A televisão estava lá, no ponto. Acabaram-se as férias, voltei a pegar no batente: se é para sofrer pois que venha com debate e tudo.
Vi o começo. A Clara com aquele ar todo cheio de óculos, fazendo perceber que a todo o momento podia soltar o chicote, a Maria Flor com aquela voz encorpada que ainda ela nem abriu a boca e já impõe respeito e o José Alberto, coitado, a tentar a todo o custo mostrar que duas mulheres daquelas não chegam para o intimidar.
E, para prestar contas, o Costa e o Rio.
E o Rio naquele registo de quem está por aqui só para ver passar os ciclistas, a dizer que foi só uma forma de dizer e que disse aquilo em geral e que não sabe bem mas é capaz de ser. E Costa, seguro, os números na ponta na língua, desmanchando a prosa solta do outro.
Só não gostei quando, respondendo à indignação do Rio sobre os julgamentos na praça pública, Costa deu de barato a suruba pegada entre o Ministério Público e alguma comunicação social de sarjeta. Isso eu não gostei. Se calhar foi sincero e um Primeiro não pode fazer nada em relação a isso. Mas, seja como for, não gostei. Preferia que ele tivesse dito que também lhe mete nojo que se condene alguém na praça pública e que com baratas dessas não pode haver piedade, só pontapé na fuça.
Também gostei da franqueza pessoal do Rio.
Não tem mão no partido, não leva jeito na gestão de equipas, não sabe escolher colaboradores, tem-se rodeado duma gente que não se recomenda, ziguezagueia em alturas em que seria suposto mostrar que é capaz de andar a direito, não tem visão abrangente, mija no pé do vizinho. Um desastre. Não é homem para tomar conta do saco de gatos que é o PSD quanto mais de um país.
Mas, depois de vê-lo hoje (ainda que não com total atenção até ao fim, e já explico porquê), fiquei a achar que uma pessoa como ele é capaz de ser mais fair e menos escorregadio e perigoso do que uma Catarina-BE-Conversa-Mole que diz o que lhe vem à cabeça para soar bem, uma populista de primeira, uma espécie de gabarolas com uma certa tendência para ser traiçoeira.
Pode acontecer que alguns indecisos, preocupados com a deriva demagógica da Catarina-Conversa-Mole, possam querer contrabalançar o efeito dela num futuro governo, votando no PSD.
Eu, se fosse ao Costa -- que esteve bem, seguro, focado, demonstrando porque é que é o Governo dele tem sido um exemplo de coragem, visão e competência não apenas por cá mas, também, na Europa -- tentava rapidamente reparar aquilo de parecer aceitar com resignação a bandalheira da Justiça e dos Media de sarjeta. A Justiça em Portugal ainda tem um long way to go e o avacalhamento de alguns dos seus agentes em alegre conúbio com o que de pior se pratica no pseudo-jornalismo-de-pacotilha é uma coisa a que tem que se deitar a mão. E Costa deveria encabeçar essa luta e não dá-la como perdida.
Tirando isso, o que aconteceu a seguir é que vi que tinha chegado um mail que eu esperava. E esse mail era a continuação de uma troca de mails de ontem. E eu, de noite, a meio da noite, tinha estado a pensar nisso, a ter ideias, já a imaginar como poderia ser. Há coisas que nos pegam pelos colarinhos mesmo que não os tenhamos. E, portanto, respondi logo. Há assuntos e há pessoas que nos tocam de uma forma especial e eu, quando isso acontece, sinto que tenho que dar tudo o que tiver para dar. E, portanto, desliguei do resto do debate.
Não sei se acabou bem, se acabou assim-assim, muito menos prestei atenção aos comentadeiros que, mal algum osso é atirado para a rua, logo saem a correr e a latir. E digo isto sem fazer ideia de quem é que se apresentou ao serviço nos diferentes canais. Na volta até apareceu alguém diferente, com ideias frescas. Mas não vi.
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As fotografias que para aqui escolhi fazem parte das finalistas mas há mais para ver em The 2019 Comedy Wildlife Photography Awards
Um dia feliz para si que aí está desse lado. Saúde e boa onda.
A minha rica UJM tem publicado coisas lindas, passei por uma série de posts sem conseguir parar de me deliciar. Essas incursões minhotas, que maravilha!
ResponderEliminarNão vi o debate, mas gostei do seu toque na Justiça e no jonalixo.
Dias felizes.
Olá Francisco,
ResponderEliminarNão viu o debate e eu também o vi um bocado superficialmente e foi o único debate que vi. E não sinto falta nem disso nem de comícios nem de tretas dessas para formar a minha opinião.
Tenho é pena de não ter agora mais duas semanas de férias para me pôr a caminho de Santiago.
Dias felizes para si, Francisco. Abraço.
Compreendo que pessoas como a senhora, já com uma certa idade, não gostem de partidos como o Bloco ou o PAN. Os meus avós, que devem ser da sua idade, sessentas, também preferem os partidos da situação, como o PS, PSD (e CDS). Cá por casa, eu com 20 e meu irmão com 18, ambos na universidade, vamos dividir-nos entre o BE e o PAN. Como dizia uma sondagem qualquer que li outro dia, estes partidos são mais apelativos aos jovens (como nós), do que os tais partidos da situação. Acho bué de injusto as acusações que faz á Catarina Martins, traiçoeira, populista, gabarola, sei lá que mais. Mas lá está, é uma questão de gerações. Pergunto, o que é que pessoas como António Costa e Rui Rio têm para nos oferecer, a nós os jovens? Tal como a senhora, não fazem a menor ideia do que é o nosso universo e da forma como olhamos para a vida. Os nossos avós ficam admirados com as escolhas de nós dois. Já os pais, divorciados, menos. O pai todo Iniciativa Liberal, a mãe menos dada à política, mas hesitando entre o voto em branco, ou abster-se. Ambos na casa dos 40 anos. E é assim, gerações. Os mais velhos mais conservadores, como a senhora e os meus avós, e nós mais sonhadores.
ResponderEliminarRita
Quant’è bella giovinezza,
ResponderEliminarche si fugge tuttavia!
chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c’è certezza
(Lorenzo de'Medici)
Cara Rita, espero que aproveite a sua giovinezza. Mas olhe que pela sua argumentação dou-lhe 20 anos (para atingir a idade dos seus pais?) até se tornar uma pessoa já com uma certa idade e mudar de partido. E se não chegar lá, terá tido azar. Aproveite o tempo para mobilar melhor a cabeça e ler o que o General MacArthur (!!!) escreveu acerca da juventude. "Bué da fixe, né"? Quando eu andava na faculdade os profs. avaliavam os alunos atendendo ao uso da língua portuguesa, pelo que espero que o seu "bué" apenas seja usado "en petit comité" e consequentemente sigo o seu exemplo e cumprimento-a de um cota para uma futura cota,
MPDAguiar