Estive a ver o mais recente vídeo de Iman Amrani sobre a masculinidade nos tempos que correm. E fiquei com vontade de dizer de minha justiça. Sou uma apreciadora de homens. Não quero, com isso, dizer que sou especialista em homens até porque não sei o que é ser-se especialista em homens. O que sei é que gosto de os observar, de os conhecer. E gosto de conviver com homens. Desde que me conheço que convivo muito mais com o sexo masculino e que tenho como melhores amigos homens, (tal como em criança, com meninos e, em adolescente, com rapazes). Não sou nem nunca fui maria-rapaz e, no entanto, o meu gosto em conviver com o sexo feminino é marginal.
E a forma como os homens, de qualquer idade, confiam em mim e me confidenciam aspectos absolutamente pessoais nunca deixará de me surpreender. Mas isso acontece também com mulheres.
Esta semana um jovem que trabalha comigo veio ao meu gabinete, puxou uma cadeira e sentou-se perto de mim e, sem que eu pudesse esperar tal coisa, começou a contar-me o que o afligia, as suas inquietações. Com as lágrimas a aflorarem, olhando-me, ficava, por vezes, em silêncio. Ouvi-o, fiz-lhe perguntas, aconselhei-o. Mas ele estava com necessidade de falar, de ouvir, de companhia. Demorou-se. É um belo rapaz e, nem por um instante, achei que, lá por estar a expor de forma tão desarmada a sua vulnerabilidade, havia ali algum défice de virilidade.
Onde eu vejo fraca virilidade é nos homens que alimentam o culto do corpo. Homens que querem ter músculos muito trabalhados ou tudo muito vistoso ou que vão em modas e se depilam, desde pernas, axilas, peito ou, mesmo, sobrancelhas, esses é que eu acho que são inseguros, pouco másculos. Pode ser preconceito meu, claro, mas tenho para mim que homem que é homem mantém o seu estado natural (ou quase natural). Homem que é homem sabe que o que atrai uma mulher é coisa de outra natureza.
Por acaso até gosto de homens bonitos, com um bom corpo, com um andar convicente, com um sorriso irrecusável, com um olhar descarado se bem que educado, com umas mãos capazes de tudo e até de trabalhos físicos, sejam eles arranjos domésticos, cortar lenha, atear uma boa fogueira, dar uma boa massagem.
Mas, a par disso, aprecio a inteligência, a insubmissão, a delicadeza, a compreensão, a irreverência, o sentido de humor, a elegância na exposição dos seus sentimentos. E a sua generosidade, e a sua segurança, e as suas maneiras sejam elas, por vezes, boas, sejam elas, por vezes, indesculpáveis. E os seus conhecimentos que devem ser sempre superiores aos meus e a sua capacidade de surpreender e a sua disponibilidade para agradar. E deve ser capaz, quando menos se espera, de dizer um poema.
E deve ser capaz de, em momentos especiais, tirar-nos o tapete, deixar-nos sem chão. Mas deve, de seguida, amparar-nos, segurar-nos nos braços. E rir connosco. E deve ser capaz de nos fazer sentir melhores do que somos. E deve estar para nós, sempre, incondicionalmente.
E deve saber falar-nos numa voz que ora seja encorpada, com a densidade de quem tem uma alma com muitas faces, ora seja suave e silenciosa como uma carícia.
Coisas assim. Nada de mais.
Mas, a par disso, aprecio a inteligência, a insubmissão, a delicadeza, a compreensão, a irreverência, o sentido de humor, a elegância na exposição dos seus sentimentos. E a sua generosidade, e a sua segurança, e as suas maneiras sejam elas, por vezes, boas, sejam elas, por vezes, indesculpáveis. E os seus conhecimentos que devem ser sempre superiores aos meus e a sua capacidade de surpreender e a sua disponibilidade para agradar. E deve ser capaz, quando menos se espera, de dizer um poema.
E deve ser capaz de, em momentos especiais, tirar-nos o tapete, deixar-nos sem chão. Mas deve, de seguida, amparar-nos, segurar-nos nos braços. E rir connosco. E deve ser capaz de nos fazer sentir melhores do que somos. E deve estar para nós, sempre, incondicionalmente.
E deve saber falar-nos numa voz que ora seja encorpada, com a densidade de quem tem uma alma com muitas faces, ora seja suave e silenciosa como uma carícia.
Coisas assim. Nada de mais.
Ora, em tudo isso, para quê um corpo musculado ad nauseam?
Penso que os homens que se arranjam muito, que prestam muita atenção ao corpo, que fazem questão de exibir músculos avantajados, que ligam muito à marca das camisas ou das gravatas, aos relógios ou aos carros, ou que vaidosamente desfiam os lugares em que estiveram, os restaurantes ou hotéis da moda, ou que citam autores a granel o fazem para se exibirem não perante as mulheres mas perante os outros homens, numa competição pueril que nada tem a ver com virilidade.
Mas, claro, isto sou eu. E ainda bem que há para todos os gostos.
Penso que os homens que se arranjam muito, que prestam muita atenção ao corpo, que fazem questão de exibir músculos avantajados, que ligam muito à marca das camisas ou das gravatas, aos relógios ou aos carros, ou que vaidosamente desfiam os lugares em que estiveram, os restaurantes ou hotéis da moda, ou que citam autores a granel o fazem para se exibirem não perante as mulheres mas perante os outros homens, numa competição pueril que nada tem a ver com virilidade.
Mas, claro, isto sou eu. E ainda bem que há para todos os gostos.
----------------------------------
Por mim, prefiro um milhão de vezes a masculinidade contida e 'interior' de David Gilmour à histriónica masculinidade de alguns dos atletas que aqui abaixo deitam testosterona por todos os poros.
----------------------------------------------------------------
'Usei' para ilustrar o texto o Malkovitch (pintado por Marat Cherny), o Brad Pitt, o David Gandy e o Jeremy Irons (pintado por Nathan Chantob) para mostrar alguns homens que me agradam.
Convido-vos, ainda, a descerem um pouco mais para verem os poemas que o LS me enviou.
---------------------------------------------------
A todos desejo um bom sábado.
Homens:
ResponderEliminar"Canta, ó Musa, o varão imprevisível, o homem errante;
na sua esteira jaz
magna Tróia, desolada.
De muitas nações viu os homens e conheceu suas vias,
no equóreo ponto maiores as dores que sentia."
Homero, Odisseia (excerto)
(A partir da tradução para língua Inglesa por Samuel Butler e da versão Portuguesa por Manoel Odorico Mendes.)
Rica UJM,
ResponderEliminarQue bom! Já vi que estou bem cotado no seu machómertro.
Um rico e radioso fim-de-semana.
UJM, todos os dias vejo um número apreciável de corpos nus, com características e formas de se tratar bastante variadas, o que tem contribuído para desfazer a minha já pouca apetência por esse tipo de apreciação por atacado. Ou seja, em abstracto até pode não se gostar de tatuagens, de corpos depilados ou com pêlos, etc., mas no concreto acontece (muito, até) determinada característica ou composição resultar bem no conjunto daquela pessoa, combinar bem com a atitude.
ResponderEliminarTambém num concreto mais íntimo, os não gostos são engolidos no conjunto. Por exemplo, é dada uma certa ênfase, e há uma certa curiosidade, sobre a depilação na zona íntima feminina e masculina, e debitam-se posições muito seguras sobre possibilidades de aproximação a situação diferente da preferência, e o que acontece mais é a constatação de não fazer diferença, de ser só um apontamento.
Olá Anónimo sem nome,
ResponderEliminarTive vontade de ir à procura no livro que cá tenho para perceber como terá o Frederico Lourenço traduzido o excerto que aqui partilhou. Certamente nada que se pareça. Gostei da sua tradução. E gostei muito de "o varão imprevisível, o homem errante". Gostei das palavras e agrada-me a ideia.
De facto, a tradução pode destruir uma obra ou, pelo contrário, deixá-la respirar o ar que o seu autor respirou. Ou pode melhorá-la. Traduzir poesia deve ser um esforço não apenas mental mas, de tão intenso, deve ser quase físico. Traduzir Homero, então, deve ser uma luta. Onde é que um tradutor coloca a linha vermelha quando traduz? Não sei.
E, uma vez mais, gostei dos presentes debaixo das pedrinhas. Contudo, em relação a Lenine (que ouvi pela primeira vez), não percebi a lógica da escolha do Relampiano. Quer explicar? Ou o que não tem explicação explicado está?
E, como habitualmente, agradeço.
Um bom domingo, imprevisível e errante Anónimo.
Olá Francisco,
ResponderEliminarOra bem! E, quer-me cá parecer, que, mais do que isso: que é parecido com o Ralph Fiennes quando ele era mais novo e tinha mais cabelo. E como sei que canta bem posso até pressupor que tenha uma voz tão bonita como a dele. Portanto, acho que tem razão: é muito bem capaz de estar mesmo bem cotado no meu machómetro (e acho essa do 'machómetro' um achado).
Um belo domingo, Francisco!
Obrigado, UJM, gostei da comparação! 👍😉
EliminarUm belo resto de domingo, também.
Olá Isabel,
ResponderEliminarSim, posso acreditar que, vendo muitos corpos nus, os pormenores pedem relevância. Mas, que quer?, uma pessoa, queira ou não queira, tenha ou não preconceito, tem preferências. E eu gosto de ver as mulheres depiladas e não gosto de ver homens depilados. Quanto a tatuagens não desgosto em abstracto. Posso é achar horrível a falta de gosto de quem se tatua com parvoíces ou motivos feios. Por exemplo, tatuar a cara dos filhos ou da mulher ou do marido acho uma coisa de extremo mau gosto. Ou motivos gigantes, quase sobrepostos, um ruído colorido e absurdo. Mas algumas tatuagens são de grande delicadeza. A clave pequena e discreta que, no outro dia, vi no pescoço de um belo homem, pareceu-me o máximo. Agora se o visse nu e constatasse que estava depilado de alto abaixo, incluindo na genitália, ficaria certamente desolada. E não sei se conseguiria encarar isso como um pormenor. Acho que não. Mas, na verdade, pelo que se percebia dele vendo-o como o vi, todo vestido, diria que não era homem que se despenasse todo. Uma pessoa olhando para o exterior quase consegue 'visualizar' o interior (que é como quem diz). :)
Mas, lá está, uma mulher depilada de alto a baixo parece-me muito bem.
Gostos...
Um belo domingo, Isabel!
«...Penso que os homens que se arranjam muito, que prestam muita atenção ao corpo, que fazem questão de exibir músculos avantajados, que ligam muito à marca das camisas ou das gravatas, aos relógios ou aos carros, ou que vaidosamente desfiam os lugares em que estiveram, os restaurantes ou hotéis da moda, ou que citam autores a granel o fazem para se exibirem não perante as mulheres mas perante os outros homens, numa competição pueril que nada tem a ver com virilidade...»
ResponderEliminarCom este trecho, você acabou de descrever claramente e de forma assertiva o perfil dos parolos.
«...Onde eu vejo fraca virilidade é nos homens que alimentam o culto do corpo. Homens que querem ter músculos muito trabalhados ou tudo muito vistoso ou que vão em modas e se depilam, desde pernas, axilas, peito ou, mesmo, sobrancelhas, esses é que eu acho que são inseguros, pouco másculos...»
Sabe que os indivíduos do sexo masculino que são criados somente pelas mães ou com grande influência ou dependência materna, agem na sua maioria dessa forma que descreveu.
A figura masculina e a sua presença no desenvolvimento de um indivíduo do sexo masculino é de elevada importância, mais do que a presença da figura materna; quando falha a primeira o homem que se gera não consegue possuir um equilíbrio nem desenvolver a sua natural e específica masculinidade.