Tive, pois, que esperar longos anos.
Agora tenho tempo.
E agora gostava de conseguir desdobrar-me em três pois tenho em mente (e iniciados) três coisas. Digo coisas e não livros pois, naturalmente, nesta fase inicial é impossível saber no que vai dar. São géneros totalmente diferentes. Não posso passar directamente de um para outro pois a minha cabeça tem que se ajeitar, tenho que me encaixar no carril respectivo.
Claro que gostaria de me focar a tempo inteiro sem atender a qualquer outra solicitação. Mas isso não é possível. Há as caminhadas (assim que volte a carregar baterias, na sequência deste corona que se diverte a pôr-me KO), há as compras, há a lida doméstica, há compromissos familiares e outros. Por isso há aqui uma aprendizagem a ser feita.
Entretanto, vi que está para breve o concurso ao tão propalado Prémio Leya.
Fui ver o regulamento e fiquei estupefacta. Na verdade não é um prémio.
O dinheiro que supostamente é o prémio, na realidade é um adiantamento sobre os direitos de autor que, no caso, não passam de 8% do preço de venda do livro, se for um livro normal, ou 5% se for de bolso. Pode dizer-se que 8% está na média. Mas do que me informei, estará no limite inferior pois os percentuais mais comuns serão os 10% ou 12% podendo, até, chegar aos 15%.
Transcrevo:
b) Para efeitos de cálculo, a título de direitos de autor, aplicar-se-á o seguinte: 8% do preço de venda ao público (no caso de edições cartonadas ou brochadas) e 5% do preço de venda ao público (no caso de edições de bolso), sobre cada exemplar vendido.
c) O autor da obra premiada receberá todos os anos, até 31 de março, uma informação sobre as vendas dessa obra. Os montantes resultantes, conforme cálculos previstos na alínea b) e d) do presente artigo, serão pagos ao autor uma vez coberto o montante total do prémio, considerado como adiantamento de direitos de autor.
E todo o regulamento aponta para que, para se candidatarem, os autores têm que aceitar que, se foram os escolhidos, celebrarão o que me parece ser um contrato leonino em favor da Leya.
É certo que quem ganhar verá o seu livro publicado. Mas, para isso, tem que sujeitar-se a não receber o produto da venda dos seus livros senão quando o somatório daquelas míseras percentagens sobre o preço de venda ultrapasse o valor do prémio. E não explicita se é o valor bruto ou o valor do prémio líquido de impostos.
Sinceramente fiquei muito decepcionada. Para mim, prémio é prémio, não é engodo.
Sou geralmente confiante no meu trabalho e, além disso, sou optimista (já para não dizer ingénua). Ou seja, pensei que, se concorresse, talvez ganhasse, e, portanto, venceria a primeira barreira de encontrar uma editora que o publicasse. Mas, depois de ver este regulamento, não sei se me sujeite a isso.
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E este foi o primeiro dissabor nesta minha nova labuta.
Se vou estar a preocupar-me com o que é politicamente correcto vou estar a cercear a fluidez que me é indispensável.
Será que, se escrever com a mesma descontração com que agora estou a fazer, estarei automaticamente condenada ao insucesso editorial?
E é que já nem falo da porcaria do AO, esse espartilho abortativo. Será que as editoras já só aceitam os que se vergaram?
[Querem lá ver que isto de escrever afinal tem ainda mais escolhos do que gerir? Caraças.]
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Bem. Porque a conversa pode estar um bocado chata, aqui fica um dos meus gurus, por sinal um dos grandes malucos do cinema, um dos mestres do politicamente incorrecto.
Mel Brooks
Ainda bem que já se encontra com animo para pensar noutras coisas.
ResponderEliminarSe me permite, tenha cuidado, eu fiquei com um cansaço extremo que só dormia, o que agravava as dores no corpo, mas foi coisa de oito dias depois devagar fui recuperando.
Escrever é um exercício libertador. Quando passei pela crise de 2008 e me vi numa pré reforma forçada, tinha 60 anos, havia um programa proposto, pelo IEFP, chamado de Novas Oportunidades, que era aconselhado a quem tinha ficado sem emprego.
Util para quem tinha abandonado a escola demasiado cedo mas completamente desadequado para aqueles que já tinham 30 ou 40 anos de trabalho.
Em entrevista com o orientador foi-me sugerido que escrevesse a minha biografia onde atestasse as minhas competencias e ficaria dispensada da frequencia, que não era obrigatoria, soube depois.
Como sempre gostei de escrever e com tempo, como terapia numa situação que me apanhou de surpresa, quando me sentia ainda com força de trabalho escrevi cerca de cem paginas. Gostei de o fazer mas nunca pensei publicar, nem as imprimi.
Agora que já se vendem livros escritos pelo chatGPT, seria uma pena não publicar uma obra sua. Continue que haverá certamente uma editora interessada.
Continuação de boas melhoras.