O fim de semana foi curto. Enquanto vinha no carro a falar com a minha filha, bocejei, confessei que estava cheia de sono. De facto, tinha-me deitado tarde, a escrever sobre as eleições. Mas é que também não deu para descansar enquanto estive in heaven. Expliquei que só tínhamos conseguido lá estar durante pouco mais de vinte e quatro horas. Ela pergunta porque fomos, então. Digo: o pai teve que montar a máquina, depois teve que fazer isto, aquilo e o outro. Há sempre tanta coisa que fazer quando lá estamos. E depois tivemos que vir a horas de vir votar. A minha filha diz com ar recriminatório: 'vocês gostam'. Tal como a minha mãe, ela acha que há coisas que não precisávamos de fazer, que poderíamos pagar para que alguém as fizesse por nós. Tento explicar que, de facto, gostamos. Mais do que gostamos: precisamos. Ela insiste e eu explico: durante a semana são reuniões, preparar apresentações, fazer viagens, conduzir projectos. Temos que ter o fim de semana para respirar, para mudar de ares. Explico também que, andando lá, regenero, sinto-me logo tão bem.
Enviei-lhes hoje o link para um artigo onde se enumeram vinte e cinco maneiras de conquistar uma melhor qualidade de vida e uma vida mais longa. Ali se diz que andar na floresta aumenta a imunidade, remetendo para um estudo científico. Mas não preciso de ler o estudo para saber que nem precisa de ser uma floresta a sério para a gente se sentir logo mais saudável. E a meditação também. Nunca consegui perceber o que é meditação mas talvez que, quando ando em silêncio e com vagar, a passear entre as árvores, a ouvir a aragem e o canto dos pássaros, a fotografar, sem pensar em nada, isso tenha o mesmo efeito. É uma total tranquilidade, uma felicidade sem definição ou explicação.
Ela fala-me também nas desoras a que aqui estou, que bem lê o que escrevo, que escrevo cheia de sono e, uma vez mais, recrimina-me, diz que gosto. E é verdade. Ninguém me obriga. Mas é a mesma coisa. Depois de dias tão cheios de fazer o que tem que ser feito, sinto necessidade de fazer o que me apetece fazer: escrever, ouvir música, ver imagens que me agradam, aprender. E há sempre tanto para aprender. Mas sei que ela tem razão. O artigo diz que é preciso dormir bem. Eu durmo bem mas, como me deito tarde e levanto cedo, chego a esta hora e tenho sono. É um absurdo, talvez. Não devia estar aqui, sei bem que não. Hoje, então, não mesmo.
Mas as coisas são o que são e nada a fazer.
Mas as coisas são o que são e nada a fazer.
Hoje, à hora de almoço, apeteceu-me ir visitar livros. Ainda não fui conhecer a livraria nova do Príncipe Real. Não há onde ali se estacione, só indo a pé. Mas, para ir a pé, tem que se deixar o carro em algum lugar e ter tempo para ir a pé. Programa complicado para um dia de semana, com pouco tempo. Por isso, fui a lugar conhecido, onde sei onde encontrar as espécies. Ia andando e pensando que seria bom se os livros estivessem expostos por critérios de qualidade. Mas não: quanto menos valem, mais à vista estão. Também deveriam ter bem à vista os tradutores. Assim, tenho que estar a abrir para vem quem traduz. Mas há muitos tradutores que não conheço. E, então, vacilo, não me apetece arriscar. É uma profissão nobre, solitária, a de tradutor. Mas tem que haver muita ética, ser levada muito a sério, uma coisa laboriosa. Não sei se é um trabalho bem pago e, por isso, talvez haja justificação para alguns tradutores serem pouco apurados.
Mas vai chegar um dia em que já não se distingue entre escrever bem ou escrever de qualquer maneira. No outro dia, a minha menininha mais linda ia ter um ditado no dia seguinte e os pais combinaram que eu ensairia com ela. Então, passou-me para as mãos o manual de língua portuguesa. Foi pela Páscoa e o texto tinha a ver com o compasso na aldeia da família. Fiquei incomodada e tanto mais quanto não pude dizer-lhe que aquilo estava tudo mal pontuado, as vírgulas mal postas, e o próprio texto deselegante na escrita. Mas alguém seleccionou aquele texto para um manual do terceiro ano. Uma dor de alma. Pode aprender-se bem a partir de maus livros? Creio que não.
E hoje recebi um mail de um colega que eu não tenho por estúpido e que, aliás é, por lá, pessoa conceituada, e, para meu pasmo, encontrei um à do verbo aver, sem h, e um dar-mos daquela raça de palavras que são degoladas com um mortífero hífen. E, uma vez mais, pensei que, quando escrevo, a maior parte das pessoas deve pensar que dou erros atrás de erros. E, uma vez mais, lamentei ter que ler e calar.
Acabei por não trazer nenhum livro. Nada, do que vi, me pareceu inquestionável. Uma grande loja cheia de livros e, á vista, só livros que não me convenceram: ou porque sim, ou porque não, ou porque o tradutor, ou porque a capa, ou porque não sei. Se calhar, apenas não estava disponível para me deixar tentar. É um estado que não se recomenda: fica-se negativo, nada parece suficientemente atraente.
Saí de lá a pensar como seria um livro meu, porque tenho isto de pensar que um dia ainda hei-de escrever um livro, e não cheguei a nenhuma conclusão. Não sei descrever como teria que ser. Tinha que contratar o hmbf para ele me mostrar de que é que eu, sendo como sou, ia gostar e sei que ia confiar na sua escolha apesar de ele não me conhecer porque ele sabe coisas que mais ninguém sabe e, ainda por cima, tem bom gosto. Mas não quereria apoio apenas para a estética. Não. Ia convidar umas três ou quatro pessoas que conheci aqui na blogosfera, e não digo quem para não aborrecer ninguém, para escrever o prefácio, o prólogo, a introdução, o epílogo e o mais que lhes apetecesse mas ia pedir que não quisessem saber da definição disso e escrevessem o que quisessem, nada a ver com o meu livro, nada, nada, apenas que escrevessem coisas bonitas, suas, coisas que desafiassem a lógica de ali estarem, coisas que tivessem a ver com eles e não comigo, com os seus gostos, liberdade absoluta.
Já é tarde. Um disparate isto. Nem sei bem sobre o que é que estou a escrever porque, tal como disse ao começar, a semana passada foi difícil, o fim de semana foi curto, a noite de ontem longa e o dia que passou não deu trégua. E eu gostava de me ir aos comentários, dar dois dedos de conversa, mas acho que não vou conseguir chegar lá.
Mas, antes de me ir, gostava que vissem o vídeo que aqui tenho em baixo e que anda a dar-me ideias. Uma coisa incrível. Quando se pensa que já se viu muita coisa do outro mundo, do nada, aparece mais uma. Nunca imaginei uma coisa destas, não fazia a mínima, a mínima. Agora tenho que ir tentar perceber se isto é com todas as árvores e se, sendo, é assim, ao copo, ou se há algumas que sim mas só uma ou duas gotas. Numa daquelas de vida ao natural, de contacto directo com a natureza, nesta minha vontade de ser bicho, a perspectiva de beber o líquido que corre no seio das árvores emociona-me.
Tapping birch sap is one of my favorite parts of the spring. Birch sap has a very sweet taste and lots of health benefits, and it has been a part of the nordic tradition for hundreds of years.
Back in time, they said "drinking marrow into the bones" about drinking birch sap. It was a way of regaining energy after a long cold winter. Sometimes, they even gave it to the livestock, to give the cows, goats and horses some extra energy.
It contains minerals and vitamins like calcium, potassium, magnesium, manganese and sugar. And also proteins, amino acids and enzymes.
In this video I show you step by step how I do when I tap birch sap. The sap can only be tapped in the early spring for about 3-4 weeks. From when the snow and the frozen ground has melted, until the first leaves starts to bloom. Depending on where you live it might differ a lot. In the south of Sweden it's around march-april, and where I live in the north of Sweden it is usually the beginning of may until the end of may.
For many of you (if you even have birch trees where you live) it might already be to late. But I hope that you feel inspired to try it out next spring or whenever you get a chance.
E espero que as minhas fotografias, feitas durante o fim de semana, levem até si um pouco da paz que habita in heaven.
Um dia feliz.
"Há um caminho comunicante
ResponderEliminarEntre a voz e o ser
que se abre com o silêncio fecundo
E se fecha com o palavreado."
[Djalal al-Din (Rumi), O Círculo do Amor, pg.55, Editora Licorne, 2016]
Exma. Senhora
... atenção aos teixos.
Melhores cumprimentos.
Agora tudo desagua na meditação, no mindfulness, porque não traduzir isto como a UJM traduziu?
ResponderEliminarA meditação como é posta apela a modelos e técnicas pretensamente neutros, mas que conjugam uma panóplia de filosofias espirituais de origem Oriental. Nada contra, não estivessem estes conceitos a invadir áreas como a Saúde Mental e a adquirir um progressivo estatuto preventivo e profilático, o que se traduz numa clara invasão da ciência pela pseudociência chique que certos capitalistas influentes acham fazer parte do seu sucesso e assim patrocinar a sua promoção como uma descoberta "à la carte" muito "cost-effective".
Estou a ver que precisam de promover uns cursilhos de Português 😄😄
Um belo dia para a enérgica UJM.
A par de outras qualidades que tem, possuiu outra, que, aos poucos e infelizmente, vai começando a rarear: a de escrever bem (com riqueza de vocabulário, uma escrita bem articulada, que demonstra inteligência e cultura geral, e tudo bem pontuado. E isto, mesmo com sono!).
ResponderEliminara)Um seu Leitor de sempre
Olá UJM, permita.me a ousadia, dado que não gosta do autor -O "Desumanização", foi um prazer lê.lo!
ResponderEliminarBeijinho
Desculpe "A desumanização"
ResponderEliminarAtenção: "vai começando a rarear", nos outros, não em si!
ResponderEliminarA todos,
ResponderEliminarPerdoem não vos dizer nada. Acreditem: não é desinteresse, é mesmo falta de energia.
Tentarei amanhã mas não consigo prometer.
Dias felizes a todos.