Uma vez, numa tarde dourada, ao fim do dia, no Palácio Fronteira, uma festa, um conjunto de pessoas circulando no belo jardim, conversando, visitando os recantos, vendo os azulejos. Já em tempos falei neste dia especial: era o dia do lançamento de um livro muito bonito. Antonio Tabucchi escreveu a história e Paula Rego ilustrou. Tão, tão bonito. 'Fogo'. Um livro ímpar que para sempre associarei àquela tarde tão agradável.
Estavam lá, eles. Tão simpáticos. Autografaram o meu livro. Sorriu, ele, e o sorriso era envolvente. E Paula Rego olhou para mim a sorrir, gostou do meu nome, disse-o. Depois, passado um bocado, Paula Rego disse que estava com o rabo frio, estava sentada num banco de pedra, que nem sabia se tinha o rabo molhado, se tinha feito xixi. Mas claro que não tinha, a pedra do banco é era fria. E toda a gente se riu com a sua genuinidade.
Estive a ler a entrevista no The Guardian. Paula Rego: ‘It isn’t nice in my mind'.
Visceral and unsettling, Paula Rego’s art has challenged us for decades. Now, at 83, she talks about cruel fables and the medicinal joy of champagne.
Gosto tanto das suas pinturas, gosto tanto da sua loucura, da sua mente aberta, da sua forma, autêntica e quase infantil, de ser. E gosto dos adereços que ela arranja para compor as suas personagens e os ambientes em que elas se enquadram. Gosto de tudo. Há quem ache horrível, quem não veja ali beleza. E eu vejo beleza de mais, vejo a transcrição de pessoas reais, de pernas e troncos grossos, feições rudes, gente sofredora, revoltada, desafiadora, vejo irreverência, descaramento, gozo, puro gozo.
The only thing that helps is the work’: Paula Rego. Photograph: Phil Fisk for the Observer |
Adereços do atelier de Paula Rego que têm entrado nas suas pinturas |
‘I like the idea of the man having the baby and his gut bursting – serves him right’: a shot from the 1960s with Rego, her son Nick Willing (left), two daughters, and late husband, Victor (right). |
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E até já.
Gosto da mulher, fascinante personalidade, mas detesto a pintora. São obras horrendas para a minha sensibilidade. Também não gosto de Picasso, nem de Dalí, nem de Rothko, Kandinsky, só para mencionar estes. Mas, lá está, gostos não se discutem. Mas, gosto de Vieira da Silva, de Júlio Pomar, de Edward Hopper, Matisse, Klimpt, só par citar estes (e dos Impressionistas, Pré-Rafaelistas).
ResponderEliminarBoa semana!
P.Rufino
Se me lembro. E já foi há mais de mil anos.
ResponderEliminarSabe bem que eu adoro esses dois e falei muito consigo sobre as pinturas da Paula Rego nos livros da Agustina e do Graça Moura (não sei se nos comentários, se por e-mail).
Quando o tablet "morreu" perdi tudo, mesmo tudo o que lá tinha - ainda não está no lixo, ainda espero que um dia ele ressuscite...
Lembra-se daquela fotografia da Paula Rego, pequenita, mascarada de minhota?
Ainda cheguei a comprar o livro do VGM para uma pessoa que não encontrava o dela... depois apareceu e eu fiquei com dois.
Memories, como cantava a outra...
Vi o filme que o filho da Paula fez e ainda fiquei a gostar mais dela.
Do Tabucchi nem se fala, continuo a ler e a reler, e a rereler (acabei de inventar) e a adorar.
E é isto!
Boa semana!
�� lover
ps: É bom poder comentar aqui (e não só aqui) e poder ver os vídeos...
Picasso! Dali, P. Rufino! Eu ando há anos - anos! - a tentar descobrir um quadro do Picasso que já desconfio só ter existido num sonho meu, pois nunca mais o vi em lado nenhum. Era uma mulher com um bebé nos braços. Os braços esticados, a oferecer o filho a um demónio de chifres negros. Mas a cara! A cara virada para trás, meio de lado para nós que assistimos à entrega - e é vergonha que está traçada naquela cara fechada, comprimida. Só mesmo Picasso, ainda que em sonhos.
ResponderEliminarJV