O meu pai era tido por não ter jeito para nada. Segundo a minha mãe, claro. Fazia arranjos em casa, isso sim. Mas arranjos de arranjar coisas avariadas. A minha mãe comparava-o com o irmão, jeitoso de mãos, que tinha construído, sozinho, uma estufa no jardim. E construído bancadas dentro da estufa. E tinha vasos com flores que transplantava para o jardim, sempre tão cuidado. O jardim arranjado pelo meu pai, segundo a minha mãe, era desprovido daquela perfeição que o meu tio imprimia no que fazia. Não perdia oportunidade para desvalorizar as suas habilidades (e as suas observações não deixavam de ser pertinentes). O meu pai ficava todo ofendido.
Mas, para surpresa de toda a gente, quando se reformou, deu em fazer coisas de madeira, pequenos móveis, restaurar cadeiras, ou seja, a mostrar um talento de que nunca ninguém tinha suspeitado. Tudo bem feito. Abusei: fazia um desenho e pedia-lhe. Ele aborrecia-se: dizia que os meus desenhos não eram suficientemente técnicos. Então, fazia-os ele: tudo feito à medida, a régua e esquadra. Fazia cálculos, raízes quadradas, tudo na base da pura geometria. A minha mãe entrava na fase dos acabamentos. Admirada com o jeito que, afinal, ele tinha. Tenho vários móveis feitos por ele e, por isso, têm para mim um valor ilimitado: um móvel pequeno para livros, um móvel para DVDs, um carrinho com divisórias para tintas, um escaparate para bijuterias.
Móveis eu acho que nunca saberei fazer. Mas nunca se sabe. Há algumas coisas que acho que não sei e que penso que nem terei habilidade, mas que dava jeito e que gostava: saber costurar e saber construir objectos. Talvez um dia me dedique a isso.
O Leitor P. a quem, de novo, aqui agradeço enviou-me não apenas o extraordinário Caravaggio alive mas também o vídeo que aqui partilho e que também é uma graça. Uma jovem embrenha-se por entre um bosque de bambus, apanha uns quantos, limpa-os e, com uma agilidade impressionante, começa a montar umas peças que, no fim, resultam leves e resistentes.
Convido-vos a ver pois não é só interessante: é também bastante tranquilizador. No fim de um dia complicado e a caminho de uns quantos em que a agenda transborda, sabe bem ver imagens assim, tão pacíficas.
Como fazer uma mobília de bambu
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A fotografia lá em cima foi feita há uns dias e encanta-me por ver como nascem espontaneamente flores, verduras, encantos -- e, sim, é um feto.
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E queiram continuar a descer pois o que ali partilho convosco é deveras extraordinário:
Lindo, adoro que seja uma mulher a fazê-lo.
ResponderEliminar~CC~
Não é para todos, ter fama de desajeitado e revelar talento para uma coisa nada pêra-doce.
ResponderEliminarGostaria de ver essas obras...
Um abraço!
Olá 🦀
ResponderEliminarC'est vrai, ici c'est même une fougère.
Neste lugar
tudo o que o olhar vê
emana frescura
ou
É verão -
e o feto
só com um ramo!
(ambos originais).
Have a ☀️ day.
🌲
Também gostava de ver esses móveis...poderia fotografá-los e mostrar-nos aqui.
ResponderEliminarTambém gosto de fazer coisas e tenho pena de não ter mais tempo para fazer e aprender. A vida é muito complicada.
Gostei muito do video e dos móveis de bambu. Lindos:))
Beijinhos e continuação de um bom dia:))