domingo, setembro 09, 2018

Um sábado que, não sei porquê, me soube a domingo





Já dormem há algum tempo. O dia hoje foi mais calmo. O bebé, no outro, dia levou vacinas e isso, parecendo que não, sempre deve dar algum abalo. Para além disso, está com quatro dentes a romperem, o que lhe deve doer. Por isso, tem andado mau para comer. E isso dificulta um bocado a vida. A gente sem saber o que há-de dar que ele coma bem e ele, com a mão, a afastar tudo e a fechar a boca. Perde-se tempo e a mim, que gosto de alimentar o mundo e de ver todos bem nutridos, frustra-me. Por exemplo, este sábado ao pequeno almoço vi-me e desejei-me para ele comer alguma coisa de jeito. Leite no chão, bocadinhos de pão com manteiga por cima da mesa. Ovo também não. Nada. Vá lá que depois quis uma banana. Mas a verdade é que, para a tarde, a coisa mudou.

Mas que não se pense que tem andado com mau feitio. Não. Sempre feliz da vida, só mesmo aquilo da comida. 

Só que é muito irrequieto. O convívio permanente com miúdos mais crescidos torna-o afoito, descarado. Trepa, encavalita-se, abre tudo, mexe em tudo. E os outros, meus ricos meninos, também consomem muita atenção e mão-de-obra.

Os pais vieram buscá-los de manhã e a meio da tarde fomos buscá-los à porta da Festa do Avante (uma confusão de deixar doidos os mais tranquilos... imagine-se o meu marido que de tranquilo não tem muito). Depois fomos com eles até casa dos meus pais. O meu pai, como diz a minha mãe, estava endiabrado. Irritado, só a chamar, a protestar, a zangar-se. E não ouve quase nada. Um caso sério. A minha mãe, com a cabeça em água, mas, ainda assim, fez um bolo revestido a chocolate e crepes. Os miúdos adoram lá estar: brincam no quintal, lancham, exploram aquela escrivaninha que é uma verdadeira arca do tesouro.

Tinha trazido uma sacada de figos para levar à minha mãe mas, no meio da confusão, esqueci-me. Ficou desiludida, gosta tanto de figos. Mas com tanta coisa sempre que saímos de casa (levar as fraldas e o leite para o meu pai, o leite sem lactose para ela, casacos para os meninos, as chaves da fechadura nova do apartamento dela aqui perto de mim -- a que, desde que o meu pai teve o avc, nunca mais pôde vir, com grande desgosto para ela -- e mais sei lá o quê), alguma coisa haveria de ficar esquecida.

Quando chegámos a casa fiz o jantar. Enquanto isso, eles tomaram banho sob a supervisão do avô. Inclusivamente, arriscou-se hoje a dar sozinho banho ao bebé para eu não me atrasar com o jantar. Depois comeram de gosto, incluindo o bebé. Ao primeiro sinal de não querer mais, parei logo pois já estava admirada com a quantidade que tinha comido. A seguir, o do meio, que é um artista, cantou e improvisou e eu fiz vídeos. No meio das canções, quando o bebé o interrompia, ele, com a bisgana de creme que usou como microfone, colocava-a com espontaneidade à frente da boca do irmão e dizia: 'Diz cocó'. O bebé dizia cocó e o artista continuava a gravação, como se aquele momento fizesse parte da actuação.

Depois foram dormir. E eu aproveitei para vir aqui espairecer.


A meio do dia, depois deles saírem, fomos passear na praia mas estávamos os dois tão desasados que, ao sairmos do carro, até parecia que estávamos coxos. Almoçámos na praia e a seguir fomos ao supermercado. Quando aqui chegámos, vínhamos tão pedrados de sono 
(é que, pela parte que me toca, a noite passada tive espertina -- cansada como estava e quase sem conseguir dormir; e, quando dormia, era um sono tão leve que ouvia cada pequeno suspiro de qualquer das crianças; e o bebé estava ao lado da minha cama mas, imaginem, os outros estavam noutra divisão e eu, ouvido de tísica, a ouvi-los)
que foi estender-me no sofá e adormecer de imediato. O meu marido na mesma: disse que sentia o corpo dormente, que estava precisado de uma coisa daquelas que '... dá-te asas...'. Com o sono com que eu estava, nem percebi. Ele disse: 'red bull'. Também eu.


E pronto. Foi um sono curto pois logo a seguir tivemos que arrancar para aquele belo local onde se situa a Festa: a verdadeira imagem do país suburbano, uma barafunda urbanística, uma coisa com aspecto meio bagunçado -- e agora atolado de carros e confusão. Enfim. Sobre isso já falei ontem.

Ah. Não é completamente verdade que tenha adormecido de imediato: ainda deu para ler um bocado da Adélia Prado. Uma gostosura de prosa. Gosto mesmo dela. Lê-se e relê-se e é sempre coisa nova, original, intrínseca, íntima, divertida, um gozo em estado puro. Só depois de umas páginas é que apaguei. Mas, quando falo em apagar, é apagar mesmo. Pimbas. Tiro e queda.


Quando acordei, para aí uma hora depois, estava cheia de calor. Fui tomar banho e, como sempre que estou cansada e a precisar de tirar carga de cima, fui buscar a tesoura da costura e cortei o cabelo. Tirei-lhe altura e volume. Um desbaste dos valentes. Fiquei outra, assim: dormida, lavada, de cabelo cortado.

E é isto. Tudo jóia. Fiquei com pena foi de não ter levado os figos à minha mãe. Ainda pensei ir levá-los amanhã mas não dá que o dia vai ser também dos cheios de programa.


Tenho ideia que o texto não seguiu a sequência cronológica pelo que, descrito assim, o antes e o depois fora da sequência, o dia ainda deve ter parecido mais atrapalhado do que foi na verdade já que, a sério, apesar de um bocado cansativo, até foi um dia calminho e bom. E feliz.

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E, por favor, não levem a mal que me fique por estes temas tão banais e tão meus. Mas não apenas ando, na realidade, um bocado afastada do mundo mundano (digamos assim) como, do que vou sabendo, tudo o que é notícia me parece pouco digno de registo. Rui Rio com aquela falta de jeito de dar dó, Cristas e aquela sua veia para a cretinice, televisões todo o santo dia em directo a dar as eleições no Sporting... baahhh... não me apetece falar de nada disso, que pincel.

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As fotografias que hoje aqui me apeteceu ter referem-se à Companhia de Bailado de Martha Graham que também interpreta a Diversion of Angels no vídeo já aqui acima. 

Lá em cima, Stacey Kent interpreta What a Wonderful World.

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E a todos desejo um feliz dia de domingo -- porque, de facto, hoje é que é domingo

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6 comentários:

  1. "I can only give you love that lasts forever
    And a promise to be near each time you call
    And the only heart I own, for you and you alone
    That's all, that's all"... do tema That's All. Uma belíssima voz, que ouço, de quando em vez, com prazer.
    Aquele começo da canção, ""I can only give you love that lasts forever" é especial.
    Gosto bastante de Jazz (a par de música Clássica), pena que não tenhamos bons programas na rádio sobre Jazz. O "Smooth" está muto fraco, mauzote até dizer chega!
    Quanto a leituras, estamos a anos luz nos gostos, mas como diz o povo, gostos não se discutem.
    Gosto mais de praia...exactamente quando não é mais a época, para passear por lá sem (quase) ninguém. Aborrecem-me as multidões. E depois, o verdadeiro prazer que retiro da praia é o nadar, quanto puder. Mas, com ondas (que detesto) e temperaturas abaixo do decente (que igualmente detesto), mando às malvas as praias - por cá (prefiro outras por lá) - e espero então pelo Outono, Inverno e Primavera para as desfrutar com calma e gozar-lhes a beleza, sem "maralha" à volta.
    P.Rufino

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  2. Olá P. Rufino,

    Gosto também bastante de jazz. E de blues. E é verdade, a Smoooth anda uma pepineira, mal lá páro. A Antena 2 ao fim da tarde tem jazz. Sabe bem vir ao cair da noitinha a conduzir e a ouvir jazz.

    O That's all é muito bonito. Há-a nas grandes vozes mas eu gosto também na 'pequena voz' da Stacey Kent. Conhece-a?

    A praia com muita gente também não é a minha praia. Mas, enfim, às vezes lá tem que ser. Mas nunca no regime de quase tête-a-tête das praias em que as pessoas ficam com as toalhas encostadas às dos vizinhos. O que gosto mesmo é de caminhar na praia, à beira de água e gosto de praias com pouca gente. Felizmente temos a sorte de ter sempre praias por perto e poder visitá-las em qualquer época do ano.

    E obrigada por me lembrar esta canção: estou a ouvi-la enquanto escrevo e que bem me sabe ouvi-la.

    Quanto a leituras, tenho esperança que um dia leia um dos livros de que gosto e que também goste. Parecem-me tão bons... como é que não gosta deles...?

    Um abraço, P.Rufino.

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  3. Não sei porquê, mas deixei, já alguns anos, de ler romances. Recupero, aos poucos, a vontade de reler poesia. Já é um progresso.
    Boas férias! O nosso neto só começa na 6ªFeira as aulas. E eu que julgava que estas coisas eram uniformes!
    Cordialidade!
    P.Rufino
    PS: temos de facto praias de encnatar, mas como o importante para mim é nadar, acabo por não as desfrutar, pelas razões que invoquei.

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  4. Olá P. Rufino,

    Mas repare que nenhum dos 3 livros que referi é um romance: um é uma colectãnea dos diários da Virginia Woolf, outro é sobre livros e sobre a paixão por livros (do Alberto Manguel) e outro é inclassificável (Adélia Prado). Por isso, já vê... Eu livros de história ou história de arte só em vol d'oiseau mas repare que não sou só de romances e poesia...

    PS: Nada no ensino é uniforme...

    PS2: Eu também sou de nadar. Mas também não sou de andar em águas geladas e com ondas de enrolar qualquer cidadão. Por isso, olhe, numa daquelas de quem não tem cão, caça com gato, desforro-me nadando... na piscina.

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  5. Tem toda a razão. Desses 3 que invoca ainda me tento pelo do Manguel.
    Obrigado!

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  6. Fica entretanto um sugestão, que há pouco me escapou, caso lhe interesse; Guy Standing, "O Precariado". Interessante e...actualíssimo.
    P.Rufino

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