Vou dizer.
No outro dia já aqui tinha aludido e, foi já depois de o ter feito, ao pôr a box a andar para trás, para espreitar o Eixo do Mal, que vi que no fim aparecia Christopher Hitchens a dizer basicamente o mesmo que eu andava a ver como abordar sem que me caísse a casa em cima.
E vinha andando a dizer ao meu marido. Ele diz que não vê que tenha solução. Eu também não.
Mas quando a coisa está mal feita, mesmo que a gente não veja solução, há uma premissa que tem que se ter em mente: se assim não está bem, e não está bem de raiz, alguma outra solução há-de haver. Mal como está é que não pode ficar.
E uma coisa é agora estar mal, conjunturalmente mal. Outra é estar mal desde sempre, estruturalmente mal.
E há uma observação que deve ser feita. E é a seguinte: os israelitas têm tanto direito a habitar território palestiniano como os palestinianos. Isto porque há registo deles por lá andarem desde o início, tal como todos os outros.
A questão não é essa, A questão é que fundar um país com base numa religião é um disparate. Não pode dar certo. Um país é um lugar que não pode ser traçado a régua e esquadro no meio de uma outra terra e dizer que aquele polígono inventado e desenhado é um país novo, um país para judeus.
Não faz sentido. Não poderia nunca correr bem.
Os judeus, os católicos, os muçulmanos, os budistas, os agnósticos e os ateus devem poder viver onde quiserem. Religião não pode ser sinónimo ou base de uma nação desenhada de propósito.
De propósito fazem-se, e se calhar mal, os canis para meter os cães. Ou os currais para meter o gado.
Não se faz um país para meter os católicos. Outro para os ateus.
Vamos imaginar que havia uma perseguição insana aos agnósticos, que tinham que fugir, e alguém se lembrava de desenhar um país no meio de Portugal e dizer: aqui agora é um país novo, para os agnósticos.
Não faria sentido, não ia correr bem.
Os judeus poderiam viver e ser acolhidos em qualquer país, tal como já o fazem. Há judeus por todo o lado, e bem, e não apenas em Israel.
Não me faz sentido um país, Israel, ali enxertado no meio de um espaço todo ele habitado por gente dada a radicalismos, gente que não pode com judeus. É que não foi ceder um terreno para uma limitada comunidade (de agricultores, a viver em comunidade) se instalar... Foi criar um país com leis próprias, forças armadas próprias, etc.
Foi uma solução abstrusa, não sei se utópica se quê, uma solução artificial, fadada ao insucesso.
Só que aconteceu.
Israel é hoje um país próspero, desenvolvido, científica e tecnologicamente avançado. Não é coisa que com a 'ligeireza' com que foi concebida, agora se possa apagar.
Mas da mesma forma que acho um disparate o conceito de Israel ser um país baseado numa religião, acharei o mesmo de qualquer outro que também o seja. Dá forçosamente radicalismo, fanatismo, ditadura, desgraça. Por isso, por aquelas bandas, conceitos como liberdade, democracia, multirreligiosidade, inclusão, humanismo, etc, são quase miragens. Portanto, em cima de tudo, haver ali um país que tenta ser isso tudo só pode correr mal.
Claro que Israel, país habitado por gente acossada desde sempre, em especial durante o nazismo, tornou-se hiper-reactivo, hiper-defensivo. E, já se sabe, a melhor defesa é o ataque. E, portanto, tem sido a felga que se sabe.
Agora como pode ser resolvido isto?
Não faço ideia.
Para ser de novo traçado a régua e esquadro só mesmo numa região desabitada, terra de ninguém, coisa que não ferisse susceptibilidade alguma.
O lógico é que se dissesse: não há cá mais países que têm como matriz existencial uma religião. Portanto, acabou-se. E, pessoas como quaisquer outras, poderiam instalar-se em qualquer país, encontrando-se formas de os acolher.
Só que é possível desmembrar um país? Presumo que não. E, se fosse possível, não seria cruel fazê-lo? Presumo que sim.
Se a Palestina fosse um espaço multicultural, multi-religião, democrático, humanista, poder-se-ia dizer encontrar uma solução inteligente, racional. Mas, tantas as feridas, tantos os massacrantes antecedentes, não creio que seja possível.
Mas alguma solução há-de existir. Algum futuro em paz, naquela zona, há-de ser possível.
Mas eu não sei nada de política externa, não sei de geografia política, não sei nada de diplomacia, não sei de nada disto. Mas há quem saiba.
Penso, pois, que é chegado o tempo dos líderes, dos políticos, da gente humanista e com visão.
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De notar que não estou a desculpar a barbárie do Hamas nem nada que se pareça, nada, nada, nada.
E também penso que Israel se encontra numa situação dificílima, estão cercados, existencialmente ameaçados, com um inimigo que se acobarda, escondendo-se atrás ou sob civis inocentes. E que só isso pode justificar a violência e a brutalidade do que está a acontecer.
E, por tudo isto, ainda mais me convenço de que a solução para esta tragédia, para ser real e sustentável, tem que ser tão radical quanto foi, há décadas, a da criação de um novo país.
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Um bom sábado
Saúde. Coragem. Paz.
LS
ResponderEliminarE nem sempre em desacordo. Acompanho a sua perplexidade. Todavia julgo ser necessário juntar muitos mais elementos à equação. Alguns como, entre outros, a realidade histórica, os meandros da geopolítica, o relacionamento étnico e tribal entre os povos embrulhado nesse invólucro venenoso constituído pelas religiões criadas pelos humanos.
Acrescento uma opinião luminosa e esclarecida:
https://www.dn.pt/opiniao/sem-respeito-nao-ha-perdao-17279654.html
As suas duvidas, são as duvidas de todos. Também acho difícil uma solução para estes dois povos.
ResponderEliminarHá muitos culpados para esta situação. Desde logo, os Ingleses, que deram o mesmo território a dois povos fazerem duas nações, e o resultado, foi a usurpação da maioria de território por quem mais poder económico e politico tinha, e continua a ter, que são os Judeus.
Caro LS
ResponderEliminarA História, a religião (que, neste caso, se confunde com a história), os instintos mais primitivos, o desejo mais primário de vingança, a ausência total de racionalidade, tudo aqui se confunde.
Perante os cenários de destruição bíblica não consigo ter qualquer ideia. Dá ideia que apenas se poderá começar de novo (seja lá o que isso quiser dizer).
Obrigada pelo link para o artigo do Viriato.
Saúde e façamos votos para que alguém tenha a inspiração, a visão e a força para apontar um sentido para a solução.
Um bom domingo.
Olá Ccastanho,
ResponderEliminarCertamente muitos erros, muitas mágoas, muita raiva, muita irracionalidade. Provavelmente uma solução inviável que jamais poderá trazer uma paz duradoura a quem ali vive.
Agora... onde a coragem para discernir acima do pó da destruição e da dor?
Muito difícil...
Um bom domingo, Ccastanho