Noite quente, quente. Ao meu lado a janela aberta traz uma leve aragem mas não arrefece a casa. Há pouco ouvi um ribombar ao longe. Esqueci-me de espreitar. Devem ser fogos de artifício do lado de lá do rio, longe.
Gosto de, de vez em quando, ir espreitando o rio, as luzes que piscam no meio das negras águas e no casario que contorna as margens. E gosto de tentar distinguir os sons que chegam. São sons esbatidos, diluídos pela frescura escura da noite. Por vezes, um cão ladra ao de leve, talvez assustado pelo deslizar silencioso de algum gato.
Uma vez não, não foram sons esbatidos: uma vez ouvi acelerar na rua, depois bruscas travagens. Espreitei. Luzes azuis. Carros da polícia, polícias que saíam a correr rua abaixo, uma grande agitação, gritos. Depois veio um rapaz com as mãos no ar e os outros polícias cercaram-no. Eu à janela a ver uma cena que parecia de filme. Olhei as janelas em volta e ninguém. Quando os carros da polícia se foram embora fiquei a pensar que, se calhar, tinha sonhado já que, pelos vistos, mais ninguém tinha testemunhado o que se tinha ali passado.
Há bocado, enquanto dava o jogo de futebol na televisão e as janelas estavam abertas de par em par, entrou um cheiro a comida caseira, um guisado talvez. De vez em quando agora chega-nos um cheiro assim. Deve haver vizinhos novos no prédio, alguém que cozinha bem. Não consigo conhecer os vizinhos. Apenas conheço uns dois ou três e mesmo assim nunca sei em que andar moram. Gosto. Gosto da sensação de me sentir estrangeira. Tenho a sensação de morar numa torre que se ergue sobre o rio, desligada da vida normal. Da janela vejo castelos, grandes navios, veleiros, vejo igrejas, serras, pontes, horizontes. Sempre gostei de morar em sítios with a view. Desde sempre me lembro de morar em casas em que ia à varanda ver como estava o rio ou espreitar se o céu estava carregado do lado da serra ou ver o fogo de artifício do lado do castelo.
Parece que preciso que o meu olhar não alcance limites. Mas fico a pensar no que se esconde por debaixo do que a lonjura oculta. Eu aqui, numa casa adormecida, numa torre no meio do rio a escrever à noite e, em milhares de outras casas por todo o mundo, outras pessoas a escreverem, outras a lerem, outras a conversarem umas com as outras, desenhando laços, estendendo invisíveis pontes. O mundo é um lugar misterioso, cheio de intangibilidades, transparências, habitado por invisíveis seres.
Provavelmente alguém, algures, talvez alguém não igual a nós, não sei onde, esteja a ver-nos. Acredito que sim. Acredito que pareçamos pequenos e tontos pequenos bichos, de efémera e tantas vezes inútil vida, afadigando-se em estéreis tarefas. Mas desejo que, de nós, esses invisíveis e talvez longínquos seres recebam os sons da nossa música, as toadas da nossa poesia, as cores e a luz do nosso mundo. E que, de nós, aprendam também o riso e os afectos, sem os quais, para além de pouco inteligentes, seríamos apenas, a olhos estrangeiros, uns pobres bichos indiferenciados.
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As fotografias foram feitas a um muro graffitado do Parque da Paz.
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Permitam que vos convide, Caros Leitores, a visitarem o post abaixo onde falo em sonhos, paixões, destinos.
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Olá, ujm
ResponderEliminarjá não sei onde está o post que li sobre comidas, intestino, hidrados de carbono, peso a mais e sei lá eu que mais :)
Sugiro-lhe que ponha na barra laetral uma lupa para pesquisar dentro do blog :)
Pois estava por este mundo virtual tipo a fazer um zapping quando me dou com estas receitas
Disse logo para com os meus botões "tenho que ir mostrar isto à jeitinho
ahahahah
Isto é que é um luxo, hein!
http://www.curapelanatureza.com.br/post/05/2016/8-ideias-incriveis-de-sanduiches-sem-pao-que-vao-ajudar-voce-perder-peso-sem-passar
Beijo
GG