domingo, março 05, 2017

TRUMP L'OEIL
- Poema de George Saunders sobre Trump -


Pode Trump inspirar sentimentos poéticos? Pode.

Duvido que os poemas que resultem dessa inspiração sejam grandiosos, sensíveis ou profundos. Penso que nem uma Melania nos seus melhores dias, e caso fosse dada mais à poesia que à joalharia, conseguiria produzir um poema com um toque de romantismo. Mas imagino que, tal como inspira imitadores e cartoonistas, Trump também possa inspirar poemas irónicos, satíricos, zombeteiros.

De George Saunders nunca li nada. Já tive livros seus nas mãos mas uma quelquer chose me desmotivou à última hora. Contudo, fiquei a vacilar sobre a minha intuição literária quando vi Stephen Colbert a dizer que provavelmente o prefere a todos os outros escritores da actualidade. Confesso que voltei a ponderar e, de novo, tendo o último livro por cá publicado nas mãos, Pastoralia, arrepiei caminho no último instante. E, no entanto, do que li sobre os contos, teriam tudo para me cativar. Mas, passando-lhes os olhos pelo pêlo, parece que não senti aquele apelo que me faria não sair da livraria sem ele. É assunto a resolver, pois.


Entretanto, um seu novo livro, uma novela (e não contos),  Lincoln in the Bardo, tem motivado entrevistas e artigos e eu ponho-me a lê-los e volto a franzir o sobrolho. Pode ser que sim -- e ele tem o ar interessante de quem produz conversas inteligentes -- e, no entanto, parece que lhe falta aquele petit rien que me faria ficar rendida. Pode ser que, quando aparecer traduzido para português, me deixe convencer.

Mas, enfim, voltanto à poesia. Leio o poema que Saunders fez a propósito de Trump. Tem graça, reconheço, mas parece que lhe falta um certo toque de insolência. Mesmo à irreverência que lhe encontro parece que sinto alguma falta de sal.

Seja como for, é bom que os artistas, intelectuais e boémios sejam activos na paródia e na censura ao pato Donald que, como se pode perceber pela leitura do post abaixo, foi parar à presidência dos EUA através de métodos que têm tanto de infalíveis quanto de perigosos.



TRUMP L'OEIL

A fragile egomaniac
Has taken up the reins,
Obsessed with size, defensive,
and unmoved by others’ pains.

He seems to think that saying A
While B is clearly true,
Will cause the truth of B to wane
And make A true, to you.

He stomps his foot and with his hand
He does that little chopper,
Then calls all things “amazing,”
As he tells another whopper.

What is it that he wants so much?
What wound must he assuage?
With all these lies and posturing,
and all that pent-up rage?

When all is said and done, it seems,
The thing he wants is MORE.
Enough to finally satisfy
some raging inner war.

Everything’s unfair to him, 
So “sad,” so “overrated”;
Whatever gifts the world can give?
Insulting and belated.

If some of you who voted
For this vain and flailing man
Are noting now some meanness
In his attitude and plan:

It’s fine, it’s great, we welcome you!
Please come on back and aid us
In switching off the Kellyannes, 
Who nightly serenade us

With tricky sliding caveats
And puzzling odd denials
With scary twisted Orwell riffs
And sunny prom queen smiles.

In other times and places
This dopey gong has sounded
To claim that truth’s negotiable
And that we’re all surrounded

By enemies! By enemies!
By horror and by hate,
By refugees who want us dead,
And liberals sleeping late.

But what if, in the end, my friends,
What seems most true is true:
The president is like himself,
And not like me and you?

A famous guy for all these years
An ego in a bubble,
Who learned that great attention
Could be got by causing trouble?

And craving said attention,
Scuttled out in its pursuit,
The working man’s defender,
In a fine Brioni suit.

Speak out, rise up, correct and shout,
Be stubborn and satirical
Resist, rebuff, demand the truth,
Be positive and lyrical.

Your country needs you now, for sure
Your country needs your power.
It needs you like a fragile thing
In some uncertain hour.

For goodness, peace, and decency
Were never heaven-sent;
And each of us must now become
our own alt-President.

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