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Já o vi vezes sem conta. Intrigava-me, parecia-me sempre o mesmo mas pensava que era impressão minha. Podia lá ser? Fotografei-o várias vezes para tentar tirar a prova dos nove. Mas, pelo meio, esquecia-me. Barcos no Tejo é o que não falta. E petroleiros são petroleiros, pensava.
Mas eis que leio a sua história. O Rio Arauca afinal está mesmo parado no rio há mais de uma ano. Lá dentro pessoas que de lá não podem sair. Uma situação aterradora. Vão levar-lhes mantimentos e eles ali, cidade à vista -- e, no entanto, lá confinados.
Em vidas anteriores, lidei com navios. Por vezes aconteciam casos mais complicados que agentes e autoridades logo se apressavam a tratar, evitando crises complicadas já para não falar nos gastos que as sobrestadias sempre implicam. Mas nunca por nunca soube de um caso que se parecesse com um drama destes.
Leio que estão sem agente. Entregues à sua sorte.
Transcrevo apenas um pequeno excerto do artigo O que faz um petroleiro parado no meio do Tejo há mais de um ano? do Diário de Notícias:
"Em outubro de 2017 essa dívida foi paga e o navio teve autorização para sair de Lisboa, mas não o fez", diz a Administração do Porto de Lisboa (APL). "Provavelmente por falta de fundos da Venezuela, que não tinha crude nem dinheiro para pôr o navio em marcha." Então o Rio Arauca ficou estacionado no Tejo, o que lhe criou um segundo problema. E um segundo arresto.
Por cada dia de estadia em porto os navios têm de pagar uma taxa, que no caso de um Suezmax é superior a 20 mil euros. A dívida do Rio Arauca ao Porto de Lisboa ultrapassa neste momento um milhão de euros - e agrava-se a cada dia. A APL recorreu por isso ao Tribunal Marítimo, o navio voltou a ser arrestado e o processo está em segredo de justiça. O DN contactou o embaixador venezuelano em Lisboa, Lucas Rincón Romero, e o representante legal do navio, o advogado Tiago Dias Carlos, para perceber se havia alguma perspetiva da saída do navio do meio do Tejo. Nenhum deles respondeu.
No dia em que entrou pela primeira vez no porto, o agente de navegação do navio - a Navex - demitiu-se do cargo. Oficialmente, o Rio Arauca não tem agente oficial que trate da rendição dos homens, dos abastecimentos ou dos processos de desembarque com o SEF. A APL diz que uma outra empresa, a Orey Shipping, assumiu estes encargos por uma questão humanitária e contratou a Knudsen para que a tripulação do petroleiro não se veja isolada.
Sugiro que conheçam esta situação incrível. O artigo relata uma história que um dia destes vai estar em filme e aí toda a gente prestará atenção. Enquanto a situação é apenas real, não interessa. Estes desgraçados estão há mais de um ano a viver este drama e só agora soubemos disto.
Bom trabalho o do DN. O jornalismo, de vez em quando, sabe mostrar como a comunicação social é importante. Já agora: o noticiário da noite da TVI à segunda-feira também é diferente: Miguel Sousa Tavares veste a sua pele de jornalista e responsabiliza-se pela sua edição. Vale a pena ver.
Que história surreal, essa do petroleiro.
ResponderEliminarSe há pessoa que considero independente e que pensa pela sua cabeça é o Miguel Sousa Tavares. Gosto bastante dele.
Um belo dia!
Já tinha ouvido falar da situação à uns meses não fazia ideia que se tinha perpetuado...
ResponderEliminarOlá Francisco,
ResponderEliminarO pior é que não é surreal: é mesmo real. Já imaginou? Coitadas daquelas pessoas, já viu?
Uma boa quarta-feira, Francisco.
Grande verdade. Que horror.
EliminarUm abraço
Olá Tétisq,
ResponderEliminarAinda hoje, quando vi o grande navio, pensei naqueles pobres homens, ali fechados, obrigados a conviverem uns com os outros, 24 horas por dia, todos os dias do ano. Enjaulados como bichos. Terrível.
Um dia bom para si, Tétisq.
A reportagem do DN é para rir e quem diz que o Barco é Venezuelano? A tripulação não é venezuelana e o barco anda por aí cuja última referência em termos de nacionalidade é cipriota e depois fala-se em alemã e são eles que pagam os salários. Para deitar a Venezuela abaixo tudo serve. Honesto como sou eu não refundia a reportagem do DN porque não há certezas de nada. A única referência à Venezuela vem de uma empresa que comprou o Barco em leasing foi a PVDSA, a petrolífera estatal venezuelana, mas o dono do barco, rebatizado nesta altura, é a sucursal cipriota da BSM, gigante alemão da Marinha Mercante. Haja honestidade.
ResponderEliminarDesconhecia este drama do Arauca, que coisa mais inconcebível. E pelo que entendo, em vez de a AGPL avançar com a resolução do problema, deixa-se ficar à espera do habitual "milagre" do tempo.
ResponderEliminarQuanto ao MST e a TVI totalmente de acordo, aliás é a única estação nacional em que consigo ver notícias, todas as outras (incluindo a RTP paga com os nossos impostos) estão infestadas de jornalixos.
P.S. comentário tardio porque ando em "bolandas" pelo Norte.
Olá José Corvo,
ResponderEliminarMas acha que aquilo do navio 'venezuelano' é de alguém que não engraça com o maluco do Maduro...? Pois olhe que se prendeu a um aspecto que, naquele contexto, é quase pormenor. É que drama, drama mesmo, é o imbróglio que ali está e as consequências para aqueles pobres, ali feitos quase reféns.
Deixe que o seu coração sinta compaixão, ó Zé Corvo.
Dias felizes para si.
Olá Corvo Negro,
ResponderEliminarEntão anda a passeio pelo Norte. Se for por uma boa causa, é bom. O Norte no inverno é mais bonito.
E andando a passeio, tem-se certamente poupado a jornalixos que, salvo uma ou outra feliz excepção, só fazem é empolar e explorar desgraças.
Salve-se o das 2ªas na TVI com o MST.
Abraço, Corvo II, denominado, 'O Negro'!