Tudo coberto de musgo. Veludo macio, verde resplandecente. Caminhos, terra, pedras, muros. Só a caruma lhe escapa.
O céu limpo e, de manhã, um sol tímido mas afável. Tinha uma blusa de malhinha, de manga curta, que despi. Passeei com um top de alcinhas e soube-me bem. Um sol quentinho, ao de leve, suave carícia.
Há muitos cheiros no ar e todos bons, cheiros limpos, lavados: eucalipto, pinheiro, cedro, alecrim, terra húmida.
Há vários rebentos de pinheiro. Deveria arrancá-los, os pinheiros não se querem demasiado próximos uns dos outros. Mas não consigo. Gosto de ver a vida a brotar da terra.
Antes não havia aqui nenhum. Foi o meu pai que, ainda lá para trás, no século passado -- ainda os miúdos a darem os primeiros passos na sua adolescência, ainda a nossa meiga cãzinha uma menina louca com os cavalos que passavam na estrada --, quando ainda lamentava a nossa má escolha, uma terra imprópria para plantação, só pedras e mato rasteiro, dizia ele e era verdade, trouxe alguns, poucos, ainda pequeninos, pouco mais que um palmo, de um viveiro junto à serra e ao mar. Eu tinha-lhe pedido pinheiros mansos, sempre adorei pinheiros mansos, e ele trouxe uns três ou quatro, mas trouxe uns que dizia que cresciam muito e muito rapidamente, pinheiros de Flandres. Nós comprámos outros, pinheiros radiata, nos viveiros do Ministério da Agricultura, à altura creio que na Azambuja. Os pinheiros, apesar da terra pedregosa, cresceram, cresceram. Já nasceram outros, por si, e mais continuam a despontar. A natureza tem vontade própria, tem sabedoria.
O pequeno bosque com que eu tanto sonhava já aqui está e eu toda a vida adorarei aqui estar. Esta é a terra que me escolheu para que eu me sinta mais eu.
Agora, claro, há cogumelos por todo o lado. De todos os tamanhos, cores e feitios. Ínfimos, pontinhos, ou enormes, irreais.
Não sei como saber (de certeza absoluta) que são comestíveis ou venenosos. Mesmo que saiba, acho que teria medo de arriscar. Mas, ao mesmo tempo, imagino a bela caldeirada que poderia fazer com eles.
Dantes andava à caça deles apenas para fotografá-los. Agora é um sufoco. Tento fotografá-los mas muito rapidamente atiramo-nos a eles para os jogar para longe. Alguns que aqui estão já os apanhei para fotografar depois de arrancados, atirados para fora do alcance do nosso amiguinho cabeludo.
Não sei o que se passa na nossa ausência. Um dia ainda instalaremos câmaras para descobrir que animais fazem daquele lugar a sua casa e que, quando estamos, discretamente se recolhem.
De tarde esfriou. Estava no sofá, reclinada, a ler. Arrefeci. Tive que inaugurar a época das mantinhas. Foi o meu marido que foi ao roupeiro buscar uma.
O urso felpudo já não devia lembrar-se, fez uma festa, saltou, tentou arrancá-la de mim, quis puxá-la para si. Ficou todo contente e surpreendido. Tive que me zangar, dizer que não era para ele. Se eu tivesse deixado, tê-la-ia levado consigo para tentar reduzi-la a trapinhos.
Penso que em breve estará tempo para a salamandra e para a lareira e, então, o aconchego será ainda maior e os perfumes serão ainda melhores, haverá aquele perfume doce do fogo a lamber a lenha de cedro e da azinheira. As cinzas serão depois devolvidas à terra e enriquecerão, com a memória das árvores de onde provieram, as raízes de outras árvores. Assim é também a vida, um eterno e efémero devir.
O seu texto é pura poesia, encanta e encanta e encanta...
ResponderEliminarMuitas felicidades, continuação de boa tranquilidade.
E schiuuu !!!!!! Nada mais digo, para não quebrar esse canto de encanto....
Maria
Adoro cogumelos cozinhados de qualquer forma. Nem toda a gente sabe apanhar cogumelos no campo. Alguns são venenosos.
ResponderEliminar.
Cumprimentos cordiais e poéticos
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Olá Maria,
ResponderEliminarSabe? É o que eu sinto andando, devagar, em silêncio, por aqui: encantamento.
Muito obrigada.
Um dia feliz para si, Maria.
- R y k @ r d o -
ResponderEliminarTal e qual: alguns são venenosos....
Bom apetite. E cuidado com eles...