Hoje falei com uma pessoa com quem não falava há mais de um mês. Quem nos diria a nós que quando, naquela tarde, conversámos pondo calmamente a conversa em dia, falando de tantos assuntos distintos, estávamos prestes a testemunhar algo de impensável. Se, nesse dia, nos tivessem perguntado se imaginaríamos o que viria a acontecer teríamos dito que nem pensar, que o mundo tem aprendido com os erros, não os iria repetir, teríamos dito que o mundo quer paz e ir em frente, que agora a malta quer é ser feliz.
Comentamos muitas vezes, enquanto sorrimos: a malta quer é ser feliz. Brincamos um bocado com isto e com o que nos parece curioso de, nas entrevistas de emprego, os jovens, quando se lhes pergunta se têm dúvidas ou se querem mais informações, perguntarem logo quando poderão ter férias. E, quando se lhes pergunta qual o seu objectivo de vida ou coisa do género, quase invariavelmente o que aparece é que querem ser felizes, querem conseguir gerir harmoniosamente a vida profissional e a vida familiar. E, nas empresas, estudamos a melhor forma de ir de encontro a esta tendência que nos parece tão saudável. Portanto, animados com este espírito de peace and love, como imaginar que, dias depois, um cão raivoso mandaria invadir um país, arrasá-lo e exterminar a sua população. Como poderíamos...? Impensável!
Hoje, ao conversarmos, ele estava outro: abatido, transtornado, preocupado. Estou a falar de uma pessoa com uma passagem por um dos ramos mais interventivos (digamos assim) das Forças Armadas e com profundos conhecimentos quer de História quer da actualidade. As conversas com ele nunca são conversas banais. E é conversador, vibra com os seus argumentos, com as ligações que faz. Hoje não, hoje faltava-lhe o brilho, a veia, o entusiasmo. Estava cansado, desistente. Tudo o que disse revelava grande preocupação.
Enquanto ele falava ou ficava em silêncio, ocorreu-me que uma das muitas coisas que me causa mais impressão (e há tantas) é isto de os russos terem mandado para a guerra tantos miúdos impreparados e desinformados, mal alimentados, mal comandados e que, quando fatalmente atacados, ficam caídos pelas estradas e pelos campos, jovens antes cheios de sonhos e, de repente, transformados em 'corpos'. E ninguém vem resgatar os corpos russos. Do lado de lá, da Rússia de Putin, dizem que não precisam dos corpos para nada. E ali ficam, jazentes, como se fossem coisa nenhuma.
Vi um vídeo em que se viam várias carrinhas em andamento, em fila, numa estrada. Diziam que eram carrinhas ucranianas carregadas de jovens russos, mortos, que iam entregá-los. Como será que as mães destes jovens ficam sem saberem deles, sem saberem se estão vivos ou mortos? Nem consigo sequer imaginar o sofrimento maior se um dia vierem a saber que os seus meninos ficaram mortos, por terra, sem que ninguém quisesse saber deles.
Hoje vi que os russos têm carros crematórios onde queimam os soldados mortos para não terem que levá-los de volta para casa. Há neste desprezo pela vida uma desumanidade que me deixa arrepiada. Todas as guerras são imperdoáveis, todas as mortes em guerra são vidas estupidamente desperdiçadas, todo o pânico vivido em cenário de guerra é insuportável. É certo. Que ninguém duvide disso. Mas mesmo as guerras mais ferozes costumam obedecer a algumas regras. Mas não as guerras em que participa Putin. Penitencio-me mil vezes por antes não estar tão desperta para a forma demoníaca e raivosa como Putin arrasa tudo por onde passa, como exibe um total desprezo pela vida, pelo património, pela cultura.
É também certo que, nas guerras, a contrainformação é uma arma poderosa. Acontece que nesta guerra, que terá também a sua contrainformação, as coisas passam-se em tempo real, à vista de todos, escrutinadas por órgãos de comunicação social idóneos, com presença efectiva no terreno, com transmissão 'live'. Os filmes que se vêem não são vídeos editados a posteriori, com manipulação de imagens. São apontamentos captados e transmitidos em directo. Portanto, não nos deixemos tolher com medo de estarmos a ser manipulados nem, por delicadeza ou receio de falhar nos nossos juízos, nos deixemos matar ou deixemos que matem toda uma população.
Não sei como vai esta tragédia acabar mas, se cá ficarmos para recordar, espero que nunca esqueçamos o horror que temos presenciado e a dor a que tantos milhões de pessoas têm estado sujeitas. Espero que os nossos corações não abandonem as nossas cabeças pois se não há tanques ou mísseis que intimidem a crença e a vontade de quem se quer livre, a verdade é que o medo por vezes verga as nossas vontades e a indiferença adormece as nossas consciências e impede a nossa compaixão e solidariedade -- e isso não pode acontecer.
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This is a compelling video. And it highlights 3 fundamental truths that Putin cannot change:-Ukrainians are not Russians-Ukraine is not part of Russia-Ukraine will never be part of RussiaPutin has already lost. Our goal is to make him realize that sooner rather than later.
Fanática cega. Deixe de ser manipulada.
ResponderEliminarFanática cega, eu? Manipulada, eu?
ResponderEliminarBolas, começo a ficar preocupada... Quem são os meus Leitores...? Credo...
Há mesmo tanta gente que acha bem o que Putin está a fazer? Ou é sempre a mesma pessoa? Tomara que seja. Antes que seja um chato/a que não larga do que serem muitos os meus Leitores a andarem às palminhas ao Putin.