terça-feira, março 07, 2023

Alexandra Reis, a Tomba Todos
[Ou as anedotas no reino do Faz de Conta]

 

Na altura falei no caso, no absurdo do montante da indemnização (para o qual não antevia justificação plausível), e no disparate de, tendo-a recebido e não devolvido, a senhora continuar a circular nos corredores do 'empregador'.

Alexandra Reis, até há pouco uma 'simples' engenheira electrotécnica responsável por áreas de Compras e recém chegada à TAP, num ápice passou a Administradora da própria TAP; depois, com a mesma velocidade, o seu santo descruzou-se com o da CEO e levou um par de patins, saindo com os alforges bem forrados (e parece que queria muito mais); e, na mesma velocidade vertiginosa, passou para a NAV; e dali, sabe-se lá como, quando se deu por ela já estava em Secretária de Estado de Tesouro. 

Turbinada, a Alexandra. Não há como negar. 

Sol de pouca dura. Quando ainda ninguém sabia quem ela era, eis que a bronca já tinha estalado e a célebre Alexandra dos Louboutins já tinha caído.

Só que, a seguir a ela, como que atingidos por um inusitado sorvedouro, já estavam a cair Secretários de Estado, Ministros, escritórios de advogados e, agora, o próprio Chairman e, até, a confiante CEO. 

Tão turbinada na ascensão como na queda. Se é para fazer sangue, não há como Alexandra Reis para o fazer. Caiu, é certo, mas meio mundo cai com ela. 

Coisa tão impensada e vertiginosa que chega a ser anedótica.

Assistindo-se a este fenómeno, pergunta-se: ficará a razia por aqui? Quem mais irá ela ainda arrastar? 

Os jornalistas, os comentadores e os Montenegros, Venturas e Mortáguas desta vida salivam de alegria perante esta torrente de casos que beliscam o Governo e lhes dá palco a eles. É vê-los. Ei-los a espadeirar, exigindo mais e mais cabeças. Há quem salive por sangue e nunca se dê por saciado. 

Mas, pergunto eu, alguma coisa, em concreto, fica resolvida com todo este agueiro? 

Toda esta inenarrável sucessão de demissões serve para quê a não ser para fazer de conta? 

As coisas, quando são a sério, têm um efeito preventivo. Fazem-se para estancar a probabilidade de voltar a haver 'porcaria'.

Ora, neste caso, em concreto, o que vai mudar? Mudar a sério, quero eu dizer.

Volto à minha: quem controla minimamente o que se passa não apenas na TAP mas noutras empresas também tuteladas pelo Estado?

Por exemplo, o que justificava que uma pessoa com o CV de Alexandra Reis tivesse assinado um contrato como assinou, com condições remuneratórias e de rescisão como as dela?  Mas... é só ela que lá foi contemplada com a rifa premiada? Ou aquela gente trata-se toda como se fossem uns CR7s da gestão?

Alguém já verificou esses contratos? Com olhos de ver, com saber de experiência feita, quero eu dizer.

Alguém verifica também as despesas de representação, se há motoristas às ordens, se são comuns despesas de outras naturezas mas que, na prática, não passam de gentis sinecuras? Alguém faz as contas ao real custo dessas pessoas (numa lógica all in, obviamente)? E falo de administradores, assessores, directores, adjuntos.

E mais. É comum, quando qualquer consultor ou fornecedor seja do que for se vai apresentar a qualquer empresa, exibir como referência a TAP. A TAP compra tudo, contrata todos. Uma coisa e o seu contrário. Há dinheiro para tudo. Pergunto: quem controla, com olhos de ver, aqueles orçamentos e a sua execução?

Não estará aquilo pejado de amigos dos amigos que têm zero conhecimentos concretos da coisa e que papam tudo o que se lhes dá a comer?

Em tempos trabalhei com um 'artista' que já tinha passado por várias administrações na qualidade de gestor público. As mordomias a que estava habituado eram de bradar aos céus. Por exemplo, da sua contratação fazia parte que levasse também o motorista que era, na prática, moço de recados da mulher, motorista das filhas e tudo o mais que fosse necessário. Mas mais de bradar aos céus era a sua total ignorância e inaptidão para as funções. E pior ainda que isso: estava-se verdadeiramente a marimbar para tudo o que fosse trabalho. O que lhe interessava era combinar almoços com este e com aquele, saber onde parava este ou aquelo, antever movimentações de 'peças', ligar a amigos, tecer conjuras e mover influências, acompanhar movimentações nas concelhias e distritais. Nisso consumia o seu tempo. Nisso e em conseguir convites para tudo o que era 'coisa', em especial 'coisa' em que pudesse ser visto. 

Era do PSD mas creio que é partido que não terá a exclusividade neste tipo de comportamentos 'desviantes'.

Ou seja, não é só a TAP que deve estar habituada e acrítica em relação às mordomias destes e daqueles, achando já naturais contratos e rescisões como os da Alexandra Reis: é também toda a máquina da 'tutela' que 'apara', consciente ou inconscientemente, todos estes bodos aos pobres.

Há uma moralização a levar a cabo na TAP e nas outras empresas tuteladas. Mas, quando falo em moralização, tem que ser uma moralização mesmo a sério, de forma isenta e 'holística'.

E, antes e depois e acima de tudo, há que ter qualidade e experiência, gente com tarimba, gente com mundo, gente respeitada, nas funções chave do Governo. Não podemos ter Secretários de Estado e Ministros que da vida profissional apenas conhecem o que os partidos lhes proporcionaram. Senão vai ser disparate atrás de disparate, escândalo atrás de escândalo. 


[NB: O texto está cheio de aspas... mas como não...?]

3 comentários:

  1. UJM

    Há aqui um esconder a mão, de quem atirou a pedra. Explico: Quem levou e aconselhou,Alexandra
    Reis, a limpar os quinhentos mil? Pois, o escritório de advogados, Rebelo de Sousa, né?!

    Este país, é uma vaca leiteira que alimenta boquinhas sempre bem escancaradas para mamarem.

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  2. Olá Ccastanho

    Por detrás de cada jogada, de cada esquema, de cada chico-espertice... está sempre, sempre, sempre, um escritório de advogados. Por vezes, também brilhantes académicos, professores universitários, que se fazem pagar bem para emitir pareceres.

    A realidade é sempre multifacetada e para encontrar a face adequada estão lá os advogados. Sempre gostei de trabalhar com advogados. São frequentemente brilhantes.

    Agora uma coisa é certa: os advogados preparam a papinha mas a decisão de avançar ou não ou a orientação que se quer seguir é sempre decisão de quem paga aos advogados.

    O nome Rebelo de Sousa nesta confusão é um pouco incómodo mas a liberalidade no uso de dinheiros públicos não é propriamente responsabilidade dele...

    Há muito trabalho a fazer para que muita gente aprenda a ser comedida com os dinheiros públicos.

    Um bom dia para si, Ccastanho!

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  3. Boas...
    Se se lembrarem ou forem ouvir/ver a primeira declaração/comentário do PR sobre o caso vão ver que ele já estava informado do caso e disse algo parecido com "...é porque o valor da indemenização é devida...", e estas declarações foram dadas na altura e nunca, MAS MESMO NUNCA, foram repetidas pelos "mérdicas".
    Cpts, Alendaqui

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