sexta-feira, dezembro 07, 2018

Nesta noite de boas surpresas




Dias assim, em que pernoito fora, costumo sentir algum desagrado. Por muito habituada que esteja, a verdade é que sinto sempre falta do conchego caseiro, do sossego da casa. Nada como a vidinha boa da gente, os mesmos passos, os nossos cantos, as nossas conversas e silêncios. Mas hoje foi bom, muito animado, muita alegria, ambiente leve e repleto de afecto, aplausos, gestos de carinho.

O tempo passa, Leitor, o tempo passa e a gente vai ficando, vendo o tempo a passar, umas vezes depressa demais, outras vezes devagar, devagar. 


Não há muito, um homem possante arbitrava uns certos jogos de futebol. Alguém dizia que ele, quando tinha que se impor, até parece que crescia. E era mesmo. Um carisma ímpar. Toda a gente o respeitava. Hoje atravessou a sala e veio falar-me. E perguntou-me pela minha filha, disse que era uma miúda espectacular, falou dela e sorria enquanto falava. E eu, vendo como ele a recordava e como falava dela, fiquei feliz, feliz.

Cabelo todo branco, longas barbas brancas. Possante ainda. Fizemos as contas. Passaram talvez uns quinze anos. E eu pensava que tinha sido há pouco tempo. E foi. Mas quinze anos não é nada. 


E depois, à mesa, estava eu a conversar com a pessoa do lado, diz-me ele que lhe parecia que o meu telemóvel estava a tocar. E estava. Um número que não conhecia. Àquela hora, um número desconhecido. E, de repente, uma voz conhecida mas longínqua. Perguntava se um certo blog onde se falava da filha dela era meu. A filha tinha lido e tinha perguntado quem teria escrito aquilo e ela tinha dito que só podia ser eu. E contou-me que tinha gostado de ler -- e eu fiquei tão contente, tão contente por ela ter ficado contente porque se há alegria grande para uma mãe é sentir o reconhecimento dos outros sobre os filhos e eu gostei de lhe ter dado essa alegria e fiquei contente por falar com ela porque já não falava há tanto tempo e fiquei contente porque a filha dela é, de facto, muito talentosa e, do que vejo nos vídeos, vejo-a luminosa, especial e tão há pouco tempo era ainda uma menina pequenina, alegre, expressiva. E dissemos que haveríamos de nos reencontrar e eu quero que isso aconteça. E, portanto, foi o terceiro presente da noite. 


Este ano tem sido atípico, com momentos muito complexos, alguns no limiar da rotura, um tecto baixo e sombrio sobre mim, ameaçador, nuvens escuras sempre a cercar-me. E, no entanto, de repente, de forma incompreensível, parece que o teto se levantou, que as nuvens desapareceram. Não acredito em fadinhas pelo que imagino que um dia destes algo de desagradável volte a acontecer. Mas, de momento, as coisas estão como nunca. O horóscopo tinha dito: o seu poder de persuasão vai fazer com que se abram todos os caminhos, com que todos os obstáculos sejam ultrapassados. E, de facto, de uma forma nunca antes vista, é isso que está a acontecer. Ainda hoje. De uma forma que me parece quase impossível. Uma coisa de loucos. Não dá para acreditar.

Um dia de cada vez. Pode, um dia destes, de forma de novo inesperada, desabar sobre mim novo ceú carregado. A vida é cheia de surpresas e de equívocos. Mas posso testemunhar: não devemos temer e aceitar vergar a nossa consciência. Se o que ela nos diz é que digamos não, mesmo que isso comporte riscos devemos dizer não -- e prepararmo-nos para as consequências. Até porque pode acontecer que, mesmo que apenas temporariamente, as águas se separem para que passemos, incólumes. Ou seja, é aproveitar enquanto é bom. Sem medo do que aí pode vir. Até pode não vir. Ou, se vier, pode, afinal, até ser bom


E a vida é assim mesmo: momentos, surpresas, memórias, alegrias inesperadas. O tempo passa. Tantos anos que têm passado. Não me pesam. Acompanham-me com o seu rasto de boas memórias (eu, as más esqueço).  


E agora vou dormir. O quarto é grande demais só para mim e mal empregado para apenas uma noite. Mas é o que é. De manhã, ala moço que se faz tarde e o dia vai, de novo, ser bem longo.

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Os esquilinhos foram fotografados por Geert Weggen e estão aqui só porque são uma ternura. Yo-Yo Ma e Alison Krauss interpretam The Wexford Carol. E eu penitencio-me, de novo, por não conseguir responder a comentários ou mails. Não dá. Hoje não foi o tapete, foi aquilo de que falei e que me fez chegar ao quarto já por volta da meia noite e de, ainda, por cima estar a trocar mensagens com a minha filha. Mas tinha que lhe contar.

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Um dia feliz a todos quantos por aqui me acompanham.

Para ti A., se me estás a ler, um grande abraço e felicidades para todos, incluindo para o serzinho que está para chegar.

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