no que respeita às prisões preventivas estão previstas na Lei Penal/Processual Penal. Cujos Códigos (CPP e CP), onde está plasmada toda essa Legislação, foram aprovados em sede da AR, como não podia deixar de ser.
ResponderEliminarOs governos de Sócrates, Passos Coelho e depois de António Costa - para só mencionar estes - nada fizeram para alterar (e melhorar), sobretudo com vista a prevenir determinados procedimentos judiciais como os que acabámos por assistir.
Como digo, aqueles que foram vítimas de situações como estas são os primeiros e principais responsáveis por elas, na medida em que, enquanto políticos, no Poder/Governo, não ousaram avançar com reformas jurídicas, que se impõe, quer no respeitante ao CPP, quer ao CP.
Por conseguinte, cada um deita-se na cama que fez, ou deixou que a fizesse.
E por isso, um governo com maioria absoluta é derrubado por uma alínea de um comunicado da PGR. Extraordinário!
Quanto ao PR, é uma figura sinistra. Aquela encenação à volta dos Távoras era evitável. Mas, assim o quis Marcelo. Enfim...
2. Quanto à decisão do prazo que o PR decidiu para as eleições, pode ser discutível, constitucionalmente, como o ilustre Professor Reis Novais assim o referiu, mas, apesar de tudo é o mais conveniente ao PS, o que faz sentido, já que tem de mudar de liderança e apresentar-se a eleições com um novo líder.
a) P.
Olá UJM e marido, já há largos anos é minha opinião que a justiça é o pior sistema público que existe em Portugal. Saúde, educação, segurança, finanças, segurança social, municípios, todos eles têm as suas falhas mas em nenhum deles identifico o autoritarismo, nepotismo e incompetência que existe nos tribunais (e sim, eu sei o que quer dizer nepotismo). Infelizmente conheço imensas histórias, nenhuma comigo até agora, mas partilho aqui apenas um exemplo:
ResponderEliminarUm familiar de uma amiga minha, vamos chamar-lhe João, trabalhava na função pública. Conheço o João e família e são pessoas que faziam uma vida normal, nada politizada e sem ostentações. Aqui há um par de anos, por investigação do ministério público a um terceiro que seria corruptor, suspeitaram que um procedimento de trabalho perfeitamente normal que o João tinha feito (uns anos antes do sucedido) tinha sido motivado por suborno. O João foi detido pelo ministério público com aparato. Esteve preso durante três dias sem falar com a família, com a mesma roupa com que entrou, a dividir uma cela com outros detidos. Foi ouvido ao final do quarto dia pelo juiz, mas ainda teve de esperar mais dois dias para que fossem decididas quais as medidas de coação. Nessa altura perguntei a um amigo da Polícia Judiciária porque raio, se os atos já tinham anos e o juiz sabia perfeitamente que o iam deter naquele dia, porque raio teve de ser preso durante quase uma semana, ao que me responderam que era procedimento normal para o “quebrar”. As medidas de coação foram não poder se ausentar, não poder trabalhar na sua área e não poder contactar com colegas. Ora, os seus amigos eram quase todos colegas ou casados com colegas, pelo que ele ficou na sua cidade, sem poder estar com ninguém excetuando a família e sem poder trabalhar (logo sem receber dinheiro). No início pensaram que seria uma questão de poucas semanas ou poucos meses, mas a situação arrastou-se, a família estava aflita porque sobreviviam com o ordenado da mulher e ajudas dos pais, o João não conseguia trabalho porque a sua área de competências estava-lhe vedada e a reputação estragada, e ficou com uma depressão. Passado um ano e meio o João recebeu uma comunicação do tribunal a informar o arquivamento do caso por falta de provas e pode voltar ao seu serviço. Nem chegou a ir a tribunal. Um ano e meio de vida estragada e o perpétuo dano à sua carreira porque na boca do povo “não há fumo sem fogo”. Perguntei à minha amiga se ele não tinha direito a uma indemnização pelo sucedido, mas respondeu-me que teria de ser provado erro grave na atuação do ministério público, o que normalmente não acontece, e que também já não tinham dinheiro para pagar custas e honorários de advogados para meter o processo. Não sei se foram bem aconselhados ou não, mas acho que também não queriam prolongar o drama.
Não gosto muito de contar estas coisas, mas não sei se o comum dos mortais está ciente que neste país democrático chamado Portugal, às vezes a liberdade e o bom nome não são um direito do cidadão. Ana
UJM
ResponderEliminarVital Moreira dá uma aula:
https://causa-nossa.blogspot.com/2023/11/ai-portugal-11-o-ministerio-publico-e.html
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"Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou ditador por ter roubado uma província."
ResponderEliminarPadre António Vieira
A.Vieira