quinta-feira, novembro 03, 2022

Os objectos de afeição de Kim Kardashian

 


Foi há pouco tempo que soube da existência das Kardashians. De repente parece que toda a gente as conhecia menos eu. Não sabia quem eram, o que faziam, de onde lhes vinha a fama. 


Soube depois que eram conhecidas por serem conhecidas. Na altura, um novo conceito. (Agora, uma coisa já mainstream).

No caso de Kim, começou por ser conhecida por ser conhecida de Paris Hilton. 

Depois tornou-se ainda mais conhecida pela polémica em torno da divulgação de uma gravação sexual amadora, gravada pelo parceiro, na qual aparecia em cenas de sexo explícito em várias modalidades. 

A seguir à Kim Socialite, a Kim Pornostar. Mas uma porno star condimentada, ofendida, ressentida, arrependida. Santa Porno Kim. O tema deu que falar com processos judiciais e acordos milionaríssimos à mistura. Estava famosa. 

Daí até ao reality show em que as câmaras a acompanhavam, a ela bem como à família, durante o dia inteiro, Keeping Up with the Kardashians, foi um ápice. 

E um sucesso. A vida das socialites à vista de toda a gente. A facturação em crescendo.

E não mais parou. Mostrando o rabo, mostrando as mamas, mostrando as mudanças de cor de cabelo, mostrando as indumentárias dos filhos, mostrando o closet. Sempre mostrando alguma coisa.








Quem dê uma vista de olhos por aí, vê-la-á sempre. É ela e uma das irmãs, é ela e outra das irmãs, é ela e os filhos, é ela e a mãe, é ela e o marido, é ela e o agora já ex-marido, é ela e as suas sessões fotográficas, é ela e o seu rabo amestrado, é ela e o vestido de Marilyn Monroe, é ela e todas as outras insólitas e chamativas toilettes, é ela e as participações em eventos, é ela e Trump, é ela e o seu corpo que não parece de verdade, é ela e os seus muitos milhões de seguidores no Instagram, é ela a ser assaltada em Paris e uma cobertura mediática do sucedido como se de uma tragédia galáctica se tratasse, é ela sempre presente e já considerada uma das pessoas mais influentes no mundo, é ela agora uma das mais ricas, com uma fortuna bilionaríssima, obscena.

Claro que, quando se chega a este patamar, vale tudo. E tudo é notícia. 

E não há aqui grandes juízos de valor da minha parte. O mundo encaminhou-se neste sentido. É o que é. Poderia dizer que o mundo entrou por um caminho em que o que é valorizado é a superficialidade, a futilidade absoluta, o diz-que-diz-que, a felicidade tornada ficção. Mas não vale a pena dizer muito mais sobre isto. É assim. Nada a fazer. Já não há retorno.

E não é a Kim. São os e as milhares de Kims e os milhões de putativas Kims. Um mundo que vive de se expor. O mundo dos influencers. As redes sociais tornaram possível e potenciam esta exacerbação da auto-exposição, uma maneira de viver em que se vive para se mostrar como se vive. E, em cima disso, as televisões que mimetizam a estupidez que prolifera nas redes sociais. Convidam-se pessoas para programas apenas porque são parvas e burras e porque, como todas as pessoas parvas e, ao mesmo tempo, burras, dizem o que lhes vem à cabeça sem qualquer hesitação e pudor. E, provavelmente, é isso que dá audiências. Também essas pessoas devem ganhar bem, não os milhões de Kim mas certamente acima do salário mínimo ou, mesmo do salário médio. Aptidões para o que quer que seja no mundo real certamente zero. Mas neste mundo virtual são valorizadas e famosas e parece que é o que importa.

E, porque são famosas, dão entrevistas, são convidadas e expor-se ainda um pouco mais. São pagas para isso.

É o caso do vídeo que abaixo partilho. A Vogue filma a Kim Kardashian a mostrar a sua casa. 

Uma casa enorme quase vazia. Décor a condizer com as cores da roupa que veste e com a maquilhagem que usa -- ou vice-versa. E, como objectos de estimação, meia dúzia de desenhos e pinturas feitos pelos filhos, as cartas que ela escreve aos filhos, uns postais que recebeu e... carros de luxo todos da mesma cor e da cor do décor. Dir-se-ia que uma monotonia proporcional à sua vacuidade. Mas talvez seja apenas excêntrico. Talvez meio mundo vá a correr imitá-la, pelo menos até onde a bolsa lhes permitir.

E, no fim das contas, talvez isto seja eu que não estou a captar a essência da coisa, eu fora de moda, eu fora deste mundo, eu que não percebo bem estas opções, estes estilos de vida. 

Este é um mundo muito estranho. Pelo menos para mim é.

Inside Kim Kardashian's Home Filled With Wonderful Objects | Vogue


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Um dia bom
Saúde. Equilíbrio. Paz.

4 comentários:

  1. Depois de ler este mundo kardashian, onde acho tudo muito obsceno, tem razão, É MESMO O TERMO
    tive de voltar a reler o seu relato anterior.

    Terão aquelas pessoas alguma vez sentido o cheiro da terra molhada, dos pinheiros, da alfazema, de tantos arbustos que enchem de perfumes um jardim?

    Terão gasto tempo a ver o desabrochar das flores, a ouvir os passaros, a observar a faina de uma formiga, e toda a paz que isso nos transmite?

    Terão noção do que é este mundo, realmente?

    Pois, deve ser da minha idade, mas não deixo de sentir pena dessas pessoas quando um dia ACORDAREM da sua vida de plastico e já for tarde.

    Um beijinho e um resto de boa semana.

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  2. Existem mulher que dizem ter com elas uma fábrica de fazer dinheiro. Depois ... é só abrir a porta da fábrica....
    .
    Cumprimentos cordiais e poéticos
    .

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  3. Olá Pôr do Sol

    Estas vidas de exposição e excesso, em que se pretende transmitir a ideia de perfeição, de felicidade, de riqueza, muitas vezes caem a pique quando os holofotes se afastam.

    Não sei é como aguentam viver das aparências... Não acharão cansativo...?

    Desconhecem a vida simples, a pureza dos momentos insignificantes.

    Concordo muito consigo, Sol Nascente.

    Beijinhos. Uma boa sexta-feira!

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  4. - R y k @ r d o -

    Mulheres e homens...? Não seja sexista... :)

    Um boa sexta-feira!

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