segunda-feira, junho 15, 2020

De um lado Armando Vara.
Do outro, João Paulo Correia, Mariana Mortágua e tantos outros.
E Valupi





Há quem, na blogosfera, pense que sou sectária, tendenciosa, devota. Que pensem. Tenho para mim que sou das ciências exactas, dos números, dos modelos, dos algoritmos, da razão. Não sigo credo, não pertenço a clube, não frequento grupo. Sinto-me bem como outsider. Penso por mim. Não sigo mandamento, não procuros likes. Pode o rebanho inteiro estar certo de que a direcção é uma que eu me manterei distante, indo para onde a razão me mandar. Poderei ser a única a ir noutro sentido que nem assim me sentirei coagida a encarneirar. E podem chamar-me mil nomes. Não os ouvirei.

Não que não mude quando percebo que não estava certa mas reconheço-me como uma pessoa de convicções. Uma para mim é inabalável: toda a gente é inocente até prova em contrário. E as provas têm que ser científicas, inquestionáveis. E tem que se ter a noção das proporções, tem que se colocar tudo em perspectiva.

E vou dizer uma coisa que muitos dos que me lêem pensarão que é contraditório com o que disse acima: confio muito na minha intuição. Até hoje nunca me falhou. E a intuição, não me canso de dizer, não é treta esotérica, a intuição é a inteligência a usar um short cut a partir de marcadores.

E vem isto a propósito de poder estar o país inteiro a bater no ceguinho, a comunicação social a saltar a pés juntos em cima, a justiça, cega, a cuspir-lhe, sem rebuço, na cara,  os justiceiros da Assembleia da República, armados em Grande Júri, a acertarem contas com quem está na mó  de baixo -- que eu seguirei a pensar da mesma maneira: a pensar como a intuição me diz e como, com mais lentidão e certeza, a razão mo prova.

E neste caso falo de Armando Vara.

O que se passou com ele é monstruoso. Sempre o achei. Se antes, quando ele estava na mó de cima, nunca foi alguém que me tivesse particularmente inspirado -- era, na realidade, alguém que não despertava a minha atenção -- a verdade é que fiquei a admirar a forma digna como foi conseguindo enfrentar a monstruosidade que foi enfrentando.

De todas as vezes que ouvi elencar as supostas provas do seu suposto crime sempre as achei ridículas. Nem é uma questão de serem ou não válidas. Achei-as, pura e simplesmente, absurdas, disparatadas. Uma vergonha. Pelo contrário, sempre achei criminoso o comportamento da canzoada que se atiçou cobardemente contra ele. E não apenas cobardemente: também estupidamente, também ignorantemente. Gente sem experiência do que é a vida nas empresas, gente sem experiência de vida em geral, gente parva, gente má, gente que se acha com o rei na barriga por deter pequenos poderes, gente que não se ensaiou nem por um instante por destruir a vida de um homem.

Devo dizer que se fosse dona e senhora de uma empresa ou se tivesse a meu cargo a responsabilidade de gerir uma qualquer organização, mais depressa eu quereria a trabalhar na minha equipa uma pessoa como Armando Vara, um tipo decente, digno, vertical, do que uma criatura que me leva a sentir vergonha alheia como o João Paulo Correia, uma criatura sem história nem respeito pela dignidade alheia, ou a Mariana Mortágua, uma criatura que a toda a hora dá mostras de uma atitude pesporrente, que a toda a hora revela uma arrogância que poderia ser apenas infantil se não revelasse tanta intolerância e maldade.

Não vou entrar em detalhes que não conheço nem deter-me em pormenores irrelevantes para o caso: digo apenas que seria bom que um dia a Justiça reparasse o erro e o abuso que cometeu e que os cobardes que trataram Armando Vara com desprezo, prepotência e maldade conhecessem na pele o desprezo da sociedade por terem feito o que fizeram.

Quero ainda dizer outra coisa. Se há blog que gosto de seguir é o Aspirina B e se há blogger que admire é o Valupi. Não é apenas por, de forma geral, concordar com ele. É também porque não se importa de ir contra a corrente, é porque pensa por ele, é porque se documenta, é porque é claro e estruturado na exposição das suas razões. E é porque escreve bem que se farta. 

A quem esteja interessado, recomendo a leitura dos seus posts: Quem tramou Armando Vara? Nós todos. Coloco o link para o último mas, em querendo, é procurar os restantes e, a seguir, parar para pensar. É bom usar a cabeça.


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E queiram, por favor, aceitar o meu convite e também descer até ao post seguinte onde o pitéu é mais doce.

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E uma boa semana para si que está aí desse lado

12 comentários:

  1. Todos farinha do mesmo saco
    .
    Desejando um bom inicio de semana
    Saudações

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  2. Esta prosa é um hino à decência feita por uma Mulher de tomates.
    Gostei.

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  3. Até que enfim. Apoiado. Oxalá a onda cresça.

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  4. Também acompanho o ASPIRINAB e já tinha lido os textos do Valupi sobre o A.Vara, bem como visto os vídeos das audições na AR, onde os inquisidores do Século XXI daquela Comissão, mais não fizeram que atos de fé a acusar, sem provas, o Vara. Lamentável. Mas verdadeiramente o objetivo primeiro dos ditos inquisidores não era, como se deduz, o Armando Vara mas sim o José Sócrates, esse fantasma que lhe assombra a existência, José Sócrates que, mais uma vez, ontem escreveu um magistral artigo de opinião sobre o TGV.

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  5. Sou dos que segue o Aspirina B desde 2009. Por casualidade tive a sorte de um dia - ainda novato não na idade, mas na experiência - deparar com o Aspirina B. Resolvi mandar em comentário um texto escrito por mim ao qual Valupi intitulou como "filho de gente pobre".
    Acontece que fui criticado e elogiado, mas sempre Valupi incentivou-me a continuar. Até julgo que me fez elogios não merecidos. Mas quem sou eu para pôr em causa tamanha enciclopédia como Valupi. Não sei quem é e julgo que ninguém sabe.
    O que sei é que o blogue Aspirina B devia de ser de leitura obrigatória. Por isso não estranhar a referência que a senhora - mas quem sou para a julgar – faz a Valupi, se nutro pela senhora uma admiração igual. Para mim ambos são de leitura obrigatória e é o que faço diariamente.
    O saber não ocupa lugar. E, eu gosto de aprender com quem sabe. Cumprimentos.

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  6. Francisco de Sousa Rodriguesjunho 16, 2020

    Estes episódios são tão esclarecedores de quem é quem, nada pior que o julgamento do "toda a gente sabe" e do deslocamento das disfunções sociais em uma personagem criada à medida no negado em cada um de nós e como nós temos a arte de nos acharmos muito bons.
    Uma verdadeira ode à decência toda a análise do Valupi.

    Um rico dia.

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  7. Numa de contra-corrente, e cada vez mais em onda Gautama: 'desprendimento'
    Somos naturalmente tendentes a ler ou acompanhar publicações ou organizações que espelhem afinidades ou simpatias com o que somos ou pretendemos.
    Dificil, talvez seja manter uma visão independente, mesmo que ao lado da longa e frequente votação no PS, com desvios à esquerda ou direita. Talvez influenciado por leituras pré-democracia: Seara Nova e Jornal de Economia e Finanças.
    «nunca foi alguém que me tivesse particularmente inspirado»-Mr Vara.
    Estranho, não sentir inspiração, pelo valor que representa a sua elevação do balcão da agência da CGD no nordeste transmontano, a uma secretaria de Estado, precursora da alta administração da CGD ou BCP.
    Sob ataque de «Gente sem experiência do que é a vida nas empresas, gente sem experiência de vida em geral» - Mr Vara life like… I supose?
    De um lote de democratas de sucesso, com fotos de quinze empreendedores PS-PSD, que entre 2004 e 2010, multiplicaram por 10 (dez) os rendimentos anuais.
    Mr Vara like, de 60 mil para 800 mil euros anuais -The Third Man.
    É obra. Vale, ter acabado ver The Great Gatsby há pouco.

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  8. Muito bem, UJM! Como habitualmete, de acordo consigo em mais este tema. Haja quem pense pela sua cabeça e não tenha medo ou vergonha de expor as sua ideias, mesmo que contra-corrente.
    Um abraço
    Filo

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  9. Armando Vara teve amplas possibilidades de se defender ao longo do seu Processo-crime, que chegou a subir até ao Tribunal Constitucional, o qual não acolheu os argumentos dos seus advogados. Foi um processo transparente, demorado e em que ele teve mais do que tempo para preparar a sua defesa. E, num julgamento igualmente transparente, fez-se prova de vários dos crimes de que vinha acusado pelo Ministério Público. Vara foi recorrendo, utilizando as “ferramentas” jurídicas que o nosso sistema judicial e democrático lhe permite, a ele e a outros como ele. Num Estado de Direito como é o nosso, Armando Vara não conseguiu provar a sua inocência e, nesse sentido, foi condenado, acabando por ter de vir a cumprir pena de prisão. Mesmo tendo tido a “ajuda” do então Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (Noronha do Nascimento) no que respeitou às escutas telefónicas, mandando-as destruir e, deste modo, não vieram a constituir prova em julgamento, Vara, mesmo assim, acabou condenado pelo colectivo de juízes do Tribunal de Aveiro. Contestar este processo, como o fez, que foi, repito, transparente, é pôr em causa a decisão, imparcial, daquele Tribunal e do colectivo de juízes que o condenou, perante as provas produzidas em julgamento. Se olharmos para todo aquele passado, desde a posição do então PR Jorge Sampaio, que forçou a sua demissão do governo de que fazia parte (de Guterres); do que ele, Vara, disse à Rádio Renascença sobre Guterres; da história de Vale de Lobos; do que a CMVM referiu de Vara, ao não ter impedido uma série de ilegalidades na rede comercial da CGD; de como passou de simples funcionário da CGD a Administrador, enfim, o seu historial processual foi longo e mau demais. Poderemos sempre ficar na dúvida, o que é legítimo, mas aquilo que importa é que tendo-lhe sido dado todas as possibilidades de defesa - o que sucedeu – Vara não conseguiu fazer provar a sua inocência. Permito-me uma observação: Armando Vara, por possuir meios económico-financeiros que a maioria dos arguidos deste país não possuiu, teve amplíssimas hipóteses de defesa. Mesmo assim, foram insuficientes para provar que não era culpado. Vara foi presumido inocente até prova em contrário. Hoje é visto como culpado – assim foi a decisão do Tribunal que o condenou, após uma defesa imparcial e perante provas, pelos vistos, irrefutáveis, que nenhum Recurso conseguiu abalar. Num processo judicial, cá ou noutro Estado de Direito, o que importa é a prova que se faz em tribunal. Ou que não se faz. Contestar isso é pôr em causa o Estado de Direito. Chamar disparatadas às provas feitas parece-me absurdo, dado a forma como o julgamento se fez e como todo o processo evoluiu. Quanto ao resto, do que diz no Post, dos rebanhos, algoritmos, likes, de gente má, ou que nada percebe de empresas ou não tem experiência delas, etc, não me interessa para nada. É lá consigo, cada um é como é. Já contesto a observação sobre “gente sem experiência da vida real”: Como se “para se ter experiência de vida real tem de se fazer parte de uma empresa”! Um disparate!
    P.



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  10. Todas as pessoas que se relacionaram com o eng.Socrates quer sejam amigos ou não são perseguidos por uma casta de gente ignóbil que ainda hoje não conseguiu digerir a generalidade do melhor politico actual.

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  11. E quem é o melhor político actual, já agora?

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