Tenho muita vontade de que aconteça alguma coisa que nos volte a colocar no trilho da normalidade. Sofro pelo que acontece e, de cada vez que, na televisão, vejo um prédio esventrado, uma pessoa a chorar mostra a sua casa toda destruída, abrigos cheios de gente amontoada, comboios ou camionetas cheias de gente que olha pela janela com o olhar perdido, crianças que deixam a sua vida cheia de futuro para ir rumo ao desconhecido, sinto compaixão, revolta, incompreensão, espanto, admiração, medo.
Tento não pensar apenas nisto, não quero ficar obcecada, mas, de cada vez que não penso, quase sinto que estou a trair a solidariedade que aquelas pessoas tanto merecem.
De manhã fui passear à beira-mar com a minha mãe. Estava cinzento e a ameaçar chover mas, mesmo assim, arriscámos. O urso felpudo fica numa alegria, salta, salta, abraça-a. Lá em casa, corre pela casa toda e, num ápice, vê o que pode apanhar para fazer avaria: uma almofada, um trabalho em crochet com novelo e agulha agarrada. Ela zanga-se mas vê-se que lhe acha muita graça.
Vi também o meu tio e uma das minhas primas. Ela não conhecia ainda este franjinhas, espantou-se por ele ter os olhos tapados por pelo, e, com ternura, falou dos seus dois, um já idoso e outro mais novo. Ao contrário de outra das minhas primas que é relativamente parecida comigo na maneira de ser, esta sempre foi muito diferente. Sempre se portou bem, sempre estudou muito, sempre fez tudo o que se considera certo. E continua a ser assim. É muito pragmática, muito directa mas, ao mesmo tempo, sempre com o comportamento exemplar que os pais desejavam. Eu era aquela por quem os meus pais receavam pelo que os vizinhos ou familiares poderiam dizer, sempre muito independente e sempre completamente nas tintas para o que dissessem ou deixassem de dizer. Pela minha prima nunca houve esses receios. Muitas vezes a minha mãe confrontava-me com o exemplo da minha prima. Nunca tal me incomodou pois a mim fazia-me confusão ela ser sempre tão bem comportada, nada reivindicativa, nada problemática, sempre tão estudiosa e sempre tão bem arranjada. Por isso, sempre senti admiração pela sua maneira de ser embora sempre tenha sentido uma certa dúvida sobre se ela é absolutamente assim ou se há nela, nalgum recanto secreto, alguma vontade de inconformismo ou alguma saturação pela vida de trabalho, esforço e bom comportamento que sempre teve.
Enquanto jardinávamos, o urso felpudo brincava, tentava disputar-nos a pá, rebolava-se na terra e bebia a água dos pratos dos vasos. Para ele isto deve ser a felicidade.
Andei a fotografar as flores. O jasmim florido e perfumado, a glícínia, a outras trepadeiras. Agora, de vez em quando, já consigo descobrir os passarinhos que se escondem por entre os ramos das árvores. Fico feliz quando vejo um.
Quando fizemos uma caminhada ao fim do dia, começou a querer chover mas felizmente pouco. Encontrámos uma senhora que procurava o cão perdido há uma semana. Continua a procurá-lo. Num estado de ansiedade, quase a chorar. Percebo-a bem. Quando se perde um animal que é da família, não se sabe se está bem, se anda perdido, se alguém ficou com ele, se sofre. Claro que ao vê-la tão ansiosa e agora ao escrever penso como é tudo tão relativo. Lá ao longe mas aqui tão perto caem mísseis, ouvem-se explosões, fica-se sem casa, perdem-se familiares, não se sabe o que vai ser da vida -- e, no entanto, as pessoas sobrevivem e lutam pela liberdade. E esta senhora angustiada pelo seu amigo perdido. E a angústia é também grande, bem o vi pelas suas lágrimas e pela voz presa ao descrevê-lo, meigo, bom companheiro.
Entretanto, leio notícias. Leio blogs. Leio sobre perdas. Emociono-me. Todos vamos sofrendo perdas ao longo da nossa vida. Algumas perdas doem-nos mais. Umas são irreversíveis, outras pode ser que não. Que não se perca a esperança. Algumas são incompreensíveis e, talvez por isso, muito dolorosas: perdemo-nos sem sabermos porque nos perdemos, porque, na realidade, não queríamos perder-nos. A vida é feita também de labirintos. E de abismos.
Há pouco, ao estar aqui, passei pela 2 e estava a acabar uma entrevista à Ana Cássia Rebelo. Pus para trás e vi do início. Desconcertante e divertida. Não tenho o seu Babilónia. Não sei se quero ler. Tenho que folhear para perceber.
Agora chove. Ouço a chuva lá fora. Aqui ao pé de mim a pequena fera está deitada de barriga para cima, cabeça de lado, pernas abertas. Mexeu-se e soltou um suspiro, depois ajeitou-se. Vive em paz e está junto aos donos que o protegem e acarinham.
E eu, a cada momento, penso que era bom que acontecesse um milagre, que o mal fosse varrido da superfície da terra, que a vida voltasse ao normal, que quem se perdeu se reencontre. Tenho esperança.
Sou sua seguidora já há alguns anos.
ResponderEliminarDesde que começou o "espectaculo"da guerra nas televisões, branqueando as posições ocidentais, e responsabilizando o "monstro"russo,tenho ficado admirada com a sua opinião. Neste conflito não há inocentes.
Mas na mesma altura há gente a morrer aos milhares diariamente, na palestina,no Iêmen.
em mocambique,no sudão,no kosovo e mais e mais, e o silêncio sobre essas mortes é total. Será uma questao de cor da pele?
A europa está a tornar-se uma colônia vdos esrados unidos.
Os grandes líderes europeus qu formaram a união europeia, nos seus tumulos estaram evergonhados com a submissao dos actuais lideres europeus.
Deixarei de seguir este blogue .
M Brassard
ResponderEliminarEsteja à vontade para não seguir este blog.
E continue a achar bem o que Putin está a fazer porque, afinal, que mal tem ele ser um assassino em massa quando o que não falta por aí são outros assassinos...? E este é um mundo de gente imperfeita, portanto que mal tem aparecer um que é apenas um 'bocadinho' mais imperfeito e mais raivoso do que os outros...?
Portanto, se é isto que a sua consciência, lhe dita, pois muito bem, deixe-se estar.
O pior é se um dia ele começa a atirar mísseis sobre nós e resolve arrasar o nosso país..., não é? Até lá, com o mal dos outros, pode V. bem, não é?
Pois... há pessoas assim.
MAs eu, lamento, não sou.
Pois a senhora é muito selectiva em escolher quem é digno de pena. Nao disse que achava bem o que putim estava a fazer, mas igualmente não acho bem o que os estados unidos têm feito e continuam a fazer.
ResponderEliminarInfelizmente os poderosos fazem a guerra ,quem morre são os povos.
Neste caso os povos europeus e os mais pobres.
Sempre me identifiquei com qusevtodas as suas opiniões e fiquei surpreendida com o que tem escrito sobreceste conflito. Quando divergimos davpropaganda feita,logo somos chamados defensores do putim.
Leia o blog "estatua de sal"
Pense pela sua cabeça.. considero-a uma pessoa inteligente..
Pois a senhora é muito selectiva em escolher quem é digno de pena. Nao disse que achava bem o que putim estava a fazer, mas igualmente não acho bem o que os estados unidos têm feito e continuam a fazer.
ResponderEliminarInfelizmente os poderosos fazem a guerra ,quem morre são os povos.
Neste caso os povos europeus e os mais pobres.
Sempre me identifiquei com qusevtodas as suas opiniões e fiquei surpreendida com o que tem escrito sobreceste conflito. Quando divergimos davpropaganda feita,logo somos chamados defensores do putim.
Leia o blog "estatua de sal"
Pense pela sua cabeça.. considero-a uma pessoa inteligente..
Nota
ResponderEliminarComo anteriormente referi, ao contrário de um jornal 'normal' ou de um blog como o Estátua de Sal em que se transcrevem textos escritos por outras pessoas e em que se abrem as portas a opiniões diversas, este blog é meu, exclusivamente meu. Aqui exprimo a minha opinião e não a de outros. Não quero saber se há quem ache que um país deve abdicar da sua soberania e fazer a vontade a Putin. Não quero mesmo saber. Tal como defenderia com a minha vida (ou, pelo menos, assim o imagino...) a independência e o direito à liberdade e à democracia no meu país, admiro a coragem dos ucranianos ao fazerem o mesmo pelo seu país. E tal como condenei a guerra do Iraque com base em invenções também agora condeno, com todas as minhas forças, a infame invasão russa e a destruição que está a levar a cabo sobre a Ucrânia.
Podem todos os meus Leitores achar que o responsável pelos grotescos e brutais crimes de guerra não é Putin ou vir distrair a atenção invocando infâmias pretéritas. Não quero saber. O que quero saber é que está em curso uma tentativa de extermínio de um povo e de um país e com isso não poderei pactuar nem falar de mansinho. Sou selectiva, sim. Penso pela minha cabeça e, enquanto acredito numa coisa, é isso que digo e defendo.
Lamento se há quem não goste mas não vou mudar de opinião nem deixar de dizer o que penso.