O dia foi mais um daqueles em que tento manter a agenda relativamente aberta mas em que, sei lá como, ela se vai fechando por si. É uma reunião que se prolonga para além do expectável, é outra que é solicitada à última hora, são os telefonemas, são os documentos que não podem deixar de ser lidos e comentados. E, quando dou por ela, já é tarde e o dia passou.
À hora de almoço tinha dito que, depois de almoço, iria aprender a trabalhar com a roçadora própria para aparar a relva junto aos muros e aos caminhos. À noite o meu marido provocou: 'Não era hoje que ias dedicar-te ao jardim?'. Também tínhamos combinado que faríamos uma caminhada antes de anoitecer. De facto, quando saímos ainda não era completamente noite mas, quando regressámos já era. E os dias estão maiores que é um gosto.
Agora, enquanto aqui estava, ocorreu-me que houve uma altura em que no meu gabinete se juntava uma turma animada que discutia política com um entusiasmo que, à distância, quase me enternece. Predominantemente éramos socialistas mas havia uns que não se acusavam mas que eram conservadores embora muito críticos do PSD e descrentes do CDS, dois que votavam declaradamente no CDS, um por convicção e outro porque se dizia anarquista de direita e achava que o partido mais inconsequente era o CDS. Havia um outro que também não se acusava mas que se dizia ser 'informador' dos sindicatos e muito próximo do PCP.
Ainda me lembro de uma altura em que, por mudanças a nível dos accionistas, passei um mau bocado. Na altura recebi um telefonema de alguém que eu não conhecia mas que queria dizer-me que eu tinha a confiança da comissão de trabalhadores e que estavam ali para o que fosse preciso. Pouco depois, quiseram propor-me uma reunião. Com a intermediação desse colega, organizaram um almoço. Era um restaurante típico, acolhedor, ali para a Mouraria. Para além desse meu colega estavam uns que eu não conhecia. Vim a saber que um deles pertencia ao comité central do PCP. As coisas em que eu já me vi metida não dão para explicar.
Mas, dizia eu, eram alturas em que eu discutia política a sério, cada um esgrimindo os seus argumentos com uma vivacidade que nos vinha das entranhas. Eram tempos também em que nos juntávamos a jantar em casa uns dos outros, primos, cunhados, a miudagem toda. Em volta da mesa esperávamos as sondagens, sofríamos a ver a evolução dos resultados, era uma emoção, tantas vezes uma alegria. Lembro-me até que, uma vez, uma, que era (e é) artista, até fez um bolo com uma decoração de uma rosa.
Enfim, outros tempos. Os miúdos cresceram, formaram família, a família desenvolveu-se, esses primos separaram-se. Desabituámo-nos disso.
Mas, embora de forma mais restrita, iremos na mesma esperar as sondagens, a contagem dos resultados, o desfecho.
Agora o que eu acho é que não apenas estas eleições são um absurdo pois não havia razão para se ter interrompido a legislatura como a própria campanha, em vez de ser usada para se discutirem assuntos de facto relevantes, foi usada para servir de pasto à comunicação social. De tal forma as televisões com os seus infinitos comentadores têm um efeito triturador como toda a comunicação social procura a celeuma, as frases que dão títulos chamativos, o episódio caricatural. Qualquer tema mais sério ou estrutural parece descabido no meio da espuma com que a comunicação social envolve os candidatos.
E depois os próprios candidatos, salvo duas ou três honrosas excepções, são criaturas medíocres. Ventura, Chicão, Catarina, Rio, e toda essa gente que por aí andou a dizer graçolas ou a lançar dichotes não têm estatura de figuras de Estado.
E, no entanto, há tanta coisa a repensar... A sociedade que queremos deixar aos nossos descendentes é esta em que vivemos? A caminho do descalabro climático? Com pandemias recorrentes? Com desregulações onde elas são mais necessárias? Com a democracia correndo sérios riscos de vir a ser asfixiada sob o peso descontrolado das plataformas digitais onde tudo é possível? Com a tecnologia cada vez mais ubíqua e omnipotente, omnipresente e omnisciente... e totalmente à solta e à mercê de quem a quiser usar...?
Por isso, hoje também não vi televisão. Não vi O Expresso da Meia-Noite nem qualquer dos programas que hão-de ter dado em que jornalistas-entertainers e comentadores-avençados hão-de ter esgrimido fracos (e fake) argumentos sobre irrelevantes temas.
Entretive-me, antes, a ver vídeos em que se lançam ideias, se divulgam projectos ou se repensa o futuro. Pode ser utópico, inviável -- ou o contrário. Mas interessa pensar, equacionar. De entre cem ideias lançadas, duas ou três poderão ser fantásticas. Há que abrir espaço para novas formas de pensar e de viver. Colocar as hipóteses em perspectiva, ter a mente aberta: Será que ...? Porque não...?
Alguns exemplos:
We’re using our streets all wrong | Hard Reset by Freethink
The rise of the private automobile in American life and culture has dramatically changed how cities were designed, John Frazer, a mobility futurist, wrote for Forbes.
Emerging from World War II, automakers became economic powerhouses, employing workers who suddenly could afford their own cars — rumbling manifestations of the freedom of the American Dream.
Cities were designed around that dream. Frazer quotes University of Houston historian Martin Melosi, who said that roughly half of the space in American cities has been given over to roads, parking lots, parking spots, gas stations, traffic signals, and other things pertaining to cars. And at the same time, space for other forms of transportation — like sidewalks — were squeezed out.Even the sidewalks themselves are designed to resist change; large concrete slabs, they don’t lend themselves to being changed around. Making an infrastructure change can cost millions, a price many cities won’t or can’t pay.
But maybe we can take those spaces back; they are public spaces, after all. We could hard reset, and make streets a place for user-generated urbanism.
The Futuristic Farms That Will Feed the World
| Freethink | Future of Food
Amidst climate change, a growing population, and people consuming more of less sustainable food, how will we feed our future world? The answer may not be increasing resources--land, water, and employees--but rather improving production efficiency to create more sustainable farming of crops. The key question: How do we increase the amount of food we produce while using the same or fewer resources?
When it comes to scaling agricultural production sustainably, one small country has a very large impact. Bolstered by a national commitment to produce twice the amount of food with half the resources, the Netherlands has become the world’s #2 produce exporter. The close collaboration between the government, science organizations and the food industry have driven impressive innovation and an efficiency that’s unmatched anywhere else in the world.
On a normal open-field tomato farm, one could expect 4 kilograms of yield per square meter. In a high-tech greenhouse in the Netherlands, that number shoots up to 80 kilograms of yield per square meter, with 4X less water. That’s a 20X improvement on output! And it’s not just tomatoes--the Dutch are #1 in the world on producing chilis, green peppers, and cucumbers (measured by yield per square mile). With conservation and sustainable food as two of the most important global issues, could other countries copy their approach to help save the earth?
How mirrors could power the planet... and prevent wars
| Hard Reset by Freethink
Concentrated solar power is produced using a large amount of mirrors which are angled to reflect the sunlight onto a large solar receiver. Aside from being clean energy, one of the most promising advantages of CSP is that it can generate transportable energy for use far beyond where it was harvested.
The idea of concentrated solar power isn’t new — the first commercial plant was developed in the 1960s. But a company called Heliogen has found a way to make the process of reflecting and storing sunlight much more accurate and efficient. And soon, it might be more cost-effective than fossil fuels.
If adopted globally, this could lead to a hard reset in the manufacturing industry, not to mention prevent wars over oil and mitigate climate change.
Bom dia UJM,já me ri por causa da roçadeira.já lhe disse uma vez que tínhamos muitos gostos em comum só faltava mesmo a roçadeira o que me custou larga-la mas uma ressonância ás costas fez com que o ortopedista proibisse, isso e caminhar nas montanhas - custa mais a proibição da primeira.um beijinho
ResponderEliminar«[...] nem qualquer dos programas que há-de ter dado [...]»
ResponderEliminarhão-de
Bem sei, mau feitio meu...
Olá Lucy
ResponderEliminarCaminhar, varrer, arrancar erva, podar, arranjar pedras para pôr à volta dos canteiros... coisas assim.
Claro que também fotografar, escrever, cozinhar.
Mas o contacto com a terra, com a natureza, com o trabalho mais simples é-me, de facto, essencial.
Quando me perguntam porque não temos mais ajuda tenho uma certa dificuldade em fazer-me perceber pois parece que ninguém compreende que gosto de fazer estes tipos de trabalhos. Fico com a sensação de que se alguém o fizer por mim... o que é que eu, depois, tenho para fazer...? Ficar sentada a olhar para o boneco...?
E as melhoras das suas costas, Lucy!
Beijinho.
Olá Plúvio!
ResponderEliminarQual mau feitio... Às vezes acho que é bruto como as casas mas nisto, de corrigir erros, acho-o generoso, simpático. Agradeço-lhe.
Às vezes, por volta da hora de almoço, se tenho tempo e paciência, releio o que escrevi na noite anterior. Descubro sempre falhas. E frequentemente ocorre-me: 'Tomara que o Plúvio ainda não tenha visto...'
Neste caso, mentalmente devo ter estabelecido a concordância com 'qualquer' e não com 'os programas'... Já corrigi. Muito obrigada.
E veja lá se vota com a razão e não com as hormonas...
Um belo dia de domingo.