segunda-feira, maio 27, 2019

As Europeias 2019 em Portugal:
breve balanço à moda da UJM


Bem. Já falaram todos os líderes partidários e o Presidente Marcelo já rematou e, portanto, está na altura de eu me pronunciar. Há bocado já tinha botado faladura mas foi sobre sondagens. Agora já posso basear-me em factos. Para isto não ficar longo para além da conta, vou cingir-me aos que terão assento no Parlamento Europeu. O Sande e o Santana, o Rui Tavares, o Arrocha e o Ventura talvez sejam vistos num outro dia.

E, sobre os cinco contemplados de hoje, o que me ocorre dizer é que:


1. O Ambiente está na ordem do dia e ainda bem. A Europa está a acordar para a necessidade de salvar o Planeta e isso é mais do que bom, é vital. E presumo que o aumento dos votos no PAN também vá nesse sentido. Já confessei que não conheço o programa nem a actuação do partido mas provavelmente devia informar-me melhor. Ouvi há pouco o líder do PAN, de quem nem sequer sei o nome, e gostei de vê-lo, quer na indumentária quer no que disse. Não falou muito mas, no pouco que disse, não detectei disparates -- e isso não é despiciente. Será partido a seguir pois aparentemente tem sabido captar e interpretar a preocupação geral com o clima, com a sustentabilidade do planeta. Para mim foi uma surpresa.


2. O resultado do CDS enquadrou a ambição aparvalhada de Cristas. Sempre a apregoar que é a verdadeira líder da oposição e candidata a primeira-ministra, o país mostrou-lhe que, quanto muito, lhe arranja um lugar como porteira. Sempre desagradável, sempre armada em boa, sempre acusatória e agressiva, sempre a mostrar que não se enxerga, Cristas foi relegada para um lugarzinho entre a CDU e o PAN. No discurso mostrou-se a modos que meio desorientada, sem perceber bem qual o tom a usar. Humildade não é com ela mas deve ter começado a perceber que quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré. Foi Nuno Melo que assumiu claramente a derrota mas no meio do entusiasmo dos agradecimentos já todos aplaudiam como que esquecidos de que não tinham grande motivo para palminhas. E eu só penso numa coisa: baldas como é, se o Melo já antes era um faltista de primeira, agora que vê o partido a esboroar-se e farto de por lá andar, é que vai ser lindo. Nas legislativas o desastre deve repetir-se.


3. O resultado do PCP foi fraco e o discurso de Jerónimo de Sousa foi deslocado. Falou como se estivesse em campanha para as legislativas e não a acabar de sair de mais uma derrota eleitoral. Tentei perceber qual era a dele mas não captei: quase como se quisesse desvalorizar o que tinha acontecido e, para desviar as atenções, se pusesse a aproveitar o tempo de antena para vender o peixe dele. Mas não fez sentido. Desvalorizar a importância do Parlamento Europeu e escamotear o mau resultado só lhe fica mal. Dá ideia que são zombies, que estão em extinção e não percebem. Mas, digo de novo: dá-me pena. Há no PCP gente nova, com qualidade. Mas, enquanto não se libertarem do pesado lastro do passado, das raízes históricas que o tempo tem provado não darem planta que dê bom fruto, não irão a lado nenhum. O PCP continua agarrado a um sindicalismo que já representa apenas uma pequena parte dos trabalhadores, agarrado a uma conversa antiquada, onde campeiam também amizades que cerceiam a liberdade necessária para se modernizarem. Ou o PCP consegue libertar-se dos velhos do Restelo ou irá fazer companhia à Cristas.


4. O resultado do BE foi bastante bom. Já é o terceiro partido. Como disse há pouco, penso que o deve sobretudo à Marisa que não regateia afectos, abraços apertados, beijinhos a rodos. Com a Cristas e o seu compangnon de route sempre a despejarem provocações, insultos, trocadilhos a destilar fel e uma agressividade inusitada, o País preferiu desviar dali o olhar e focar-se nesta dupla feminina que não ofende, não insulta, não agride e, pelo contrário, distribui sorrisos, ternura e compreensão. Já o disse muitas vezes e repito: o BE tem mérito e tem apresentado boas propostas. Mas Catarina Martins tem uma pulsão populista, dizendo e oferecendo o que os seus ouvintes querem ouvir, e omitindo a impossibilidade de cumprir o que promete sem ir prejudicar outros, ou, outras vezes, bramindo contra incertos (ou contra banqueiros ou capitalistas em geral), sabendo que, com isso, colhe votos. Têm também provado que não olham a meios para atingir os fins, chegando a ser desagradavelmente desleais. Têm contado com a benevolência de António Costa que, assim como assim, tem preferido pôr-lhes a mão por baixo pois mais vale tê-las por perto do que saírem por aí, numa clara deriva populista. Claro que, se isso acontecesse, o eleitorado veria de que é que a casa gasta e o sex appeal do BE minguaria, passando a haver mais pessoas disponíveis para outras ofertas populistas que surgissem -- e é isso que o Costa (e o Prof. Marcelo) quer, e bem, evitar. O BE tem ainda a favor o de ser um partido marcadamente feminino -- Catarina Martins, Marisa Matias, as gémeas Mortágua -- e o País estar disponível para ver mulheres em lugares de poder, coisa na qual os outros partidos deveriam pensar.


5. Sobre o PSD nem sei bem o que dizer. Um disparate pegado, aquilo ali. O Rangel, coitado, esse trauliteirozito, um caceteirozito que, à mínima, fica histérico, é o que é -- e, quando as pessoas são assim, a responsabilidade não é delas mas de quem não o percebe e as convoca para coisas para as quais elas não dão. Alguém espera de uma galinha que ela suba às árvores e desate a pipilar lá de cima? Piada teve um jornalista que, no fim, querendo referir o tom irónico de alguma coisa que o Rangel tinha dito, disse erótico. E, a seguir ao erótico Rangel, que se apresentou sozinho, num cenário desolado, apareceu, então, o macho alfa do partido. Espadeirou à esquerda e à direita, distribuíu canelada, desatou à cabeçada. Não sei bem contra quem em particular pois vi o Rui Rio furibundo, enraivecido, com tudo, inclusivamente quando alguém lhe perguntou se achava que tinha condições para se manter à frente do partido. Ficou a mais de 10% de distância do PS e ficou claro que o País não tem saudades de quem tratou mal os portugueses sem que, com isso, tenha feito bem ao País. Enquanto Rio espumava, mostrando que não sabe ser empático, a plateia mostrava um conjunto de pessoas que vem dos tempos do cavaquismo ou do passismo. O PSD é outro partido que não tem sabido regenerar-se. É pena. Acredito que há muita gente decente que preferia ter um PSD mais arejado, menos preconceituoso, mais alinhado com os tempos modernos e que há-de estar a desesperar por ver o tempo a passar sem que a renovação aconteça. A continuar assim, nas legislativas ainda será pior. Rui Rio já está nitidamente a prazo.


6. O PS ganhou e não foi por poucochinho, foi por uma diferença expressiva mas, ainda assim, não espectacular. Digamos que ganhou bem e com justiça. E o discurso de ambos, Pedro Marques e António Costa, foi de natural alegria. Mostraram ter os pés na terra e a ambição de quem sente que há ainda muito caminho para andar. Contudo, para que se afirme com mais energia, o PS tem que saber limpar algumas nódoas que ainda lhe sujam a lapela. Como todos os grandes partidos com implantação nacional, regional e etc, e com anos de poder a todos esses níveis, o PS tem dentro de si, como o tem o PSD, um historial de amiguismo. Não haverá tantos caciques como entres as hostes laranjas mas há ainda alguma daquela lógica corporativista que desagrada aos eleitores. Deveria trabalhar para poder ostentar na lapela o emblema da ética e da honradez a toda a prova. E, sendo os tempos de mudança, com desafios de vários tipos e todos eles complexos, o PS deve saber abrir-se à sociedade. E deve cativar os jovens, muitos jovens. E deve saber atrair gente que saiba pensar, gente que saiba interpretar as preocupações e os anseios de hoje e de amanhã. E deve atrair mais mulheres. Quer dentro de portas quer na Europa, o PS deve saber aproveitar o voto de confiança dos portugueses e surgir como um partido com quem se possa contar para construir o futuro.

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E todos os partidos têm que saber falar às pessoas sem arrogância, não tratando as pessoas como se fossem crianças ignorantes, não cavalgando ondas e populismos. E todos têm que limpar do seu seio tudo o que seja duvidoso, oportunista, pouco sério. Um dos grandes inimigos da democracia é a abstenção e a abstenção alimenta-se do desalento que vem de as pessoas acharem que 'é tudo igual', que 'andam todos ao mesmo'. E esse deverá ser também o trabalho de Marcelo: em conjunto com os partidos, mobilizarem os eleitores. Que reflictam nas formas criativas e eficazes de trazer as pessoas para o debate público, para a intervenção política, e que consigam que, nas próximas eleições, já seja visível uma maior participação -- isso é o que desejo.

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Coloquei aqui pinturas de Botero porque foi o que me ocorreu. A política é uma coisa séria mas não tem que ser vista de forma ensimesmada.

E, pronto, já disse o que tinha a dizer. E, assim sendo, com vossa licença, vou sair daqui a dançar em pontas para ir pregar para outra freguesia.


E a todos desejo uma semana em grande, a começar já por esta segunda-feira.

6 comentários:

  1. Olá UMJ,
    Faz uma análise interessante, que ressalta a onda verde que anda pela Europa, e que trás mensagens de que gosto. Também é assim que interpreto o voto no PAN. Parece-me que comentadores como o MST(‘quem vota em PAN são os urbano-depressivos que comem alface ‘), não estão a ler bem o eleitorado. Penso que em vários países os Verdes têm sabido associar uma agenda ambiental a preocupações para com a sustentabilidade, económica e não só, e para com a justiça social de forma que toca os eleitores, sobretudo os mais novos.
    Os resultados em Portugal parecem-me reflectir um voto sobre a solução governativa, com o PS e o BE a subirem e o resto ...enfim...
    É interessante que se critica a Rio o não fazer uma oposição mais contundente, mas o trauliteirismo de Rangel e de Cristas também não resultou nada bem. Gostava de ter visto o PCP com um resultado mais sólido pela qualidade de alguns dos seus quadros e por uma certa honradez e verticalidade de postura que o caracteriza, mas precisa de regeneração.
    Por cá, as eleições foram um voto sobre o Brexit. O partido do Farage ganhou e os Lib Dem, com uma agenda declaradamente pró-Europeia, em segundo lugar, tiveram um ressurgimento assinalável. Os Verdes, outro partido pró-Europeu, também subiram significativamente. O Labour foi punido pelo ‘nim’ tacticista e mal calculado que tem sido e os Conservadores foram estilhaçados. No entanto, nada disto vai mudar muito em termos de resolução prática do Brexit. O Brexit é um novelo monumental de nós sobre nós.
    Uma semana excelente. Por cá, começa bem - feriado!

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  2. Olá menina da grande cidade...
    As minhas galinhas sobem ás árvores cantam e dormem lá quando se atrasam a ir para o dormitório e lhes fecho a porta,para se protegerem do lobo mau.São mais inteligentes as minhas galinhas do que o dito.Um beijinho
    Lucíl8a

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  3. A arrogância não é boa conselheira nem para vencidos ou vencedores …
    A C.Social é a grande vencedora, parabéns portanto ao Sr.Balsemão e restantes
    empresários e comentadores da dita !
    Até ás legislativas os acordos são para cumprir. A partir daí o PC deve sair da geringonça
    e o Sr. Silva e Cª do PS que se entendam na governação com as meninas do Bloco.
    O Sr. Rio deve seguir o seu caminho e deixar de se sentir pressionado pelos direitistas e deputados atuais do seu partido.
    Quanto á Srª. A. Cristas deve abandonar a direção do CDS porque não tem competência para tal.

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  4. Está visto que ninguém gosta de gentinha arrogante e que fazeram campanha na base do ataque. Ou no ataque ou a desenterrar 'mortos'. Sim, porque trazer para a campanha o Sócrates é desenterrar mortos.
    Não chegamos a saber o que é que a generalidade dos partidos se propunha fazer no parlamento Europeu.
    Não chegamos a saber… não é bem assim. O PAN, foi provavelmente o único partido que não atacou ninguém e que fez uma campanha na base de nos mostrar qual era o seu programa. Outro estilo, de facto.
    UJM, não conhecendo o que tem feito o PAN, sugiro que faça rewind a algumas sessões do Parlamento. Porque o André Silva é muito interventivo. E não se pense que PAN é o partido que se propõe defender apenas animais porque isso não é verdade. É também isso mas não só. É muitíssimo mais do que isso. Pessoas e natureza, com grande foco na defesa do planeta. No geral, a maioria dos partidos pouco ou nada falou nisso.
    Eu não votei PAN, mas devia. Fica para a próxima.
    um abraço,
    L

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  5. Francisco de Sousa Rodriguesmaio 27, 2019

    Muito bem!

    Uma rica semana.

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  6. Paulo Batistamaio 28, 2019

    Sobre o PAN, que comece o necessário escrutínio: https://www.tsf.pt/opiniao/interior/a-quarta-oportunidade-perdida-para-um-partido-ecologista-portugues-10949643.html

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