Por todo o lado rebentam cogumelos. Vistos de longe parecem folhas de outono sobre a caruma. De perto são belos seres vivos. Se calhar, quando no subsolo falarão entre si, combinarão o surgimento.
Impossível apanhá-los a todos. Certamente centenas. Andávamos sempre a apanhá-los com medo que o dog de guarda os coma. Mas, talvez porque não tenham cheiro ou porque exalem algum odor repelente, ele não mostra sequer interesse por eles. Por isso e porque são demais, desta vez resolvemos deixá-los.
Há brancos, alados, há castanhos, gordos, há amarelados, há os que parecem uma saia rodada. Belos. Belos.
Fotografo-os. Um e outro e outro.
Agora escolhi alguns sentindo que estou a cometer injustiças.
Para além da chuva, do vento e dos cogumelos, na sexta-feira aconteceu uma coisa.
Estávamos nesta sala com a porta aberta, o dog do lado de dentro. De repente largou a correr, a ladrar, e outro som, um movimento intenso, ganidos, guinchos. Desatei a chamar por ele. O meu marido também, gritando: 'Aqui! Aqui!'. Mas a fúria era imensa.
Não vi o que era mas só me lembrei de quando a nossa boxer via um gato e ficava possuída, querendo apanhá.lo e o gato guinchava de susto. Mas aqui o ruído era maior, pensei que algum animal o estava a querer comer ou vice-versa.
De repente vimos que era outro cão, um cão gigante. Os dois pegados. Pensei que iriam destruir-se. Mas o outro fugiu, o nosso atrás e logo a mesma guincharia. Temi que o outro se atirasse à jugular do nosso.
Felizmente, ou o outro fugiu ou o nosso obedeceu ao grito do meu marido pois reapareceu na sala, ofegante, a dar ao rabo, a olhar para nós, todo contente. Vinha encharcado quer de lado quer nas barbas. Ferida não vimos nenhuma. Não sabemos se o outro ficou ferido pois aqueles guinchos pareciam de quem estava a ser ferido. Nem sei se o outro tentou morder o nosso e dai este vir todo babado.
Fechámos logo a porta. Passado um bocado reapareceu o outro que se pôs a atirar ao vidro e o nosso, do lado de dentro, a jogar-se ao vidro, furioso.
O meu marido correu a cortina para não se verem.
Depois ligou ao vizinho novo pois reconhecemos que era um dos três gigantes que ele lá tem e que, quando veem o nosso e vice-versa querem devorar-se mutuamente. O vizinho não estava, disse que vinha logo que possível. Ficámos em casa até que o vizinho disse que ele já estava do lado de lá e que estavam já presos.
Hoje o meu marido, bem cedo, foi ver por onde tinha a fera passado. Tinham feito um buraco na parte de baixo da rede lá em baixo, ao fundo. Tapou com umas tábuas que prendeu com troncos. De qualquer forma, hoje o vizinho deve ter mantido os cães num qualquer lugar pois não os vimos.
Tirando isso, tenho a dizer que hoje aconteceu um milagre: vendo uns marmelos, o meu marido sugeriu que se fizesse marmelada. Sugeri que fizesse ele. E ele fez.
O resultado não será bem marmelada. Mas é um doce bom. Mas pouco doce (até porque não tínhamos açúcar...)
Marmelos com casca, aos bocados, uma maçã, uma pera, um pouco de alecrim, sumo de lima e um pouco de gin. Cozinhou. Depois triturou com varinha mágica, misturando um pouco de mel. Tudo de sua alta recreação. Só sei isto porque ele contou.
Em cerca de meia-hora.
E, portanto, é isto a vida no campo (para quem não tem que trabalhar, claro...)
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Junto um vídeo bonito só porque sim.
Tinta em movimento
Escreve-se "alta recreação" e não "alta recriação" como escreveu. Basta confirmar num bom dicionário, já percebi que a senhora nunca aceita os reparos que lhe fazem.
ResponderEliminarCar@ Anónimo@
ResponderEliminarOra essa... Não só aceito bem como até peço o favor de me informarem quando detectarem erros... Onde foi buscar essa ideia?
Será porque, por exemplo, por muito que me insultem continuo a achar que o Putin é que começou a guerra na Ucrânia e que ele é que tem que a parar, saindo do país que invadiu....? É que isso é uma questão de opinião, não é uma questão de ortografia...
Já corrigi o erro. Ontem, ao escrever, ocorreu-me que não se escreve como muita gente pensa e, vai daí, lapsus linguae absurdo, escrevi mesmo mal.
Um bom domingo! E, se não for abusar da sua generosidade, quando der por outra, diga-me, ok? Detesto pensar que para aqui tenho disparates ortográficos ou gramaticais.