A Bromélia branca, que eu achava tão bonita, começou a ficar branca demais. Até as folhas começaram a passar de verdes a esbranquiçadas. Fui informar-me. Em tempos consultava livros de jardinagem. Agora googlo. As bromélias daquele tipo não gostam de muita luz directa e eu tinha-a posto no lugar com mais luz do jardim.
Tirei-a de lá. Passei-a para o vaso sem história mas bonitinho que trouxe na sexta-feira. Está numa zona mais resguardada, no degrau acima daquele em que pus o vasinho verde onde coloquei a hortênsia, entretanto renascida.
No vaso exposto ao sol coloquei uma echeveria perle von nurnberg. Os nomes das flores são todo um programa. Não estou certa de que este seja o melhor sítio para a ter mas vale a pena tentar.
E arranjei outra floreira, uma rectangular, onde juntei uma blue prince e restinhos e estacazinhas de outras. O prazer que isso me dá talvez não seja fácil de perceber por quem me lê. Até para mim isto é novidade.
Antes, eu vivia num apartamento no alto de um prédio e tinha o rio na minha janela. Não sentia vontade de ter plantas aprisionadas. Não tinha vasos. Preferia, ao fim de semana ou nas férias, dedicar-me às árvores e aos arbustos do campo. Tinha, desde sempre, um sonho: inventar um bosque, criá-lo do nada, fazê-lo nascer num lugar em que parecia impossível, ver as árvores crescer, caminhar à sua sombra.
Agora, nesta casa, mantendo o jardim que aqui encontrei e que é fruto de anos de dedicação e amor por parte dos anteriores proprietários e que, por isso mesmo e porque me identifico perfeitamente com a estética e o romantismo do lugar, tento introduzir o meu cunho mas sem desvirtuar o equilíbrio que aqui reina.
E, de repente, eu que era toda azinheiras, cedros, aroeiras, orégãos, rosmaninho e alecrim, descubro-me curiosa por toda a espécie de flores, com vontade de conhecê-las, de saber como se cuidam. Sempre me tinha visto como não tendo especial sensibilidade para as subtilezas das flores. Receava que me morressem sem que eu percebesse porquê. As flores eram para mim assim como os gatos: se não interagem nem mostram que percebem as nossas dúvidas ou vontades, como lidar com eles? Mas, afinal, descubro, com algum alívio, que as flores que cá estavam têm mostrado que se dão bem comigo e que as que tenho plantado têm vingado e estão bonitas. Só uma begónia soçobrou, não sei porquê. Mas como foi só uma não me senti desmoralizada.
Ando, pois, muito contente com as minhas flores. Aquelas onde a mangueira chega são regadas todos os dias, um chuveirinho ligeiro. As outras, as que têm que ser regadas a regador, são mais problemáticas pois não arrisco o regador dos dez litros, não vá dar para aqui algum mau jeito e, então, vai uma quantidadezinha mais leve que me obriga a várias idas e vindas. Mas é de gosto. O meu marido zanga-se, que é um disparate tanto vaso, ter que andar sempre a regar. Digo-lhe que também ele come todos os dias e não me ouve protestar contra isso. Acha a comparação um disparate mas eu digo-lhe: 'olha que não... olha que não...'
Tirando isso, poderia falar da festa que houve na casa aqui ao lado. Mas não vou entrar em pormenores, e isso por vários motivos.
Estava, no sábado, lá fora, a ler os contos da Silvina Ocampo e a ouvi-los, divertidos, bem comidos e, creio, melhor bebidos. Um dia conto, mais tarde, para que não se perceba que é deles que estou a falar.
Por vezes parece que voltei aos tempos da minha infância e adolescência. Vivíamos numa moradia, aquela em que a minha mãe ainda vive. Chamamos quintal ao jardim das traseiras, onde chegámos a ter uma pequena horta mas que depois foi relvado e tem um limoeiro, duas laranjeiras e flores, e jardim ao da frente, o que sempre teve flores. Da casa vêem-se os outros quintais e jardins e, se as pessoas falarem mais alto e estiverem na rua e nós também, ouve-se o que dizem.
Na cidade, o apartamento era sonoramente estanque e morávamos no último piso. Não se ouvia nada de nada dos outros apartamentos. E no campo é como se estivermos no céu. Estava, portanto, habituada a não ouvir nada da vivência dos vizinhos. Aliás, mal os conhecia. Aqui não. Aqui, quando se está no jardim, ouve-se o que dizem nos jardins adjacentes. É uma coisa bizarra. Mas aqui ninguém se importa com nada disso. É normal ver pessoas em fato de banho, a apanharem banhos de sol, e nós irmos a fazer a nossa caminhada e passarmos muito perto -- e tudo tranquilo.
Adiante.
O meu marido andava a dizer-me que não arranjasse nenhum programa para este domingo. Queria ver o futebol descansado. Isto apesar do jogo ser às oito. Mas diz que já sabe como é e, portanto, que me abstivesse de combinações.
Contudo, o meu filho sugeriu uma sardinhada e pareceu-me uma ideia simpática: andava mesmo com vontade de umas belas sardinhas, gordas e boas. Além do mais, o programa pareceu-me compatível. O meu marido, quando soube, ficou logo impaciente e pôs como condição que acabasse às seis para irmos levar a minha mãe, e poder, no regresso, instalar-se sem stress, com tempo, com calma, disponível para ver o jogo desde o início. Tem sempre receio de apanhar trânsito ou qualquer outra contrariedade que o impeça de estar postos bem antes do apito de arranque.
Fomos buscar a minha mãe antes de almoço. O meu filho trouxe as sardinhas, douradas e carvão biológico e assou tudo, eu cozi as batatas de pele vermelha conforme ele pediu, fiz salada de tomate maduro com orégãos. Ele assou também pimento. A minha mãe trouxe cerejas e bolo de chocolate, a minha filha trouxe queijadas vindas dos Açores.
Um peixinho bom, uma bela almoçarada, cada grupo em sua mesa mas as mesas perto umas das outras, sempre na rua, a animação habitual. A trupe do meu filho, pelo sim, pelo não, ainda fez o teste rápido na farmácia antes de vir. E, sempre que andamos a circular por entre o pessoal, andamos de máscara. Não se pode facilitar já que apenas a minha mãe tem as duas doses. O meu marido ainda só tem uma e eu não digo enquanto não estiver esclarecido se o que me aconteceu teve a ver com o estupor da vacina ou não. De resto, ainda mais ninguém está vacinado.
De tarde, a rapaziada foi andar de bicicleta e eu fiquei a maquilhar e a pentear a minha princesinha mais linda. Fiz-lhe um penteado à Frida, com buganvílias e tudo.
Depois houve vólei, houve lutas, houve brincadeiras sobre um sofá insuflado que, em vez de ser para relax como era suposto -- e cujo enchimento foi um complicado desafio apenas transposto pela menina mais engenhocas da família -- foi mais uma fonte de brincadeira.
E depois lanche e, quando parte já tinha ido, ainda espaço para massagem ao rapazinho que pouco antes andava a voar a atirar-se ao tio como se fosse um ninja, depois uma massagem mais breve ao mano mais crescido e... depois... às seis lá fomos levar a minha mãe.
E conseguimos estar cá mais do que a tempo e horas e... foi com tristeza que vimos que Portugal ficou pelo caminho. Sei a expectativa com que os meninos estavam e imagino a desilusão. Mas faz parte da aprendizagem perceber que há sonhos que são curtinhos mas que isso não tem mal pois todos os dias nascem sonhos novos.
Ai sardinhada, tão bom!
ResponderEliminarUm semana igualmente radiosa.
Olá Francisco,
ResponderEliminarSardinhas ao que parece de Peniche. Reluzentes e gordas, um pingo no pão, tão boas. E com a alegria das crianças e o canto dos passarinhos que por aqui andam na maior descontração ainda sabem melhor.
Dias felizes, Francisco.