A família de Louis desestruturou-se quando ele era miúdo e, por isso ou porque se calhar tem mesmo aquele piquinho de autismo que ele desconfia que tem, nunca foi capaz de formar família.
Tornou-se empregado bancário para arrelia e espanto do pai que nunca percebeu porque não completou ele estudos mais elevados para poder ter uma carreira mais espampanante. Mas Louis nunca desgostou da sua profissão.
Apenas uma coisa o preocupava: quando morresse, quem se lembraria dele?
E, então, resolveu, tornar-se doador de esperma. Três vezes por semana, durante vinte anos, Louis doou o seu esperma. Não tinha família, vivia sozinho, a sua casa era modesta, o seu emprego era aquilo -- e tudo lhe chegava. Excepto aquele pensamento que o deixava ansioso: morreria sem herdeiros, sem alguém que se o recordasse. Pensou: se o seu esperma desse origem a crianças que um dia o procurassem, talvez obtivesse aquela parcela de felicidade que tanto desejava. Se em cada dez crianças nascidas uma quisesse conhecer o seu pai biológico seria bom -- e se, em vez de dez, fossem mais, podia um dia ter não um mas vários filhos perto de si. Passou a doar esperma para três clínicas. Antes de ir trabalhar, passava por lá com o seu saquinho e seguia para o banco. Pensava que controlassem melhor algum limite de doações mas, pelo que percebeu, não apenas não o faziam como o que as clínicas queriam era ter bons doadores.
E, então, o que ele tanto imaginou, aconteceu. Os filhos começaram a querer saber quem era o pai. Neste momento creio que são uns cinco que já se aproximaram dele. E ele está contente.
‘Louis’ with his daughter, Joyce Curiere, who traced him after getting a DNA test. P hotograph: Judith Jockel for the Guardian |
Pelo que se sabe e pelos seus cálculos, serão duzentos os filhos mas admite que possam chegar aos mil.
Fala-se em questões de ética e talvez os haja mas o que me ocorre é que este mundo está cheio de histórias loucas, muito mais loucas do que a nossa imaginação possa alcançar. E digo isto sem qualquer laivo de censura moral. Zero. Apenas uma certa estupefacção. E alguma vontade de sorrir.
Fala-se em questões de ética e talvez os haja mas o que me ocorre é que este mundo está cheio de histórias loucas, muito mais loucas do que a nossa imaginação possa alcançar. E digo isto sem qualquer laivo de censura moral. Zero. Apenas uma certa estupefacção. E alguma vontade de sorrir.
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No outro dia vi um filme que, quem sabe, tenha sido inspirado nesta história real. Os filhos não eram duzentos mas quinhentos e andavam numa demanda de quererem saber do pai. Desses, a diversidade humana que aparentavam era incrível, bela. É o mundo!
ResponderEliminarBoa semana UJM :)
Ainda bem que assim é! Viva a liberdade, a evolução! Abaixo as amarras que nos prendem a uma realidade que já não é! Fora os conservadores de vidas lineares e exemplares que troçam do que não alcançam por nunca lhes ter faltado nada! Vontade de sorrir, sim!
ResponderEliminarJV
Olá Gina,
ResponderEliminarDeve ser baseado nesta história real.
Sabe que se alguém inventasse uma história assim: um anónimo e discreto empregado bancário que, afinal, vai-se a ver e é um 'pai' em série... Um "serial father". Filhos às centenas. Um enredo espantoso. Ninguém levaria a sério.
A vida é mesmo uma coisa fabulosa, por vezes surreal.
Beijinhos, Lady Gina del Geia
Olá JV,
ResponderEliminarNo livro do Kundera sobre alguns romances e romancistas li que, ao contrário do que muita gente pensa, que Kafka era um tipo amargurado, cheio de fantasmas, que os seus livros eram uma forma de ele transmitir a sua pancada, a verdade é que ele era divertido, irónico e que o processo ou a metamorfose eram livros que, pelo menos em parte, ele escrevia a rir, histórias desconchavadas que eram, para ele, pura diversão.
Esta do empregado bancário, tímido, que saía de casa com um saquinho de esperma e, depois, ia trabalhar é daquelas histórias à Kafka.
E a possibilidade de agora ter centenas de filhos é deliciosa. Tem razão: viva a vida!
Abraço, 'fofinha' senhora doutora JV.