quinta-feira, janeiro 02, 2020

Reparar o planeta. Tentar reencontrar a perfeição.
-- A propósito do Earthshot prize --


by Csaba Daróczi


Convoquemo-nos a todos para a reparação do planeta, a bela casa em que nos foi dada a sorte de nascermos. 

Na aleatória e improvável sucessão de acasos que nos trouxe até aqui, tudo o que deveríamos fazer era dar graças pela concretização do milagre que foi o nosso nascimento e a nossa sobrevivência: deveríamos respeitar as improbabilidades, deveríamos abençoar o habitat que tornou tal possível, deveríamos preservá-lo para que os milagres possam continuar a acontecer.

Sabemos, contudo, que não tem sido que tem acontecido. 

by Justin Hofman

Temos feito tudo ao contrário: temos estragado o planeta, temos desrespeitado todas as formas de vida, incluindo a vida humana, temos olhado para a ponta do dedo em vez de olharmos as estrelas para as quais o dedo aponta. Entretemo-nos com minudências, buscamos defeitos em quem tenta entregar alguma mensagem que difira das banalidades às quais nos habituámos, preferimos ir no diz-que-diz-que e na maledicência ou preferimos virar as costas a causas que nos parecem longínquas.  Diremos: de que serve fazermos alguma coisa, se o mundo está nas mãos de gente ignorante, inconsciente, narcisista, se se sucedem os exemplos de estupidez, de um impensável cretinismo? 

by Tim Rooke

E então, encontrando um alibi para nos despreocuparmos e deixarmos as lutas para outros, lavamos as mãos do que possa vir a acontecer. Acima de tudo o nosso conforto ou a contemplação do nosso umbigo. 

by Noel Guevara

E, no entanto, alguma coisa no nosso comportamento tem que mudar. Do planeta fizemos um mundo e, desde que o fizemos, não temos feito outra coisa que não estragá-lo. 

by Nirmal Purja

Se não invertermos essa destrutiva atitude, a coisa não acabará bem. E será uma pena. 

Por isso, iniciativas como a que o vídeo abaixo se refere são bem vindas. Poderá ser pouco, poderá ser uma gota num vasto oceano, poderá tudo. Mas é uma iniciativa positiva. E muitas mais serão necessárias. Colocar a ciência, a tecnologia, a criatividade, a boa vontade, e o mais que seja a favor da reparação do planeta é louvável.

by David Lloyd
Transcrevo:
Prince William has announced what was described as “the most prestigious environment prize in history” to encourage new solutions to tackling the climate crisis.
The “Earthshot prize” will be awarded to five people every year over the next decade, the Prince said on Tuesday, and aims to provide at least 50 answers to some of the greatest problems facing the planet by 2030.
They include promoting new ways of addressing issues such as energy, nature and biodiversity, the oceans, air pollution and fresh water.
The prize, inspired by US president John F Kennedy’s ambitious “Moonshot” lunar programme and backed by Sir David Attenborough, promises “a significant financial award”, a statement said. (...)


Do conserto do que está estragado façamos um exercício de superação, encontremos novas formas de beleza, reinventemos o conceito de perfeição. Com o devido crédito ao João Lisboa que iniciou o ano com um post que me encantou, um vídeo que, em meu entender, diz muito do que temos que fazer para consertar o planeta (e as nossas vidas, talvez também). 


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Obtive as fotografias no The Guardian, quer na compilação das fotografias mais relevantes de 2019 (a 3ª, a 4ª e a 5ª) quer na das melhores da natureza selvagem (a 1ª, a 2ª e a última). O local e o significado ou a história subjacente poderão ser consultados nos artigos que muito vivamente recomendo.

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Que 2020 seja um ano bom

5 comentários:

  1. Até chegar ao último parágrafo, estava pronto a disparar o link desse post... :-)

    Bom ano!

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  2. Olá João Lisboa,

    A partir de agora, se o referir, por via das dúvidas, não digo o seu nome. Está melhor assim...? Ou, se gostar de um post seu, não digo que me encantou, digo qualquer coisa como 'nem sei bem porque vou pôr o link de mas ponho na mesma'. Ok?

    Mas, agora a sério, achei fantástica e subtil a sua ideia de abrir o ano com aquela ideia. Acho que é mesmo isso.

    Um ano muito feliz para si, João Lisboa.

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  3. "A partir de agora, se o referir, por via das dúvidas, não digo o seu nome. Está melhor assim...? Ou, se gostar de um post seu, não digo que me encantou, digo qualquer coisa como 'nem sei bem porque vou pôr o link de mas ponho na mesma'. Ok?"

    Não entendi.

    O que eu pretendia dizer era que, até aquele último parágrafo, o espírito do seu post era de tal modo próximo do meu que, se não estivesse lá o link, tê-lo-ia eu posto por saqui. Não para reclamar território mas por sensação de afinidade.

    Se calhar, aquele "disparar" saiu erradamente bélico...

    (Re)bom ano!

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  4. João Lisboa, olá,

    Não... não... Não era nada disso...(Ou deverei antes escrever: 'Não! Não! Não foi nada disso!"?)

    No outro dia escreveu uma coisa sobre a dificuldade de exprimir, por escrito, a ironia, não foi? Tenho ideia disso. É que eu, sabe?, ao vivo, pratico muito a ironia e gosto, diverte-me. Mas provavelmente a conjugação com algum meio sorriso, com algum leve meneio de cabeça, não sei, faz com que se perceba que estou a ser irónica. Aqui, pelos vistos, ainda não aprendi a traduzir esses condimentos por escrito. Não sei se falho na pontuação, se na escolha das palavras. Nalguma coisa falho. Ao vivo, teria dito o que escrevi mas sorrindo, um sorriso quiçá falsamente melindrado mas que daria para ver que tinha achado graça e gostado.

    Ou seja: não me aborreci com nada do que escreveu, achei graça à subtileza, percebi o sentido (aliás, quer saber?, tive vontade de lhe dizer que se deixasse de coisas e o linkasse na mesma mas depois também fiquei com medo que interpretasse que eu queria ser linkada).

    Ou seja, tudo bem no que escreveu. Até o disparo teve graça (qual bélico...? não senhor: perfeito). Eu é que, pelos vistos, na resposta não estive à altura.

    E rerrebombom ano :)

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  5. :-)))

    Rerrerrebombombom ano! (assim vai ter mesmo de ser)

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