sábado, outubro 06, 2018

Num dia feliz, qual a lógica de falar de ataques de pânico?
[O exemplo de Gisele Bündchen]




Vim de véspera e passei o dia bem longe de celebrações, televisões ou informação de qualquer tipo. A casa esteve cheia de brincadeiras, conversas boas, sorrisos. Claro que, em off, esteve sempre a preocupação com o meu pai, constipado, debilitado, e com a minha mãe que está a sair de uma virose ou lá o que foi que a deitou um bocado abaixo. Ela não quer sair de perto dele, ele não sai da cama e isto, claro, custa-me bastante, e custa-me sempre e ainda mais quando não estão bem. Vou telefonando,  vou dando todo o apoio remoto, vou lá sempre que posso mas não há verdadeiramente muito mais que se possa fazer. Qualquer sugestão que lhe faça não lhe agrada, acaba por optar ficar em casa com ele. Portanto, sempre que consigo, tento abstrair-me e gozar o momento, especialmente quando estou com a minha querida descendência.

Gostam imenso de estar no campo. Vieram com bicicletas e pedalam com alegria pelos caminhos habitualmente habitados por animais silenciosos e por pássaros que cantam em liberdade e que, nestes dias, com os meninos, se enchem de risos, zangas, descobertas.

A menina arrelia-se com o irmão, mais novo, que é veloz na bicicleta e a ultrapassa fazendo manobras que a assustam e quase a fazem despistar. Depois, já é só o medo: quando o ouve a aproximar a grande velocidade já ela fica com medo, zanga-se, grita-lhe, amua, choraminga. E ele, malandreco, nega, diz que não está a fazer nada de mal, que ela é que tem medo mas que disso ele não tem culpa.


E eu revejo, na memória, momentos iguais, iguaizinhos, a minha filha a andar de bicicleta e o irmão, também mais novo, a fazer a mesma coisa, a arreliá-la, ela furiosa a gritar com ele e ele, feito inocente, a não lhe ligar patavina e a fazer outra vez e outra vez a mesma coisa.

Hoje chamei o menino. Falei-lhe na noção de fair play, no necessãrio respeito pelos companheiros de brincadeiras e de jogos, que quem se porta mal ou assusta os outros não tem fair play e deve ser desclassificado. Ouviu atentamente. A partir daí, quando passava a acelerar rente à irmã ia cantarolando 'eu tenho fair play e por isso não posso ser desclassificado'. Não vale a pena. Está-lhes na massa do sangue. Gostam de pregar partidas, de arreliar os outros. Têm coração de ouro. O meu filho nunca fez mal à irmã, só cenas destas, defendia-a quando eu me zangava com ela, na verdade sempre tentou protegê-la e, se sabe que ela tem algum problema, fica logo preocupado. Claro que agora que é adulto já não lhe azucrina o juízo, agora azucrina o dos filhos. Agora é o filho do meio que faz à irmã o mesmo que ele fazia. Portanto é sempre uma animação. E o bebé também é fresco. Voluntarioso, traquinas, destemido. Espertíssimo, divertidíssimo. Gozo com ele e ele faz um sorriso intencional, malandro. Outras vezes, não retém a ironia e desata a rir-se. 

Uma alegria, portanto.


Depois, à noite, fomos petiscar numa tasquinha à beira da estrada. O bebé a dormir, os manos mais crescidos sempre com aquele apetitezão. Comeram como gente grande. Melhor: como lobinhos esfaimados. No fim, quando estavam a levantar-se, perguntaram o que era o jantar. A mãe, surpreendida, respondeu que tinham acabado de o fazer. Protestaram, disseram que queriam jantar. Poços sem fundo. Comem que dá gosto. 

Depois seguiram para casa e nós dois regressámos aqui. Telefonei outra vez à minha mãe, o meu pai parece que estava melhor, ela mais descansada. Descansei também. Depois ligou a minha filha, estivemos na conversa, quis saber como tinha sido, o que tinham feito. Contei-lhe das travessuras e diabruras, contei-lhe das brincadeiras. A seguir, mudei de roupa, estendi-me no sofá e pimbas, tiro e queda. Apaguei. 


Agora acordei, retemperada. O meu marido, entretanto, já se foi deitar. Levantou-se muito cedo e esteve a cerrar madeira, em parte, ajudado pelo filho. Também estava cansado. 

E eu pus-me aqui a passar os olhos pelo YouTube. E fui dar ao vídeo que aqui partilho convosco. Fez-me muita impressão pois fala de um tema de que pouco se fala: os ataques de pânico.

Convivi de perto com uma pessoa que, numa fase mais difícil da sua vida, começou a ter ataques de pânico. Sentia-se mal, sentia um aperto no peito, ficava sem conseguir respirar. Achava que era uma coisa física e não emocional, assustava-se, receava estar a ter um problema de coração. Por vezes, ligava-me a chorar, com medo, aflita. Fez muitos exames médicos e não tinha nada. Tinha ansiedade e uma carga emocional pesada em cima dela. Não queria ter, queria estar bem e chorava também por isso. Começou a ter medo de conduzir ou de estar em reuniões com medo de ter crises daquelas. Eu dizia para ela respirar fundo, para beber água, para ir apanhar ar fresco, para descontrair. Mas não lhe era fácil. Felizmente ultrapassou essa fase e nunca mais teve tal coisa.


No outro dia, outra amiga minha, pessoa equilibradíssima, muito bem disposta, com um sentido de humor apuradíssimo, contou-me que, dias antes, lhe tinha acontecido uma coisa horrível. Estava no avião (e anda de avião duas ou três vezes por mês, sem qualquer problema) quando começou a sentir o coração a acelerar, depois ficou com falta de ar, como se tivesse asma, e com as mãos transpiradas. A seguir, diz que lhe aconteceu uma coisa ainda mais inesperada e disparatada: desatou a chorar. Não queria dar uma barraquinha daquelas mas não conseguiu impedi-lo. Quando chegou a casa, já tarde, voltou a desatar a chorar. O marido, preocupado, só lhe perguntava: 'Mas o que te aconteceu? A reunião correu mal? Alguém te tratou mal?' e ela dizia que não, que estava tudo bem, mas não conseguia parar de chorar. No dia seguinte foi ao médico. Ataque de pânico. Vida agitada, pouco descanso, muita pressão. Eu disse-lhe: 'Não vale a pena. Tudo se ultrapassa. Não podemos deixar que a vida nos esmague'. Ela disse: 'Pois é'. Mas não é fácil.

O peso das circunstâncias, o desatino que por vezes faz rodopiar o mundo em volta da vida das pessoas, tudo isso parece que, por vezes, causa um desequilíbrio no seu corpo, como se os fluidos entrassem em desestabilização e a energia que move o corpo também entrasse em tumulto.

Quando as pessoas se vêem assim, querem, sobretudo, ver-se livres dessa ansiedade, desse medo, da possibilidade de voltar a ter novas crises dessas, tão aterradoras.


Gisele Bündchen conta que passou por isso. Fumava muito, bebia, dormia pouco, trabalhava muito. E entrou em descompensação. Até que um dia a ideia de se atirar da janela assomou à sua mente. E, nessa altura, percebeu que tinha que abrandar. Parou, decidiu não se curar através de medicamentos mas de ioga e de meditação. No vídeo abaixo a bela Gisele emociona-se ao relembrar esses maus momentos.



E este mostra-a, serena, em comunhão com a natureza.



Dias felizes para vocês, meus Caros Leitores.

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