Tinha-lhes dito que não havia nada, que podia esperar pelo fim de semana. Terça-feira é dia complicado, dia de reuniões que podem prolongar-se e ensarilhar-se. Mas depois percebi que gostariam que houvesse festejo. Pensei: faço arroz de pato. Tentaria ir ao supermercado à hora de almoço, poria o bicho na panela, arranjaria maneira. O meu marido disse que não. Coisa simples. Ou jantaríamos numa esplanada ao pé da praia ou, se fosse cá, mandaríamos vir pizas. Equacionámos. Melhor cá, poderíamos ficar até querermos, fazer o barulho que quiséssemos.
Mas foi dia de juízo. Sozinha em casa com o animal (refiro-me ao cão, claro). O rapaz que vinha arranjar um portão, resolveu vir de manhã, pouco antes de começar uma valente de uma reunião. E ou era ele experimentando o arranjo, entrando e saindo, abrindo e fechando, ou era o telefone tocando, uma sobreposição complicada de gerir. Enquanto isto, a fera colocada entre uma zona e outra para não ter hipóteses de se chegar ao pobre. Ladrando, ladrando.
Reuniões, telefonemas, mensagens. Consegui sair para dar uma volta com a fera já às duas e tal. Fervia. O pobre mal conseguia pôr as patinhas no chão, só a querer voltar para trás. Uma braseira. Almocei perto das três, a correr, quase em cima de outra reunião. Era perto das cinco quando consegui dar um pulo ao supermercado.
Depois chegou a turma da minha filha. Ainda fui fazer uma breve caminhada com o meu marido, que entretanto chegou, só para esticar as pernas. Logo a seguir chegaram os que vinham arranjar o estore da cozinha. Há vários dias à espera e tinha que ser esta terça-feira. Tentei que fosse noutro dia. Não. O único bocado de tempo que tinham era este. Pegar ou largar. Peguei. Chegaram. O cão isolado para não lhes saltar para cima. A ladrar, a ladrar.
Entretanto, chegou a turma do meu filho.
E os outros não saíam da cozinha. Já a fazer-se tarde. Depois eram precisas umas ripas, não podia ficar arranjado. Que sim, que sim. Queríamos é que se fossem embora. Agora o estore está cerrado, não entra um raio de luz. Azarinho.
Frango assado do supermercado. Desossei. Num tabuleiro grande, o frango inteiro desfiado. Depois, uns tomates grandes, maduros, cortados em cubinhos pequenos. Depois um pacote de batatas fritas. Depois um bocado de maionese e um little bit de ketchup. Envolvi tudo ao de leve para não espatifar as batatas fritas. Por cima, ripei seis ovos cozidos. Temperei com orégãos e com azeitonas às rodelinhas. Está feito.
Para além disso tinha salada mista: alface, rúcula, couve roxa, milho, tomate cherry, bolinhas de mozzarela, azeite, orégãos.
E espargos verdes com fio de azeite e um little touch lateral of maionese.
E as pizzas das de tamanho familiar, duas de salmão, mozarela de búfala e manjericão, duas de presunto, ovo e azeitonas e duas quatro estações, com tudo a que se tem direito.
De sobremesa: petit gateaux de chocolate, strudel de maçã, bolo de mármore e mil folhas com doce de ovo.
Escuso de dizer que o urso cabeludo fez várias tentativas para roubar comida, chegou a ser apanhado de pé, patas felpudas em cima da mesa, a inspeccionar o que se passava lá por cima, o que lhe valeu grandes descomposturas. Por fim, já se contentava em andar a lamber migalhas pelo chão.
No fim, os meninos perguntaram se eu tinha gostado do dia -- e eu gostei -- e perguntei se eles também gostaram -- e eles gostaram. Tenho estado a ver as fotografias, todos tão bem dispostos, sempre alguns a fazerem maluquices. Dou por mim a sorrir enquanto revejo estas imagens felizes.
Quando se foram embora, o urso cabeludo atirou-se à tigela da água e bebeu durante minutos. Depois deitou-se espapaçado. Há bocado levantou-se e foi comer. Chegou aqui e caiu outra vez. Dorme a sono solto. E eu tenho estado a lutar para também não cair a dormir profundamente.
Este é o tempo dos caranguejos. A saison era aberta pelo meu pai, o primeiro dos caranguejos. Agora sou eu a abri-la. Hão-de seguir-se mais dois, dois homónimos. De seguida, entra-se em força nos leões, uns a seguir os outros.
- Head of a Woman (La Scapigliata), Leonardo da Vinci.
- Woman Leaning on Her Elbows (Femme accoudée), Pierre-Auguste Renoir
- Portrait of a Neapolitan Woman, Jean Honoré Fragonard,1774
- Salomé by Luc-Olivier Merson
- Portret van een jong meisje, Thérèse Schwartze
- Woman on a Striped Sofa with a Dog. Mary Cassatt
Amanhã tentarei responder aos comentários. Hoje não consigo.
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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Tudo de bom. Paz.
E muitos parabéns para UJM que "soma e segue" com tanta vitalidade, alegria, força e tanto tanto dinamismo! Sabe, admiro -a, porque eu também, durante anos tinha vontade e fazia facilmente um festejo assim, com tanta gente (e trabalho...) e agora não encontro forças para isso.
ResponderEliminarTenho pena, gostaria de continuar a ter esse espírito festivo, mas não consigo!!!!
Parabéns também por esse seu espírito tão jovial!
Maria
Olá Maria,
ResponderEliminarMuito obrigada.
Sabe que acho que, nestas coisas, o melhor é a gente não parar porque, se para, depois parece que não há força ou ânimo para recomeçar.
E estas coisas restituem-nos vitalidade.
Eu ontem à tarde estava estafada. Trabalhar, o cão a ladrar primeiro pelo homem que veio arranjar o portão, depois pelos que vieram arranjar o estore, ir ao supermercado, vir carregada, arrumar as coisas, tanto calor, etc. Cheguei a um ponto que pensei que precisava mesmo de dormir, que estava a ficar exausta.
Depois chegaram eles, tive que acelerar para preparar as saladas, depois aquela azáfama de meio mundo a vir à cozinha buscar as coisas para colocar nas mesas lá fora, depois o jantar, as cantorias, os bailaricos... passou-me o cansaço, estava fresca e bem disposta.
Claro que depois, lá para as onze e tal, quando consegui regressar aqui à sala, estava cansada e cheia de sono. Mas feliz da vida.
Por isso, não pare, experimente atirar-se ao barulho. Pode ser que consiga e lhe saiba bem...
E, uma vez mais, muito obrigada, Maria.
Beijinhos!