sexta-feira, janeiro 28, 2022

Just in Time?
Ou Just in Case?
Ou... o quê?

 


Em tempos aprendi alguns conceitos e algumas técnicas que tinham cá chegado, luzindo e reluzindo com as cores da eficiência japonesa. O JIT, Just in Time, foi um deles. Não haver stock. Reduzir o capital empatado em stocks. Todas as empresas que lidavam com cadeias de abastecimento ou sistemas produtivos se mobilizaram para serem tão boas como as melhores. Os números não enganavam. Ter armazéns cheios de stocks já era. Coisa do passado. O que era preciso deveria chegar quase na hora, quase em cima do acontecimento.

Uma vez fui visitar uma fábrica de automóveis em Espanha. Era a fábrica europeia de uma grande marca mundial. Uma fábrica grande, a perder de vista. Praticamente sem pessoas. Um orgulho para a gestão da fábrica. Pessoas quase que só no controlo de qualidade, na recta final da linha de produção, o carro já praticamente pronto. A montante só robots. Tudo robotizado. E carrinhos robotizados atravessavam a fábrica para levar as peças do armazém para a linha de produção. O armazém robotizado praticamente apenas tinha as necessidades do dia. Vá: da semana. Tudo na base do just in Time. Os diferentes fornecedores abasteciam a moderna fábrica de acordo com sistemas chamados MRP, Material Requirement Planning. Tudo calculado ao dia.

Isto obviamente passou-se no século passado, numa era em que havia yuppies, executivos deslumbrados consigo próprios.

Se calhar fiz parte desse grupo mas, felizmente, nunca falei como eles, nunca me vesti como eles, nunca me deslumbrei com o que a eles os deslumbrava.

Mas, nessa vez, cheguei lá de limousine. Éramos uns cinco ou seis, nem sei bem. Para lá chegarmos, em vez de irmos em carros separados, alguém achou que o ideal seria arranjar-nos uma limousine com chauffeur. Nada de mais. Mas o carro era aparatoso, um luxo.

Hoje a indústria automóvel é daquelas que se torcem e retorcem por não terem stocks e por, de vez em quando, terem que parar as suas linhas de produção. Falta-lhes sobretudo os chips e outros componentes vindos de longe, de onde também muita coisa escasseia.

Mas se fosse apenas a indústria automóvel a debater-se com a escassez de materiais...

Querem crer que só agora, ao colocar aqui a fotografia é que vi que o prato está deitado quando deveria estar ao alto...?
Ele há coisas....

De vez em quando a malta apanha uns sustos e percebe que os modelos estratificados em que todos dependem demasiado uns dos outros apresenta muitas vulnerabilidades. E não apenas de outros mas de outros noutros países, sujeitos a dificuldades, prioridades ou necessidades que não necessariamente as mesmas que nós.

Os consultores que vendem a gestão de risco e os departamentos das empresas que se ocupam disso bem identificam os pontos de fragilidade e constroem planos de contingência. Tudo bonito para enfeitar power points. Quando os motoristas fizeram greve e as estações de serviço ficaram sem combustíveis e toda a gente, em especial nas empresas, ficou a roer os dedos a ver a vida a andar para trás, poderia ter-se aprendido alguma coisa. Mas não. Não se aprende nada. Nem aqui nem em lado nenhum. Os modelos de eficiência aplicados cegamente, ensinados nos bancos da escola como se fossem axiomas (inquestionáveis, portanto), moldaram a sociedade de cabo a raso. 

Nem sei se isto da pandemia nos mudou alguma coisa de verdade ou se foi apenas uma abanão de nada, um abanico. 

Era bom que a sociedade se mobilizasse para discutir algumas coisas, para colocar algumas ortodoxias e dados adquiridos em perspectiva. Não sei como se pode fazer isto. Era bom que voltasse a haver tertúlias, locais de discussão, fóruns abertos em que se equacionassem novas maneiras de estar na vida (e nos negócios), maneiras mais sustentáveis, mais equilibradas. Como sociedade civil temos que ser mais activos, mais participativos. Não podemos andar, passivamente, a reboque do que os 'outros' decidem por nós. Parafraseando JFK, não perguntemos o que os outros podem fazer por nós mas, antes, o que nós podemos fazer pelos outros.

Mas, em concreto no que se refere à escassez de alguns bens em alguns sectores, o vídeo que aqui partilho convosco explica o que se passa.

The global supply chain seems to be in a perpetual state of crisis. Whether its groceries, petrol or micro-chips for electric vehicles, everything just keeps running out. But why does it keep happening?

The crux of the matter lies in the way our global supply chain works, and how companies have come to rely on a unique system of efficiency, dubbed 'just in time', which developed in Japan in the late 1960s and early 70s. Josh Toussaint-Strauss explores how the prevalence of just in time supply systems are contributing to a global supply chain crisis

Just in time: why we keep running out of everything 


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As fotografias foram feitas em casa, in heaven, e fazem-se acompanhar por Maria Bethânia e Omara Portuondo interpretando Gente Humilde

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E queiram descer para uma visita a Mr. Valupi que explica porque é que "Louçã também vai a votos neste domingo"

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E a si que está aí desse lado desejo uma feliz sexta-feira

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