segunda-feira, maio 09, 2016

Querido Diário - 2
Hoje vi árvores tombadas junto ao Tejo




Tamarix gallica. Estavam lindas, verdes com flores rosadas, ondulavam como bailarinas quando a aragem lhes dava nas vaporosas saias de tule. Este domingo fui encontrar algumas arrancadas à terra, as raízes quase à vista.

Penso. Tenho conhecido pessoas que também não aguentam a força dos vendavais; tenho visto pessoas arrancadas das suas raízes, quase fora de si próprias.

Uma vez descobri uma mulher que se tinha atirado ao rio e que, depois, assustada tentava salvar-se. Pedi ajuda e fui conversando com ela até que a conseguissem trazer para a superfície. Já fora da água, gelada, exausta, agarrou-se às minhas mãos, agradeceu-me e pediu-me que a ajudasse. Disse-me que era muito infeliz. Foi levada numa ambulância. Outra vez, vimos um homem a subir a vedação da ponte. Fomos, aflitos, avisar a segurança da ponte e a senhora disse com alguma indiferença: gostam muito de ver se saltam. De vez em quando atiram-se mesmo. As raízes desprendem-se, as inclemências da vida atiram-nos por terra ou levam-nos em voos sem remissão.


Custa-me muito ver árvores caídas. Uma vez, a seguir a um temporal, vi também aqui árvores tombadas e fiquei igualmente triste, não sabendo que, quando chegasse uma semana depois in heaven, iria ver pinheiros, cedros, ciprestes igualmente tombados -- um dia muito triste para mim.

Mas é assim mesmo. Das raízes cortadas talvez rebentem outras novas árvores ou outras serão plantadas. A vida renova-se. Há que não dramatizar porque a vida continua, sempre continua.

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Lá em cima Loreena McKennitt interpreta Greensleeves

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E, caso vos apeteça continuar a acompanhar-me ao longo do meu dia de domingo, queiram, por favor, descer até ao capítulo seguinte.

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